quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

ASSIM SE PERDE....


Entra devagarinho, entre conversas cruzadas, vai-se alojando nos pequenos espaços que vai encontrando, vai-se agarrando à pele, aos cheiros, às imagens, aos mimos, às carícias e vai criando memórias, presença, ombro, até que entra no ADN, e depois... quando damos fé.. a paixão (ainda não é amor). depois....torna-se perverso, se não evolui para as fases seguintes, se não é correspondido, ou se, se inventam medos, tempos de espera, desculpas estranhas. No entanto, pior é abdicar de usufruir em nome de.. para que... tendo em conta que...neste momento...enfimmm. É assim que muitas vezes se perde, um possível, grande amor, porque antes que ele aconteça, já se lhe cortam as pernas.

GRAFITE



Olho os grafites nas paredes, e fico embevecido pela criatividade daqueles que se empolgam criando assinaturas “tags” e imagens.

Penso no desperdício daquelas pessoas, que se dedicam a “sujar as paredes” com cor, formas e mensagens quase subliminares.
Sabe-se que os grafiteiros, actuam em contravenção. Nisso encontram a “gozo”, mas seria bem melhor para todos e com ganho de espaço para actuarem, se eles aproveitassem a sua criatividade para desenvolver acções em locais, em que a visibilidade seria muito maior e contribuiriam para embelezar o ambiente da cidade como já fazem alguns por esse mundo fora. Muito ganhariam em colorido, paredes, até agora despidas, e outras tornar-se-iam mais interessantes, usando o chamado “Tromp de oeil”.


Grafite ou Graffiti (do italiano graffiti, plural de graffito, "marca ou inscrição feita em um muro") é o nome dado às inscrições feitas em paredes, desde o Império Romano. Considera-se grafite uma inscrição caligrafada ou um desenho pintado ou gravado sobre um suporte que não é normalmente previsto para esta finalidade - normalmente em espaço público.



terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Às vezes a noite diz-nos isto



A noite ainda não evoluíra o suficiente para fechar os olhos e descansar. De repente lembrou-se de lhe escrever. dar-lhe uma palavrinha.

“Sabes gostava de fazer amor, do teu amor. gostava de navegar no mar do teu corpo sentindo a ondulação do teu desejo, de ouvir a tua voz apelando urgência...e depois olhos fechados, um sorriso aflorando o teu rosto e a voz morna soando nos meus ouvidos num murmúrio desconexo.

Vivia-te na distância como se perto estivesses, temendo perder esses momentos que marcaram o prazer de te conhecer.

Por vezes, a tua voz arrefecia meu ânimo, mas não arrefecia a beleza das imagens que possuía na minha mente, nem o entusiasmo de te querer. Sabia da inconsciência do teu feito. Pensando teres o mesmo querer que eu tinha no meu peito”.

Pensava...agora o que resta...um vazio enorme, e a percepção de que as frivolidades  se sobrepõem à doença do gostar, adorar, amar...

“Nesta era em que tudo é fabricado, em que nada é natural, em que nada é puro; em que os primeiros beijos se trocam por telemóvel, se fala por sms e os ditos «encontros românticos» acontecem no cinema, entre um balde de pipocas e um copo de coca-cola, nesta era, que já não é minha, já não é tua, já nem é nossa; deixa-me falar-te de amor. Não quero falar deste «amor» novo, feito de «roda-bota-fora», que nasce podre e é vazio. Não te quero falar do amor para passar tempo, que se joga na Internet; nem daquele que se conhece num bar ou numa discoteca.” ...

“O amor que me ensinaste é puro, é natural, é biológico, sem corantes nem conservantes. Mas deixa-me contar-te um segredo: nesta era, que já não é minha, já não é tua, já nem é nossa; o nosso amor, ainda encanta! “

Ana Rita da Silva Freitas Rocha, in 'Textos de Amor – Museu Nacional da Imprensa'

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

ESTÓRIA DE VIDA A 13


Decidira procurar outro lugar, para me poder encontrar como os meus pensamentos e fazer uma pausa para ler. Escolhi aquele jardim nas traseiras da igreja das Sete Bica, onde existia uma esplanada muito agradável. Ali fiquei, “curtindo”, o ruído dos pássaros, o sussurrar das árvores despidas, deixando a mente livre de pensamentos. Após algum tempo deste, retiro ao qual dei algum espaço à leitura, decidi voltar para casa. No caminho lembrei-me de que tinha de comprar, algo para o almoço. Tinha na ideia de que mais à frente havia um talho e iria lá.


Olhei da esquina, pensando que o talho já tinha desaparecido, não tinha qualquer reclamo exterior, mas afinal estava lá. Entrei e esperei alguns momentos durante o quais, mesmo sem querer, ouvi aquela conversa. O talhante que presumi ser o dono, dirigia-se ao outro individuo, mais ou menos com estas palavras: “Olhe traga-me a factura para semana para pagar, porque é a última para liquidar, e fica tudo arrumado, já que vai fechar, acaba-se com isso.”. O outro sujeito fez um qualquer comentário de anuência e foi-se embora. A minha curiosidade aguçou-se, perante o que tinha ouvido. vendo as montras frigorificas quase vazias, e o talhante, com um ar entristecido, fiz-lhe a pergunta: Desculpe, mas não pude deixar de ouvir a conversa, o talho vai fechar? Ele prontamente me respondeu, vai sim... Nem deixei acabar a resposta, e fiz nova pergunta: Mas por quê, falta de clientes? Não, não é, eu já estou cansado disto, não tenho vontade para continuar sozinho a aguentar isto, sem a minha mulher. Eu já tinha reparado que ele vestia um pólo preto e de facto os seus olhos estavam brilhantes e tristes. Perguntei-lhe, por quê ela morreu? Foi sim, perdi todo o prazer nisto, tudo, ela ajudava-me imenso, aqui e não só. Perguntei novamente mas e os clientes? Os clientes...desculpe dizer o que vou dizer, mas ela roubou-mos todos! Não porque fosse velhaca, ou má pessoa, pelo contrário, ela era excepcional, com eles, as senhoras adoravam-na, ela falava muito com elas e leva-lhes as encomendas, servias aqui, etc, e agora por causa disso eles não querem vir cá, porque têm saudades dela e tem pena de não encontrarem aqui.. então perdi quase setenta por cento da minha clientela... com a crise... decidi deixar isto, e é engraçado, se, se pode dizer isso, imagine que ela fazia anos a treze, casamos a treze, abrimos o talho num dia treze, e vamos fechar quando faz treze anos de existência.
De facto não era bem a falta de clientes. Tinha sido sim, a falta de alguém, que amava e era amada, pelos seus clientes, que originara o fecho.

Ao ouvir isto recordei-me de como o falecido, Fernando Pessa, acabava as suas reportagens: “E esta, hein?”

Saí matutando na crise, ao mesmo tempo que pensava, que a forma de atendimento tradicional, personalizado e de proximidade com o cliente, destes pequenos estabelecimentos, era o único meio de sobrevivência perante a concorrência desigual com as grandes superfícies. Não havendo isto, dificilmente se resiste.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Oh, CHUVA.. na Timidez


Hoje substitui a minha fala por outras falas.

TIMIDEZ
"Invento-te num sonho só meu e sem pudor, desvendo-te os segredos que minha alma ainda encerra… Mostro-te sem rodeios os desejos sentidos, expostos nos arrepios que só teu olhar consegue provocar. Seguindo sem medo, as estradas traçadas na pele para te levar ao mais infinito sentido de prazer…


Dispo-me das incertezas para abraçar a cor da paixão que me envolve o corpo com seu manto quente, feito de vontades urgentes. E em gestos inquietos, guio-te nesse fogo que me queima por dentro…

Revelo-te na minha nudez, o desejo da entrega que me assalta como uma tempestade e num último esgar de lucidez, diante desta loucura que é amar-te, transparece toda a timidez deste meu ser!"
 
Tirado do blog
http://emsegredo.blogs.sapo.pt/

POR VEZES... AS PALAVRAS CERTAS...

Por vezes, mesmo quando dizemos as palavras certas, nem sempre elas estão certas. Nem sempre vemos para além do que está à nossa frente, ajuizando da pior maneira, quem nos deseja o melhor, e nos dá o seu melhor.

Tem vezes que as palavras certas, que parecem incertas, dizem mais do que aparentam e vão mais longe do que os nossos pensamentos, caminhando bem a par com o que queremos.


Ter palavras certas, para as pessoas certas, em momentos certos, sem acreditar no erro, é deixar de ser gente. São o erro e o acerto, que fazem evoluir o mundo, se assim não fosse, nem a roda teria sido descoberta nem o fogo teria aquecido as almas.


E como podemos saber do erro, ou do certo? Nem juízos apressados, nem interpretações desajustadas nos ajudam, penso eu. E que pensas tu?


“O algodão não engana”, diz a publicidade, digo eu. Para alguns de nós a dignidade e honestidade de comportamento ainda são um valores a cumprir, preferindo perecer a deixar que os subvertam. Quando postos em causa magoam.

"Enquanto houver um louco, um poeta e um amante haverá sonho, amor e fantasia. E enquanto houver sonho, amor e fantasia, haverá esperança." (William Shakespeare)
"SE NUNCA FALHASTE NUNCA VIVESTE"
facebook Frases sentidas

sábado, 25 de fevereiro de 2012

TRÊS PEÇAS


Três peças ficaram
Duas marcam um tempo
Uma o perfume do momento
Duas ficaram das três
Derrubadas em sítios escusos
Outra colada na pele
aroma, memória, encontro
As três tem uma história
Da qual não vou agora falar
Se não ficaram por acaso
É motivo para pensar
Se haverá um prazo
Para tudo se explicar

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

ÁRVORES COM ALMA


Olhei-as altas esguias recortadas no céu, sem a decoração que as referencia. Só os pássaros as aconchegam, no vazio da espera. São poderosas, porque nuas, oferecidas ao sol que as beija, como um corpo de mulher que se desnuda aos nossos olhos em majestosa volúpia e derruba todas as nossas tibiezas.

Fico parado, e nostálgico me perco em memórias. Cada galho vazio, outrora preenchido de coloridas folhas, era agora uma súplica aos céus para que regressasse a primavera de flores rosadas, que amadurecidas em cor verde vivo, a sombreassem.

O céu dava-lhe o recorte, as sombras decoravam suas reentrâncias, os nódulos marcavam cada nascimento, como em nós humanos o crescimento.

Ela continuava majestosa, despida de seus enfeites, projectando-se no espaço com orgulho de si. sem artifícios de conquista. com a singeleza das coisas belas. tornando-se figura do meu pensamento, que como ela se encorajava em novo renascimento.

O que ali se lhe deparava, seguia a ordem natural das coisas, não como a sua alma perdida em galhos secos, sem regaço e empedernida pelo cansaço.
 
Apeteceu-me nelas me abraçar, tocar a sua pele, sentindo a seiva alimentando o seu crescer, e com elas esperar, a primavera acontecer.

PÁGINAS DO LIVRO

As páginas do livro, que não escrevi foram-te enviadas.
Nelas constavam palavras e frases bem avisadas.
Dizem que não dou ponto sem nó, quando assim faço
Na verdade do teu coração só queria um pedaço

Queria ver-te voar, partilhando o céu até ao horizonte
Batendo as asas em ondulantes movimentos
Entre frases e palavras soltas, do amor e sua fonte
Ou simplesmente planando e o longe observando
O pedaço do teu coração em mim ficando

Um dia enviei-te as páginas de um livro,
E as palavras e frases que nelas constavam
Eram dum coração que não dava ponto sem nó
E queria um pedaço do teu para não estar só


Há alguns dias Manuel Pina, falava dos indivíduos que se pensam poetas porque as palavras rimam e dava o exemplo " Todos com “alma” a rimar com “calma” e “água” a combinar com “mágoa” e coisas do género ". Eu não sou poeta mas gosto que rimem, não sabendo mais, paciência, ele que me desculpe



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

JOSÉ AFONSO, CANTOR DA REVOLUÇÃO

Coimbra. Esta é da poucas homenagens
que se podem encontrar a este
cantor de intervenção, que tanto deu
ao seu país.
JOSÈ AFONSO, o "ZECA", como era mais conhecido Faleceu a 23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal, às três horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica. Faz agora vinte cinco anos.

Lembro-me de o ouvir cantar ao vivo em festas de estudantes, e de movimentos de jovens para os quais sempre, arranjava algum tempo disponível. Não raras vezes me emocionei a ouvi-lo, nesses tempos.
Foi um cantor de intervenção política de qualidade ímpar, no seu país e a além fronteiras.
Merecia ter o reconhecimento dos poderes políticos, e não só, deste país prestando-lhe uma homenagem que marcasse bem a sua importância como cantor e músico.
Para os que como eu, que sempre convivemos com a sua música, ao longo dos anos, dificilmente o esqueceremos.

Eis alguns dados retirados da Wikipédia. que nos dá a  dimensão deste figura ímpar da música portuguesa.

Começando por cantar em festas populares e em colectividades, lança, em 1960, o seu quarto disco, Balada do Outono. Em 1962 segue atentamente a crise académica de Lisboa, convive, em Faro, com Luiza Neto Jorge, António Barahona, António Ramos Rosa. Segue-se uma nova digressão em Angola, com a Tuna Académica da Universidade de Coimbra, no mesmo ano em que vê editado o álbum Coimbra Orfeon of Portugal. Nesse disco José Afonso rompe com o acompanhamento das guitarras de Coimbra, fazendo-se acompanhar, nas canções Minha Mãe e Balada Aleixo, pelas violas de José Niza e Durval Moreirinhas.

Em 1963 termina a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, com uma tese sobre Jean-Paul Sartre, intitulada Implicações substancialistas na filosofia sartriana.

No mesmo ano são editados os primeiros temas de carácter vincadamente político, Os Vampiros e Menino do Bairro Negro - o primeiro contra a opressão do capitalismo, o segundo, inspirado na miséria do Bairro do Barredo, no Porto  -  integravam o disco Baladas de Coimbra, que viria a ser proibido pela Censura. Os Vampiros, juntamente com Trova do Vento que Passa (um poema de Manuel Alegre, musicado e cantado por Adriano Correia de Oliveira) viriam a tornar-se símbolos de resistência anti-Salazarista da época.

Realiza digressões pela Suíça, Alemanha e Suécia, integrado num grupo de fados e guitarras, na companhia de Adriano Correia de Oliveira, José Niza, Jorge Godinho, Durval Moreirinhas e ainda da fadista lisboeta Esmeralda Amoedo.

Em Maio de 1964 José Afonso actua na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, onde se inspira para fazer a canção Grândola, Vila Morena. A música viria a ser a senha do Movimento das Forças Armadas no golpe de 25 de Abril de 1974, permanecendo como uma das músicas mais significativas do período revolucionário. Ainda naquele ano são lançados os álbuns Cantares de José Afonso e Baladas e Canções.

Ainda em 1964, José Afonso estabelece-se em Lourenço Marques, com Zélia, reencontrando os filhos do anterior casamento. Entre 1965 e 1967 é professor no Liceu Pêro de Anaia, na cidade da Beira, e em Lourenço Marques. Colabora com um grupo de teatro local, musicando uma peça de Bertolt Brecht, A Excepção e a Regra. Manifesta-se contra o colonialismo, o que lhe causa problemas com a PIDE, a polícia política do Estado Novo. Em Moçambique nasce a sua filha Joana, em 1965.

Residiu, entre 1964 e 1967, em Moçambique, acompanhado pelos dos filhos e pela sua companheira, Zélia, tendo ensinado na Beira, e em Lourenço Marques. Nesta altura, começa a sua carreira política, em defesa dos ideais de independência, o que lhe valeu a atenção dos agentes do governo colonial.

Intervenção política até à Revolução de 25 de Abril

Quando regressa a Portugal, em 1967, é colocado como professor em Setúbal; no entanto, fica a leccionar pouco tempo, pois acaba por ser expulso do ensino oficial, depois de um período de doença. Para sobreviver, começa a dar explicações.A partir desse ano, torna-se definitivamente um símbolo da resistência democrática. Mantém contactos com a Liga Unitária de Acção Revolucionária e o Partido Comunista Português — ainda que se mantenha independente de partidos — e é preso pela PIDE. Continua a cantar e participa no I Encontro da Chanson Portugaise de Combat, em Paris, em 1969. Grava também Cantares do Andarilho, recebendo o prémio da Casa da Imprensa pelo Melhor Disco do Ano, e o prémio da Melhor Interpretação. Para que o seu nome não seja censurado, Zeca Afonso passa a ser tratado nos jornais pelo anagrama Esoj Osnofa.

Em 1971 edita Cantigas do Maio, no qual surge Grândola, Vila Morena. Zeca participa em vários festivais, sendo também publicado um livro sobre ele e lança o LP Eu vou ser como a toupeira. Em 1973 canta no III Congresso da Oposição Democrática e grava o álbum Venham mais Cinco. Ao mesmo tempo, começa a dedicar-se ao canto, e apoia várias instituições populares, enquanto que continua a sua carreira política na Liga de Unidade e Acção Revolucionária.

Entre abril e maio de 1973 esteve detido no Forte-prisão de Caxias pela PIDE/DGS.

Período após a Revolução dos Cravos

Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, acentua a sua defesa da liberdade, tendo realizado várias sessões de apoio a diversos movimentos, em Portugal e no estrangeiro; retoma, igualmente, a sua função de professor.Continuou a cantar, gravando o LP Coro dos Tribunais, ao mesmo tempo que se envolve em numerosas sessões do Canto Livre Perseguido, bem como nas campanhas de alfabetização do MFA. A sua intervenção política não pára, tornando-se um admirador do período do PREC. Em 1976 declara o seu apoio à campanha presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho.

Os seus últimos espectáculos terão lugar nos coliseus de Lisboa e do Porto, em 1983, numa fase avançada da sua doença. No final desse mesmo ano é-lhe atribuída a Ordem da Liberdade, mas o cantor recusa a distinção.

Em 1985, é editado o seu último álbum de originais, Galinhas do Mato, no qual, devido estado da doença, Zeca não consegue interpretar todas as músicas previstas. O álbum acaba por ser completado por José Mário Branco, Sérgio Godinho, Helena Vieira, Fausto e Luís Represas. Em 1986 apoia a candidatura de Maria de Lourdes Pintasilgo a Presidente da República.

Prémios e homenagens

Foi laureado pela Casa da Imprensa, como o melhor compositor e intérprete de música ligeira, nos anos de 1969, 1970 e 1971.

Foi, igualmente, homenageado pela Câmara Municipal de Lagos, que colocou o seu nome numa rua da Freguesia de Santa Maria.

Em 2007, foi homenageado na IX Grande Noite do Fado Académico, na Casa da Música (Porto), numa organização do Grupo de Fados do ISEP e da Associação de Estudantes do ISEP (Instituto Superior de Engenharia do Porto).




quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

FOI FALAR COM O MAR


Foi falar com o Mar. Companheiro de muitas horas. Ouvinte silencioso, que só responde de onde em onda. Ele acalma o peito, afaga a alma, deixa-nos abertos à vida. É um amigo único, a ter mais perto, porque disponível, para os desabafos. Ele na sua imensidão, na sua cor que acalma, suporta os gritos de revolta, a brisa agreste, o vento das tempestades da sua dor.

Estava ali falando com o mar, para que ele o deixasse gritar em pleno dia, a noite que dentro dele se instalara. Ele, o Mar, impávido, como bom amigo que é, foi sua fuga, para o horizonte, não o que se adivinha entre ele e o céu, mas aquele que precisava encontrar, para descobrir quantos passos e caminho tinha para andar.


Olhava o mar na sua imensidão, que perigosamente o atraía, perguntava-lhe se ele se aperceberia de quanto era importante para os inúmeros seres que o procuram para falar. Perguntava-lhe se ele não o quereria levar a velejar nessas ondas, até esse outro mundo das profundezas, recheado pelo colorido dos seus habitantes e dos que nele sucumbem. O Mar, amigo, levantou-lhe o orgulho e o ego, levando-o a amar a vida. Foi ele que lhe falou do seu grande amor. O amor puro, aquele que na sua quietude, ou agitação, continua amar, a sua Lua. Ela, a Lua, que por vezes se esconde, mas ele sente a sua atracção, ondulando ao seu ritmo, com mais ou menos intensidade, de acordo com os seus caprichos, com o prazer e alegria de sentir amado.


Foi o mar, que lhe falou das decisões difíceis, que por vezes tomamos. da dor que momentaneamente forte, com o decorrer dos tempos se desvanece. "Quanto mais tempo demoramos a decidir, mais dorido é o tempo de passagem".

Ele tinha razão, enterrara o machado de guerra, das emoções e decidira parar. Ali viera para ouvir o seu conselho amigo, esperando a sua ajuda, para se superar, e deixar que de novo a vida aconteça. A sua resposta foi dada e ele tem nova viagem marcada, com vista... para o Mar

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

SÓ UM SONHO

A polpa dos dedos percorre os teu lábios, afugentando os meus de desvendarem segredos.
A tua pele possui o cheiro das coisas doces indescritíveis, orientando os meus sentidos ao encontro do teu corpo.
Os meus olhos acariciam-te, ficando cegos pelo brilho do teu desejo.
O pensamento desfaz-se na ignorância, para além de ti.
Resto parado, vendo teu olhar me possuindo, acreditando-me inteiro contigo.
E em meus dedos humedecidos, sinto o calor dos lábios no teu ensejo.
Sei que partirás, como sempre, estragando-me o sonho, deixando boquiaberto de incerteza.
Vejo-te desvanecer nas nuvens de outras tempestades, ficando no limbo das meias verdades.
Embora tão próximo, nunca tão próximo que magoe.
E no silêncio da noite escura, os dedos deslizam nos lençóis e não te encontram.
No entanto a humidade permanece e o teu cheiro não se desvanece.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

CARNAVAL das CRIANÇAS

As crianças mascaram-se para o Carnaval, mas nestas resta só a curiosidade pelo fotografo,

domingo, 19 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

LEITURA DE UMA IMAGEM

 
Desassombradamente, olho-te nos olhos, sem resposta. Estes claramente abertos. Observo, teu rosto atento olhando o vazio em frente. Tua boca faz um trejeito pretendendo ser um semi-sorriso. Sentada, as pernas dobradas fazem uma perpendicular entre si, as mãos se cruzam à sua frente, aguentando a pose, como uma forma de guarda ao teu interior.

No silêncio harmonioso que compões, difícil é entender o por quê, dessa forma de mostrar. Dessa forma de dizer, “eu estou aqui, mas não estou". Dou-vos o invólucro, não a alma. Dou a resposta à vossa procura, mas não sou a vossa procura. Daquilo que eu sou, só vos resta a captura de um momento, em que fugazmente fui registo.


Depois...depois não existe depois, só o agora de cada momento que tu desse lado de “voyeur” que procuras almas perdidas na lonjura das madrugadas, e te deparas com outras, para ti, menos afortunadas.


Demoradamente penso, fico-te observando, tentando descobrir que parte de ti está amando, ou se estás brincando, com quem te olha chorando porque te procura não te encontrando.


Não sei o que resta depois do momento, em que deveras posando, preencheste um espaço de tempo, sem saberes, que te mostrando, alguém no escuro da noite te foi amando

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

VIDA DE DROGA ou DROGA DE VIDA


Sim, já era altura de saber como é. Eles correm em passos miúdos, de mão fechada, olhos fora das órbitas, rostos profundos, indescritíveis. Conforme chegam partem. Na mão que chega fechada, com a míngua das moedas, agora, do mesmo modo fechada, transporta o seu sol momentâneo. Dentro, daquele espaço pequeno, da sua mão fechada, leva a cura para os tremores e os suores frios, que ausência prolongada, provoca.
O caminho até ali, foi feito de pequenos furtos, caseiros inicialmente, agora já fora de portas, ao primeiro incauto que apareça, à mão de semear. Foi-se-lhe a vergonha, ou valores, morais, sociais, se alguma vez os tivera. Não tem família, tem os amigos do vício enquanto eles o ajudarem no prolongamento da agonia, porque se não…até esses desaparecem debaixo do fio da navalha. Já não são os seres humanos tal como os conhecemos, são uns híbridos, que vivem entre o cá e o lá, e é nesse lá que têm de viver, não por vontade própria, ou porque o queiram, mas porque o regresso já não tem horizonte próximo.
A mão continua fechada, e desesperadamente ele olha o chão procurando seringa, ou um pedaço de papel prateado, onde possa preparar o “medicamento” para as ansiedades. No primeiro vão de escada, ou lugar, mais ou menos escondido, serve, e quando não, encostado a uma qualquer porta, perante quem circula. A necessidade é quem mais ordena
Não se consegue apurar na maioria dos casos, como chegaram ao fim da linha. Sabe-se que de repente, eles se tornam agressivos agitados, sebosos no descuido, no vestir, no lavar e no comer, se é que comem, porque papo-seco, limão ou laranja são alimentos privilegiados. São os passos miúdos, os olhos com um brilho zombie, as olheiras profundas o cabelo desgrenhado, a roupa sebenta, o carapuço enfiado na cabeça, qual desportistas, onde parte do rosto se esconde, e o frio que se instala da ressaca, se atenua. Quem circula no espaço próximo da sua existência, já lhe conhece os tiques, os lugares que frequentam, e a pressa que levam nos passos para o caminho de nova toma.
Há quem diga que são razões de ordem psicológica, falta de afectos, no entanto se os afectos foram muitos, morre de excesso. Outros dizem que são os desgostos de amor, mas nunca foram tão amados.
Há quem diga que começou numa brincadeira, numa qualquer festa, num qualquer lugar. Outros dizem começar pelas leves para experimentar e se acaba nas pesadas e no vício.
Há quem diga ser luxo de ricos, mas isso, se no passado seria verdade, agora é mentira, porque são os pobres os que mais consomem.
Há quem diga que a falta de trabalho, o desemprego, a miséria vivida os arrasta para esses caminhos.
A verdade é que depois de começar, já nenhum deles quer saber ou se preocupa como começou. A realidade é crua, eles são uma arma que cria assassínios em causa própria e bandidos de causa alheia.
Ninguém fala dos pais distraídos passando ao lado do crescimento dos seus filhos, nem da benevolência excessiva dos adultos, ou outras questões que se prendem com o berço de valores das famílias que com as modernices, cada vez mais se vão perdendo.
Ninguém comenta, uma sociedade com mira no lucro, fazendo dos que trabalham escravos modernos, e tornam os pais ausentes sem tempo para a família, ou para si próprios.
Ninguém comenta as horas intermináveis de telenovelas de conteúdo duvidoso, os filmes agressivos, a passividade perante as injustiças. Ninguém acusa a manipulação do espaço visual em defesa de causa própria e com fins menos sérios. Até há quem defenda o “boom tecnológico” esquecendo que sem cultura, não existe evolução, mas sim conhecimento na base de colagens.
Não sabemos bem das razões, ou das motivações, mas é verdade que nem sempre é por falta de aviso. Sabemos todos, que é uma desgraça completa, aproveitada para se fazerem fortunas fáceis. Consta-se que cerca de 35% do dinheiro, que anda por aí a circular sem controlo é proveniente desse flagelo e que sem ele os governantes não conseguiriam governar.
Sabe-se também, que aqueles zombies, que alguns dizem humanos, andem por aí, tornando difícil a vida de quem trabalha, e estragando a paisagem, já de si deficitária, da nossa sociedade. E alguns recebendo subsídios, que não dão a idosos e reformados.

Ainda há gente defende a liberdade do uso, e que as farmácias funcionem como fornecedoras, ou seja, legalizando o absurdo.
A sociedade do caos organizado, é conveniente, para quem explora. Permite o medo, cria medidas mais repressivas e distraem-nos a todos nós de outros problemas graves. Esta é a sociedade, que dá perspectivas aos pobres de serem ricos, mas como diz o outro " De boas intenções está o mundo cheio"

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

NO SILÊNCIO DA NOITE FICOU

Continuava a vaguear perdido na noite.

Circulando à volta da mesa, caminhando madrugada dentro, na dissertação matemática, entre distância e silêncio.

Carregou teclas, deletou, recomeçou, novamente escreveu palavras construindo frases, frases cheias de ideias, de emoções. Distância, silêncio, pausa, tempo. ligadas a emoções e a razões. O espaço da folha tornava-se cada vez mais branco, e mais difícil encontrar as palavras adequadas, para descrever o que sentia.

Perdia-se sem descobrir a razão

Pensava na raiz quadrada, na medição do som, ele não via nada que alterasse a sua emoção. Bebia chá, comia bolachas e a noite decorria, sem a calma chegar, na sua procura matemática não sabia por onde começar. Se na noite ou no dia que estava a chegar.

Continuou a vaguear perdido na noite.

A palavra saudade, surgiu na equação, e tudo mudou, saudade, não é objecto de amor, é medo, perda, sentimento de distância e silêncio. A resolução da incógnita não se encontrou.A explicação não chegou.

No silêncio da noite ficou

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

OS OLHOS TAMBÉM TOCAM


Os meus dedos percorrem o copo grande, de pé alto, bojudo, adequado ao vinho tinto. Enquanto o faço as memórias ocorrem-me. Vejo um boca de lábios cheios, sorvendo e apreciando o vinho, a cabeça inclinando-se, o copo a ser pousado sobre a mesa e de seguida o sabor do vinho na minha boca.

Os dedos desenhando o copo, lembram-me aquela manhã de domingo... os meus olhos moldando o teu rosto, deslizando pelos teus olhos fechados beijando as pálpebras, acariciando o teu nariz, beijando a tua boca levemente saboreando os teus lábios cheios.  depois descendo observando o teu peito, percorrendo as curvas do teu corpo, com pequenas paragens, provocadoras, no ventre liso, afagando-te as coxas roliças, sentindo, como se a tu pele estivesse em mim.
O sol, tinha o poder de te realçar sobre os lençóis e a vontade de te beijar foi mais forte. Não queria que acordasses. Queria sentir-te, ternura. queria pousar meus lábios, tão levemente, na tua boca e em teu rosto. como se te embalasse, no sono. que o teu sono me deixasse espaço. sentir o calor da tua pele nos meus lábios. te guardar dentro de mim como um segredo. Quando acordasses. sorrindo com a leveza das borboletas sobrevoando a flor. com os olhos enlevados, maliciosamente doces. em voz suavemente enrouquecida, dir-me-ias do teu sentir. algo tão estranho, tão bom e inexplicável, como se o amor fosse assim explicado.
Eu, no segredo, radiante, saborearia, cada letra cada palavra, e guardaria o meu segredo tão fundo para que nunca se perdesse na realidade crua dos outros dias.

DC





FOLHA DE UM DIÁRIO 1

Indecisa, pensei se um dia divulgaria esta “estória”. Eu senhora casada e mãe. Até cheguei a pensar da opinião dos meus próximos. A minha racionalidade e emoção em dose quanto baste, me apontou o caminho. Afinal porque ter medo de falar de mim, de um acontecimento, que no fim reflecte uma passagem do meu tempo. De emoção e de prazer. de paz e bem estar. sem marcas tão fortes que o me tivessem impedido fazer futuro. Anotei, que valeu a pena. mesmo curto. mesmo sem passar do enamoramento. ternamente saboroso. sim repiso. vale a pena contar a estória.

DE MEMÓRIA COM TERNURA
Uma estória com a simplicidade das coisa vividas.
aamr.

Conhecemo-nos na roda de colegas de estudo. A partir daí comecei a apreciar-te à distância. Quando nos víamos no café, eu sorria-te de longe, enquanto beberricava a minha cerveja. a minha bebida preferida naquele tempo. Não me ligavas, os teus olhos ficavam mais atentos à minha amiga. esta já me tinha descrito, tudo o que sabia de ti, e desmobilizava o meu interesse. Não teve muita sorte, pois o seu namoro foi curto e nós pudemos conhecermos melhor. Não sei se te recordas de sairmos das aulas, perto das vinte e três horas, e caminharmos pelas ruas de mão dada. Tu eras um homem alto, fisicamente bem constituído, com algumas brancas nas têmporas o que te davam algum charme, davas-me uma sensação de segurança, aquelas horas da noite. Eu uma minorca magra que quase não se dava por mim, com os meus botins pretos, com tacão alto para não desaparecer a teu lado. Preferíamos caminhar, para podermos conversar. tendo tu que fazer um desvio razoável para me acompanhares e aproveitarmos o jardim, enorme, da Rotunda da Boavista, para nos sentarmos. algumas vezes em teu colo, como dois adolescentes, enquanto trocávamos, palavras, falávamos de arte, dos estudos, de nós, entrecortando beijos, mimos e sorrisos. Era uma espécie de tertúlia a dois. Quando a hora já aconselhava, deixavas-me à porta de casa e eu na distância do jardim da entrada, até o passar da porta, me ia despedindo.
Motivavas-me a escrever poesia ilustrada com manchas de cor, que eu te oferecia. Aceitavas a oferta, lias rapidamente, talvez por educação, mas tenho dúvidas que alguma vez lhe tivesses dado a importância que eu esperava.
Perdi-me em ti. De tal modo, que quis dimensionar o nosso estar, para algo diferente daqueles passeios no carro, onde namorávamos e fazíamos amor como contorcionistas. Aluguei o atelier, justificando a mim própria, e de algum certo modo aos outros, como necessário para trabalhar e estudar. na prática foi o nosso ninho de amor. Em especial dos fins de semana, quando eu chegava das visitas à terra de meus pais, e vinha cheia de vontade de estar contigo. Foi aí que pela primeira vez conheceste o meu corpo na sua totalidade, sem que a roupa fosse incómodo Nessas alturas telefonava-te, e tu vinhas ter comigo. passávamos horas em permanente namoro, onde a dimensão do meu pequeno corpo se tornava enorme perante o teu desejo. e eu na procura do teu, sentia o aconchego do teu abraço, a carícia das tuas mãos o sabor dos teus lábios, até que a madrugada nos dizia termos de partir. E voltávamos de mão dada, para a rua onde me acompanhavas, novamente para onde sempre o fazias.
As férias e ter de dar aulas, tiraram-me da cidade e fui para longe. Tu partiste para férias. Não houve regresso, fomo-nos afastando, e nem tu nem eu nos procuramos mais. Encontrei alguém que me levou e casei e tive um filho, aquele que um dia me viste no colo, que poderia ter sido teu, se tivéssemos pensado mais para além da vida de estudantes.
Não há arrependimento, porque o que vivemos não se dimensiona. Pergunto-me o que fará ele? Pelo que sei perdeste-te no tempo, amarrado a ti próprio e aos silêncios e à solidão. Será como diz o povo “quem muito escolhe pouco acerta”? Espero que não, que te sejas feliz, ou que agora, pelo menos, leias os poemas.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

INVENÇÃO DO AMOR

No dia dos namorados, tão comercial, este poema de Daniel Filipe talvez diga mais a todos.


A invenção do amor

Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor

Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com caracter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana

Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado

Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo

Um homem e uma mulher um cartaz denuncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique Antes
que a invenção do amor se processe em cadeia

Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos
Chamem as tropas aquarteladas na província
Convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos decrete-se a lei marcial com todas as consequências
O perigo justifica-o Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade

É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas

Fechem as escolas Sobretudo
protejam as crianças da contaminação
uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão
Aplicado no entanto Respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos
Ainda bem que se revelou a tempo Vai ser internado
e submetido a um tratamento especial de recuperação
Mas é possível que haja outros É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade

Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio das normas de discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas

...

É possível que cantem
mas defendam-se de entender a sua voz Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
lhe lembravam a infância Campos verdes floridos
Água simples correndo A brisa das montanhas
Foi condenado à morte é evidente É preciso evitar um mal maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta

...

Procurem a mulher o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à Imprensa tribunais de excepção
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência

Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua 


Daniel Filipe

 

domingo, 12 de fevereiro de 2012

LISBOA, 11 FEVEREIRO 2012



11 de Fevereiro de 2012. Inesperadamente , às 08.40 recebo um telefonema de um amigo... vamos a Lisboa, à “manif”, prepara-te, dez e pouco.. estaremos aí à tua porta, para seguirmos para Lisboa.
...na véspera tinha-lhe enviado uma mensagem aliciando-o “ há momentos únicos na vida onde fazemos e somos parte da história. É disso que se faz a nossa memória e a valorização da vida.”

Este relato quase me parecia, “mal comparado”, com aquela manhã de 25 de Abril de 1974, com os amigos a anunciar a boa nova, a revolução estava na rua, e o povo aderiu saiu à rapidamente.

Chegamos a Lisboa, por volta das treze e trinta. No Rossio, vimos os primeiros manifestantes, que se deslocavam para o local. Como eram horas de almoçar, foi o que fizemos, a uma centena de metros do Terreiro do Paço. Quando saímos, deparamos com uma Força de Intervenção da polícia. Homenzarrões, vestidos com aquelas roupas azuis escuras, parecem comandos, joelheiras, botas e outros acessórios que mais pareciam samurais, dos tempos modernos. Até isto, nos fazia lembrar aquelas manifestações, quando o “Marocas” já estava no poder, e queria intimidar.
Voltemos ao presente, é esse que interessa. Fomos caminhando em direcção ao Terreiro do Paço, aí já se encontravam umas centenas de pessoas. Onde outrora fora porta para liberdade, a praça regresava às origens, tornando-se rapidamente Praça do Povo tantos eram os seus representantes. Foi uma daquelas manifestações que lembram os tempos do pós 25 de Abril de 1975. O povo sentiu bem na pele, as medidas “troikianas”, e decidiu acorrer em massa.

Antes dos discursos acontecerem, foram-se ouvindo aquelas músicas que nos aquecem a alma e nos dão força para resistir. As concentrações, que saíram de vários pontos da cidade de Lisboa, foram chegando e enchendo a praça. Um ambiente impar que trazia emoção, orgulho em participar, a consciência de que juntos somos uma força e que podemos fazer com o nosso país mude.


Os discursos, da representante dos reformados, e dos jovens sindicalistas, tiveram o seu quê de engraçado, se é que se pode dizer tal. Gerações tão diferentes, e com tantos pontos em comum. Ambos defendendo direitos que são obrigatórios, para que a sociedade evolua e com ela a felicidade e bem estar das pessoas. Direitos que ajudem os idosos a serem recompensados por anos de trabalho e sacrifício tendo reformas dignas, saúde e bem estar. Direitos que permitam aos jovens poderem estudar, encontrar emprego, fim dos empregos precários, que lhes tiram capacidade económica para poderem ter casa própria, o que os torna um peso permanente junto dos seus pais, por vezes desempregados, por vezes, também, vivendo com dificuldades, ou já reformados. O discurso do secretario geral da CGTP, foi empolgante e tocou, nos problemas económicos e sociais que se vivem no país e como a crise económica continua a servir os interesses do grande capital, que fazem o povo apertar o cinto para que eles continuem a fazer a festa do champanhe mas piscinas do Algarve, ou em Monte Carlo. E apontou caminhos de luta futuros.

Pode-se dizer que o dia 11 Fevereiro de 2012, foi uma jornada de luta, que pode marcar o início de uma nova fase da luta dos trabalhadores, e do povo em geral, para travar este governo de contornos fascistas, que pretende trazer os direitos do trabalho, para os tempos da Revolução Industrial, em que se trabalhavam 14 e 16 horas por dia e sem quaisquer protecções sociais.

Foi um dia em que me senti feliz porque para além das conversas, de café e nos corredores de qualquer lugar, eu fui parte activa no protesto. Assim todos tenham orgulho, em dar cara e não fugir à luta.



NUNCA TE ESQUEÇAS


Nas noites e nos momentos que te observo e te ouço, faço-o na espera de ser regaço. e que quando me penses, teu sorriso se abra, tua alma se alegre, e todos voos te sejam permitidos.


As palavras que são nossas, e a nós dedicadas, com prazer serão lembradas.
 

Lembra-te sempre como te toco, como te respiro e como te dou o meu sorriso.

Nunca te esqueças, que meus dedos são as minhas falas em teu corpo, sussurradas em cada poro do teu ser.

Nunca te esqueças, tudo o que procuro é ser um porto seguro das tuas emoções.
de um querer-te que não te amarra, para decidires como seres amada.

Só a liberdade de seres, poderá decidir quanto vale o que recebes, ou queres receber.


 

OUT/2011

sábado, 11 de fevereiro de 2012

TODOS À MANIFESTAÇÃO A LISBOA 11FEV2012



A crise foi criada pelo poder económico, e nós pagamos todos, para que não percam os seus privilégios. Nós passamos dificuldades e fome, eles não querem ver diminuídos os seus lucros.

O trabalho deve proporcionar ao homem o que ele necessita e não transformar-se numa forma de o escravizar. As propostas deste governo não são para distribuir melhor a riqueza nacional e diminuir o fosso entre ricos e pobres, mas para alimentar o poder económico que cilindra quem trabalha.

Hoje em Lisboa todos juntos para combater o governo de mentira. Todos, para provar que as sondagens são fabricadas e favoráveis ao governo.

Hoje lutando contra os aumentos que afectam os mais desfavorecidos, da sociedade, para os ricos fiquem mais ricos.


A HORA É DE LUTA E IR PARA RUA GRITAR, JÁ É TEMPO DE PARAR COM ESTA PREPOTÊNCIA, DE NOS QUEREREM TIRAR TODAS AS CONQUISTAS SOCIAIS E ECONÓMICAS, PARA AS QUAIS LUTAMOS ARDUAMENTE ANOS E ANOS.


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

DIA DOS NAMORADOS, antes que aconteça...



Antes que o dia chegue. Por razões, comerciais com data marcada.

Apetece-me falar do dia dos namorados. Embora pense que a criação deste dia é no mínimo absurda. Caso contrário teríamos de criar o dia dos casados, dos divorciados, dos amantes que amam, dos amantes que se deitam na mesma cama a horas marcadas, enganando-se no amante e no local. Dos tristes que nunca namoraram, dos solteiros com namoros desfeitos, dos desfeitos por namoros imperfeitos.

Faz-se deste dia uma espécie de 1º de Maio, ou 25 de Abril, como se fosse um marco histórico. Como se namorar tivesse um só dia importante e o resto já não. Não gosto. pode acontecer, que uma directiva governamental impeça a existência do dia, pensando ser feriado, ou data revolucionária, tornando o namoro clandestino.

Namorar é bom, não tem data, nem limites de tempo e espaço. é um afresco para permanecer e manter, mesmo nas relações já se desenvolveram para outro patamar, seja de casados, amantes. namorados de longa duração.

Transformemos a vivência a dois num constante enamoramento

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

"estoriando"


Continua o espaço submerso de gentes diversas que rodeiam a mesa onde me encontro. Há qualquer coisa interior, vaga, indistinta, que faz surgir, uma certa humanidade, um não sei quantos, um não sei quê, que faz com que a luz do sol seja menos luminosa e tempo menos definido.


Nos últimos tempos, dias? horas? Não dimensiono. Os “flash back” são constantes. A cada momento, as memórias passadas regressam e vão. Tento agarra-las, e elas como fiapos de nevoeiro escorrem-me pelos dedos. São instantes de vida sem retorno, que nos estruturam o existir. Parti porque que quis que existisse silêncio. Procurava que se não pensasse, encontraria o caminho. Se não partilhasse o silêncio, se me suspendesse do ar, do tempo, do estar, seria mais fácil encontrar o verdadeiro eu.

Todos somos, de algum modo solitários, nesta manhã enevoada de 5 de Outubro de 2006. Feriado de trabalho e de pensamentos. Ela de camisola azul e brinco pingando na orelha, de olhar indefinido observando em volta procurando, procurando, o que não sabe, ou o que pensa existir? Não encontra. Vê-se. Um rosto submerso na espera do que não chega, do que não encontra. Todos em volta são figurantes que compõem o cenário do seu enquadramento. Quem se procura existirá? A comunicação não chega e o vazio que se desenha na expressão do rosto continua a manter a expectativa do que não foi, ou não será encontrado. De repente partiu. Deixou o lugar vazio da sua presença física. Cortou a leitura deste momento, interrompeu a escrita até agora nascida e deixou tudo mais isolado do que nunca. Tudo ficou sem frase, sem olhares, sem rosto, este o adeus de um rosto, de um corpo, com um brinco de uma orelha pingando.

MELHOR SERIA...


Os fins de semana têm um fio comum, gerir silêncios olhando o mar, sempre que se pode.

Os fins de semana são um percurso de angústia de mais um tempo passado sem sentido. Raras são as excepções que tributam alegria e prazer do seu decorrer.

Melhor seria, estar liberto de constrangimentos sociais e de presenças indesejadas. Ser somente, livremente.

Melhor seria, não fazer dos fracassos más memórias, mas alimento do crescer e escola de aprender.


Melhor seria vivendo, amando, correndo os passeios de sol, usufruindo do vento suave, tépido, de uma boca entreaberta iniciando um beijo.

Melhor seria, claudicando nas amarras de uns braços aconchegantes.

Melhor seria sentir o prazer de uma tarde na praia deserta, com a música de fundo vinda do mar azul, acompanhada pelo piar das gaivotas em agitação.

Melhor seria, numa praia a dois, únicos, numa exposição estranhamente preguiçosa, onde o amor surge a cada momento, na ternura de um beijo, no entrecortar das palavras dum livro, fazendo-os esquecer o sol dardejando na pele.

Melhor seria não ter saudades, da nudez possível, naquela praia, onde longe dos olhares pudemos usufruir da liberdade primitiva, sem resquício de civilização, para nos travar o desejo de nos possuirmos, sentindo o cheiro e o sabor salgado do mar misturado na sofreguidão de um amplexo.


Melhor seria, depois, um banho salgado, ligeiramente cálido, saborosamente vivido entre beijos e braçadas, entre mergulhos e carícias, entre ondas e prazer de sorver cada gota da vida.

Melhor seria, que a vida nos sorrisse mais vezes e que o mundo fosse menos só de alguns.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

ACORDAR, o mar tu e eu



Ouço repetidamente a música quase sem pensar deixando fluir os sentimentos que ela desperta a cada minuto que decorre. As emoções à flor da pele deixam a angústia do amor que se pensa e sente, na alma dos outros e que ao seu lado morre sem presença.
É a fala de um mar tão profundo, intenso, imenso do amor sonhado e tantas vezes longe de nós.
Somos seres estranhos que abraçamos a tristeza para que nos conforte o ego agonizante e justifiquemos as fragilidades da alma. Cobardemente, pacificamente, nos deixamos enredar pelos anos que passam, pela preguiça da mente e não decidimos pelo prazer da vida.
Todos queremos a felicidade, no entanto, de forma irracional, procuramos a tortura, dos dias de insatisfação e nada realizarmos para que ela a felicidade exista.
Vivemos à rasca, suportamos uma sociedade à rasca, revoltamo-nos à rasca, vivemos relações a dois à rasca. Na prática somos pouco criativos e incapazes de satisfazer, mesmo que à rasca, as nossas liberdades pessoais e colectivas. Escondemos os sentimentos, com medo de ferir, escondemos as vontades com medo de ser reprimidos. Afinal em que ficamos? Queremos ou não ser humanos, felizes, livres e capazes?
É hora de acordar da manipulação dos media, das palavras enganadoras do poder económico que nos domina. Percebermos que a vida é muito mais do que economia. Acordar para a vida, sem medo dos políticos e das práticas políticas. Acordar para a humanidade e sermos humanos. Acordar para abrir a porta à felicidade, mesmo que esta não dure sempre, mas que dure mais que pequenos bocados, que alguns vís humanóides nos fazem crer serem suficientes.
Sim, viver para esse mar profundo, sem solidão, ou tristeza. O mar pôr do sol, o mar alegria dos amantes apaixonados, o mar musa de poetas, o mar em que o amor é a dimensão de todas as coisas. Sim, um mar que nos transporte para o prazer sentir os lábios deixarem partir as palavras sem medos, que dão a lugar a todas as coisas que devem ser o caminho dos humanos. Amor, Amo, amo-te, fraternidade, felicidade, vida, criação, nascer, renascer, viver, viver, viver, viver o MAR E TU, EU, TODOS.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

QUE GRANDE CARNAVAL



Num país, com tantos bobos a governar, porquê acabar com o Carnaval?

MULHER >|quem complica o quê?|< HOMEM

Terá de ser sempre um discurso complicado para que os homens>ou< mulheres sejam entendidos? Talvez tenhamos todos de ler o livro " Nem as Mulheres são tão complicadas, Nem os Homens tão simples"- autora .María Jesús Álava Reyes. De facto será bem melhor do que perder tempo a ler revistas que abordam estes temas de forma superficial e que nem sempre apelam ao bom senso, e normalmente, nos deixam sem grandes saídas.
" Nem o homem é tão simples nem a mulher complicada, são diferentes e complementares, Graças a essas diferenças a humanidade prossegui o seu curso"
 "A convivência é partilhar, não é viver um à custa do outro, isso sabemos que tem outro nome"
"As diferenças entre homens e mulheres não se limitam ao aspecto físico  exterior; as diferenças são muito mais profundas e referem-se basicamente aos principais eixos que movem a nossa vida: os pensamentos, os comportamentos e as emoções"
María Jesús Álava Reyes

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

DA GRÉCIA a PORTUGAL...


Da Grécia a Portugal vai um "tirinho". Não te ponhas fino Zé Povinho e até levas no focinho.

Há quem diga que não adianta fazer manifestações.
Então o que é que adianta, "Está quetinho, se não levas no focinho?


VAMOS TODOS A LISBOA À MANIFESTAÇÃO DIA 11/FEV/2012. HÁ CERCA DE 6 500 000 DE PORTUGUESES QUE NÃO VOTARAM NESTE GOVERNO.

Forbidden Harmony (Instrumental Arabic Music)


Music Composed by Nassir
BELISSIMO

PARABÉNS DINIS



Há quatro anos nascias tu.

Hoje fico feliz porque nasceste, não no meio da guerra dos homens, nem no meio da fome que assolam outras pátrias. Nasceste forte e seguro e com muito amor à tua volta. Hoje és o grande amor de teus pais e avós, com que preenches o seu tempo. És criança a brincar no meio de outras crianças e tens o sorriso e alegria do teu olhar, que a todos fazes amar.

Sabes que te adoro. E todas as vezes que estamos junto eu cresço contigo, fazes-me falta, pelo muito que me dás.

Parabéns.


Beijo e um XI do Avô


Para ti este texto, para leres um dia mais tarde



Fecha-se o sorriso, o olhar fundo se perde no tempo, que não vive criança.

Por dentro, estranha-se, nos porquês que de forma variada, lhe surgem na sua mente ainda inocente, da percepção da maldade dos homens.

Uns violam a sua privacidade de crianças, outros enganam-nos hipotecando o futuro.

No peso imenso, em seu corpo franzino, das mochilas de livros, pretendem formatá-los, rápido, na sociedade de exploração e tiram-lhes a possibilidades de serem crianças.

Usam palavras ”estrangeiras”, para explicar a violência nas escolas, e não arranjam palavras portuguesas, para explicar a falta de tempo e capacidade, de muitos pais para acompanharem o dia à dia dos seus filhos.

Os pais, escravos do trabalho na sociedade que diz protegê-los, explorados até ao limite alienante nos locais de trabalho. diz quem pode e tem poder, para salvar a economia e o país. Eles assim ficam, sem capacidade para serem humanos e pais

Há pais que correm, correm, correm e não lhes sobra tempo para os mimarem,

Há pais que os deixam partir dos estudos, para brutalidade da oficina, para aprendizagem boçal de uma profissão, para que o pão lhes caia na mesa.

O que esperamos para dar dignidade às crianças de terem pais, de serem crianças?

Quanto mais aguentaremos, um presente tão difícil e um futuro tão obscuro?


domingo, 5 de fevereiro de 2012

D'REPENTE O MAR


O som da esplanada tornou-se distante. A cor azulada do mar, e o marulhar da sua ondulação batendo nas rochas cobertas pelo musgo das algas, foi mais forte. O sol marcava fortemente as sombras fazendo dos relevos da areia pequenas montanhas, destruídas pelas crianças, que entre gritos de alegria, correm esticando os fios do seu papagaio, que vai esvoaçando a cada rabanada de vento.
O pensamento torna-se mais abstracto, a noção de organização perde-se, esvazia-se. Para traz, ficavam aqueles pensamentos que lhe traziam à memoria caminhos percorridos em buscas inglórias, do tesouro outrora roubado. As indecisões quanto ao futuro, perdem-se naquele quadro vivo, que afastando-o das palavras do livro, levando-o para longe da angústia que o absorvia.
O mar, com o seu horizonte longínquo, fizera mais uma vez parar os juízos errados, devolvendo-lhe a crença perdida, em resgatar o pecúlio desse roubo, que lhe gelara a alma.
Roubaram-lhe a crença no amor romântico, guerrilheiro, livre, intenso.
Tiraram-lhe a inocência, quando mais amava a vida e acreditava na Revolução dos Cravos.

Longe ia o tempo da “outra senhora”, em que se perdiam as horas madrugada dentro sentados, numa qualquer calçada, conversando com companheiros da mesma luta, falando de um outro mundo, livre, onde o amor teria espaço em todas as suas latitudes. Falava-se de bem estar social, politico económico, cultural. Falava-se de participar nos nossos futuros, fora de guerras, de egoísmos, do poder dos mais ricos. Falava-se na necessidade de participar trabalhando enriquecendo o País e o seu futuro, trabalhando para aglutinar vontades no exercício de uma liberdade comum a todos. Falava-se de futuro, lealdade, justeza. Falava-se de flores, de paz, de fraternidade, de amor livre.

Onde andas tu Pátria, que me mataste o amor e me roubas o futuro?


Matosinhos 03MAI2011