domingo, 30 de agosto de 2015

Meu (a)mar


teu corpo
é o imenso areal
onde repouso


na brisa
dos teus lábios
o ar que respiro


e na espuma
do teu mar
os sonhos a realizar

dc

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

ABSTRACÇÃO


Será possível, conseguir explicar o silêncio que se faz dentro de nós? Como se consegue demonstrar que se ouvem os ruídos exteriores, se eles só funcionam como pano de fundo desse nosso silêncio?

Fecho os olhos e aperto as mãos, uma de encontro à outra, forte, para sentir que estou aqui, e fico mais atordoado pelo silêncio, que se torna mais profundo, como se entrasse num buraco estreito sem fim, onde cada vez que descemos nos isolamos mais e mais.

Sinto a presença dos móveis, dos objectos, dos milhares de livros que me rodeiam, mas eu estou fora, longe, como se estivesse mais perto de ser ar, do que essa coisa material que se chama corpo humano. Será esta a altura em que o cérebro se fecha e parte para um outro lugar sem nomes ou memórias...
...sinto as teclas debaixo dos dedos, como se tivesse acordado de repente, reparo que estive ausente uns momentos, porque demoro a reconhecer o que está escrito na minha frente. Corro para frente do espelho para saber se meu bafo marca e me diz que estou aqui, Estou de facto, mas meus olhos estão silenciosos, sem brilho estão apagados, algo morreu sem que me tivesse dado conta, ou assim quero crer.

Afinal onde eu andei que me perdi algures, Que se passou para além de.....

O silêncio se foi, mas um vazio enorme se espalha por todo o eu, como se duma máquina tratasse que funciona automaticamente, porque programada, com energia e função para cumprir.

Onde estive eu afinal para que os meus pensamentos surjam agora tão matematicamente expressos, com raciocínios tão frios, mas de uma lucidez incrível, como algo agarrado à pele?

Será melhor não pensar muito, talvez, por momentos tivesse cruzado a fronteira dos impossíveis, quem sabe...há tanta gente que tem sonhos, constrói vidas, mesmo quando parece tudo perdido..quem sabe... Será que o sorriso e gargalhada regressam... e vou novamente acreditar que existe gente, que ama e sente, que sonha e vive, como gente verdadeira, que não só miragens, objectos, cumpridores de funções pré-destinadas?


dc

terça-feira, 25 de agosto de 2015

ESPERou...



.... todo um tempo, nada mais havia desde o último encontro, Ficaram as palavras e a despedida sem choro nem lágrimas, somente ponto final. Tudo o resto deixar de pertencer-lhes, ficara a sós com o ar que respira e o lugar onde permanece. Tudo aconteceu, de bom e de mau, mas com toda a certeza, nada, mesmo nada lhe tirará aquele momento, em que pela primeira vez, sentada no mesmo lugar, lhe sorriu e mais tarde se beijaram, nem a esperança, de que dia uma outra estória volte a acontecer, com envolvimentos diferentes e que se torne a excepção à regra, e não morra na prateleira dos romances comuns.

dc

domingo, 23 de agosto de 2015

Ao sabor da INspiração



Deitada cruza os pés, como ele cruza nas mãos seus dedos, uns e outros têm dez todos com seus segredos. Dedos da mão que na pele deslizam. Pés delicados se afastam e o corpo desarmam, quando suavemente tocado pela boca de seu amado.
Ninguém pode julgar, o que cada um sente, ou se a mente engana o coração. São os pés com seus dedos, dedos com e sua mão, que no seu agitar se perdem dos medos ao sabor da inspiração.

dc

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A terra que eu sinto




Sentado na barriga da mãe terra, ouvindo o seu latejar, o varrer dos ventos, das chuvas, do sol escaldante, da neblina pousando sobre ela. Sinto nela a enxada do lavrador, ou o arado, entrando forte, rasgando, oxigenando e alimentando com seu estrume, dando-lhe alimento, regando e atenuando a sua agrura. Não falo da mãe Terra, planeta, falo daquela parte da terra que fica marcando as bordas dos sapatos, ou tirando o brilho com a sua poeira, terra que engrandece os pés descalços dos mais desfavorecidos, aquela terra que alimenta, e faz propostas de descanso ao olhar e prazer dos homens.

Aquela terra que palpita nas plantas e seus frutos crescendo, alimentados pelo seu ventre fértil. Terra onde se produz o alimento de gerações de milhões de homens e animais, desde que a perversidade dos homens não impeça. Aquela terra onde homens e animais convivem e se alimentam, com suas ervas, árvores e plantios sadios, ainda sem o arreganho maldoso do homem que a conspurca, com os seus bombardeamentos, os seu dejectos abjectos, seus ácidos indústrias, sua exploração desenfreada sem o devido repouso.

Fico sentindo teu cheiro, o teu palpitar, ausente de todo o ruído que não o teu. De vez em quando deixo-te passar por entre os dedos apreciando a tua textura, pensando nos milhares de seres que te acompanham na tua labuta existencial. Umas vezes mais escura, outras mais clara, umas vezes mais macia outras mais árida, mas toda ela terra de todos os seres vivos.

Esta é a terra que sinto, sentado no seu ventre, olhando o infinito que ela alcança, na esperança de que o homem não a destrua com a sua ambição.

dc

terça-feira, 18 de agosto de 2015

GARE de muitos "alguéns"



Uns partem
largado o beijo
intenso o rodado
que os afasta

Outros chegam
estáticos
no tempo
na solidão
na espera


Alguns “mochilam”
aventura no corpo
viagem
descoberta
encontro
novo lugar

Muitos...
muitos mais
circulam
rotina dos dias
viajar
contra-relógio


Facto
é a volta
ao mundo
na gare dos trens
onde circulam
muitos "alguéns"

dc

domingo, 16 de agosto de 2015

PÓ de um dó maior



Levanto-me
Agora
Da poeira dos lençóis.

O tempo
inexorável
Marca assim
A distância
Dos “nossos tempos"


dc

sábado, 15 de agosto de 2015

ÁGUA...





Adoro o chuveiro da manhã com a água deslizando no corpo, pena tenho que leve os resíduos da nossa noite intensa, os cheiros dos nossos corpos, da nossa cama, das nossas emoções, No entanto é aqui neste banho balsâmico que me deixo ir nos pensamentos saboreando e repensando tudo o que de bom vivemos.
Análise do prazer, é nele que se baseiam as decisões, é nisso que se tem de pensar, para que se avance, caso contrário tudo ficará igual, ao de sempre, não vale a pena antecipar possíveis catástrofes (?) ou guerras intestinas.
O correr da água, do banho da manhã, sobre o corpo, servirá sempre de catarse, de êxtase, fazendo relaxar e pensar quanto de bom tivemos e perspectivar novos rumos às emoções, mesmo quando os nosso beijos deixarem de ser trocados e os nosso corpos se perderem do desejo de se encontrarem.


dc

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Porque não....


beijo cruzado
línguas
irrequietas
mãos se agitam
nas descobertas

boca descendo
nos limites
da pele
suave de mel
boca
quente
no topo
das coxas
humedece
seu ventre

suas mãos
tacteando
seu peito
provocam
suspiros
no auge
perfeito.
amar
sem egoísmo
num vice
sem versa
não é altruísmo
é amar
sem pressa.

dc

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

HORIZONTE ou UTOPIA


Resto parado preso no horizonte, retido no tempo isolado no mundo. Quero sentir-me água brisa, cheiro e me reencontrar neste vazio, neste só. É incrível este sentir, da natureza, o eu diminuído perante a sua grandeza, o sentir a “alma” lavada e mente liberta. Não me preocupa se tenho um caminho a escolher, ou percurso a estabelecer, a noção de espaço se perdeu neste lugar.
Olho no infinito horizonte, sem barcos surgindo, sem gaivotas se agitando no ar, nem os pássaros no seu piar, tudo é sereno. Não sei se o mundo se finou, se fui eu que se transformou, na verdade, viverei do sol, enquanto existir, enfrentarei vazio sem medo do que surgir.

dc

sábado, 8 de agosto de 2015

IMPULSIVA






só preciso
do cheiro
da boca
imprecisa
do olhar
preso
ao meu falar

depois
com o tempo
a passar

com
o seu tocar
o beijo roubado
a carícia
impensada

tudo pode
acontecer
no espaço
dum segundo
alterando
o meu mundo.


dc

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A INSÓNIA



A desoras acontece-me pensar nas coisas, Não nas coisas, coisas, mas naquelas coisas que mexem connosco por dentro, que ultrapassam a superfície da pele e vão fundo na carne e na mente, que espalham interrogações, anarquizam emoções, tiram racionalidade, que nos confundem quanto ao sentido da existência. Um estar em que tudo é posto em causa, as emoções, o trabalho, poesia, pintura, escultura, anarquia, sociedade e até a procura do momento em que perdemos a alegria. São momentos em que vemos a vida como numa imagem digital desproporcionada e desfasada da realidade, Nem as proporções, nem as cores, correspondem aos factos. Vemos a cópia, imaginamos o resto, ganhamos conhecimento truncado da própria realidade.
A noite nem sempre é boa conselheira, deixa-nos presos às análises das incoerências, que se foram plantando ao longo do percurso das nossas vidas, mas também nos permite o silêncio que não escolhemos, para pausadamente tirarmos partido dessas experiências e encontrar novas soluções e crenças, quando à nossa capacidade de evoluir, modificar e aproveitar os aspectos positivos das situações erradas. É o tempo dos balanços e de dar mais um passo encurtando os quilómetros necessários ao êxito.
Valeu a pena, dessa insónia que me manteve nesse adentrar na noite, Tirei os tais aspectos positivos que me trouxeram para o acordar, o sorriso, a cabeça limpa de problemas e a confiança de que o importante é viver cada dia, sempre lutando para cumprir o projecto a que nos devotamos sem vacilar e sem cortar etapas, mesmo que difíceis.

Assim começou este primeiro de Agosto, onde todos pensam em férias e eu me devoto, à limpeza, da arrecadação, do escritório, das roupas que já não se usam, pondo uma nova ordem higiénica, confiando que o futuro trará as coisas novas.

dc

sábado, 1 de agosto de 2015

CADA UM SEU RACIOCÍNIO



GG- Sei que me olhas, como eu te olho, fixamente, eu querendo saber o que fazes, o que procuras ao fazeres essas coisas, todo agitado. Que queres tu, tirar-me a alma? Alguma vidas, das sete que dizem eu tenho? Estás a pensar se gosto de flores? Afinal, o queres tu de mim homem, que apontas essa coisa brilhante encaixada numa caixa escura? O tipo é ridículo, ajoelha, levanta, mexe na caixa, puf aquele ruído, Se aquela gatinha do quinto esquerdo, me visse aqui a ser admirado pelo homem, se calhar saía comigo para ver o luar...hummm como seria bom. Bem pelo menos alguém me admira para além da minha dona”

> O raio do gato é bonito, tem aquele olhar fixo...como se estivesse a interrogar-me sobre o meu papel aqui, perante ele. Tem um olhar intimidante, sério, talvez um pouco curioso, mas felino, sem medo. Regulo, disparo e ele fica registado. Um “retrato”, de cinzas e branco, que se realçam no meio das flores desfocadas e a relva. Talvez um dia adopte um destes, é uma gato com aspecto respeitável...ah ah ah.. lá estou eu a divagar enquanto fotografo, Às vezes canto, agora falo sozinho, raio de gato está pôr-me maluco.”

GG- O tipo tem bom aspecto deveria tratar-me bem, se eu não tivesse um dona poderia ser uma boa opção, experimentar viver com um dono, pelo menos parece interessado em mim...bem acho que vou embora antes que ele se entusiasme.

> Bom, parece que fiz um “boneco” interessante, vou deixar o gato em paz, estes bichos têm uma aspecto, de independência e personalidade que faz com que os admiremos e respeitemos, faz-me lembrar aquele texto do “Atentamente Gato”.
Vou parar por aqui, antes de começar a miar , ou a ronronar...kkkk

dc