sábado, 31 de dezembro de 2016

31 de Dezembro 2016




Não começamos um novo ano, fugimos de um ano velho, bolorento.
Trezentos e cinquenta e cinco dias, distam do primeiro dia do ano que se vai, dele já não resta frescura, só esparsas memórias e nem todas agradáveis, ou memoráveis. O ano que acaba começou cheio de pedidos, de desejos, de projectos, em doze passas comidas no virar da meia noite, dos quais na sua maioria, ou quase todos ficaram por realizar.

Haverá sempre muitas pessoas que viverão a passagem do ano festejando e celebrando a pretexto das mais variadas razões, outros continuarão exercendo solidariedade para com os mais desfavorecidos, nos hospitais, nas ruas, em lares, distribuindo parte do pouco que já têm; muitos outros viverão horas de angústia e tristeza, fazendo balanço do tempo decorrido, fechados entre quatro paredes, para não alimentar sonhos confusos, ou ter ideias erradas quanto ao que a partir do nascer do novo ano poderão realizar.


Ansiamos o novo que começa, com não sei quantas ladainhas e tretas que nos alimentem a ideia de que “agora é que vai for” e sempre com a palavra esperança debaixo da língua. Uma certeza temos, é que envelhecemos, que uns continuarão vivendo, tristezas, violências, fome, rejeição e uns outros terão sempre mais de tudo, mais do que necessitam, desde os bens materiais, aos emocionais. Não devemos perder a esperança de facto, mas acreditar mesmo que tudo vai melhorar? Talvez seja melhor é beber uns bons copos de uma qualquer bebida espirituosa e sempre ficamos mais distraídos da realidade do passar do ano e nossos desejos. Quem acha que é preciso esquecer as maleitas do ano e viver o dia, também tem esse direito, mas....cuidado com o virar da esquina.

dc

sábado, 24 de dezembro de 2016

Reflexão(?)





Elas são rios que correm até à comissuras dos lábios, fazendo o percurso da mágoa, da dor imensa que as reflexões em dias destes, de festa da “família”, nos trazem à memória; Os familiares, os amigos vizinhos, colegas de trabalho, acima de tudo, as pessoas que em algum momento da vida foram mais próximas e mais presentes nos nossos sonhos, projectos e vontades. Lamentável, que durante trezentos e muitos dias nos perdemos no nosso mundinho, com todas as suas inerências e agora ao fazermos o balanço é que detectamos, e tentamos reparar, com as desculpas e benção possíveis, o quanto abdicamos do calor de um abraço, de um sorriso, de um beijo, de uma voz, de uma partilha. Um ano mitigado, dorido, perdido porque o tempo não se ganha. Dizemos festas felizes, tentando esconder, no meio de uma certa “abundância”, na mesa, nas aquisições, nas doçuras e prendas, todo um mal estar causado pela ausência.

dc

“O amor é mais falado do que vivido. Vivemos um tempo de secreta angustia. Filosoficamente a angustia é o sentimento do nada. O corpo se inquieta e a alma sufoca. Há uma vertigem permeando as relações, tudo se torna vacilante, tudo pode ser deletado: o amor e os amigos.”

“seus netos continuarão pagando os 30 anos da orgia consumista”

Zygmunt Bauman




quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Somos silhuetas




Tornamo-nos silhuetas, caminhando nesse contra-luz difícil, onde sem nos conhecerem, ou quererem saber, nos julgam pelo contorno que define a mancha, que nos recorta no horizonte onde circulamos. Somos, para alguma gente, somente manchas, figuras decorativas, seres abstractos num conjunto imenso que compõe as cidades. Somos a “carne para canhão”, “pau para toda a colher”, afinal aquela gente que lhes garante o bem estar. Depois, depois vem o Natal e todos passamos a ser “Gente” todo o mundo nos cumprimenta, dá esmolas, prendas, abraços, compreensão, carinho, tudo, pelo menos nos dias que antecedem às festas natalícias e nos seguintes, se tudo correr bem. São assim os poderosos, são assim os hipócritas, que neste mundinho onde muita gentinha habita, põem flores em cima da merda para esconder a mediocridade, e o cinismo com diariamente enviam gente para as guerras, para o desemprego, para a mendicidade, para os cemitérios por falta de assistência médica, sanitária, económica, tudo isso como danos colaterais da nossa existência.
Viva o Natal, que não é quando um homem quiser, mas sim quando, “quem tem a faca e o queijo” decide.
Nós gente, povo corrente, aproveitamos este momento do ano para “dar” aquilo que durante trezentos e sessenta e cinco dias vamos negando aos filhos, à esposa, ao marido, a este e aquele. Tirando as crianças, aos adultos normalmente optamos por dar as coisas que lhes fazem mais falta. E depois levamos com estatística, de que este ano consumimos mais que os outros anos, dizem os media repetidamente de ano para ano.

E assim vamos borboletando com a cabeça enfiada no meio dos ombros, fazemos a festa da família, perdoamos aos nossos inimigos, e vamos consumindo ajudando os párias a acumular lucros.
Azedo o discurso, não! A realidade é violenta, e nós, povo em geral, temos muito o hábito de tentar ser boa gente. Somente isso. Enquanto não lutarmos por ter tudo aquilo a que temos direito, sempre será assim.

dc

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

"Já não escreves para mim"




De repente, a noite trouxe o silêncio e ao acordar não teve voz.
Ficou frio por dentro, nem os lençóis grossos e felpudos o acalentavam. Mexeu-se devagar com medo de que não a sentisse, que não estivesse lá, que já tivesse partido. Era uma fuga da realidade, para o sonho, que não queria interromper.
Quando juntos, depois do amor não queria que se afastasse. Queria que ficasse com seu corpo colado a si, para repetidamente usufruir do beijo leve, ainda quente do amor recente. Adorava sentir a sua respiração sobre seu peito, no aconchego do ombro, até que o sono, pressentido na respiração regular, chegasse. Não raras vezes durante a noite, em que ela adormecia primeiro, afagava-lhe o cabelo, muito de leve, para a sentir, procurando manter-se ligado à sua presença. De manhã cedo, ao acordar, muitas vezes ficava quase sem se mexer, sentindo o cheiro e o calor do seu corpo subindo até às narinas e, deliciado, de olhos fechados e absorvendo todas aquelas sensações. Nessas alturas a vontade de lhe tocar era enorme, queria mais uma vez sentir a suavidade da sua pele, mas não o fazia com medo de lhe perturbar o sono, e aquele seu respirar regular de quem confia e se sente protegida. Colocava a mão suspensa, bem próxima,  quase tocando, como se fosse um raio laiser percorrendo-lhe os contornos, orientado pelo calor do seu corpo.

Foram eternos momentos, de um só gozo, de um sentir e um estar intenso, repetido e vivido em segredo temendo que se desfizesse na partilha. Por vezes, ela acordava,
  e olhando-o com aquele seu mar, do nada dizia: ”Já não escreves para mim!”, mal ela sabia as inúmeras vezes, que ele com as sua mãos a desenhava, e que as palavras que lhe dedicava eram soletradas em silêncio no diário do seu pensamento. Nunca escrevera para outrem, ela fora a musa e a sugadora de todas as suas palavras, roubando-lhe a liberdade de as soltar. Ele próprio nunca pensaria, que um dia, tudo seria uma folha em branco difícil de preencher.

dc




sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Rotura




Tanto se anseia,
tanto se procura,
mas aquilo que se semeia
é só loucura.

Trava-se o avanço,
no medo do descanso,
da paixão exigente,
para trás fica o que a alma sente.

Flui o rio da tristeza
em lágrimas corridas
nas noites compridas
tudo é incerteza

Ali ao seu lado
sempre esteve
era o ser desejado
afinal não se manteve


Agora a rotura total
Começar do principio
com todo o sacrifício
até um novo final.

dc


quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Bom dia e um café




Bom dia, bom dia
Traga-me um café
Não preciso sentar-me
Bebo mesmo de pé

A brisa afasta as nuvens
Onde o sol se esconde
E deixe que ele brilhe
De onde em onde

Para o pássaro que voa
No céu semi-azul
A brisa está boa
Pode voar de norte a sul

E assim começo o dia
Com café bebido de pé
Alimentado de alegria
Vontade e boa fé

Agora vou andando
Com sorriso na boca
A todos estimando
Nesta vida louca.

dc