terça-feira, 30 de agosto de 2016

Barba & Cabelo




Mãos ágeis se mexem, escova cabelo, cabelo escova, tesoura cabelo, cabelo tesoura. Das sua mãos rápidas certeiras, se vai moldando o cabelo, desenhando-lhe a forma. Já fora lavado escorrido, agora está pronto a ser invólucro do rosto, do que sentado na cadeira espera como milagre o resultado do seu trabalho. Cabelo espigado, gorduroso, fino, grosso, branco, loiro, castanho, preto...ruivo, não importa, das suas mãos, assim queira o cliente, nascerá e acrescentará, algo novo, à expressão do rosto, onde o cabelo habita, mesmo quando se reduz à simples nudez, de quem quer retirar qualquer vestígio da sua existência de pilosidade.
Horas a fio num repetir constante de gestos, de tesoura e cabelo, de escova e cabelo, e a criatividade, sem cansaço moldando cabeças, rompendo rotinas e amorfismo visual. Lava, dá-lhe cor, enrola, corta, apara, acerta, escova-o, acaricia-o, todo um realizar dos dias na profissão, que se alicerça no prazer e que todos os dias se reconstrói. Rostos que se querem escanhoados, barbas desenhadas, aparadas. Cabeças de pessoas diferentes, na escala social, na cultura, na profissão, todas tábua rasa nas suas mãos, todas florescem no seu trabalho.
Trabalho enriquecido pela escuta atenta, sem preferência de onde vem. Como que ruídos de fundo, na razão das palavras frases se soltam, fazendo cuidar seus ouvidos, perante politiquices, desmandos, enganações, traições, e muitas outras estórias cabeludas, entremeadas pelas piadas carregadas de humor, de um ou outro atirar de boca. Ali soube de acontecimentos antecipados, vidas sofridas, políticas descomandadas, amantes desconfiadas, cornudos empertigados, calotes imensuráveis, etc ..etc; tudo arrecadado na memória, com o cuidado das coisas frágeis. Tudo se faz dentro do “caldo”, em que se desenvolve o seu trabalho, e o confessionário, que alguns assumidamente procuram, para catarse, das suas preocupações.
Alindar a cabeça, aqui não se resume ao cabelo e barba, mas também à lavagem que por dentro se vai fazendo, com largas melhores no estado de espírito de quem procura a barbearia; uma autêntico anti-stress, um saco fundo em que se despeja tudo o que vai na alma. Ganha o barbeiro enriquecendo seu trabalho, ganha o cliente saindo aperaltado e evitando a consulta ao psicólogo..

dc



sábado, 27 de agosto de 2016

O TrEM da VIDA




Ficamos sentados à espera que aconteça, demoramos a perder as dúvidas e a encontrar certezas, quando damos por isso, o comboio já passou, Aí, só nos resta pegar na mala, regressar ao ponto de partida, e esperar que um dia, possamos voltar a uma outra estação, de mala cheia de esperança e, que desta vez, a escolha tenha sido feita no momento certo, que o horário se cumpra e que a viagem tão ambicionada se faça.

dc

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

A tristeza nunca vem só..




"Aquele que nunca viu a tristeza, nunca reconhecerá a alegria."
"A tristeza é um muro entre dois jardins."
Gibran , Khalil

A tristeza nunca vem só, vem acompanhada de horas irrecuperáveis, de sentimentos que magoam, de saudades, de incertezas, de insatisfação, de perda, de ausências, de benevolências, de pena, de tolerância, de desilusão e acima tudo, dela se fica sabendo, que o coração não dói, mesmo quando se sente como uma lâmina afiada, cortando de fininho, tentando mostrar o contrário.
A tristeza é uma emoção única do nosso viver, trás em si, o que nos torna mais fortes, mais capazes, mais competentes e resistentes para o presente, levando-nos a entender que se vivermos um dia de cada vez, a sua permanência se torna mais leve, suportável e menos repetitiva.


dc



domingo, 21 de agosto de 2016

Espreguiçar é bom




Sabe bem acordar e ter aquele prazer de esticar os braços e as pernas na sua máxima extensão, como libertando o resto do sono. Normalmente o espreguiçar surge depois de uma noite de um bom sono. É um momento “In”, quase fazemos apneia contendo a respiração e depois libertando de forma sonora o ar retesando o corpo. A voz na maioria das vezes fica quente, “preguiçosa, lânguida, que entre casais origina circunstâncias óptimas para o desenvolver da ternura, da conversa, da caricia e algumas vezes ir mais além.

O espreguiçar é uma resposta natural do corpo à necessidade de eliminar a tensão muscular e das articulações, fazendo o sangue a afluir mais depressa às zonas em causa. Os animais fazem-no com grande sabedoria e várias vezes ao dia em especial os que nos estão mais próximos, os gatos e os cães.

Embora na maioria das vezes o espreguiçar surja ao acordar, ele também acontece em diferentes circunstâncias do nosso dia à dia. Durante uma conversa que se arrasta por longo tempo, Quando envolvidos horas consecutivas no nosso trabalho, chega uma hora em que nos vem de dentro aquela vontade de libertar o corpo da tensão, Enfastiados por algo, usamos o espreguiçar e o bocejar como forma de ultrapassar essa situação anulando as tensões acumuladas.
O ritmo imposto pelos tempos modernos, de constante, corre corre, deixa-nos tensos. A modernidade e as novas tecnologias, aumentam o número de horas de trabalho, com ferramentas menos exigentes, quanto à aplicação do esforço braçal, mas com maior rotina, exigência intelectual e postura corporal, trazendo para ordem do dia, as chamadas doenças de trabalho, o que aportam uma cada vez maior necessidade de libertar o corpo em momentos de tensão.

O espreguiçar no juízo comum das pessoas, não deve ser feito em público, por uma questão de respeito (?) para com os outros, sendo assim interpretado, impede-nos de eliminar o tal desconforto físico. Na verdade, essas “regras sociais” talvez sejam uma contradição com aquilo que o espreguiçar trás de benefício.

Espreguiçar é bom, para uns mais do que outros, Se na intimidade todos o podem fazer, nas outras circunstâncias, falta sabermos o melhor momento para o fazer ou evitar. Quase apetece dizer, que se existem salas de “fumo”, seria bom criar salas de espreguiçamento... (riso)


dc