quarta-feira, 30 de setembro de 2015

PENSEROS




A boca se mexia
Num vai e vem
Deliciado
Ele se encantava
No seu ventre rosado

Ela lambia
E a boca arredondava
E ele absorvia
A frescura do ventre
Molhado...e gostava

Nela o brilho nos olhos
Do prazer que findava
Ele todo se perdia
E mais se deliciava
Na boca que se mexia

Quando o creme escorria
Ela com o dedo limpava
E quanto mais ela fazia
Mais ele gostava
Do prazer que sentia

Ela do êxtase suspendia
O gelado que lambia
Ele se repousava
Exausto de comer
Toda aquela melancia

Ambos com alegria
A sesta foram fazer
(Até ao findar o dia)
E nela usufruírem
Dum outro amor e prazer

dc

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Segredo entre lábios



Quando os lábios se misturam, nesse beijar de bocas inquietas, de línguas conversando, de sabores se cruzando, tudo em nós se altera, deixando-nos a mente vazia, o sangue afluindo à superfície da pele, e o coração se acelerando em desejos e emoções que as palavras escasseiam no descrever.
Como se explica a maciez dos lábios, uns se encontrando nos outros, o calor que emanam, a mordida leve, a sofreguidão e ansiedade na procura, querendo, cada boca, saber da conversa invisível que ali acontece. Comportam-se como invisuais, tacteando na descoberta, querendo memorizar a existências dos contornos e prender os sabores no temido findar. Não existe ampulheta, mecanismo que estabeleça o tempo, nem quando finda. Sabe-se, por vezes, as bocas são atrevidas, se afastam percorrendo caminhos mais alargados, indo mais fundo, surpreendendo-nos nessas outras experiências, no entanto regressam sempre ao princípio, nesse selar de amor e paixões que ficam no segredo entre lábios.

dc

domingo, 27 de setembro de 2015

No Banco do Jardim



Quero sentar-me naquele banco de jardim, meu braço sobre teus ombros falando dos nossos sonhos e projectos, Sentir a brisa agitando as árvores, o chilrear intenso dos pássaros no seu recolher do fim de tarde, e ver o sol avermelhado se escondendo na linha do horizonte.
Quero ficar naquele sem tempo, Sentindo o calor dos nossos corpos, que se aconchegam, no arrefecer do fim de tarde, vendo a noite entrando pela cidade, recebida pelas as luzes dos candeeiros.
Esperar que os ruídos dos carros vá desaparecendo, e as nossas vozes se tornem tão nítidas como os nossos desejos. Gozar o prazer de sentir os meus dedos brincando no teu cabelo, vendo-te fechar os olhos no embalo, procurando colar as costas no meu peito, enquanto vou moldando as palavras, junto do teu rosto. Até que aconteça o beijo, selo de vontades, assinatura de gostar, testemunhado pela natureza que nos envolve. Depois...depois deixar que tudo vá evoluindo, no curso normal, registado no corpo e na pele, para lembrança futura.. e depois, esse outro depois mais longo e saboroso, de sorriso na boca, olhos brilhantes, no regresso ao calor da casa e ao descanso, num caminhar pela noite, que já foi tomada pelo luar e os gatos.
dc 

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Todas as vezes..





Todas as vezes
Tantas vezes

Na partida
Ou na chegada
Na janela fechada
A mão se abria
Como sinal de alegria
Ou de um adeus
Que se repetia.

Só no fim da espera
Dum comboio que partia
Ou dum outro que chegava
O beijo acontecia
E a saudade começava.

dc

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Mais além



As mãos apoderaram-se do meu rosto, enquanto seus lábios cálidos, maduros, pousavam nos meus, Sentia o calor do seu amor, o perfume de seu corpo, e os arrepios como poema escrito na sensibilidade da pele.

Os corpos se colam, o espaço entre eles é o desenho da forma, é a linha que limita o risco que no papel dá o contorno aos corpos, como a sombra a existência do ponto de luz, o volume organiza o espaço.

Somos nós no prazer, do reencontro, sem fugas, retidos no mesmo espaço onde nos apetece divagar, descobrindo o mais além, tão infinito, tão generoso, que nos permite a exaustão sucessiva, e a retoma ao ponto de partida, como ondas que se repetem na existência do mar. Todo o ar está cheio de nós, o que nos rodeia assume o brilho dos nossos olhos, Nós somos aquilo que sempre fomos, e, se alguns dias nos afastam no calendário, será no prazer de um tempo, que queremos nosso, que se fará a eternidade do que nos une.


dc

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

DE costas voltadas



Perdemo-nos nas minudências, nos jogos do poder, esquecemo-nos do que entendíamos ser, dois são mais do que a sua soma. Valorizamos o que não presta, e não aceitamos o que é da natureza da vida . Agarramo-nos cobardemente à superfície, das coisas para não entrarmos mais fundo nas emoções e na razão que nos levam à partilha, de sermos capazes de aceitar o outro invadindo o nosso próprio espaço temporal. Somos solidários, nas ruas e abrimos as portas aos outros, mas fechamo-nos a nós. Temos medo de correr ao lado pelo simples prazer de desfrutar, queremos sempre chegar em primeiro. Há quem troque uma corrida na estrada de conversas recheadas de risos e emoções no seio das gentes, pela obsessão de chegar primeiro, para ganhar a medalha que morre na vitrina, que é importante para auto estima, mas perdem a realidade de sentirem vivos.
São coisas da vida, temos o pássaro na mão, confiante alegre e de repente, procuramos assenhoramo-nos da sua liberdade e da sua natureza, mesmo sabendo que não o devemos fazer, e surpreendemo-nos quando morre, porque apertamos de mais os dedos para que não fugisse.


dc
...A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável. O sofrimento é opcional...
Martha Medeiros


sábado, 19 de setembro de 2015

Hoje. este sol


O sol entra pela janela enchendo a casa, é um sol claro brilhante, que atravessa a atmosfera, o céu límpido de Outono. O sol de Outono é mais único, quando as primeiras chuvas parecem aspirar todas as poeiras, como que se quisessem abrir as portas para ele passar e chega até nós, por vezes frio, no entanto rico na força que nos transmite, para superar o habitual sombrio inverno.

Hoje, este sol trouxe-me a saudade,

Este seria o “nosso” sol, idêntico ao que connosco se passeava, nas margens do rio, quando me visitavas, e do mesmo modo afastando tudo o que nos consumia, naqueles entretantos em que te ausentavas, Inicialmente tudo era um pouco frio, talvez pelas ausências que nos marcavam excessivamente, mas o reencontro fazia esquecer, de forma breve, tudo, e aproveitávamos o brilho de todos os elementos que nos faziam felizes, ultrapassando tudo e renovando para que não esmorecêssemos.

Hoje, este sol trouxe-me à realidade.

O “nosso” sol” trará sempre saudade, mas dificilmente o que sempre tivemos, Embora se diga que o sol nasce para todos, não nos ilumina todos os dias de igual modo, como o água do rio não passa duas vezes pela mesma margem.


dc

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

a CARTA



Gostava de ter coragem para te escrever, uma carta, daquelas que se escrevem em papel especial e que cheiram a enamoramento. Escrever com letras redondas, de traços incertos, espessuras diferentes, Cada palavra com o seu significado colado a expressão do seu desenho, às emoções nesse acto de realizar escrita. Gostava que assim fosse, marcada, legível, identificada com o sentir de quem escreve, deixando claro o ADN da origem. Mas perdi o jeito de escrever, de me revelar, selando o meu dizer com a expressão viva, quase arte, das letras da escrita. Aquele jeito de escrever com vocabulário escorreito, entre as intenções e os grafismos das letras trazendo coladas as emoções.

Uma carta, que quando olhasses a visses como tua e minha, Que quando a abrisses tivesse o meu cheiro, o meu gostar, Que quando a lesses, te sentisses como cumprindo um ritual delicado, envolvente, com pausas, saboreando cada palavra, cada frase, sempre de encontro ao encantamento do significado, da preocupação cuidada do desenho das letras, agitando teu peito de fervorosa alegria e emoção descontrolada da empolgante novidade, e concluindo, até que enfim, escreveu.

Sinto a necessidade e quero escrever, mas retraio-me num jogo de ping pong entre o querer e a inércia e o medo de não sermos definitivamente.


dc


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

PARA SEMPRE



E se eu me declarasse que era para sempre, mesmo sabendo que para sempre é uma eternidade difícil de conseguir.
E se eu dissesse, que queria que fosse para sempre, que procuraria suavizar os terrenos difíceis que surgem na caminhada, Que eu preciso que seja para sempre, como sempre quis que fosse.
Se dissesse, que gostaria dos anos surgindo sucessivamente, mantendo para sempre o mesmo fulgor, o nosso gostar evoluindo para que se mantivesse para sempre, esse sempre que é uma eternidade, mas seria tão bom ser para sempre.
Sempre penso, que para sempre é a delicia da conversa, das discussões normais com bonanças mais longas ou mais curtas, Que as delicias do leito são diferentes todos os dias e tudo isto para sempre.
No teatro dos dias, sempre juntos na solução das coisas que sempre perturbam, mas que temos a capacidade de mudar e evoluir para que não aconteçam sempre, Eu quero que sejamos, diferentes, caminhando em paralelo com as mesmas intenções, mas desiguais quanto baste, para que não sejamos a monotonia para sempre, Continuar a sentir sempre esse amor eternizado nessa palavra tão pesada de intenções que seria com todo o prazer PARA SEMPRE.
dc

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Assim...



....caminhei percorrendo todo o seu espaço, suave, delicadamente, por montes e vales, parando em todos os lugares, atento ao saboroso usufruto, aproveitando a paisagem e o sabor dos frutos maduros. bebi das suas fontes, saboreei, todos os seus aromas e descansei deitado sobre o seu chão, sem medo de reconhecer a sua força e seu poder de me seduzir.

Nada seria possível se não apreendesse os códigos de acesso, os segredos de cada porta, percebendo a cada momento, como divagar, ou permanecer, aceitando e vivenciando as diferenças morfológicas, de cada elevação, de cada baixio, de cada grito atravessando o espaço, de cada fraseado manso entre tempestade ou bonança.

Logo, logo, voltarei ao local, onde fui feliz.


dc

terça-feira, 15 de setembro de 2015

O Gato



Fixo, hipnoticamente, o meu olhar felino, apoio-me em leituras várias e penso na humana condição, no que agita os Homens e as suas fraquezas e pasmo em tanto corre, corre, que me deixa agoniado, no passar das horas. De tal modo me preocupo, que lhes cedo a maciez do meu pêlo para que nas horas de paragem possa desvanecer seu stress. Se não fosse a minha, já agora, condição, poderia levá-lo a perceber, que eu nas minhas sete vidas, arrisco mais por prazer, do que pela necessidade de fazer .
E nessa vida onde eles se movem, são menos independentes que eu próprio que me dou melhor com na evolução com cão, do que eles na evolução se dão uns com os outros. Por isso, cada vez mais gato, me reservo de considerar que precisam mais eles de mim do que eu deles, E neste meu ronronar de prazer, que a leitura onde evoluo me dá, agradeço a sua descoberta do fogo e sua iluminação, que muito me ajudam sem precisar de óculos para ver.

dc

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

NO DOBRAR DA ESQUINA





Sempre sonhei, dobrar uma esquina, às vezes pensando ser “super-homem”, deixando para trás, rapidamente o que já era.

Dobrar para deixar de ver o que me persegue, dobrar, para me livrar de ter o passado colado às costas. Tem vezes, que fico mesmo tão aborrecido, que me apetecia dobrar os sinais que nas ruas indicam aos peões e aos automobilistas as regras a cumprir, pois nem uns nem outros cumprem, Até aqueles das informações horárias, na paragem doa autocarros, para me entreter, para diminuir a fúria de tanta demora.

Dobrar da esquina, como se fosse o “Homem de borracha”, das estórias aos quadradinhos, adaptando -me ao ângulo de noventa graus, colocando a cabeça e os olhos salientes, para lá da esquina do meu corpo, espreitando primeiro, antes de dar o passo para o outro lado, como num esconde, esconde, no qual a única diversão é não ser surpreendido pela burrice humana.

Às vezes sabia bem dobrar a esquina da vida e encontrar a outra rua, aquela onde ainda existem sorrisos e que ainda nos faz pensar, que vale a pena viver e lutar. Aquela rua onde se caminha de cabeça erguida, olhando, olhos nos olhos aqueles que como nós são força da vida.



dc


domingo, 13 de setembro de 2015

Ele Ía Dançando



Ele ia dançando
Como Zorba, na rua
E ia pensando
Que vida era a sua

Ia trocando os passos
De braços abertos
Ia descobrindo
Seus caminhos incertos.

Dali não saia a razão
Do tanto perder
Desde agora homem
Ao seu nascer.

E continuava dançando
Atordoando a procura
Não queria saber
Temendo a loucura

Quando caiu exausto
No meio da rua
Ele descobriu
A verdade tão crua.

Todo o homem
É fruto da circunstância
Se deixa que o tomem
Morre pela ganância

E se procura o amor
Dando a pele
Acaba se perdendo
No sabor do fel.

Acabara-se a dança
A alegria e a esperança
No chão tombou
E não mais se levantou.

No chão se restou tombado
seu corpo se enrolou
e não mais pensou
ficou para sempre gelado.

dc





quinta-feira, 10 de setembro de 2015

IRONIA...talvez



Acre, doce e nem por isso,
tem os pensares da vida
e nos sorrisos, ou rebuliços,
encontram sua guarida.

Enquanto tudo dei,
por amor e prazer,
somente eu é que sei
o fiz por tanto querer.

A falta de esperança,
somente tem o tolo,
porque já diz o povo:
“quem espera sempre alcança”.

“Não há bela sem senão”
e dai o meu partir
não pode um coração
passar o tempo a carpir.

Fico-me por aqui
senhora que bens já tem,
agora que para si
sou um citado, Alguém.
dc

 

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

reamar tardio




Tapas-me a boca
com a marca do Outono,
e tocas-me o ventre
no calor de seu verão.
Beijas-me a boca
desaparece o inferno
e se treslouca
o sol de inverno.
Teu corpo é tempestade
que me assola
a bonança que trás o estio.
Alimentas minha fome
de esperança
neste reamar tardio.
Corro no fogo
que em ti acontece
e deixo-me queimar
nas chamas de novo.
Brisa, sol, vento,
gelo, água, fogo
tudo vale o momento
de te amar de novo.

dc

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Um dia, se não nos perdermos...


Só, como ele estará certamente, desde que eu vim para este outro lado do mundo. As noites e as manhãs se confundem, somente perante a chávena de café, reflicto os dias.

Penso na sua ausência que se vai adentrando em mim, e como esta sociedade que me rodeia me vai deixando cada vês mais desnuda de sentimentos, nesta confusão da sobrevivência diária, na qual a manutenção do emprego, exige de nós, não só trabalho, mas humilhação como seres humanos. Se a minha profissão é privilegiada e me permite ter trabalho, também é dura, porque além de cuidar dos doentes e suas doenças, me deparo todos os dias com a miséria humana, nas suas mais derivadas expressões. E falta ele, sempre, com o seu aconchego, o seu abraço que me tocava no fim do dia, e o beijo caloroso com que me recebia na porta do hospital.

Aqui desterrada, nesta terra de língua diferente, onde aprendo a comunicar, A seriedade das palavras me impedem a riqueza expressiva com que me entendia na pátria.


Nesta vida dura que tenho de suportar, tentando sobreviver. Tudo está difícil e trabalho a desoras para poder aguentar o meu lugar, nesta máquina trituradora da sociedade chamada de liberal. Uso o trabalho como terapia excessiva, para me atordoar e, por momentos, me esquecer que existes, em algum lugar ainda esperando por mim. Um dia, se não nos perdermos um do outro, espero relatar-te enfrente a uma chávena de café, toda esta dor de ter emigrado, para podermos ter uma vida em comum, e do quanto, em momentos como estes que agora descrevo no meu diário, a tua presença me seria mais do que necessária.

Espero sempre, que o pessimismo que me ensombra, nesta hora da madrugada, desapareça e que tudo o que sentimos não se perca na voracidade dos dias intensos, para podermos dizer que valeu a pena e nos voltemos a amar, com a mesma, ou mais, intensidade do que hoje...


Londres, Setembro XX



dc

domingo, 6 de setembro de 2015

As mãos. Porque hoje é domingo




Foi sempre assim, lembras-te? Nunca se percebia onde acabava um corpo e se iniciava outro, as mãos que se apertavam, ou soltavam, com a expressão das emoções e os cheiros somavam informação ao que fazíamos e como nos amávamos.

Era pouco o tempo de estar, mas longo o prazer naquele chegar de reencontro, como se fôssemos redescobrir cada poro da pele, cada pequena forma da morfologia do corpo, cada brilho do olhar, o sabor de cada beijo molhado ou simplesmente corpos se roçando ao de leve. No entanto eram as mãos se agitando, a melhor expressão e assinatura do momento, sondando cada espaço, como se cada toque farejasse cada pedacinho de nós. E eram elas, mais tarde, que nos amarravam um ao outro, um dentro do outro, cada um se perdendo no outro, cada vez mais fundo, mais longe, atordoados naquele retomar do tempo perdido. Nem mesmo, quando temporariamente saciados, elas se afastavam, permaneciam coladas, como se procurassem manter todo aquele momento, como prisioneiras presas por perpétuas grilhetas.

O domingo, habitualmente o espaço da partida até nova chegada, O silêncio marcava a angústia da despedida, os olhos brilhavam, mais do que nunca, e o beijo tinha o sabor da ausência que se avizinhava, a dor da distância. Por vezes, ficava-me a pensar de forma egoísta: “não deveria haver dias da semana, mas só domingos” ou então, “poderíamos ter o livre arbítrio, de alterar o que nos impede de que todos os dias sejam domingos”. É, o domingo era já no dobrar da esquina do tempo, mas parecia uma eternidade até acontecer..

Nesse fecho do dia, as mãos voltavam a se aprisionarem até ao adeus temporário, em que o aceno era o remate final.

dc

sábado, 5 de setembro de 2015

Limito-me a ser




Fecho-me na rede que cobre uma parte de mim, como se estabelece-se assim os limites de usufruto, ou descoberta, do que existe para além das aparências. Sem ser uma estratégia de provocação, em que o esconder pretende ser o contrário, eu revelo até onde vão os meus desejos e pensamentos. Rede e chapéu, não são mais do que adereços das dúvidas em que me escondo, em relação aos meus desejos, e ao que pretendo dos outros, na observação que possam fazer do que lhes é exposto. É evidente que a timidez existe, marcada por aquilo que faço, enconcho-me na forma, diminuindo a dimensão das coisas, para que não vejam mais do que pequenas nesgas de um corpo que permanece confinado aos limites do socialmente correcto. Perdi a oportunidade de declarar-me suficiente e livre, para ir mais longe que a limitação exposta. Limito-me a ser.


dc

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A vontade não morre




A neblina pousa nos ombros
com o peso do inverno.


O pio das gaivotas
morre nas folhas caídas.


O rio caminha desenvolto
prá foz das suas vidas.

A vontade não morre,
esperança, o que lhe ocorre.

Sem medo da partida
olha o mundo da sua vida.

Como tudo, não há tempestade
sem a bonança como realidade.

Senta-se, esperando o sol acordar
e com ele o prazer de viver e ficar.


dc


quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Homem, não chora




Rios correm nos olhos do homem que não chora
Ele sabe que não volta àquelas margens
Ele sabe o que derruba na sua forte corrente
Ele sabe que a sua calma atrai a doçura e alegria do navegar
Ele sabe que vai morrer na foz, se o seu amor não voltar.

dc

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Assim, sem dares por nada

 

Assim parada no tempo
Assim olhando longe
Assim alojando a dor
Assim sem saberes
Assim ficando
Assim sem o teu amor


Ele partiu sem dar tempo
Ele partiu ainda só enlevo
Ele partiu quase em segredo


Assim, ele partiu, sem estares preparada
Ele, assim foi, deixando-te amargurada

E hoje, assim, sem dares por nada
Sabes que ele partiu e te tem amarrada.


dc