domingo, 30 de novembro de 2014

PERIGO! PISO ESCORREGADIO

 

Sempre escorregaremos nas armadilhas que nos montam pelo caminho. Tem ocasiões nas quais o tombo tem repercussões desastrosas, em outras nem por isso, importante, importante é a rapidez com que nos levantamos e superamos a queda sacudindo a roupa olhando em frente, sem que os outros se apercebam o quanto estamos todos partidos por dentro. Como tudo na vida, são fases de aprendizagem e evolução. Assim conseguimos ficar mais fortes, superando os muitos tombos que levávamos desde que nascemos até que findamos.
Uma certeza temos é de quem nos lançou a casca de banana, vai ficar
frustradíssmo por que não obteve o que pretendia e, para ele, também servirá para crescer e aprender que nem sempre se tem êxito, nem as vítimas são todas iguais.

DC

sábado, 29 de novembro de 2014

OPÇÃO OU PRIORIDADE...



Num fim de tarde outonal fui aprendendo os vazios, aquele espaço entre o nada e o acontecimento. Ia captando as imagens, carregadas de cores quentes, que se não fosse a fria brisa que corria dentro de mim, e as árvores meio despidas, julgaria estar em pleno verão. O sol desaparecia rapidamente no horizonte e o tempo era escasso para gozar e registar as imagens; entretanto os pensamentos se envolviam na noite que se aproximava, como aquela voz distante, que permanecia nos ouvidos definindo prioridades. Vinha-me à memoria aquela frase, “não trates com prioridade quem te trata por opção”, surgindo quase como por magia, como se fosse uma imagem subliminar existente nos textos dos reclamos de publicidade que na estrada se exibiam, o despoletar daquele pensamento. Pensava na crueza da sua realidade, procurava encontrar o contexto que a descomprometesse, procurava uma justificação para que ela se mantivesse. Não conseguia, a realidade era forte de mais, surgia crua como a frase. Efectivamente por vezes somos tratados, ou tratamos os outros como opção, esquecemo-nos do quanto a prioridade dos outros, foi importante para nossa auto-estima e a concretização das nossas próprias prioridades. Para onde vamos se seguirmos esse caminho... Será que nos vamos transformando, variando como o clima, trazendo-nos um Outono antecipado que por sua vez se divide em inverno precoce e uns laivos de estio tardio?

DC

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Tudo se reduziu a folhas caídas


 

Piso-as, gosto do estalejar das folhas quando sobre elas ponho o peso do corpo, lembram-me os gemidos de quando rolávamos pelo chão. Quando se acumulam em tapetes macios, gosto de chafurdar com os pés arrastando-as com uma alegria especial, quase infantil, Como quando no jardim do museu, marcávamos com as nossas passadas o saibro do caminho e alongávamos os dedos ao apontar o que nos deslumbrava, quebrando silêncios e rindo de alegria.
Tudo se reduziu a folhas caídas, num Outono à muito adivinhado, as falas se foram, como nas folhas o verde forte se perdeu, juntamente com o seu viço, como as palavras se foram perdendo do sentido. Agora as folhas, já mortas, tem cores lindas adquirindo tonalidades amarelo torrado, vermelhos alaranjados, ocres puros, tal qual o papel envelhecido onde já não moram textos legíveis, quase diria a morte fica-lhes tão bem.

DC

domingo, 23 de novembro de 2014

DE LÁBIOS CERRADOS...


A garganta seca, lábios presos com grades para que se fechem às palavras. De forma inconsciente, os lábios se defendem contra as manifestações interiores de rebeldia, se protegem quando se entreabrem ligeiramente soltando sons guturais para que não se entenda, para que se perca a definição dos conteúdos. Dentro, a mente trabalha fortemente tentando destruir o que a impede de se expressar, o que a quer fechar ao exterior, É uma guerra, de punhos cerrados. Levam-se à boca ingredientes vários, mas eles não cedem continuam com semi-cerrados, temem a prisão, as palavras ditas não mais podem voltar atrás, como a pedra lançada pelo ar, ou o rio no seu correr. Tem sido sempre a luta dos homens entre o fechar a boca por conveniência, ou a verdade e os factos que devem ser relatados.
Houve um tempo que um punhado de homens e mulheres deste país, punham grades na boca, porque denunciar seria convocar prisões, ou até morte. Tinham de frear e pôr as grades da luta, da dignidade, de não trair, tinham de usar a palavra sussurrada entre dentes para no seio do povo alimentar a esperança e apoiar suas lutas. Nos tempos que agora correm, temos de arrancar novamente as grades e deixar que a palavra se solte, que a verdade volte a correr na estrada e a revolução das mentes se faça, para que se acabe com os corruptos, com o poder que nos esmaga, para liberdade da pátria novamente amordaçada.

DC

sábado, 22 de novembro de 2014

ELES FALAM


Sob a cortina escura que os protegem eles vivem intensamente, procuram escondidos na sombra, não perder suas qualidades, estão camuflados profundos, uma forma de fechar o acesso ao coração, mantendo a distância.
Até porque eles falam mesmo sem soltar palavras e é preciso preservar os segredos.
Não raro, são rios de alegria ou de tempestade e frio.
Mexem-se activos quando motivados, ou contraídos, quando dentro de si pela dor são transformados.
Hás vezes ficam parados como que gelados, como se um véu os cobrissem.
Dizem deles coisas incríveis, Variam de dimensão, cor, sublinhados por traços que mais lembram o diabo, outras por delicadas linhas, quase minimais. São terreno fértil de poetas, e de todos os outros artistas, e por isso se diz, que trazem a alma à superfície de cada um, na verdade pouco neles se pode esconder, os olhos são o espelho da alma, é isso que querem dizer.

DC

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

As MEMÓRIAS






Antes demais, peço desculpa se me atrevo a falar de memórias, mas se as tenho e são muitas, talvez me seja permitido o arrojo de opinar sobre o assunto.

Eu sinto que há memórias nos ajudam a preservar coisas boas. Memórias saudáveis, que nos lembram os momentos agradáveis, que nos fazem rejuvenescer e às quais infelizmente não damos a devida importância usufruindo da própria experiência, nem da vantagem da sua utilização na interacção com os outros, tornando-nos mais felizes. Na maioria dos casos, como um fado, sobrevalorizamos e agarramo-nos às memórias menos boas, delas fazendo um filme com um guião paupérrimo, que nos impede de dar um passo em frente no verdadeiro filme que deveria ser a nossa vida e sua realidade. Memórias essas que nos tolhem e nos prendem aos factos acontecidos, nos quais chafurdamos com um prazer mórbido, como se numa ferida aberta fosse bom colocar sal e vinagre. Usamos essas memórias como suporte, ou justificação de comportamentos e emoções. Quase tiramos prazer do envolvimento dos outros nas nossas dores, surgindo perante eles com caretas de mau humor, olhos tristes, orelhas caídas, chorando o azar que nos tocou, a paixão que nos falhou, a incompreensão para o que nos aconteceu. Portamo-nos como seres “choninhas”, sem inteligência, como peças avariadas, Apresentamo-nos como únicos, como se aos outros, aquilo que sofremos e vivemos, nunca lhes tivesse acontecido, para justificar o quanto é difícil ultrapassar a dor, Com essa atitude fechamo-nos às experiências e memórias dos outros, e assim à possibilidade de encontrar mais facilmente caminhos e soluções. Na realidade muitas vezes apercebemo-nos quando confrontados com situações inesperadas, que nos afastam temporariamente desse choradinho, concluímos que afinal, há já muito tempo que aquilo que servia como auto-comiseração, tinha perdido o sentido e a carga que lhe deu origem, Na prática estávamo-nos a impedir de sarar e avançar em frente, trazíamos “a morte” às cavalitas.

Todas as memórias que possuímos, são um contributo importante de experiência, aprendizagem e ilações necessárias, como relato de uma experiência/referência na abordagem do presente, ou na necessidade de construir futuro.

DC

terça-feira, 18 de novembro de 2014

O QUE DA MÚSICA POSSO DIZER...




Ouço a música e sinto o corpo inteiriçar-se, fico com pele arrepiada, aquieto-me e deixo o som correr.
A Música é a arte de compor e harmonizar os sons e os silêncios, é difícil encontrar um conceito que explique os seus significados, é algo abstracto, funciona para os seres humanos como se fosse uma linguagem intuitiva e íntima de vida. Ela entra-nos pelos ouvidos e por todos os poros, como se quisesse preencher todas os vazios adentrando. Fala-nos numa linguagem dos sentidos, como se estivesse na génese do sangue, na estrutura morfológica do nosso corpo, como um alimento necessário, para que a vida aconteça.
Há músicas que ouço e torno a ouvir, repetindo sucessivamente, como se estivesse a fazer uma transfusão de energias, temo que se pararem de tocar me deixem perdido no silêncio da sua ausência. Perco-me nelas, até que se fixem na memória e ocorram em mim ao ritmo das batidas do coração, só quando esse processo está concluído é que as deixo partir.
O meu mundo não poderia estar completo, se a música não existisse completando a sonoridade dos pássaros, o grito dos golfinhos, os ruídos do vento, a gargalhada sadia. Ela é um remédio de grande eficácia no combate ao isolamento, ao stress e ao cansaço é a companheira por excelência de muitas horas sem destino.

DC



domingo, 16 de novembro de 2014

Que mais há a dizer...



A escultura tem uma expressiva suavidade, quase de veludo, que apetece tocar, como se quem a esculpiu com o escopro a quisesse acariciar.
Moldou o mármore de forma tão perfeita, que transmite uma imagem de inocência, de pureza, de sedução e beleza da mulher.

Poderei dizer:
É a arte e o artista,
representando a mulher
no seu esplendor,
dando vida à pedra
numa linguagem de amor.
DC

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Mordidas da Noite


Amanheci com as mordidas da noite, precisava de um dia de sol para me alegrar e afastar os pesadelos que me perseguiram, no entanto infelizmente, deparo com uma chuva torrencial e um céu cor de chumbo, que me trás novamente às mordidas da noite.
Se não fosse eu saber, que há outras noites bem melhores... Sim porque há noites que nem sequer as sentimos, correm mais depressa do que o nosso cansaço e quando acordamos se o sol não chegou, só ficamos frustrados pela rapidez com que o tempo passou. E outras ainda, em que as mordidas da noite são tão gostosas, que nos fazem esquecer o espaço e o tempo, porque partilhadas no aconchego do leito, não esperam o sol nascer, nem têm momento para acontecer... Se assim não fosse, então seria caso para desesperar dar urros para o ar, ou se calhar, nem ter vontade de acordar.

DC
 

terça-feira, 11 de novembro de 2014

NÃO SEI SE A MENSAGEM CHEGOU..


....., mas que o empenho foi bastante ninguém tenha dúvidas. Nem sei o que será esse melhor, nem em relação a quê. No entanto acho engraçado quem assim se expressa, com a desvergonha de revelar o seu amor e não teme seja reconhecido, mas com timidez de o fazer olhos nos olhos.

Na era das novas tecnologias e com a existência das redes sociais, alguém achou, que nada poderia ir mais longe, do que este modo público de expressar o seu amor e fez questão de que todos saibam que deixou a sua marca. Esses "alguéns" que assim se manifestam, por vezes atrevem-se a assinar, para que não restem dúvidas.

DC

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A existência dos silêncios.



Deixou que ficasse no silencio, onde a solidão esmaga, arrastando os pensamentos, agarrados a eles trás à superfície a avaliação e a ponderação de tudo o que origina esse silêncio e a solidão.

Como não entender essa necessidade? No correr dos tempos difíceis, que por uma razão ou outra cada um de nós atravessa, talvez só essa forma de estar connosco próprios, permita pôr a nu, sem outros observadores, os nossos medos, os nossos problemas, afastar as nossas dúvidas e encontrar alguma espécie de solução para os enfrentarmos....

E quanto de egoísmo existe nesse silêncio e solidão? Quanta ausência de partilhar? Quanta necessidade de ficar na escuridão? Quantas vezes, porque as falas podem magoar, pela verdade dura que elas encerram e próprio medo de as escutar?

O silêncio são as falas salgadas, as palavras com arestas, uma conversa prolongada que se arrasta o mais longe possível. O medo faz parte da existência dos silêncios.

DC

domingo, 9 de novembro de 2014

UMA "IMAGEM" DE SÁBADO


Sentado observava-os. Naquela momento um misto de inveja e tristeza se apodera de si. O amor que se sente entre eles, ultrapassa os seus corpos cria uma espécie de áurea que os desenha no espaço. Sentia-se no brilho dos olhos, nos lábios trémulos, no trejeito do corpo, O ar está carregado de uma atmosfera especial que chega até ele por simples pormenores. Oh, como é bom ver tal acontecimento e acreditar na sua existência, porquê esta nostalgia e tristeza, que o assolava...
Tão doce a carícia dos seus olhos sobre o seu rosto harmonioso. Ela presa ao seu abraço, e a sua cabeça inclinada numa atitude de atenção e ternura. Como que se o amor tivesse sido delineado existir neles como exemplo. Surge o beijo. O prazer quase êxtase do beijo, das bocas que se tocam, um beijo tão leve, e se pressente profundo, adivinha-se o acelerar do ritmo do coração, como se fios invisíveis o ligassem aos seus lábios. Um momento em que se não pensa, age-se. Os seus lábios sobre os dela, como se fosse o caminho para uma osmose perfeita. Não era um beijo sôfrego, esfregado, de línguas cruzadas, m
as só um beijo, aquele beijo para além do universo, que fica a sós, que trás nós ao estômago e faz fechar os olhos, como se o beijo fosse uma leitura de Braille dos sentimentos de cada um. Não era necessário colocar balões com legendas sobre as suas cabeças, ou com o desenho, a seta do velho cupido atravessando seus corações. A leitura é fácil, o amor acontece.
O Inverno impôs-se sobre o Outono, mas entre eles só existia uma Primavera, aproximando-os do calor do Verão.

Há sábados assim em que algo inesperado acontece e nos deixa enlevados, mesmo quando os sentimentos vivem nos outros.

DC


quarta-feira, 5 de novembro de 2014

ESCREVER À MÃO




Tem-me faltado escrever ao correr da pena sobre o papel, sentir aquele roçar/deslizar permanente do “riscador” que aumenta ou diminui conforma a intensidade do discurso, reflectindo a pressa de nada perder do que atravessa a mente.

A escrita manual é feita do entrelaçar de caracteres, tal como as nossa ideias no seu fluir. O papel é acariciado pela ponta do riscador*, que faz surgir os caracteres num ritmo continuo só intervalado pela indecisão. Os riscadores tem cheiro, e as espessuras das linhas que desenham variam de acordo com a pressão ou a qualidade do material de que são feitos, enriquecendo o carácteres de expressividade.

No café, no comboio, à secretária, vendo tv, ou na espera em um qualquer lugar, surgem ideias e escritos curtos que são de enorme importância, para o desenvolvimento de futuros actos criativos da escrita. Surgem como pequenas notas, misturadas com desenhos, que serão embrião de textos de maior dimensão, ou somente um registo de ideias.

Escrever à mão, quando os textos são extensos, implica motivo, ambiente, prazer de escrever.
Houve um tempo, que só escrevia, com canetas de tinta permanente, outros períodos com esferográficas, e em determinada altura, nem uma coisa nem outra, usava simplesmente a lapiseira, escrevendo com grafite, pedindo desculpa por isso. Quando se escreve à mão até a correcção é um acto de prazer, ao riscar com força, na folha do papel quando queremos emendar.

Quando escrevo numa máquina de escrever, ou no teclado de um computador, as teclas são individuais, não existe um continuo quando se “tecla”, existem uns dedos que se levantam e descem com rapidez, as teclas falam com o seu ruído, por isso se diz matraqueando as teclas, num cantarolar repetitivo, que para alguns interfere quebrando o raciocínio e o silêncio. Teclar é um meio frio de comunicação.

Por tudo isto, periodicamente tenho de escrever à mão, mesmo que depois tenha de passar para o computador, escrevendo com as tais teclas, mas nessa altura já passou o problema da criação e portanto torna-se acto mecânico.

Escrever à mão, em si, é um acto lúdico que dá imenso gozo. As tecnologias são importantes, mas não devem predominar sobre os prazeres da vida, penso eu.

DC



*Riscador: É um instrumento pena, lápis, caneta, esferográfica, pincel, buril, etc. que tem características próprias, de apor em cima de uma superfície especifica, formas expressivas sejam elas letras, desenhos, pinturas, ou gravuras.