quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Mais um que finda..



Coloquei as rabanadas em cima da mesa perfumando o ambiente com o seu cheiro doce, era única coisa que eu queria que existisse para me lembrar a época natalícia e para fazer a diferença. Nada mais a registar para além da necessidade de silêncio e pausa para repensar quais as etapas positivas no espaço dos trezentos e sessenta e cinco dias decorridos. A meta é o objectivo, mas as etapas é que enriquecem a caminhada. Celebrar a passagem de fronteira entre um ano que acaba e o que começa não faz muito sentido, se constatamos que vamos para mais velhos e que não chega um dia de sorrisos, abraços e frases de circunstâncias, para apagar todo aquele tempo em que lhes fomos indiferentes. A única coisa que vale a pena, é a aprendizagem e o conhecimento que adquirimos sobre o mundo e os comportamentos das pessoas que nos rodeiam, entre eles os muitos familiares e amigos e conhecidos de circunstância. Temos os que nos amam, alguns nem por isso, outros que nos desiludem, e ainda outros que nos esquecem em favor de interesses vários e nem sempre por razões aceitáveis. Todos os anos haverá coisas boas e más para recordar e a isso chamaremos crescimento, realidade e outros palavrões, ou tiradas, filosóficas. Será sempre assim todos os finais de ano. Comam, bebam, abracem quem puderem e divirtam-se é para isto que estas coisas servem. Bom Ano Novo.

dc

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Além do Beijo




Um beijo além do desejo
Um desejo além dum beijo
Um desejo por alguém
Um alguém além do beijo
Um amor por alguém
Num beijo além do desejo.

dc



quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

NATAL


Natal sempre que o Homem quer
de acordo com a mulher.

Natal toda a gente se esquece dos problemas dos dias
e acalenta esperança de maiores alegrias.


Feliz Natal e Bom Ano a todos

Um Natal Sem abrigo


Com a tigela da sopa na mão sentado na beira do sofá mastiga o seu silêncio, olhando indiferente a televisão e seus conteúdos. Nada motiva o seu interesse, será sempre a repetição das notícias e programas que mofam nas consciências. Por isso se concentra na sopa que come, no seu paladar e na justeza dos seus condimentos, para enriquecimento do seu sabor. Conta o número de colheradas que mete na boca, e mentalmente vai enumerando: batata, salpicão, cebola, grão, e agrião. “Esta sopa de agrião está boa!” e saboreia. Adora comer sopa e esta é suave e ao mesmo tempo marcante pelo seu gosto requintado, além de que se confirma, ao mastigar, que os diversos componentes mantém uma boa ligação uns com os outros. Perdeu-se, que estava ele a pensar, de que silêncio, de que vazio, que importava a sopa, que sempre comia sozinho como as muitas outras refeições? Na maioria dos casos cozinhava já sem prazer e comia na mesa da cozinha, olhando o açafate onde a fruta repousava, que por hábito comia antes das refeições. Nem sempre o silêncio era idêntico muitas vezes dentro da sua cabeça os pensamentos e as emoções se cruzavam com as lembranças e a refeição ficava pesada. Tantas vezes se repetiu o fado, que um dia ficou olhando os tachos os pratos, os condimentos, deu um passeio pela casa, como estivesse matando saudades, foi ao armário da roupa escolheu roupas simples fez um embrulho e colocou num saco de plástico preto. A sentou-se e durante uma hora escreveu cartas para as pessoas que entendeu mereciam saber. Pegou no bilhete de identidade meteu-o no bolso, fechou a porta e de seguida foi aos correios enviar as cartas.
 
Dormir nas ruas, comer o pão que o diabo amassou(?), na realidade assim assumiu a verdadeira liberdade, que durante anos não teve. Se em casa possuía bens materiais, também continha o vazio. Para quê preservar o que já não tinha sentido? Quem estabelecia o que era certo ou errado, que sociedade esta que se dizia evoluída, em que os valores se vão pervertendo, que poderes fornecemos nós a quem nos dirige? 
Na rua, como ele durante anos, muitos eram os iguais que partilhavam pedaços de estória e de vida. Lentamente se foi distanciando dos valores “sociais” de convivência, a cultura passou a ser a linguagem dos outros iguais e a comida obtida através dum esmolar constante, ou nos contentores do lixo. Os farrapos que vestia, só para o proteger do ambiente, eram-lhe dados, ou encontrava-os, por vezes, dobrados, juntos dos contentores do lixo, pouco lhe importava o que vestia, eram adereços de um teatro maior de qual fugira. Cada dia que passava mais se distanciava do que já fora um dia, esse tempo  de obediência às regras opressivas de uma sociedade que não o respeitava, o desamor que sempre sentira, já não fazia mossa, tudo se relativizava. 
Hoje, deitado na soleira da porta de uma loja, encolhido enrolado sobre si próprio, como estivesse convulsões, envolvido na própria dor, toda a indiferença emanava de si. A roupa andrajosa colada ao corpo, um saco negro dos que se usam para o lixo, uma lata vazia e uns cartões, restos de embalagens, faziam-lhe companhia. O que era hoje, saía-lhe na respiração dos olhos, alguém que desistira à muito de fazer parte desta sociedade. Toda a liberdade tem um preço este era o seu.
dc





segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Aproveitar a jornada



16 horas, a plataforma da gare começou a ficar vazia, o comboio “Pendular” partiu. Todos os que tinham vindo despedir-se, de repente, ficaram como se ensimesmados com a partida fixando os olhos no chão e encaminhando-se para a saída. Alguns pareciam arrastar toneladas em cima de si, outros afloravam no seu rosto um sorriso enigmático como se quisessem esconder o que lhes vai dentro.
Deslocou-se para a saída. Nem sempre a despedida era igual, das outras vezes, saía da plataforma da gare antes que comboio partisse, fazia-o para encurtar o momento e se iludir tornando-o num até já. Saiu de imediato da estação procurando assim afastar a imagem da partida. Entrou na sua viatura ligou a música e pensou.... O Natal sempre terá partidas e chegadas, amores e famílias que vivem na distância...Têm uma lado positivo, alertam-nos para o que faz falta.
O sol ainda forte começava o seu declínio no horizonte....Esse horizonte que se mantém sempre lá, como que fugisse de nós... Percebia que o seu próprio horizonte se mantinha na distância, quase sempre próximo e cada vez mais irrealizável...Diz-se que estabelecer o objectivo e alcança-lo é importante, mas mais importante do que atingirmos o que nos propomos, é aproveitar a jornada...Sim, assim teria de ser, viver mais intensamente o passar do tempo, que representava esse intervalo entre chegada e partida, e vivê-lo como se fosse a última viagem.
dc 

sábado, 19 de dezembro de 2015

Viver o Dia



Mordo teus lábios
Sugo tua lingua
Afogo-me
No teu ventre
 
Quero absorver-te
Para sempre
Anular
Toda a mingua
Enquanto ausente.

Enroscar
No teu corpo
Colando-me
À pele e ficando
Cheirando
Sentindo

Depois
Descansar
No teu regaço
Vivendo
Teu beijo
E teu abraço

dc

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Pensamentos traiçoeiros




Os pensamentos, abstracções que subtraímos da realidade, isolados numa gaiola, a nossa cabeça... Às vezes se manifestam para o exterior, num sorriso, num olhar com o brilho das  emoções, num gesto... Para quem, de fora, nos observa pensando, torna-se difícil descobrir de facto o que neles se cogita, o que os alimenta, qual a prioridade das suas escolhas... Somente estão lá, isolados, sem tempo limite, com escala de gradação própria, sem palavras visíveis, perdidos nas inter-relações que se geram, nos sentimentos, nos factos, nas preocupações. Eles ocorrem... Saltitam, esvoaçam pelo mais recôndito de nós... Quantas vezes a nossa introspecção é tão profunda, que os pensamentos se fazem presentes, levando-nos a cometer actos irreflectidos, gestos não pensados...E quando nos apercebemos, já está feito... Uma  letra... Um número... Uma frase... Um gesto e acontece, só quando ouvimos o eco que nos chega, como resposta... Quando a voz que entra no ar nos faz acordar de espanto, ao fazer-se presente é que tomamos consciência de que transformamos um pensamento em realidade, e aí descobrimos que muitas coisas, que julgávamos resolvidas, afloram novamente vivas e dolorosas.
Há dias que não devíamos pensar, ou então devíamos fechar a gaiola a sete chaves...
dc

É tão cinzento..



É tão cinzento, tão escasso o prazer, que me deixo secar no vento, despida de mim, sou como sou, só, visão fantástica de um mundo onde não sou parte interessada... Para ele sim, na minha nudez ele me compara com as outras e me introduz no meio de estruturas secas de linhas e formas... e eu, procuro a diferença, escasseia-me a linguagem, sobra-me a coragem para sobreviver...Renascendo. 
dc

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A(o)MAR




Nós sabemos que ele existe, está lá parado no tempo de propósito para nos receber, para nos orientar... e mesmo assim erramos, derrapamos no chão húmido das incertezas, escolhemos a dor no lugar do porto seguro... porque a beleza também é um desafio... porque o gostar é insuficiente se não existir aquele íman que nos prende, aquele outro mar que nos entra pelos olhos e nos faz navegar os sonhos...fugimos da acalmia, procuramos a agitação das ondas desafiando os corpos...sentindo o salgado nos lugares mais profundos. Queremos a tempestade... mesmo quando sabemos para onde nos pode arrastar na sua força e envolvimento... é a inconsciência da força... da paixão que nos arrasta até ao a’mar... ir contra a corrente de todos... porque não somos todos...somente dois. 
dc

domingo, 13 de dezembro de 2015

AGORA




Agora
que já não tenho a curva sinuosa
do teu pescoço para me perder
nem o riso contagiante dos teus lábios
que me desafiavam

Agora
que já não sinto a tua respiração
na minha nuca
nem invades a minha cama

Agora
que a noite se perde em sombras
quase que obscuras e deformadas
na parede do meu quarto

Agora
que o teu retrato
jaz frio na cabeceira
sem a vida e o calor de nós

Agora
sinto que o ar que respiro
é só alimento de um corpo
e não mais alento de viver.
(É só isto que faz o meu, Agora)




sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Foice da vida




Ceifeira cortando pela raiz
Humanas criaturas
Adulto ou petiz
Bestas ou almas puras

Sabemo-la inevitável
Presença na nossa vida
Leva-nos doentes ou saudáveis
Sem sinal de partida

Nos leva sem escolha
Tantas vezes desprevenidos
Leva-nos de vez e nem olha
O quanto ficamos aturdidos

Resta aos que ficam
A memória da sua essência
Nas frases que os glorificam
Lembrando a sua ausência.

dc

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Ai sou tão pouco





Onde estás
Sou tão pouco


Onde teu riso
Para todos soa


Onde não é Porto
Ou Lisboa


Onde ficas tu sonhando
E eu com os meus sonhos
Aguardando


Nesse lugar distante
Onde não fiquei
Vivendo o instante


Hoje ficaria feliz
De te ter um só dia
Amor na alegria 


Contigo não haveria
Nem noite nem dia
Só tempo no presente


Estaria mais perto
De avaliar e saber
O que tínhamos de certo


dc

Vieste...





..... na brisa de fim de tarde
trouxeste contigo o verde do teu olhar,
uma boca para voar, todo um corpo
se sentindo como peixe no mar.

O tempo que durou foi um eterno sentir,
te esperava verão e inverno, sem saber como te fugir.

Um dia chegou a dor da incerteza
do tempo da viagem, do tempo do teu partir,
sem saber se afinal, toda aquela beleza
fora só mais um corpo a descobrir

E um dia foste e deixaste o frio, a saudade,
o casco desfeito de um barco
já sem forças para se fazer ao mar
e sem vontade de recomeçar.

Ficou teu, nosso, silêncio, o vazio,
ficou uma mapa de rotas sem escala
num corpo sem alma nem pavio
e uma voz que perdeu do amor a sua fala.


dc


domingo, 6 de dezembro de 2015

Os dedos..



Olha as mãos como se nunca as tivesse visto,
vê-lhe os dedos compridos, grossos, firmes,
as veias salientes, as cicatrizes, os calos, as rugas...

Dedos que pela força deixam ferida,
puxam gatilhos tiram a vida.

Dedos firmes precisos, abrindo sulcos
como o lavrador rasgando a terra.

Dedos que deixam marcas onde tocam,
digitais que os Homens descobrem.

Dedos quando apertam outras mãos,
deixam os sentimentos chãos.

Dedos moldando o barro da vida,
afagos do oleiro na peça erigida.


Dedos que fizeram mapas no seu corpo, 
registos na pele em tatuagem,

Dedos dum amor em longa viagem,
sem paragem até chegar a bom porto.

dc

sábado, 5 de dezembro de 2015

Só Silêncio





Ao silêncio me reservo
no silêncio me observo.

Silêncio espaço em branco
para pensamento sem ruído
num eu e eu muito franco
para encontrar o sentido
 
Silêncio avaliando preceitos
ajuizando conceitos
na razão do meu calar
e o porquê de nele ficar

Silêncio contraponto de ruído
assim se estrutura o mundo
um sem outro não faz sentido
só que um cala mais fundo

dc

domingo, 29 de novembro de 2015

Um Suspiro....



Um suspiro prolongado, acontecido da alma de quem ama, provoca uma tempestade com ventos de alta velocidade onde habita o coração do objecto do seu amor.dc


Pensamento....



....” Não sei se mais alguma vez abrirei as portas de mim, se deixarei espaço a que me tomem, eu que sobrevivi e hoje quase tenho vergonha disso. Vivo amarrado às memórias de uma suástica que me esmagou, gravando dentro de mim os gritos dos meus companheiros gaseados. Todos eles morreram descalços, todos eles desaparecidos, resultado da ambição de poder de alguns “homens”. Necessário é não me deixar contaminar por esse passado e ajudar a que os Homens do presente não caiam nos mesmos erros “...... assim observo página negra da nossa história. 
dc 
“O cordão humano, assim como a iniciativa de colocar milhares de pares de sapatos no local onde iria realizar-se a marcha cancelada devido aos atentados realizaram-se sem acidentes, mas depois alguns manifestantes atiraram objetos à polícia que respondeu com gás lacrimogéneo.” 
http://www.noticiasaominuto.com/mundo/495301/milhares-de-pessoas-num-cordao-humano-contra-alteracoes-climaticas


sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Grades Invisíveis



Somos prisioneiros de nós próprios, evitamos o desejado e tantas vezes ambicionado com medos e convenções, Fazemos por ter a aparência do que não queremos, e gostaríamos de ver a léguas, Afinal, não pensamos em nós próprios em relação à vida que gostaríamos de viver, dizemo-nos livres e deixamos que as amarras nos mantenham confinados aos limites e constantemente não realizados. Ficamos em nosso canto encolhidos com receio do fracasso, de assumirmos os nossos gostos, os nossos amores, os nossos desejos, as nossas preferências.
Nunca foram tão livres como quando se amavam sem barreiras, vivenciando todos os momentos como se não existisse, mais do que o agora. Nada fora tão bom como naqueles tempos, em que só eram dois decidindo o tempo, em que vibravam com as mais pequenas coisas, em que se digladiávam para que cada um fizesse mais perante o outro para que usufruíssem em plenitude.
Não arriscaram, o medo tolheu-os, Assumir o que somos é sempre difícil, quando se tem em cima de si as tais convenções sociais, o emprego, ou desemprego, a satisfação da materialidade quotidiana. Preferiram deixar correr entre os dedos, a força do amor que tinham para não enfrentarem os problemas os tolhiam; Se a idade era propicia, se os filhos gostam, ou querem, se os avós toleram, se os tios se chateiam, se amigos percebem, se os vizinhos estranham e até se gentes da terra reparam, como se as gentes da terra, não tivessem mais para onde olhar, se não para eles. Tudo temendo, agarrados a ancestrais hábitos retrógrados. Tal eram os seus receios, que temiam conversar sobre as hipóteses possíveis para que elas não contrariassem o que temiam...e assim se foram derramando pelo inóspito caminho dos impossíveis, das discussões, das imposições, dos temores e se afastando, procurando inconscientemente justificar o canto onde se escondem... .
 
dc
SET2014


quinta-feira, 26 de novembro de 2015

TANGO...no salão





Eu dancei
tu dançaste
ela dançou
eu pensei
tu pensaste
como eu sou.

No tango
bem agarrados
corpos lançados
são um casal
e o sentimento
de atracção fatal

Vermelho
veste ela
ele de preto
em sua farpela
ela de ombro
a descoberto

Roda e volta
volta e rodar
e solta
levanta o braço
fixa-se ao chão
ela sente seu coração

De passo em passo
de roda em roda
fazem o compasso
desta dança
que a moda
já não alcança

Sucesso
vira a alma
do avesso
dois que dançam
como se fosse
um destino

E se enlaçam
em desatino
em posse
até findar
o rodopio
é um desafio

Amantes
da dança
dançam
e por fim
depois da festança
.....terminou a dança.  


dc

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Sem blá blá ...é assim...e só



Todos os dias, as estórias entram-me pelos olhos pintadas de diferentes cores, para que as veja e delas fale. Cada uma com a sua especificidade, importância, ou motivação, cada uma mais marcante do que outra, todas despertando a minha curiosidade e inspiração. Em algumas me revelo, em outras me escondo. Nelas gosto de “ouvir” os gestos, colher as emoções e especular tentando encontrar as perguntas, sem me preocupar muito com respostas. Elas se me põe bem na frente sem que possa desviar o olhar, vão saltando para as palavras como pequenos pirilampos tremeluzindo desenhando prosas da sua revelação. Moro-me nas areias movediças das suas vidas, tento dizer de si, mesmo quando parecem vulgares, como se nelas eu também estivesse colado pelas experiências sentidas, como se eu próprio fosse a estória, deixando-me agarrar à massa que modela quem as vive, até que seja parte delas. Eu caminho quando caminham, choro quando choram, amo quando amam, elas são a pele da minha pele, elas desenrolam-se como um pergaminho com os segredos de toda uma vida.
As estórias com a sua emoção são a força motivadora, a que não resisto, levando-me mais longe. Trazem-me os arrepios, o frio ou calor ao corpo, dão-me o arreganho e vitalidade para as transformar, São elas que trazem até a mim o humano jeito das pessoas, São elas que me tiram do vazio trazendo-me capacidade de realizar para superar o correr dos dias. Em contradição com tudo isso, é no entanto alguma racionalidade que nelas se encontra que me trava para que não me destruam e me levem a alma já de si abalada na minha experiência humana.
 
cd


 

domingo, 22 de novembro de 2015

Queria-Te


Queria-te sempre
Como te quero agora
Nos meus braços
Sem demora  
Queria-te agora
No meu regaço
Sem hora
Nem cansaço 
Queria o teu beijo
Como sempre quis
Molhado pelo desejo
Do amor que contigo fiz  
Queria-te  
Queria-te tanto
Como ainda te quero
E escondo o meu pranto
No silêncio em que te espero

dc

SAIR DO ESCURO



Amolecida a vontade de se erguer do chão, não havia razão para que não ficasse, olhando o céu breu que por cima o observava. O cinzento estava tão fora como dentro, sem alternativas para encontrar o arco-íris, que fizesse aflorar na boca um sorriso, que o aconchegasse na palavra, que fosse abraço demorado no conforto da ausência e da espera.    
De repente o inesperado, a música foi enchendo o ar e lentamente foi adentrando na sua mente e no seu corpo, aquecendo-lhe a alma, trazendo-o a um navegar de ondas sonoras, escorreitas, deixando-o ir pelos sons e extasiando-se...levando-o por um caminho sem fim..deixou-se ir onde a música o quisesse levar...e assim se perdeu da dimensão do espaço e tempo...volatilizando o cinzento e as cores surgiam enriquecendo-o...misturando nostalgia e prazer. 
Sabia que ele não estava ali vivendo e partilhando, com o seu sorriso, com suas mãos apertando as suas, com o seu calor, mas a tristeza desse facto, esmorecia suavizada pelas sonoridades do que ouvia. 
dc 

sábado, 21 de novembro de 2015

ETERNIZEM



Ainda restam no ar os cheiros que emanam dos seus corpos, a pele ainda quente das carícias e as bocas ainda húmidas de se amarem. Resta da noite o cansaço alegre, prazeroso da presença de um perante o outro. Após a posse do corpo, a aproximação das mentes, Mesmo quando, por vezes, pareçam opostos, há sempre pedaços que se envolvem, se tornam comuns, no alimentar dos dias. 
Nada é eterno, dizem, mas se eternizam os momentos nas nossas memórias, aquele amor pelo outro, mais importante do que por si próprio e em alguns casos efectivamente até que “ a morte nos separe”. 
Tenham bom dia e porque hoje é Sábado e o tempo é mais vosso, eternizem! 
dc  
Nota: e·ter·no |é|  
Que teve princípio mas não terá fim. Que durará sempre. Muito duradouro. Inalterável; constante; enorme, desmedido.


quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Partilhar um Chá



Gostaria de partilhar contigo o meu chá. Chá, iniciado com toda a cerimónia e ritual da sua exigente preparação, numa quase meditação, como prelúdio de um degustar lento, deliciado, sem que o tempo conte nem as suas angústias.
Um chá sem ser condicionado à escolha, se é preto, se é verde, se de frutos, ou de outra qualquer diversidade gustativa e salutar. Importante é partilhar o chá fazendo disso uma forma de comunicação, um palestrar silencioso onde só falam os gestos e os olhares.
Fazê-lo num lugar especial, talvez como viajantes solitários sentados no pico dum monte, olhando o infinito horizonte marcado pelo fim da tarde. Cada um envolvendo com as mãos a sua respectiva chávena e sentindo as arestas frias do vento penetrando os olhos, enquanto o calor da bebida nos vai reconfortando, numa saudação de mente livre, sem mais nada que a grandiosidade do próprio momento e todo o envolvimento que nos fez chegar a esse lugar de estar. 
Manso o dia, este, que não te tenho se não no sonho possível de um chá imaginário. 
dc

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Uma Gata no Colo do Gato




Um gato
Um colo
Um sorriso
Um falar

São frases
São palavras
São olhares
São encontros

É um gato
Entre sorrisos
É um falar
Entre os olhares

Ronronar
Passar a mão
Sentir mornar
Bater o coração

Tudo certo
O gato não fala
É no concreto
"Mio" que embala
Ver uma gata 
No colo do gato
Num mundo abstracto
Pode ser um facto.

Se é normal...
(Falamos de felinos..?)

dc

sábado, 14 de novembro de 2015

Gavetas do tempo




Os traços de seu rosto se vão definhando, como os dedos perdendo memórias do toque dos seus lábios, do passeio pelo seu corpo que como um cego a procuravam nas noites em que consigo permanecia. 
A perda de alguém, que não morre é sempre mais lenta, a qualquer momento somos confrontando com realidade da sua existência, alimentando a ideia de que nada é definitivo, no entanto as mudanças, e o correr do tempo, mesmo com desgosto próprio, nos vai tornando difícil manter os principais traços, daquilo que outrora foi. A ausência instala o vazio, se vão esboroando as referências, como se fosse um retrato em tons sépia, que vai perdendo pormenor e ficando destruído pelo correr dos anos, como todas aquelas que enchem as gavetas do tempo, na tentativa de manter vivas as recordações. 

dc