segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

SIM só isto, PAZ!

SIM só isto PAZ.

Fala-se nesta época de Festas Felizes, Feliz Natal, Feliz Ano Novo. Nunca me esqueço te ti... a amizade nestas alturas está presente... enfim imensas vacuidades que justificam o esquecimento durante trezentos e sessenta e quatro dias. Daí, depois dizermos... Natal é todos os dias... Natal é sempre que um homem quer... e uma outra quantidade de frases, por vezes, vazias e de aparente sentimento. Frases para "inglês ver".

Se calhar cometo o mesmo erro, se falar em PAZ, no entanto, como a procura de a ter é um desejo universal, talvez me perdoem.


Efectivamente peço PAZ para todos. A paz é um bem que nem sempre se consegue com a bonomia, mas com grande persistência, luta, confusão. Na realidade a Paz só se consegue lutando contra o conflito, contra a violência que nos é exercida.


Pedir PAZ, num momento em que todos nós nos sentimos violados na nossa integridade moral e social, na nossa honestidade, tornando-nos a alguns de nós incumpridores das obrigações por nós assumidas, em especial os de ordem económica, é um desejo difícil de cumprir.


Para que a Pátria, que é bandeira de todo um povo, não seja acusada de "caloteira", como dizem os nossos governantes, faz-se com que todos os filhos da Pátria sejam caloteiros uns com os outros, e não encontrem PAZ que os deixe dormir de consciência tranquila.


Quero que todos vós, os que são povo, amigos e familiares, encontrem a PAZ que tanto desejam, mas que o façam não pela cobardia da cedência, em relação ao mais forte, mas pela convicção de obter na força da justiça aquilo a que justamente têm direito.



DC

domingo, 23 de dezembro de 2012

NA VASTIDÃO IMENSA DO CÉU...



NA vastidão imensa do céu, o caos das nuvens nos alertam para tempestade que se avizinha, nada estava previsto de igual modo todos nós fomos apanhados na corrente do Universo.

Quem somos nós, os falantes? Porque assumimos este corpo, esta pele, esta mente? Quem somos nós no seio de um Universo que nos sabemos inseridos? Mas qual Universo, porque lhe chamamos tal?

Que certezas temos de que somos mais do que alguém, ou menos de que um qualquer ninguém, que por sinal assim pensamos por desconhecer.


Olho a imensidão do mar e fico-me perdido sem saber o porquê de tal grandeza. Olho o céu e perco-me nas estrelas, aquelas luzinhas que me fazem lembrar casas de Aldeia perdidas nas serras, onde existe a consciência de haverem mais, mas não fazem parte do todo.

Interrogo-me no absurdo, procurando saber porque somos falantes e não ladrantes, ou piadores como passáros voadores, ou até guelrreados peixes em mares diversos. Quem decidiu? Quem à luz da razão entendemos ter construído espécies. Que razão se deve a massa de que somos feitos, as razões do nosso sentimento, das nossas iras, dos nossos egoísmos? Dizem, somos humanos e eu pergunto-me que raça é essa de onde surgiu, se nem percebemos porque tudo se pariu.

Por momentos abstraio-me de mim próprio saio do meu corpo e olho-me envolvendo-me. Tento ver as figurinhas que desenho nos espaço sempre que me locomovo, tento ver-me próximo dos outros e qual a minha interacção com os vizinhos concomitantes. Pasmo de ignorância, não sei a razão de quem sou e ao que venho, nem porque neste mundo eu existo. Mundo? Qual mundo, se o conceito é meu, e de outros que assim lhe chamaram, dando-lhe abrangência maior do que as nossas mentes podem abarcar?
Não, não estou louco, eu penso-me ínfima bactéria no emplastro doentio da existência e daí questionar das razões de tanta violência se todos ignoramos de onde nascemos, onde estamos e porque partimos para um qualquer lugar.

Riam-se do absurdo destas congeminações, é melhor, talvez se caíssem no mesmo erro do que eu, possivelmente seriam internados num qualquer hospital psiquiátrico, acusados de esquizofrenia súbita.
DC

sábado, 22 de dezembro de 2012

A NOITE TRÁS OS MEDOS

 


A noite trás os medos
A noite revela a nossa vida mais escura
No meio dos sonhos e seus segredos
Escondidos na lonjura

Na noite tememos, se difícil é o acordar
Que no dia-à-dia que percorremos
Se perca o que queremos acreditar
Com tanto pesadelo que vivemos 
Ao deitar, o dia e o seu labor pesam
Porque nem sempre de feição
Não chegam as preces que se rezam
Tem de seguir o coração

Adormecer sem mau madrugar
Está na génese da vida
O que temos é de acreditar
Na oportunidade de ser vivida

DC

HÁ CRIANÇAS COM FOME

    Quantas mais crianças terão de morrer com fome??


Vivo num país em que me recuso
a aceitar quem manda por abuso
Sinto-me um pária da vida
Desde que perdi o fio à meada
De uma pátria que morre na madrugada

Vivo a dor de muitos nesta pátria assolada
Por gente vagabunda que a diz governada
Com a austeridade da Troika que o povo anda a pagar
Dizem eles terem vindo só para ajudar o que não é de fiar
Pois gente que sempre “enricou” com grande facilidade
Passa a vida discursar falando em liberdade

Um fim tem de ser dado a tanto desaforo
Dos ladrões que à pátria roubam sem qualquer decoro
Tudo o que nela se construiu foi trabalho das suas gentes
Não a podemos deixar agora à mão de incompetentes

Gente a quem liberdade e democracia
Há mais de trinta anos pelo povo lhes foi dada
Sem nunca deles receber nada
Ao povo foi prometido o paraíso
Um futuro, uma vida melhor
Mas o que recebeu foi sempre do pior
Não somos povo nem pátria
Somos escravos sem opinião
Trabalhando, ganhando pouco, para ter algum pão

Oh! Meu Povo não te deixes enganar
Tens de perder o medo e sair à rua para lutar

Hoje diria como outrora o revolucionário
Pátria ou Morte venceremos?

DC

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

TODOS OS DIAS



Todos os dias nascem crianças, que não são “Jesus”
Todos os dias morrem crianças mal enxergam a luz
Todos os dias morrem Homens bons, que não são santos
Todos os dias no mundo, o povo tem seus prantos
Todos os dias perdemos parte da vida para bem de uns quantos
Todos os dias, muitos de nós enfrentamos o Poder sorrindo
Todos os dias escondemos a revolta que estamos sentindo
Todos os dias acordamos a pensar no bem e no mal
Todos os dias gostaríamos de ter o amor de um dia de
Natal



DC

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Hoje fui PASSEAR AS CANETAS





Tenho uma espécie de obsessão por canetas, esferográficas, lapiseiras e outros riscadores. tenho uma colecção de razoável qualidade. Todos estes bolígrafos, me estimulam de diferentes maneiras nas funções técnico práticas, ou na motivação criativa.

Em tempos idos, quando concluía um trabalho profissional como “free lancer”, era meu hábito, compensar o meu esforço de realização, criando novo estímulo, comprando uma nova esferográfica ou lapiseira. A minha receptividade à sua estética e funcionalidade ditavam a duração das suas múltiplas performances e o desejo de realizar novos projectos.


Ainda hoje o acto de escolher uma caneta, esferográfica, ou lápis funciona como uma espécie de sedução, experimentando várias, até encontrar afinidade do bolígrafo com o tema da escrita, ou o desenho que pretendo executar.

A opção caneta de “tinta permanente”, era quase sempre para escrever. Ela permitia-me a velocidade do raciocínio e da escrita. por vezes, também para desenhar nas mesas de café com outra expressividade, aguarelando os desenhos com um pouco de água ou café.
A esferográfica, com a carga de esfera fina, era o bolígrafo por excelência para tomar notas em reuniões, ou fazer listas de compras, me permitia-me usar letra pequena e rapidez.
Houve um largo período, que me dei de amores por um bolígrafo multifunções da Rotring, com diferentes espessuras de lápis, e com uma variante, esferográfica. Gostava tanto dela, que usava uma das suas funções de lápis, para escrever cartas, obrigando-me, a pedir desculpa às pessoas a quem as dirigia por assim fazer.


Os computadores apareceram e foram-nos afastando desse prazer. Talvez para alguns de nós os “mais antigos”, não todos, antes de executarmos na “máquina”, esboçamos as ideias usando um qualquer bolígrafo.


Sentir a textura, os efeitos do riscar sobre o suporte, a liberdade da mão circulando em diferentes velocidades e os efeitos inesperados que por vezes acontecem. são sensações únicas que alimentam o acto de criativo. Usar o lápis deitado ou na vertical. trabalhar com o bico da caneta ao contrário para obter linhas mais finas, usar a esferográfica para fazer sombreados, tudo isso provoca um gozo enorme, e uma das razões, porque gosto, por vezes, de comer em restaurantes com toalhas de papel sobre as mesas.

Parece um disparate, mas na verdade de vez em quando vou fazer uma “visita” aos meus bolígrafos. Pego num e noutro e escolho um ou dois, para durante uns dias escrever desenhar ou tirar notas com eles, quase como se levasse o cachorro à rua. A isto eu chamo passear as canetas. Tiro-as do ranço estático da gaveta para me deliciar com o seu toque e prazer de rabiscar.

DC



sábado, 15 de dezembro de 2012

SÓ TU MULHER


Desenho rendilhados em teus pés com a ternura dos meus sonhos, com a certeza do quanto amo a tua natureza, mulher.

Em cada flor, em cada encadeado do desenho que se forma, está um pedaço de meu, para ti, para que te sintas rainha no seio da existência dos homens.

DC


quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

SEM TÍTULO



Desapercebi-me da escrita, deixei de ver sair dos dedos a força necessária à construção das palavras e das frases, que transmitem significados, ideias, opiniões, criatividade (?). Somos levados pela corrente gerada pela sociedade que nos envolve, pela crise gerada pelos muito ricos, pelo cheiro no ar de tanta pobreza, pela hipocrisia e da caridadezinha que nos magoa bem fundo de nós. Nós gentes que sempre fizemos do trabalho forma de estar e de dignidade. Tudo isto nos vai tragando as forças, deixando-nos por vezes tão pressionados, tão cheios de tudo, que nos sentamos num qualquer espaço neutro, que nos deixe perdidos no tempo sem raciocínios ou vontades. Quantos de nós nos inibimos de sair de casa, de tomar um café, de estar com os amigos? Quantos de nós vemos passar sorrisos e pensamos lágrimas? quantos de nós vemos comida e pensamos fome?
Como os animais, quando encurralados, a nós Homens nada mais resta do que lutar pela sobrevivência, jugo que assim faremos não tarda.

DC

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

OS OLHOS FALAM



Os olhos falam mesmo quando calados

Os olhos falam, quando muito ou pouco amados
Os olhos interrogam e não fazem perguntas
Os olhos respondem sem ser questionados
Os olhos falam mesmo quando estamos cansados
Os olhos têm cor e brilho de encantar
Os olhos dizem palavras difíceis de pronunciar
Os seres que possuem olhos, vêm sem pensar
Os olhos espelho da alma aos olhos dos outros são
E deixam em cada um asas e imaginação.

DC

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

IMAGEM PARADA NO TEMPO



Quando nos abraçamos no cais de um qualquer lugar, os gestos denunciam a partida ou chegada.

Embora a imagem não fale da partida ou chegada, mas de um encontro ou reencontro é óbvio que as emoções contraditórias se misturam e enriquecem o momento e denunciam ao que vão as pessoas.


Pode ser a partida, que dói pela distância que vai criar, daqueles de quem gostamos, mesmo que o destino seja pensado para o “nós”.

E pode ser uma chegada que determina um espaço temporário de estar, ou de recuperar a alegria e o tempo perdido.


No entanto na imagem parada no tempo, ficará para sempre a ternura do gesto, o calor do abraço e a saudade que não se descreve.

DC

domingo, 2 de dezembro de 2012

PARTIDAS e CHEGADAS


Todos os dias ouvimos sair da boca de eminentes figuras, sejam elas gurus das empresas, especialistas de marketing, da ciência, da politica, de amantes ou apaixonados: “vamos partir para uma nova etapa”,”Vamos partir para uma nova vida”, “vamos partir para o mercado”, “ vamos partir de viagem”, vamos partir é o elemento principal do seu pensamento. Sempre partindo para algo de novo, como apontando um destino, um futuro que tem uma chegada a um qualquer sitio, nem que seja metafórico.

Julgo que a palavra “partir” e “chegada” têm um significado abrangente e fazem parte da existência do ser humano. Somos todos um “cais de partidas e chegadas”, de viagens mais ou menos curtas que definem a nossa existência. Pensamos a nossa vida como partidas e chegadas constantemente renovadas.

Todos “partimos” para algum lugar, em algum momento, com algum objectivo de chegar.

Partir implica pensar num objectivo e necessita de um planeamento, não importa se a chegada é já ali ao lado. Há todo um a caminho a percorrer desde que se pensa na partida e há que determinar como fazê-lo.

Pensar em partir já por si significa que existe um pensamento subjacente que nos leva a essa decisão. Pensamento esse que nos induz  a uma chegada, a um fim, mesmo sem pensar no que isso possa significar. Há portanto dois momentos, um que leva à decisão, e um outro que planeia e decide o objectivo principal que pretendemos na chegada.

Na verdade a partida é decisória, importante para chegada a um determinado objectivo que não será um fim, mas o inicio de uma outra partida. Significa que teremos várias partidas, e chegadas que serão novas partidas, até que um dia chegaremos à única chegada que estabelece o fim e que implica uma outra partida, sem que a decisão seja nossa e sem 
qualquer planeamento de chegada.
Até que a nossa partida seja uma definitiva chegada, e vice versa, teremos que pensar no longo caminho que percorreremos. Esse afinal é que é o objectivo “ onde queremos chegar”. O caminho que leva à concretização de cada partida e chegada.
Por isso, importante para nossa existência, é estabelecer partidas com o objectivo de chegar a algum lado, porque de certeza essa chegada será a concretização do objectivo e será a partida para um outra chegada, e assim sucessivamente.

Este raciocínio que parece repetitivo e que não trás novidade nenhuma, na verdade tem como principio básico, uma dialéctica de evolução, que está subjacente a toda a sociedade.

DC


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

VELAS DE VIDRO



Parecem velas de barco vogando no mar. O brilho e as cores daqueles pedaços propositadamente ali colocados, têm tanto de sedutores e belos, como traiçoeiros e perigosos. Quase nos esquecemos da função para que ali foram colocados. Poderia quase afirmar-se, que aqueles para os quais foi lançada a armadilha, se em pleno dia, fossem tentados a ultrapassar o espaço que delimitam, possivelmente os ignorariam. Não imaginariam sequer que aqueles pedaços tão coloridos, pudessem rasgaram a pele e fazer soltar o sangue vermelho do seu corpo.


Por vezes a beleza, como muitas outras coisas da vida, confunde e esconde a realidade.


DC

terça-feira, 27 de novembro de 2012

MEMÓRIAS FUTURAS


Memórias futuras existem quando os presentes “presentes” são bem vividos, amados e rodeados das coisas que mais apreciamos. A/O companheira/o, os filhos, os familiares, os amigos, o gato de estimação, os livros, boas degustações, e tudo isso, se possível, tendo o espaço que mais gostamos.

Será gloriosa memória futura, o presente que ajudamos a construir, pelo qual lutamos, partilhamos e em que somos solidários na conquista de um mundo melhor para todos.

Será memória futura a percepção e participação no evoluir das mentes e da sociedade em que estamos inseridos.

É memoria futura mais do que tudo sabermo-nos amados e queridos, pela integridade do que somos, perante os seres humanos que nos rodeiam, pela cultura que possuímos, pelos sorrisos que distribuímos, pelos abraços que damos, pela confiança que prodigalizámos a todos aqueles com quem partilhamos esta nobre arte de ser, viver e participar futuros.

Seremos memória, quando neste presente adverso, procuramos levar a cor do arco íris da esperança, de proposta de vida, a todos que têm o seu mundo possuído pela não cor do egoísmo dos Homens.


Seremos memória, quando no futuro forem os outros a ver os nossos passos calçados de flores por tudo o que fizemos neste presente.

DC

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

SE A NOITE E O DIA...




Gostaria que a noite não entrasse em mim como um peso que destrói
Gostaria que a noite fosse um ligar de sonhos e eu o seu herói

Se a noite fosse lugar de descanso e não me ocupasse o dia
Se a noite fosse esse lugar de dormir para acordar com alegria

Talvez se a noite fosse noite com toda a sua virtude
Talvez o dia fosse dia com toda a sua magnitude

Espero dos humanos a sensatez de não tirarem à noite a sua razão
E ao dia deixem toda a virtude que aos olhares despertos dão

DC

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O FRUTO MAIS APETECIDO....

Despia-a da sua roupa harmoniosa, enquanto o fazia, o seu cheiro penetrava nas narinas e ao mais recôndito de mim trazendo à superfície momentos deliciosos outrora vividos.

Toda ela era uma apelo há natureza, um produto maravilhoso, que nas terras de antigamente causava furor, enchendo as praças dos lugares com a sua presença alegre, e a sua vestimenta ao sabor da época.

Infelizmente, como o decorrer dos tempos, as coisas se têm alterado, agora qualquer bicho careta troca a sua fibra, o seu cheiro, o prazer da sua roupa, o saborear do seu corpo sumarento, por aquelas mal amanhadas jovens vítimas de enxerto que se assemelham, mas não tem a sua qualidade. São loiras platinadas sem sabor, sem riqueza, sem memorias e sem futuro. Desenxabidas, que não apelam ao calor da nossa boca, nem nos preenchem o prazer de saborear na calma, repetindo o gesto e abusando até ao limite da satisfação de prazer tão íntimo.

Hoje, pude repetir o ritual da posse, e do prazer de a poder despir das suas vestes, usufruir do seu cheiro, poder olhar a sua pele esbranquiçada, retendo as suas formas na minha mente, antes de a saborear até ao mais íntimo de mim, cada bocadinho, cada saliência a sua pele interior, sentindo-a desfazer na minha boca.

Hoje, tive a sorte de te voltar a reencontrar e reviver momentos tão agradáveis como há muito não vivia. Eras a minha rainha da festa, nenhuma das outras tinha o teu brilho, ou beleza, e assim pude mais uma vez ser feliz, quando já desacreditava que pudessem voltar a fazer-te apreciada.
.....




Hoje, ao entrar na frutaria, verifiquei com prazer que as nossas tangerinas bem portuguesas, bem cheirosas, bem saborosas, tinham novamente conquistado o seu lugar depois de tanto tempo afastadas por uma Europa que não lhe reconhecia tamanho ou competência. Para mim, se na altura das festas natalícias se não houvesse tangerinas das nossas tudo era menos brilhante, pois nessas alturas deliciava-me comendo quantidades universais sem que sentisse satisfeito ou cansado de o fazer.

Serviam para abrir o apetite, para desenjoar a meio das refeições, para matar a sede, para ajudar na digestão, etc. etc. Tudo isto servia como desculpa, ou não, para continuar e justificar comê-las, saborear o seu cheiro e sentir o seu sumo escorregando pela garganta abaixo.

Ainda bem que se começam a recuperar os produtos da nossa terra, e a dar-lhes o lugar que merecem à mesa dos portugueses.

Escusado será dizer que comprei uma quantidade bem razoável de tangerinas...

DC

domingo, 18 de novembro de 2012

ATRÁS DAS CORTINAS

O sol realça as múltiplas ondulações dos cortinados brancos da sala, criando sombras de intensidade variada. A estrutura da janela reflecte-se no cortinado como se tivesse sido desenhada por um bêbado, compondo um quadro com variações de desenho permanentes, de tonalidades, luz e sombras

Um pedaço de pano que amortece a luz do sol com a seu calor e brilho e um mundo de silêncios, de quem de dentro observa, como um outro quadro de desenho único feito de tinta preta que se fixa numa parede invisível.

As rotinas, entre quatro paredes, marcam a mente, como um AVC deixando efeitos residuais inalteráveis quando da passagem por um corpo. São gestos estereotipados que restarão para sempre na pele do individuo, mesmo que um dia o silêncio se vá, mesmo que o dialogo surja, mesmo que o espaço seja cortado pelo ruído de outras vozes, mesmo que um dia por hipótese se divida a pasta de dentes. A glorificação do espaço e do silêncio ali estará presente e tornar-se-á um empecilho ao sorriso, á reformulação do seu modo de estar.

Os dias, mesmo quando o sol está presente, são frios e tristes, amortecidos pela névoa da realidade, cada vez mais dura, num país que não lhe reconhece o contributo para o seu enriquecimento.

Preparado para o trabalho e para as necessidades de um sociedade que o não vê como individuo, ele se vai esfriando e desaparecendo pessoa, para se tornar um robot dos interesses políticos e sociais e vai desaparecendo como individualidade com emoções, relacionamentos, vida.

Tiram-lhe, direitos agravam-lhe os deveres, e esperam que ele se vá escorrendo pelo sofá da dignidade e fique emborcando a brutalidade do isolamento, até que resolva deixar-se ir, num dia, em que o preto da sua alma seja da mesma “não cor” do pó que foi seu corpo.

Acredito que ele os vai chatear, porque como diz o povo “a esperança é a última coisa a morrer”, e como tal não lhes fará a vontade. Ele como muitos acabará por engrossar as fileiras dos descontentes e quebrará o seu mutismo gritando bem alto a sua revolta juntando-se aos milhares de vozes que se recusam a ficar por trás das cortinas esperando que a mudança aconteça.


DC

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

MARCAS DE "VIOLÊNCIA"


Esta, é uma das marcas da minha violência no teu corpo. Gosto de exercer esta minha violência sobre ti, deixando toda a tua pele macerada. Quero que sintas, em todos os minutos da tua vida, a minha brutalidade incorporada no teu corpo, como um ferrete, para que se reconheça a razão do teu sorriso, a serenidade do teu olhar, o tua aceitação desta minha forma de manifestar amor.

Bem ajas por me aceitares tal qual sou.

DC

FICO-ME PENSANDO..



No banco do jardim sentado observo a liberdade dos pássaros que alegremente enchem o espaço com o seu chilrear. Fico-me pensando no crime que é, fecha-los em gaiolas, como alguns fazem pelo prazer egoísta de terem os seus cantos só para si, mesmo que isso signifique roubar-lhes o seu voo e a liberdade.

A eles, aos pássaros, não se lhe conhecem guerras, com mortos e feridos em combate. Eles nas suas desavenças, por natureza raras, somente aumentam a intensidade do seu um chilrear e uma ou outra bicada. Nada que se compare com os chamados humanos, que sempre se digladiam até pelas coisas mais comezinhas e se habituaram à carnificina das guerras das bombas de Hiroshima, Nagasaki.

Fico-me pensando.... Já não falamos de amor de beijos, abraços, carícias, desejos, dos cansaços nas noites em branco de muitos amores feitos, com intervalos de risos de morango na boca. As nossas conversas, de todas as horas e em todos os lugares, perdem-se na crise, na austeridade e na corrupção que nos rodeia. Os planos morrem na contabilidade do fim do mês e o futuro não pode ser planeado mais longe do que a hora do jantar.

Tentam tirar-nos, o prazer de nos sentirmos vivos, de estarmos vivos, de nos sentirmos humanos. Será que conseguem? Quero crer que não.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

NOITE SEM SOMBRAS E SEM LUA

 Reclining Nude, 21" long, Danby Marble, by Art Wells.
Estou parado olhando, mas não vejo.
Sinto só o calor dos lábios no teu beijo

A noite não tem sombras nem lua
Sentimos pelo cheiro da pele nua

Pelo vai e vem das marés nos corpos
A certeza de que não estamos mortos

Acordo todos os sentidos de teu ser
E nos meus dedos sinto o teu viver

É nessa noite sem sombras e sem lua
Que te entrego a minha alma nua

Nessa noite de marés sem tempos mortos
Sente-se o vai e vem dos nosso corpos

Até que restem entre abraços amplexos e beijos
Os nosso corpos húmidos de seus desejos

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

REFLEXÃO...DEFLEXÃO...

Às vezes dá-me para pensar nas razões, que levam, hoje em dia, a tantas separações e divórcios. Meto-me onde não devo, mas gosto de divagar sobre o assunto.

Alguns de nós pensamo-nos tão bons para quem amamos, que nos esquecemos do que o outro gosta, ou do que ele quer na relação. Esquecemos, que somos alterados e alteramos pela partilha. Esquecemos que o nosso enamoramento por determinada pessoa, de um modo inconsciente, se deve à resposta que ela nos dá às nossas necessidades emocionais. Por vezes, pensamo-nos tão bons que nem admitimos sequer que já não goste de nós, ou até, que nunca nos tenha amado.
Não aceitamos de modo fácil as diferenças, como se amor tivesse de ser entre duas almas gémeas. Na verdade, se assim fosse, seria uma seca de todo o tamanho. Tal falta de diversidade tornaria a relação monótona, e na maioria das vezes, estaríamos a falar para o umbigo.

Em especial nos machos, existe a mania de se pavonearem agitando as performances físicas, económicas ou sociais, para se sentirem superiores, ou para se convencerem: “ já está no papo”. Se tudo fosse tão fácil, nunca o amor seria objecto de procura, nem tão pretendido.

Não raras vezes falta a honestidade, franqueza no falar, assumir o que pretendem. Resultado? Vidas em comum mal construídas. Por vezes, uma amizade sadia torna-se um namoro imperfeito. Somos nós, eles ou elas, que ao assumirmos esse tipo de comportamento vamos criando anti-corpos, estabelecendo a nossa própria noite, e com ela a escuridão, que se entranha no corpo absorvendo e sugando a energia, tirando o vocabulário das emoções, fazendo esquecer a luz que procuramos. Depois, depois restam os tempos perdidos em estórias mal escritas, que deixam mágoas e mazelas tão profundas, que tornam cada vez mais difícil encontrar o que tanto se procura.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

HOEJ..OHJE...HOJE



Não posso pensar mais do que no dia de hoje. Hoje é presente e nele temos a certeza que as coisas acontecem. ontem não deu, e não vale a pena justificar porque já passou, nada irá remediar, a não ser, fazer com que hoje não volte a acontecer. Amanhã, ainda não existe, e não posso especular, se não perco horas a pensar no que irá acontecer e não poderei viver o dia de hoje, sem desfrutar e com a atenção necessária para que não seja o mesmo fracasso de ontem, que não deu.

Viver intensamente o presente colhendo o máximo, porque de certeza o passado será esquecido, e naturalmente, sem pensar em futuro, este será construído, com toda a certeza, pela riqueza do hoje.
"Cuida el presente porque en él viverás el resto de tu vida."
Facundo Cabral

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

NA PRAÇA ONDE CIRCULO



Na Praça onde circulo fazemos da franqueza a condição, respeitando e falando olhos nos olhos, esclarecendo todas as nossas contradições. Não fugimos de uma “discussão”, conversamos o tempo que for necessário, para que não restem dúvidas e tudo se concilie.

Na Praça onde habito a solidariedade é um facto, não um lugar de oportunidade para “pendurar” interesses individuais. A amizade revela-se um lugar de estar, e partilhar é dividir o sol na esplanada da vida, é trazer à mesa alguém com que divide a refeição, é deixar que os diferentes se misturem numa individualidade aceite.

Na Praça de onde venho, nascer nas chamadas “camadas mais desfavorecidas da sociedade”, não é um estigma, quando dele tiramos a aprendizagem e seguimos o caminho. Podemos evoluir aprendendo e até fazer um curso universitário, mas não chega para ser melhor, se não houver evolução nas diferentes áreas de intervenção da sociedade. Como alguém disse, “aprender, aprender, aprender sempre”.

Nessa minha, nossa Praça, os Homens procuram cultura para evoluírem, amizade para se sentirem humanos, e não consomem novas tecnologias como se fossem um fado, usam-nos como elementos de trabalho na própria evolução do ser humano, sem a frieza e distância que por vezes elas trazem.

Eu gosto desta minha Praça, onde se procura que o egoísmo não resida, a palavra não amedronte, e onde se sabe da importância de construir caminhos atapetados de flores, pontes de sorrisos e abraços para a eternidade.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

TAXAR A "MIJA"


Há poucos dias, enquanto esperava pelo comboio, numa das mais famosas estações da nossa cidade, tive uma necessidade de ir à casa de banho, como sempre, civilizadamente dirigi-me às da estação. Chegado lá fico-me pelo espanto e com vontade de me mijar logo ali mesmo no átrio. Então não é que os senhores agora têm um torniquete, e para se usar a casa de banho tem de se pagar!

Fiquei furioso por não poder cumprir com a minha necessidade fisiológica, não paguei e decidi aguentar mais um pouco, entretanto pensei para os meus botões: “Estes tipos preferem que andemos a mijar pelos túneis de acesso, ou contra as paredes, quando tomam estas decisões. Depois dizem que somos um povo deseducado e sem cuidados de higiene.”

Se é para pagar as despesas da limpeza que exercem aquela cobrança, mais valia que
despedissem, ou reduzissem os salários exorbitantes, dos “chefões” da CP, e fariam uma grande poupança, podendo até limpar, com esse dinheiro, dezenas de casas de banho, além de evitar a merda que produzem todos os dias e não pagam para limpar. Porque na verdade estas medidas economicistas são mesmo pensadas por cabeças cheias caca.

Já sei que à muita gente que diz “ no estrangeiro também é assim!” e depois? Não significa, que não seja de igual modo uma medida de merda, porque seja onde for, quando o lucro se sobrepõe às necessidades humanas das pessoas, será sempre, e repito, uma medida de merda.

Antigamente em vários pontos da cidade havia, WC públicos, até que houve um iluminado camarário que resolveu eliminar a sua maioria, sabe-se lá por quê, e colocar uma espécie de quiosque WC, no qual as pessoas não entram, porque têm medo de ficar presas, porque não querem dar satisfações a quem passa de que vai fazer as suas necessidades, ou até poder ficar fechado e a canalização rebentar ficando afogados numa aquário de merda.

São medidas para resolver a austeridade que na prática seja em que circunstância for, são os mesmos a pagar. Não tardará que voltaremos a pagar licença de uso de isqueiro, e um espirro na via pública dê direito a multa.

domingo, 4 de novembro de 2012

GRAFITE SIMBÓLICO

Um galo de Barcelos, durante tantos anos considerado uma espécie de símbolo do nosso país, aparece numa das ruas da cidade do Porto, estilizado como um peixe? Talvez. As texturas parecem sugerir escamas e os desenhos da base sugerem água, ou peixes. Até parece que o autor nos querer dizer, que neste país os governantes responsáveis metem tanta água que o galo virou peixe. Digo eu.

Seja o que quer que seja, que o autor da imagem pretenda comunicar, na verdade o que interessa é que o seu efeito visual não passa despercebido a quem passa, e funciona como meio de fazer esquecer uma parede,  num local que sugere abandono e "velhice".

sábado, 3 de novembro de 2012

SÁBADO COM SABOR A TROIKA



A chuva foi o cair da folha no Outono, entrou forte intensa, corrida a vento talvez antecipando um Inverno que ainda não se sabe.

No cidadão comum o inverno já se instalou há muito, com o negrume de uma austeridade que o massacra. Todos os dias têm chuvido medidas que lhe escurecem a alma, que regelam o estomago, e que o fazem tossir de raiva. Diz o povo “abife-se, avinhe-se, abafe-se, para curtir a gripe. Neste caso eu diria agite-se, revolte-se e faça com que eles caiam antes de maduros, porque se não quem cai somos nós, sem curar esta maldita invernia governamental, cheia de estafilococos, do capital financeiro e com o vírus da Troika.



Bom sábado, se possível 

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

NÃO EXISTE UM ADEUS QUANDO PARTE

Não existe um adeus quando parte, somente um até já mais prolongado do que as suas vontades pretenderiam.

São condicionados pelo tempo, pelo dia-a-dia, pela austeridade, tudo o que não dominam para além do que sentem.

Resiste a vontade férrea de que seja bom enquanto dure, vivendo com intensidade o momento que os intervalos, a espaços, desse tempo, dessa austeridade, desse dia-a-dia lhes permitem.

Fazem que cada hora seja um dia e cada dia uma semana, para que seja mais curta a ausência entre os beijos, as mãos e suas carícias, os desejos e o seu acontecer.

Na sua mente voam para além da velocidade da luz e todos os dias desenham o presente entre o sussurro dos ventos, entre os gritos de alerta aos sentidos, não deixando que as pequenas areias se transformem em montanhas, ou que os sonhos se percam por falta de ousadia.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

ImPASSE



Devo ter sofrido uma lobotomia que me deixou sem saber que teclas escolher para aquilo que quero dizer.

Passei para o papel e esferográfica, foi pior, não sabia como parar de acumular rascunhos com palavras e frases inacabadas. O cesto foi-se enchendo de folhas esmagadas abruptamente, como se quisesse destruir em vez de construir.

Enfrentei novas folhas brancas, tão brancas quanto a minha mente e nelas deixando que o marcador, lápis ou caneta, corressem livremente sem me concentrar nem relacionar com qualquer objectivo. Traçar linhas, formas, preencher espaços e rimando, afastando cagaços. Se habilidade não abunda a ignorância é mais funda.

É o acto de riscar uma forma de gozo especial, que não dimensiona responsabilidade, não se procura encontra-se, é a paz na abstracção do que se vai produzindo.

Não era do papel, nem dos lápis, nem qualquer outro material riscador, a razão de tanta incompetência ou dificuldade. A razão estava na preocupação de não falhar na comunicação, pensar no resultado para os outros e não o resultado em si próprio.

Ultrapassado o impasse tudo fluiu. As folhas rabiscadas deixei-as numa pasta sem tempo, pode ser que um dia lhes descubra sentido.

Bom dia.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Os SONS da GUITARRA


Os sons vão saindo da guitarra, a alma se despega sem destino vogando no impulso dos ventos. A música que não leio, os sons que desconheço, sugam-me todos os sentimentos para a superfície da pele, inebriam-me os sentidos.

Há coisas que nos tocam tão fundo e por tão abstractas que são, me deixam confuso, sem resposta, ou explicação. Procuro a razão, para a minha capacidade de ouvir, de sentir as emoções que surgem como do nada, de perceber como a conjugação dos sons e suas tonalidades se conformam em melodias e não encontro respostas. Será essa a explicação para aquilo a que se chama arte? Não sei, no entanto toca-me, sensibiliza-me, faz-me sonhar, voar bem longe e relembrar momentos, uns dolorosos que me abrem feridas, outros inesquecíveis porque bons. Tudo se me aflora nesses momentos em que os sons da guitarra golpeiam o ar, tudo me faz acreditar que a arte é algo que mexe com os sentidos em toda a sua plenitude, por isso, não é facilmente explicável, ela é isso mesmo, abstracta ou figurativa, ela vai mais fundo que aquilo que algum dia podíamos imaginar que seria possível, ela faz parte do nosso ADN, da nossa genética.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

QUANDO PASSA PELA RUA


Delicioso movimento de seu corpo
construído com martelo e escopro
Rodando as ancas a cada momento
Da espiral que parte do centro

Abana a cabeça ondeando seu cabelo
O sorriso sonho de água no deserto
No corpo se move como ave em céu aberto

O seu perfume se arrasta pelo ar
Marcando o espaço onde caminha
Todo mundo fica a suspirar
O amor que nela se adivinha

Assim ela vai como voando
Desfazendo sonhos partindo corações
Sem saber que alguém a amando
Por ela se perde em ilusões.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

UMA FOTO



Impressionou-me a estrutura de ferro a suportar a alvenaria deste antigo casarão de lavrador rico. Alguém se preocupara em evitar que o tempo e a intempérie o fossem destruindo. Só me fez confusão, que depois de tantos anos, continuasse esperando que alguém o salvasse efectivamente. Problemas de herdeiros, abandono por dificuldades económicas? Nunca saberei, não estava a fazer trabalho de repórter, ou qualquer levantamento arquitectónico, para me dar ao trabalho de investigar. Esteticamente a imagem continuava a impressionar-me e a atrair o meu olhar. Naquele momento só isso me bastava, a razão porque se mantinha naquele estado, talvez fosse mais complicado descobrir, como tal fiquei-me por aqui, registei o momento.

domingo, 21 de outubro de 2012

DEDILHANDO LETRAS


Dedilhando nas letras procurando as palavras certas, foi percorrendo o tempo construindo as frases, como se na marginal do rio procurasse a foz.

Os pensamentos surgiam como cardumes em águas revoltas das quais o pescador, de onde em onde, encontrava o peixe incauto iludido pelo isco.

A caneta vibrava e a linha ficava tensa evitando deixar fugir o precioso texto pescado de tão fundas e agitadas águas.

É uma luta dura entre a musa que inspira e aquilo que se realiza.

sábado, 20 de outubro de 2012

SEI que HOJE É SÁBADO

Sei que hoje é Sábado, não o dia de todas as coisas, mas o dia de fazer muitas coisas. No entanto agarro-me as coisas comuns, porque hoje é Sábado e pouco ou nada difere dos outros dias, neste tempo de vacas magras, onde só o ar que se respira ainda não custa dinheiro.

Como dizia a senhora do reclamo, “no meu tempo”, o sábado de manhã era preenchido com as compras e com o ajustar das coisas deixadas por fazer durante a semana. De tarde, a meio da tarde, saía-se para lanchar e dar um pequeno passeio. A noite era para estar com familiares, ou amigos, ou na indisponibilidade destes, gozar um momento mais intimo

Aqueles tempos, em que o fim de semana servia para carregar as pilhas, já lá vão, agora os fins de semana perdemo-los olhando a televisão, ou dando um passeiozinho pelas ruas do bairro, onde vamos observando a deserção em massa, que os letreiros vende-se, ou aluga-se, dão sinal nas janelas. Há sempre a alternativa de ir ao shopping mais perto, passar umas horas a olhar nas montras o que se não compra, e enganar o prazer de um lanche, com um simples café, que se toma demoradamente para “render o peixe”.

A vida de quem trabalha nunca foi fácil, mas hoje está um inferno, e inferno por inferno, mais vale fazermos asneiras, que compensem tão fraca estadia nesta coisa que se chama terra.
Por isso digo vamos lá a pecar. As rezas estão pela hora da morte e não nos levam a lado nenhum, por isso, pecar não tem custos. Façamos o que nos der na real gana, pelo menos dentro portas. Andemos nus pela casa, coloquemos a música do Abrunhosa, “e agora o que vamos fazer? Talvez foder, talvez foder”, no máximo volume, bebamos um copo de vinho, assemos um chouriço, demos quatro arrotadelas, bem alto, e gritemos contra o governo a plenos pulmões. Há noite na cama dêmos o litro, gritando do nosso prazer e aproveitemos para usar a letra da canção para expressar nossas emoções. E tudo isto porque hoje é Sábado.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

EM SILÊNCIO ESPERA

Em silêncio espera que a sua voz surja, que o acalente o seu falar, e possa enfim descansar.

É nesse momento do fim do dia, já entrado na noite, que fazem o agradável resumo da jornada e mais ou menos acaloradamente vão conversando de diferentes preocupações que a preencheram, dos sonhos e perspectivas quando ao dia, ou dias seguintes.

São momentos únicos que fazem com as peças do puzzle se encaixem e se crie uma perspectiva comum.

Às vezes também dói, porque longe, só as memórias dão referências de espaços cheiros, pele, calor, corpo, o que os torna mais ansiosos esperando pelo reencontro.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

POR AGORA rESTA em PaZ


Vi a fotografia e me inspirei. Não queria fazer uma cópia, queria que fosse uma outra coisa assumidamente pintada e não um outro retrato da realidade. experimentei diferentes formas de abordagem, com pouca tinta, muita tinta, menos explicito mais explicito, até que cansei. desenhei larguei tinta, fui "sujando" a meu belo prazer. quando já não conseguia ir mais além do que via, desisti deixei que ele ficasse a marinar. Talvez um dia, eu consiga ir mais longe e lhe volte a mexer. talvez sem medo de estragar, mas com vontade de encontrar outro caminho para dizer do mesmo objecto coisas diferentes e mais ricas. Por agora resta em paz.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Os aPÊNdIceS


A passagem do tempo parece não o afectar. Amanhece sempre cheio de gás e disponível, como diz o Dr. As preocupações ficam abafadas pelo sono e a cabeça normalmente fica limpa.

Quando o vejo desejo-o como nunca. Só me apetece beijar, acariciar e percorre-lo com as mãos. Gosto de e sentir aturdida pelo seu vigor, assim como gosto de ser eu a razão desse vigor. Ele estimula-me, do mesmo modo que eu faço com ele. Sinto-me sua companheira e espaço querido de aconchego. É bom quando tudo acontece com o prazer de nos sentirmos plenos, no mais intimo de nós.

É interessante como nós seres humanos nos deliciamos com um tão pouco, mas que por vezes, embora com altos e baixo, vai crescendo com, e, em sabedoria, pela prática constante, o seu entusiasmo até ao êxtase, cujas consequências para o bem estar obtidas são enormes.

Por vezes existem pequenos espaços mortos, alguns que se prolongam, porque o ser humano tem limitações de vária ordem que influenciam o desempenho do casal, no entanto na maior parte das vezes a sabedoria adquirida com a prática e com o tempo tudo acaba por se realizar e obter efeitos bem interessantes.

Nada como viver com entusiasmo, pela pessoa que se gosta, para que uma pequena coisa se transforme em algo grandioso, rico de sensações e emoções.

Importante é saber aproveitar a oportunidade e o entusiasmo, mesmo que por vezes momentâneo.

A vida são dois dias e o de hoje já foi.



terça-feira, 16 de outubro de 2012

de PÉS ao CAMINHO

Eu a vi naquele caminhar de abandono deslizando o pé, como se procurasse gravar no chão a sensualidade do seu corpo seminu pelo areal da praia. Como fazer para que os seus pés fossem o relato de um momento? Talvez a sensualidade da figura, só me tivesse dado o tema e o prazer de ir pintando na busca de a encontrar.

De pés ao caminho, fui sempre colocando tinta sobre o suporte procurando o resultado. Misturando técnicas, de espátula, pincéis e mãos. Camadas sobre camadas, dando mais espessura à tinta dando mais "tinta" à expressão ao tema. A certo momento é preciso parar, tudo o que se faz, ou acrescenta demasiado, ou estraga o que está feito. É momento de pausa e esperar se horas depois continua perante nós a razão que nos levou a parar. Se assim for o melhor é encostá-lo nos trabalhos concluídos, já não dá mais. 

domingo, 14 de outubro de 2012

QUANTAS VESES...POR VEZES


Por vezes, um telefonema mantém o sonho vivo.
Por vezes, um sonho vivo dá origem a muitos telefonemas
Por vezes dum telefonema e dum sonho vivo se originam poemas

Quantas as palavras ditas no bucal do telefone
Quantos sonhos vividos falam de problemas
Quantos, às vezes, fazem das nossas vidas poemas
Quantas vezes nos abrem ao amor e à sua fome

Quantas vezes, por vezes, falamos de amor..
Por vezes, quantas vezes, temos problemas
Por vezes não fazermos os telefonemas
Que por vezes afastariam os nossos os dilemas.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O SONHO COMANDA A VIDA

Todos temos um sonho a realizar e dele fazemos objectivo de vida, mesmo sabendo que é difícil de alcançar, não damos ao desespero guarida.

Todos os dias o revivemos, acrescentando mais e mais detalhes, sustentando-o e aparando todas as arestas.

Nesse percurso sem nos apercebermos vamos concretizando pequenos sonhos, e nem reparamos, que são eles os pilares do caminho que percorremos, para concretização do tal sonho que tanto buscamos.
Como diz o poeta o "sonho comanda a vida",

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

VbEiJO-TE


Vejo-te através das imagens que a música me sugere.
Navego pelo o horizonte do teu corpo tentando matar as saudades
deixando-me levar por ventos e tempestades
ao encontro da bonança desse teu corpo,
meu céu em mar aberto
e deixo que a recordação do sabor desses teus lábios mate a sede
que a tua ausência me trás.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

NÃO SE PODE PERDER O SORRISO

A chuva cai leve, de mansinho. Hoje, segunda-feira 8 de Outubro de 2012, é uma data como outra qualquer no calendário da vida de um indigente como eu, a única diferença em relação aos outros dias, é que hoje estou mais velho um dia, mais cansado do que ontem, física e espiritualmente.

Cada dia que passa tentam a apagar-me o sorriso, no entanto não conseguem, todos os dias os surpreendo afivelando-o ao rosto. Pelo menos esse sorriso vai mantendo os músculos do rosto activos, deixando os meus opositores e observadores, defraudados por não me conseguirem aborrecer.

Não se pode perder o sorriso, não é saudável nem ajuda a nossa auto-estima. O sorriso comunica ao nosso próprio corpo e mente uma sensação positiva, que nos fortalece, e nos ajuda a levar de vencida uma grande parte dos obstáculos que se nos deparam.

Por tudo isto e mais aquilo, e tudo o mais que não me lembro, quando me olhei no espelho dei uma gargalhada forte, forçada, e deixei-me ir de tal modo, que pouco depois ria a bom rir sem saber porquê, foi óptimo. Quando saí do WC público, já tinha montado todos os músculos da face e um sorriso pronto para enfrentar o mundo.

Quando me acusam de sujo e mal vestido, afivelo o meu sorriso e penso para os meus botões: quanto de sujo terás tu nessa tua cabecinha, com esse teu ar todo lavadinho engravatado e cheio de maneirismos?. Tenho o corpo sujo e uma alma limpa. Não tenho casa porque ma roubaram os bancos. Não tenho lugar para me lavar, nem muita roupa asseada para trocar, é pena, nada posso fazer, nem sei onde existem os banhos públicos. Perdi a necessidade ter quando tudo me foi tirado, não sabem o quanto beneficiei com isso, voltei a ser livre, nada me prende nem local nem mentalmente. Perdi o medo, nada tenho a perder, refugio-me na dignidade que ainda tenho. Quando me olham com pena, como se fosse uma desgraçado perdido nos maus caminhos da vida, eu sorrio, ainda tenho a minha liberdade, não tenho peias sociais e materiais que me prendam, nem o olhar de “carneiro mal morto” que outros têm, porque esmagados nos seus direitos como pessoas.

Indigente não foi uma opção, foi uma necessidade que se tornou uma opção em nome da minha liberdade. O meu colchão é de cartão, meu telhado um vão de escada, o meu candeeiro é a vela antiquada e meu aconchego a gata malhada que ronrona do cair da noite ao nascer da alvorada.