segunda-feira, 29 de junho de 2015

Num só dia, 365



Os aniversários passam marcando a mudança, e esta será tanto mais curta, quanto dentro de nós, ainda exista algo de criança. 
São datas passando pela vida, são momentos do caminho na construção de projectos, importante é termos a família e amigos por perto, porque com eles sabemos, que não nos deixam perdidos, a pregar no deserto. 
Num só dia, somamos trezentos e sessenta e muitos, e se alguns foram menos bons, na hora do balanço ficamos pelas coisas boas que aconteceram, apagando as velas de uma idade que não fixamos, “encharcamos a esponja” do champanhe de alegria e brindando aos novos dias que virão. 
Agradeço a todos os que se lembraram e a todos os que se esqueceram, porque uns e outros são humanos, sentem, vivem e esquecem por motivos, ou razões diferentes.   
Junho 2015 

dc

Geometria D'um espaço



pontas de setas
       raios de sol
ou veias abertas
       indicando um destino
talvez um girassol
       alegrando a terra
dum homem sozinho.
       dc 

terça-feira, 23 de junho de 2015

QUERIAS...



Querias
Que eu fosse
Como tu és.

Se eu fosse
Como tu és
Que diferença
Haveria
Se o espelho
A mesma imagem
Reflectiria?

Nem eu
seria quem sou
Nem tu
Serias quem és.
Então para que serviria
Que eu fosse
Como tu és
Se foi aquilo
Que nos diferencia
Nos aproximou
Um dia?

Sê tu como queres
E eu serei como sou.
Nas diferenças
Nos completamos
E talvez por isso
Nos gostamos
Sabendo ambos
Ao que vamos.

dc

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Falar de Quê?



De repente a banalidade, a omissão, como se nada mais houvesse, se não isso mesmo. Falar de quê e para quê? Só o silêncio, dando crédito à dúvida, confirmando quanto estava perdido da promessa, efémero seria o tempo de viver e de amar.

De repente fica no ar a certeza de que nada existia, só palavras soltas sem crédito, sem verdade. Os jogos de amor são para utilizar no leito, com sabedoria e preceito, os outros são desconfiança, ou habilidades, que se usam para se enganar o tempo que se esvai e as vidas que nele decorrem.


O discurso desfaz-se, como se o amor pudesse decretar-se de repente morto, ou que se encontra em parte incerta.

dc

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Presa à Memória a Estória



Sente,
por dentro
um vazio
a preencher,
prende-se
agarrada
à migalha
que persiste.


Presa
à memória,
a estória
dum alguém
tão ausente,
trazida
ao viver
do presente.


Nesse
pensamento,
construído
na saudade,
confunde
sentimento
com a realidade,
e assim a alma
torturada,
vai
ao encontro
do nada.

dc

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Nem todos...



Nem todos nascem em berço reluzente, no conforto material e  aconchego sentimental. Muitos ascendem a homens ou mulheres, ainda de frescas carnes, sem tempo para temperar, o corpo e a mente, dão saltos nas etapas, sobem escadas pelo meio, correndo o risco da queda.

Do zero absoluto da primeira respiração, tudo se foi construindo em pulso duro, emoções controladas, aprendizagens forçadas. Os risos e sorrisos, leves instantes, desde de cedo em humor boçal, contrapõem a luta da sobrevivência feita à força de trabalho bruto.

Impingem-nos a materialidade em troca dos sentimentos, alfabetizam-nos na estupidez, formatam-nos na necessidade das forças de produção, e fazem-nos crer que a cultura, arte, e alegria não é para todos. Vivemos da ressalva, de que se muito trabalharmos talvez lá cheguemos. Importante é retirarem-nos palavras, emoção, lazer, futuro, e muito menos ter ideias com horizonte a fervilharem na mente. E a isto chamam civilização.

Assim os dias se desfazem como espuma do mar nos minutos do tempo. Dias fragmentados como as estórias que alicerçaram o formato mental e o corpo e se vão enterrando na carne, ficando, envolvendo, sendo estrutura, não sobrando margem para sonhos e enganos.

No entanto, ainda assim, há um punhado de gente que respigando do seio da sociedade, sonha, trabalha, divulga ideias, fomenta a luta, na procura de encontrar os caminhos para a mudança de paradigma. São eles a certeza da mudança.

dc

sábado, 13 de junho de 2015

CRIANÇAS D'RUA


Olho a fotografia, envergonho-me de muitos de nós, de nos dizermos humanistas, quando ficamos pacificamente esperando, que alguém, ou alguma, coisa resolva esta calamidade.

Corpos frágeis, ainda mal estruturados, física e mentalmente, sem calor, carinho, pais ou pátria. Esparramados na soleira das casas, como embrulhos, ou restos de lixo, na confusão de mantas e cartões, leito possível, onde sobressaem os seus rostos tisnados e sujos. Crianças, sobreviventes numa sociedade que não as cuida, num país que os governantes não governam e são paus mandados de banqueiros e empresários, que se dizem cumpridores perante os credores externos, mas não cumprem com as crianças. Crianças que encontram a comida nos caixotes do lixo, ou na esmola caridosa, não têm casa, não estudam, não brincam. Crianças de olhar pesado, da tristeza e dor acumulados, que constroem seus leitos, não no chão da sala, na hora de brincar, mas no mármore frio, que decoram as portas onde se deitam em plena rua.

Aqueles, agora frágeis corpos de criança, nascidas com a descrença, alimentadas na revolta contida, quando se superam, na doença, na intempérie, na fome que lhes rói o estômago, carregam em si próprios, baterias de revolta, ganham coragem, e mais tarde, já adultos, despoletam à mínima faísca a violência armazenada. E com isto, sobra desde logo, para mais tarde, o julgamento dessa sociedade que lhes retirou a capacidade de serem, viverem, e crescerem crianças.
Nascem sem futuro, morrem sem viverem
E dizia o poeta “ o melhor do mundo são as crianças”. Na verdade são, mas a sociedade dás-lhes tão pouco.


dc




quarta-feira, 10 de junho de 2015

Surfando



Que a estética, não perturbe demasiado a morfologia do teu corpo, que ele se deixe ir, com a mesma fluidez e envolvimento da água, tal como a tua sensibilidade espanta, quando a tua voz se pronuncia sobre os afazeres do mundo, das criaturas que nele habitam e da natureza que nos regala. Do mesmo, modo que a tua voz é melodia, calor, expressão dos teus sentimentos, dos pensamentos que deslizam numa vaga gigantesca, onde vais surfando percorrendo o “tubo”, intenso, carregado da expectativa e beleza, sem saberes do seu término, que faz temer te desfaças no areal imenso da incompreensão, nesse mundo onde os humanos se morrem de pobreza, material e espiritual.
A esperança, a vontade, a exigência, é que corpo, mente e emoção, se unam na mesma massa com que se solidificam as uniões entre os que se amam.

dc

domingo, 7 de junho de 2015

"Pensando, falo"


 
se já sem acordo
ortográfico
é difícil acertar
na palavra correcta
para o explicar,
sem erro,
ou má interpretação
da palavra,
aqui falo, de falar
para que não haja
confusão,
o falo de falar,
é menos físico
e mais de pensar.

há gente
que fala
por falar,
ou "fá-lo"
a desconversar,
pensando
no falo
mais físico,
do que no falo
do pensar.

dc

sábado, 6 de junho de 2015

...sim falta tempo



O seu vocabulário está, cada vez mais, reduzido a palavras como, horas, caminhar, ver, silêncio, vazio, tristeza, saudade, beijos, corpo, mãos, carícias, namorar, paixão, amor, mar, imensidão, navegar, vogar, voar...tempo, tempo, tempo..
...sim falta tempo para ter tempo, deixar que a vida corra, sem pressas, e que lhe sobre tempo para correr o mundo, nem que seja às avessas. E goza com a rima.
Sim, precisa de tempo para conhecer o mundo de outro ângulo, e de um qualquer outro lugar. Não é justo, que o mundo seja imenso e não possa usufruir um bocadinho mais do mundo, do que a zona onde mora, ou do país onde nasceu e viveu.
Quer ver outros países, outros lugares. Um iceberg aqui, uns Himalaias acolá. As pampas na Argentina seu tango e suas gentes, ou o deserto do Saara com as suas areias quentes. Um América Latina cada vez mais livre, fervilhante de cor e emoções, efectuando as suas revoluções, e, no continente asiático, gentes de perfis diferentes com os seus mosteiros e meditações. Passear na muralha da China, e visitar um país para além da “cortina”, que já foi de “ferro”, e numa Europa tecnicamente perfeita, em plástico original, do século XX. Ver o país dos “cowboys”, das diferentes federações e jogos de latrina, de drones nas populações.
Quer tudo a que tem direito. Ele é um ser humano que quer, um mundo mais perfeito.
Quer aprender outro vocabulário, outras línguas outras gentes, e lugares bem diferentes, fazer que a vida seja vivida antes de perder a perspectiva de que o mundo é de toda a gente.


dc

sexta-feira, 5 de junho de 2015

A cidade onde eu moro




Na cidade onde eu moro os muros são cinzentos, as ruas alcatroadas são cinzentas, o céu morre de chuva cinzenta, No entanto os guarda-chuvas são vermelhos, os corações das suas gentes são vermelhos, os amores são vermelhos, as rosas são vermelhas, Por isso dou como conselho a quem nos visita, o sinal de perigo nas ruas da cidade dão alerta a vermelho, porque se alguém entra de alma cinzenta, sai de certeza com ela toda de vermelho.

dc


quinta-feira, 4 de junho de 2015

Importante é a liberdade



importante
é
a liberdade
de sentir
dizer e pensar,
sem aos outros
tirar
a palavra
o prazer
o desejo
de expressar,
numa atitude
num abraço
num beijo
ou outra forma
que se queira
manifestar.
por isso
não gosto
de calar
o que se tem
para falar
mesmo
que possa
errar.
importante
importante
é a liberdade
de pensar
sem ao outro
impedir
o seu falar.

dc

terça-feira, 2 de junho de 2015

VIAGEM



Por vezes esticamos o tempo
Por vezes o fazemos minguar
Depende do momento
E do que queremos alcançar.

Sem esquecer nessa viagem

Que em todos os passos dados
Para atingir um objectivo
Tão importante é o feito conseguido
Como os momentos que passamos
No percurso acontecido
.

dc