sexta-feira, 29 de junho de 2012

OLHO MAIS LONGE



Olho mais longe
Que o brilho do sol
E vejo o verde de teu mar

Olho e vejo o sorriso
Escondido nesse espelhar
Não tapando o teu amar

Altivo olhar na distância
Sem medo de enfrentar
E superar a sua ânsia
Na hora de avançar

Na beleza seu poder
Na mente sabedoria
Em seu rosto a alegria
Do um amor a acontecer

quarta-feira, 27 de junho de 2012

27'JUN'2012



Nasceu no seio da dor
No ventre da mãe
Viveu seu primeiro amor

No primeiro tombo
Ficou a marca de sangue
E calou-se de assombro

Como não era d’ouro
O lugar de seu nascer
Agarrou os cornos do touro
Para se desenvolver e crescer

Agastou-se no aprender
Coisas que os outros queriam
Não chegou a saber
Tudo o que pretendiam

Depressa ao trabalho chegou
Ainda com frágil estrutura
Nunca mais a sua mãe o mimou
Fazendo homem a criatura

Sem abundância de pão
Seu corpo se habituou
E assim ganhando outra razão
Em princípios que não pensou

Crescendo se foi fazendo adulto
Com politica, arte e livros fez parceria
Plantando novas ideias e culto
Na esperança de um novo dia

O dia chegou com a revolução de Abril
E nova vida em seu coração floriu
Dias de alegria, amor e luta foram mais de mil
E muita estória na sua vida surgiu

Os anos se foram passando
Tudo que fica são memórias
Que valeram pelas vitórias
Deste povo que foi amando

Resta hoje para aqui ficar
Sua filha e seu neto a ver crescer
Que todos os dias ao acordar
Lhe dão razão para viver

No entanto não se desvanece
Nestes dias hoje atribulados
A esperança de que o amor cresce
Mesmo em dias nublados.

terça-feira, 26 de junho de 2012

A VERDADE É SÓ A VERDADE


A história de Rachel Armstrong, uma jovem repórter da secção nacional do Capitol Sun-Times, um dos mais importantes jornais diários de Washington

Uma jornalista publica informações secretas supostamente vindas de um agente da CIA, ao ser intimada a denunciar a sua fonte recusa-se a fazê-lo e acaba sendo presa por desrespeito. Encarcerada, e sofrendo vários atentados a sua integridade física, perpetrados com a conivência das entidades prisionais, continua recusar-se a fazê-lo, para não trair a sua ética profissional.
De início ela tem total apoio do marido, mas diante da demora na resolução do caso ele passa a questionar a decisão da esposa por ter comprometido as relações familiares.
Só no quase no final do filme se sabe quem é a sua fonte, quando o realizador faz um Flash Back, mostrando-nos o momento chave da obtenção dos seus elementos para notícia. É aí que melhor percebemos, que é muito mais do que a sua ética que está em causa.
Baseado em factos verídicos, o filme torna evidente forma como funciona o poder e a “democracia” EEUU e quais os artifícios usados por esse poder, para pressionar e tentar destruir moralmente a jornalista.

O filme é intenso e trágico, e bastante actual.
>Grande interpretação da actriz Angela Basset, no papel de jornalista
NOTAS:
Ano de Lançamento: 2008
Nome: A Verdade e Só a Verdade
Nome Ingles: Nothing But the Truth
Gênero: Drama Suspense
Tempo de Duração: 115Minutos

segunda-feira, 25 de junho de 2012

JUNHO' 2012

Ali estava divagando seu olhar pelo horizonte sabendo nele estar  sua utopia.

O sonho se esvai e o tempo de o realizar passou. só lhe resta ver outros mais felizes possuí-lo.

Um dia negou a voz, e aceitou o silêncio para que não murchasse a flor que tanto regara. para que essa flor pudesse livremente espalhar o seu aroma e a beleza das sua pétalas, sem que a erva daninha a perturbasse.

Como muitas coisas que na vida, por vezes temos de abdicar de um bem precioso, ou de alguém de quem se gosta, para que seja livre e possa voar.

Agora, resta na praia, saboreando contornos de veludo em flor, de pétalas douradas, misturando seus aromas com a maresia, acentuando o desaguar de seu corpo.

Repentinamente sem precaução mergulhou nas águas verdes de seus olhos e por momentos deixou-se ir para as profundezas do oceano.

A expectativa é não voltar, afundando-se infinitamente, até que seja a pele da mesma pele e sentir do mesmo sentir.

"SE ISTO É UM HOMEM"

  'Tudo o que é necessário para o triunfo do mal, é que os homens de bem nada façam'.
(Edmund Burke)
"Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casas aquecidas,
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:

Considerai se isto é um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece a paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher,
Sem cabelos e sem nome
Sem mais força para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no inverno.
Meditai que isto aconteceu:
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração
Estando em casa andando pela rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.

Ou então que desmorone a vossa casa,
Que a doença vos entreve
Que os vossos filhos vos virem a cara."
Este texto que inicia o livro de Primo Levi "Se Isto é um Homem", faz uma chamada de atenção a toda a humanidade para o que se passou com poder alemão na Segunda Guerra Mundial. É também uma apelo para que não deixemos que volte acontecer e que sejamos solidários na dor e na luta, na procura de um mundo melhor.
Nos dias de hoje o poder da alta finança, sem pátria, instalou a crise e com ela pretende igualmente,
a mesma humilhação e sacrifício dos Povos. Esta é a versão moderna da "guerra" e domínio desses senhores.
O autor Primo Levi Nasceu me Turim em 1919 e suicidou-se em 1987, na mesma cidade. Participou na Resistência contra a ocupação nazi, foi preso e internado no campo de concentração de Auschwitz

domingo, 24 de junho de 2012

S. JOÃO e pouca festa

O S.João para mim, ainda hoje, são as sardinhas assadas com pimentos, as azeitonas, a broa, o caldo verde, as febras grelhadas, o chouriço assado e todos estes cheiros misturados. São as festas nas garagens, nos quintais, nos terraços e quaisquer espaços onde se faça arraial de música pimba são joanina, onde amigos e vizinhos dançam e pulam a fogueira, São balões, a serem lançados elevando-se pelos ares, no meio da algazarra da criançada. Um convívio aberto franco divertido.

É a ida aos carrosséis, o jogo dos matraquilhos, naqueles dias antes e depois da festa.

É ir para a praia de manhã cedo, passando pelo meio dos perdidos da noite que dormem no areal, tomando banho no mar como se estivesse numa piscina particular.

Nunca vivi o S. João do Alho Porro, ou da Cidreira e muito menos do martelinho, nunca me enganei com a história de que esta seria uma festa popular, sem pobres nem ricos, porque a verdade não essa. Os ricos misturam-se mal, e os pobres limitam-se a ir ver o fogo e regressarem a casa porque não têm dinheiro para gastar.

Este ano, ao fim de muitos, não senti a mesma animação de outros tempos. Não se ouve a música nas garagens da vizinhança, somente se come, se conversa, afinal a crise afecta as pessoas.

Já escrevi em outro blog, o que muitos de nós jovens fizemos em “tempos da outra senhora” nestas noites de S.João. Nos dias de hoje adequa-se bem que transformemos as festas populares numa noite de protesto e manifestemos o nosso pesar, não gastando nem participando na hipocrisia, de que o pobre quer é fado, futebol, família.

Todos sabemos que é só uma noite e, que por vezes, é necessário afastar os maus pensamentos e as dificuldades que a crise tem trazido às famílias, mas também sabemos, que os senhores que a criaram é disso que esperam para nos apertarem mais um pouco o cinto.

De qualquer modo quem não resistir que se divirta... sem se esquecer que no dia seguinte têm de voltar à luta novamente, assuma ela as expressões colectivas que tiver. Nas manifestações de rua, nas suas reivindicações nas empresas, ou outras, para que não pensem que nos adormecem.

sábado, 23 de junho de 2012

OUTONO E O AMOR


Outono em Nova Iorque. Ver o filme "Outono em Nova Iorque" deixa-nos embevecidos e com o coração carregado de dor e, ao mesmo tempo, seduzidos pela beleza do amor, alimentando esperanças aos mais incrédulos, levando-os longe nas expectativas sobre a riqueza de tal sentimento.

Não é estranho, por isso, que homens e mulheres, dos mais variados quadrantes sociais, culturais e políticos, vêem, lêem, e falam de amor e tudo o que ele envolve. Correm atrás do amor, para o receberem ou para o prodigalizar. Procuram-no como uma quimera, ávidos de sentir o tal sentimento que, na maioria dos casos, desconhecem mas tentam adivinhá-lo, nas diferentes manifestações. Às vezes descrevem-no de tal modo e dão-lhe tanto ênfase, que quase o tornam abstracto. Na verdade tentam descobrir se, de facto, ele cria borboletas no estômago, se ele faz tremer, ou se o coração pula ao ver a figura ou imagem do objecto do seu amor.

Compram-se discos, livros, flores, oferecem-se prendas variadas, em dias procurados, ou em dias de êxito, compensando as ausências, ou as permanências menos certas. Escrevemos, pintamos, somos criativos e empolgamo-nos mostrando as nossas fraquezas, as nossas capacidades, debaixo da inspiração de um grande amor. Este, por vezes, só existe na imaginação, é musa de inspiração para toda essa criatividade, mas na realidade o objecto do seu amor só existe na sua mente. Na realidade, apaixonados e sós. 
O ser humano tem uma enorme capacidade para fazer cenários, de acordo com as expectativas que cria para si próprio, e depois surpreende-se com os fracassos.

A Realidade, e a passagem do tempo com a sua crueldade, mostra-nos o engano, a simulação, a inépcia, a incultura, a superficialidade, o mofo mental. Essa realidade que, com o passar do tempo, torna mais evidente o apego, a dependência, a incoerência, o egoísmo e o desamor, quando confrontados com situações de infortúnio como o desemprego, uma doença grave, e várias outras que, na maioria dos casos, não tem as suas causas em qualquer deles.
 
Cathy Guisewite, escreveu como título do seu livro “Homens deviam vir com um livro de instruções”, eu penso que não deverá chegar a tal, mas talvez fosse aconselhável a quem procura um tal amor, fazer como dizia um antigo professor que só casara acima dos quarenta anos: “Oh pázinho, - tratamento carinhoso que ele usava com os alunos a quem respeitava – antes de casar escrevi uma carta à mulher, que era objecto do meu amor, dizendo-lhe que casaria com ela, se tudo o que pretendia e abaixo descrevia, fosse aceite por ela. Então enumerei os vários itens, do que eu achava importante para mim, para que fosse a minha mulher, e o que eu estaria disposto a fazer caso ela aceitasse. Ela aceitou, acrescentando pequenas notas, e casámos”.


O seu casamento durou até à sua morte, à volta dos oitenta anos. Era um casal amoroso, e de um entendimento ímpar.


Talvez para haver um grande amor, ou vir a ter um grande amor, fosse necessário ter um livrinho onde colocássemos as nossas vontades, uma espécie de deve e haver, onde os envolvidos deveriam expressar todas as seus valores, perspectivas, ambições, desejos etc. do que querem, para evitar sofrerem decepções e não perderem tempo em “romances” de desgaste, como dizia uma escritora, de roda-bota-fora.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

VISTO À DISTÂNCIA


Com dignidade a verdade foi dita, o código dos segredos foi revelado, o coração ficou sem comportas, a vergonha deixou de existir. O número não mudou, a distância foi mantida. o silêncio não se quebrou.

Assumida a pausa, indeterminada, mas existe...que fazer?

...mesmo sem ser esse o seu destino, ele esteve lá, olhando o rio, sentindo o cheiro vindo do sul.. esteve lá tão perto... que se outras falas houvesse, se adorar fosse verdade, se no coração o amor restasse, oh, como o dia acabaria diferente. Olhando, olhos nos olhos, possivelmente a verdade...fosse ela qual fosse, desenharia liberdade ao futuro, ganharia a riqueza dos afectos...

Como era grande a riqueza emocional do que assistia. parecia rever um filme do passado, com milhares de pessoas, se manifestando. as emoções se misturavam. O povo e a sua liberdade, e as que vivia no seu íntimo.

Olhando o povo que o rodeava, exaltando na defesa dos seus direitos, manifestando o seu querer, não pode deixar de pensar na frase: “Os senhores nunca amam os seus escravos; exploram-nos ou compadecem-se deles.”

Exaltado com o que o povo fazia, exaltava-se na defesa no que acreditava e defendia.

“O merecimento nem sempre é egolatria, é dignidade”


quinta-feira, 21 de junho de 2012

NO ROSTO FECHADO DA MANHÃ


Sentado no café, como sempre, bem cedo, fiquei olhando através da vidraça a azáfama das gentes, que no corre-corre diário se deslocam para os seus múltiplos afazeres. E penso, coisa que ainda não tem qualquer taxa.

As pessoas transportam a angústia e o desalento no rosto fechado da manhã.

Não há alegria num povo que se sente amordaçado, pelo receio de perder o emprego, de não ter dinheiro para pagar os seus encargos mensais, de não saberem como alimentar-se com tão escassos recursos. Gente nova sem trabalho, desempregados nas filas do Centro de Emprego para o controlo. Gente idosa que deambula pelas ruas, sem eira nem beira, revistando caixotes à procura de objectos para vender ou, em alguns casos, alimentos.

As notícias nos media são ridículas. Os jornalistas sem espinha, defendem a voz do dono, e escrevem notícias que não revelam a verdade, ou dão parecer favorável às políticas dos governos e do capital financeiro que tudo domina.

Fala-se em democracia, e podemos perguntar, qual? A democracia da fome e miséria, do desemprego, das reformas chorudas, dos indivíduos que ganham ordenados vultuosos à custa do “Zé pagode”? De um SNS que piora a toda a hora e com taxas moderadoras que limitam cada vez mais a Saúde para todos, como diz a Constituição da República. Esta democracia, a única coisa que nos permite, ainda, é gritar e falar para o boneco.

É esta impotência perante a injustiça que vai calando dentro de nós, que nos tira a vontade de sorrir, e põe a grande maioria dos portugueses apatetados, olhando as telenovelas, sem se aperceber sequer da qualidade dos seus conteúdos. Para os programas diários da manhã das TVs, que parecem o Natal dos hospitais, ou para o futebol e as futeboleiras e chatas discussões sobre o mesmo ou, no pior, os Big Brothers da promiscuidade, que dizem, o povo tanto gosta, como se as audiências não fossem fruto da exploração da ignorância e falta de cultura das pessoas.

Antes de Abril de 1974, no S. João, aproveitavam-se os bailes de “bairro” para dançar, e na noite da véspera aproveitávamos as rusgas enormes para cantarmos a cada momento canções revolucionárias, que arrancavam sorrisos e gargalhadas das pessoas, como se fossem uma libertação. No meio da algazarra distribuíam-se panfletos subversivos. Mesmo correndo o risco de ser presos, havia a alegria de fazer algo de positivo para levar a esperança a todo um povo debaixo da repressão, e sorríamos por saber que não nos paravam a luta.

Neste país, se não ouvirmos algumas vozes discordantes que vão aparecendo e nos vão abanando, ajudando-nos a lutar e resistir, perderemos o sorriso, a alma e tudo o mais. E nesse caso, o melhor é um dia destes encomendar a alma ao criador, porque aqui já não vale a pena ficar

INTELECTUAL FALA para o POVO

O discurso do 10 de Junho deste senhor, perante os pamonhas que fazem cara de atrasados mentais e de ignorantes, como se tudo aquilo que foi dito saísse da boca de um extraterrestre.
São as palavras bem escolhidas, as críticas contundentes e as soluções propostas que espantam, que  fazem deste discurso uma lufada de ar fresco na pasmaceira medíocre dos portas vozes de quem governa.

terça-feira, 19 de junho de 2012

TEIA DO SILÊNCIO


Hoje só me resta o silêncio. Perdi-me, não sei encontrar as palavras certas para comunicar. Fico parado olhando o vazio esperando a centelha que me acorde da mesmice de todos os dias. O tempo passa sempre no mesmo ritmo e sensaboria, com as mesmas preocupações, os mesmos dissabores e a a mesma azia, tudo coisas requentadas pela repetição. Por vezes, sentado no velho sofá da casa, de perna cruzada, resto sem saber se vale a pena continuar, esperando que algo aconteça que me aqueça o coração e me conforte a existência.
Olho os livros esperando que na lombada um título me desperte, que me projecte para a leitura de um outro pensar, que me ajude a recordar a razão pela qual estamos neste presente, que me acorde para a realidade e me faça acreditar que a vida é um conto com um final feliz.
Assim acordei neste dia enevoado de 2011 e não sei se isto tem cura, mas sei que a continuar assim ... só me resta a loucura.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

FOI EM SETEMBRO


Sim foi no final do verão, que tudo começou, Setembro era o mês.

De palavra a palavra, de conversa em conversa, de sinal em sinal, só a voz e entoação suave, ou agreste, simples ou complexa, mas voz que mexia na carne, agitava o sangue e se fixava. Era ainda uma sonoridade sem cheiros que marcassem memória.

De repente tornou-se corpo, imagem, vida, surgindo do fundo negro que desenhava a entrada do edifício. Chegara o dia em que todos os elementos se juntavam, voz e seus sons, imagem e seu real, cheiros e suas referências, beijos e seus desejos.

Dias foram poucos plenos e loucos. Umas vezes caminhado sobre o passado em ruas de outrora, outras restando no silêncio das paredes e alguns outros, somente dois perdidos em si mesmos, saboreando a doçura do instante.

Assim se iniciou o fim do verão e teve início o Outono macio suave deliciosamente modulado, emoldurando vidas, gestos, castanhos suaves e folhas que se desfaziam debaixo dos pés, como quisessem reformular um novo tempo.

No entanto seria o inverno que entrou até aos ossos arrefecendo o ar como a alma, que iria estragar o desenvolvimento da história tornando trôpegas as palavras tirando serenidade ao discurso deixando as frases marcarem silêncios.

A distância enrola-se nas ausências, o destino fica sem chegada, e a figura que emoldurou a entrada sobre o fundo escuro, fixou-se no nevoeiro da ambiguidade.

O que foi não voltou a ser e a morfologia dos acontecimentos se alterou deixando rastos de um crime que não aconteceu.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

UM DESABAFO


Há quem diga que devemos rir, e penso que sim, mas pergunto-me como fazê-lo se nos torturam a graça de viver.

Quem lhe dera que as palavras que escrevia tivessem a verdadeira leitura que as motivaram a ser escritas. Ele punha-as lá para que a mensagem chegasse, para que o desistente não desistisse, que o valente persistisse. Até pensava que depois de lidas seria mais fácil que sorriso surgisse, assim como quem está contaminado pela gargalhada forjada, que alimenta um sorriso como se inesperado.

Nada acontecera, e sempre se desvaneceram as palavras no pensar dos outros, no sentir de outros, longe daquilo que queria que elas e eles fizessem ao ler-lhe a alma, ajudá-lo a sorrir, a partilhar e a acordar as memórias.

Sim, derramou-se a escrever as palavras que transportam tristeza, que falam de dor, que pensam por todos mesmo sendo de um só. Porque não deixar que elas desabafem o que dentro precisa de ser desabafado, para que saindo do pesadelo possa realmente sorrir?

Não lhe censurem a rigidez, as posturas altivas, ou as frases construídas como se fossem muros.

As rugas na cara, as sobrancelhas franzidas, palavras azedas. São manifestações de limpeza, de afastamento, de ganhar distância da realidade crua que a todos vitima.

Talvez ele, porque mais sensível, ou nem por isso, pretende que as palavras ao serem escritas se esvaziem pelo conteúdo e permitam o tal sorriso, ou gargalhada, que afasta fantasmas e torna a vida mais bonita, mais sonora, mais enriquecedora, envolvida em beijos e carícias, em abraços e ternuras, distribuídos em larga escala como se a sorte grande parisse um outro ser e um outro mundo sobre os escombros.

Não quer que lhe leiam o passado mais do que ele próprio, pois dele tem histórias sobre histórias, que não deixam de doer.

“Quem diz a verdade não merece castigo”, diz o povo, então porque razão a verdade não pode fluir mesmo que exagerada na expressão do seu sentir.

terça-feira, 12 de junho de 2012

ESCUTATÓRIA

Este texto é bem o reflexo da sociedade em que vivemos, poucos de nós temos capacidade para silenciar absorvendo a mensagem do outro. Não ouvimos construímos frases enquanto o outro fala para procurarmos superar o que ele disse... mas o quê se não ouvimos?


Do genial Rubem Alves, lá das Minas Gerais...

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil.

Diz Alberto Caeiro que... não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia. Parafraseio o Alberto Caeiro: Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma. Daí a dificuldade...

A gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor... Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração.....
E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor...

Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade. No fundo, somos os mais bonitos...

Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64. Contou-me de sua experiência com os índios: Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. Vejam a semelhança...

Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio... Abrindo vazios de silêncio... Expulsando todas as idéias estranhas. Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos..... Pensamentos que ele julgava essenciais. São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.

Se eu falar logo a seguir... São duas as possibilidades.
Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza.. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado.
Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou. Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.

O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou. E, assim vai a reunião. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.

Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência... E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No lugar onde não há palavras.
A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.
No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia... Que de tão linda nos faz chorar...

Para mim,
Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também.
Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.






domingo, 10 de junho de 2012

FIM DO CAMINHO

Aquilo que na mente quer e não pára, o corpo já não obedece, e vai trazendo maior de dor que a própria ausência.

Noite dentro sentido as paredes apertarem-no, vê o tempo passar enquanto espera que o corpo reaja à doença. Por mais voltas que dê não consegue, ainda hoje, saber o que se passou.

Gostaria de a ter em seus braços antes de partir, sentir mais uma vez o calor do seu corpo saborear de seus lábios no beijo que tanto deseja.

Foi enredado num esquema de emoções que prendem como numa gaiola, onde nem cantar pode porque a voz lhe fugiu, como lhe fogem todos os dias bocados de vida.

Solta-se o rio. Vai procurando margens na pele por onde seguir, formando rugas no leito do rosto. Nada dói tanto, como querer e não poder.

Gostava de voltar a sorrir. Com o sorriso aberto como quando criança vindo de dentro sem estar enredado nas malhas estúpidas da dúvida e sem a pressão de se ter de ser certinho e bom “menino”.

DATA: um dia não longe onde a morte existiu.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

CONHEÇA A VERDADE



Publicado em 25/05/2012 por josespa1


Nesta entrevista com Julian Assange, fundador e dirigente de Wikileaks, o atual Presidente do Equador, Rafael Correa, fala sobre as dificuldades que os governos populares e progressistas da América Latina enfrentam em sua tentativa de mudar as estruturas elitistas dos sistemas de governo instaladas em nossos países, ao invés de se limitarem a administrá-las, como seria do desejo tanto das oligarquias locais como de seus sócios maiores dos países imperialistas.


Da exposição de Rafael Correa, podemos entender como, na era da globalização neoliberal, os meios de comunicação corporativos passaram a exercer de fato a função de principal partido político representante do grande capital, deixando para a partidocracia tradicional o papel de meros coadjuvantes na tarefa da defesa dos interesses dos setores hegemônicos do capitalismo.

Rafael Correa fala da profunda simbiose existente no Equador entre a mídia corporativa e o capital financeiro, assim como as consequências negativas para os governos progressistas e o conjunto da sociedade que advêm de tal fato.

No Equador, como também no Brasil e em toda a América Latina, os grandes meios de comunicação privados estão intrinsicamente ligados a quase todos os setores econômicos dominantes da sociedade: o financeiro, o industrial, o rural. Esses meios atuam como baluartes na defesa dos interesses de toda a classe capitalista, e são, por sua vez, compactamente protegidos pelo conjunto das instituições capitalistas sempre que se veem diante de alguma ameaça a sua atuação. Em tais momentos, os coadjuvantes pertencentes à partidocracia devem empenhar-se para blindar eficazmente os órgãos da corporação midiática. O conteúdo desta entrevista nos possibilitará entender melhor o poderoso esquema de proteção armado no Brasil para tentar evitar a condenação da revista Veja, comprovadamente envolvida no mega escândalo oriundo das atividades da quadrilha de Carlinhos Cachoeira.

A visão latinoamericanista defendida por Rafael Correa deveria servir de inspiração a todos os que buscam edificar em nossas pátrias sociedades dignas, soberanas e praticantes da justiça social. Para ele, o consenso não é algo desejável se for para manter intacta as estruturas de espoliação social herdadas de anteriores governos pró-oligárquicos.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

"AGARRADO"



Fiquei-me só pela sombra. Deixei-a flutuar, não quis saber dos seus vapores. Rejeitei ser iludido por um bem estar temporário. Embora o fascínio da sua cor e o cheiro que pairava no ar me fizesse secar a garganta, e a língua se enrolar inquieta, não me deixei iludir e mantive-me distante. O suor corria-me pelas costas abaixo, tal o esforço despendido para continuar longe da tentação.

A experiência do passado recente continuava viva em mim, quando o vi morrer deitado no leito agarrado ao vício. Tudo lhe servira nos últimos dias para apagar aquele desejo insano que o seu corpo solicitava a cada segundo. Nem o cheiro perfumado do after shave ou da lavanda barata o tinham impedido de emborcar todo o conteúdo.

As dores abdominais possuíam-no, a cor terrosa da sua face evidenciava a sua destruição física. O seu cérebro já não comandava e o fim estava a vista.

Ele morreu, deixou-me mais só, com o mesmo sangue viciado no corpo e com a mesma brutalidade com que marcara toda a minha vida. No silêncio da sua morte, trespassado pelo sorriso de alegria duma criança, que vira seu avô morrer, assustei-me, quebrando o cordão umbilical. Foi uma luz acesa no seio da floresta.

Acordei na realidade, teria de evitar repetir a história. Todos estes anos estive “agarrado” e fiz mal a todos os que me rodeavam. Primeiro perdi o emprego, depois perdi, os amigos e agora na iminência de perder as pessoas que mais amava. Não ouvia os filhos e castigava-os na dureza, e punha-os na frente da brutalidade infligida sobre a sua mãe. Correiadas, bofetadas, e tudo o mais que na hora surgisse, seguido de sexo bruto, violento. Violentava-me e era violento, agindo sem nexo.

Naquele mesmo dia todas as sombras deixaram de existir. Apaguei a luz do infortúnio que durante anos me dominara, sentindo o seu gorgolejar na pia da banca e o ruído do vidro estilhaçando, como se fosse uma nova música de sucesso.

Agora teria de manter a coragem e suportar a decisão. Suaria quantas camisolas fossem necessárias e vomitaria das entranhas todo aquele sabor etilizado no correr dos anos, feito sangue.


Havia uma nova esperança, a revolução chegara vestida de cravos vermelhos e apontava para uma outra sociedade com outros valores e apontava caminhos para renascermos. Já não seria um espelho social.


Assim fora escrito há trinta e muitos anos, hoje sinto-me novamente no limite e com medo de que tudo regresse. Estão-me a abafar os dias tirando-me as saídas. Desempregado, com contas para pagar, filhos estudando, e um sistema político asfixiante, que me vai roubando todos os valores materiais e morais que me restam. Se isto não muda...


terça-feira, 5 de junho de 2012

DeIxA QuE eU Me riA



Deixa que eu me ria
Que eu gargalhe fundo no meu íntimo
Deixa que transvaze esta ironia
Este remoque que me sufoca e asfixia
Esta farsa que se alastra e se apega
Que contagia.

Deixa que eu me ria
Que não goteje a mágoa deste dia
Que não lacrimeje, que não atormente
Que não chore, simplesmente.

Deixa que eu me ria
Que meu riso, mesmo hipocrisia
Me liberte, me afaste, me alivie
Me isente desse embuste que atrofia
Deste mundo falsário e pecaminoso
Deste perjuro, falso e doloso,

Deixa que eu me ria
Deixa que eu me ria!

do livro de poesia
Mentes Perversas
(… e outras conversas!)
Ana Paula Lavado


EU NÃO FUI AO ROCK IN RIO

Eu não fui ao Rock In Rio, porque ao contrário de muitos, eu não digo: “Não é por causa disso que as coisas vão mudar”. Claro que não, num país em crise como o nosso, é uma forma “fixe” para os politólogos virem justificar para os media que afinal gastamos acima do que devíamos por isso a austeridade do governo é adequada. Não está em causa se gosto de ouvir música, ou dos músicos que lá aparecem como vedetas. Eles são pagos e como tal fazem o trabalho, vergonha é ter que lhes dar durante a sua estadia para além do que ganham, mimos durante as actuações que são um insulto para todos aqueles que vivem em dificuldades em Portugal. Sustentam-se vedetas que vivem da miséria e que em muitos casos dão um contributo sério para indigência dos jovens. Diz-se que o futebol é o ópio do povo, ali naqueles espaços o ópio, heroína, coca, ecstasy, etc., fazem parte do espectáculo, para embriagar os sentidos de muita juventude que nem vota, e que vive literalmente à custa de seus pais, e alguns deles reformados. À boa maneira portuguesa protegem-se “os meninos”, porque no passado se passou muita fome e eles “os meninos perdem a noção de que a maioria das famílias mal têm dinheiro para sustentar a casa, mas pode-se gastar um bilhetinho que dá para a carne para colocar no prato durante uma semana.
Triste país este que pede austeridade e permite que se abram supermercados ao fim de semana, e que usam falsos aliciantes para aumentarem o consumo das pessoas, fazendo-as endividar ainda mais, indo atrás de um benefício precário, que na maioria dos casos ronda em prejuízo. Triste país que permite estes espectáculos em tempo de crise, e que sustenta, o ópio do povo, para que se distraia dos grandes problemas que deviam estar na ordem do dia.

Que interessa que o povo pague a dívida que não fez? Que interessa que o SNS de saúde desapareça, e a sua qualidade todos os dias seja posta em causa como se a saúde fosse uma mercadoria? Que interessa que o desemprego atinja um milhão de pessoas?
Que interessa que os bancos nos cobrem mais taxas e enriqueçam com a crise? Que interessam os políticos corruptos? Importante, mas mesmo importante, é mais um rockinho para a próxima semana, ou mais um Festival de Dás ao Coiro num cantinho qualquer do país para que a maltinha se vá entretendo até ficar sem nada.

domingo, 3 de junho de 2012

CAmInHos

"Procure os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!
Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!“

Fernando Pessoa 




sexta-feira, 1 de junho de 2012

EU TAMBÉM JÁ FUI CRIANÇA


Eu também já fui criança descalça pela calçada.
Eu já fui criança e nem sempre muito amada
Tropecei nas palavras e nas contas que me ensinavam
E fazia amigos de rua, no pontapé da bola de trapos
E sem querer muitos vidros transformei em cacos
Tive amigdalites, otites e sarampo que faziam meu pranto
Dos pedaços de madeira fazia meus brinquedos
E até tínhamos brincadeiras tipo casa dos segredos
Jogávamos às escondidas, ao eixo também saltávamos
E como tínhamos muita fome das árvores a fruta tirávamos
Todo este brincar, viver, e pular depressa se acabou no lar
Na casa para se comer cedo se tinha de trabalhar
Assim perdia a criança todo o seu voar

Hoje dá gosto ver as crianças protegidas
Com amor, alimento, saúde e ensinamento
Já não se trata a criança como se fosse um jumento
Hoje a criança tem direitos expressos em regulamento
que todos pretendemos façam parte do seu crescimento
Ainda assim alguns malandros tentam desvirtuar
Tudo o que durante tantos anos para elas tivemos de conquistar
Tirando aos pais vida e saúde e dinheiro para as sustentar
Outros as exploram e delas se servem para seu benefício
Mas o povo que não dorme defende suas crianças contra tal sacrifício
E com vontade dá luta em todas as frentes sem soçobrar

Dizia o poeta “O melhor do mundo são as crianças”e tinha toda a razão
o sorriso de uma criança encanta qualquer coração.
Dos pais recebem amor, dos irmãos, dos primos e tios também
E dos avós toda a sua experiência e ternura amando-os como ninguém
Neste dia que foi criado para da criança ser chamado
Não devemos fazer dele comércio ou levar muito a peito
Importante é fazer de toda a criança um ser muito amado
Todos os dias abraçado, beijado e acompanhado
Para que tenha um futuro mais que perfeito

O HORIZONTE SUGERIA-LHE ESPERAR
















Tenta apagar com a borracha do tempo. No entanto a cada momento encontra vestígios da sua passagem. Letras, palavras, frases preenchendo folhas; imagens várias com poses diversas, em diferentes cores e locais; resíduos de cheiro e objectos pessoais. Partiu já faz muito tempo, e deixou seu rasto marcando-lhe a vida daquela maneira. Como poderia ele, tão de passagem, ter-lhe feito tanta dor.

Procurava junto das amigas, quando em conversa, como se fizesse uma catarse, descobrir o que teria acontecido para que aquele amor mantivesse vivo, arrastando-a para uma dimensão que não percebia. Ouvia-as fazendo juízos, descrevendo, seus modos, formas de estar, sua intelectualidade, seu corpo, seus defeitos. Perante tudo o que ouvia, nada a afastava do desejo de o ter mais perto, de se sentir nos seus braços, aconchegada pela sua ternura, absorvendo o seu hálito saboreando seus beijos, bebendo seu cheiro, ouvindo suas palavras que a entoação da sua voz tornava mágicas, pela riqueza dos sentidos que projectavam na sua mente, e vibravam em seu corpo.

Sentira-o bem física e emocionalmente algumas horas e ouvira-o em dezenas de outras, de tal modo que o seu som parecia, por vezes, surgir do desconhecido, fazendo-a tremer e olhar para todos os lados, como se sentisse na sua pele o toque dos seus olhos, observando de longe na escusa sombra de um qualquer espaço.

Ali olhando o mar tudo parecia fazer sentido. O horizonte sugeria-lhe esperar, não deixar que a passagem dos dias lhe tirasse a riqueza ao seu sonho. Quem sabe num próximo mergulho, ou no levantar dos olhos do areal, ele lhe surgisse sorridente enchendo o espaço com a sua presença e dizendo “Estou aqui para te ajudar a desenhar o futuro”.