domingo, 26 de novembro de 2017

Já cuidei da flor



Já cuidei da flor
Já a reguei
Já a cheirei
Já me animou
Já me alegrou

Se ao tempo
Não resistiu
Não foi o amor
Que lhe faltou
Foi a natureza
Que não a poupou

dc



sábado, 25 de novembro de 2017

Este caminho de amar



Beijo teus lábios
Sinto húmida a tua boca
A língua serpenteando
Na minha como louca

Neste beijo insurrecto
Minha boca desce devagar
Até ao peito erecto
Onde me sinto navegar

Sinto a pele a arrepiar

Sinto e sem me apressar
Terá de ser com jeito
Este caminho de amar

Num amor feito a preceito
É imperioso tudo beijar
Não há lugar secreto
Que não se possa encantar

dc


segunda-feira, 20 de novembro de 2017

DESAFIO




Ela estava ali desafiadora, provocando-o, pondo à prova as suas capacidades. O silêncio em volta era tentador para avançar. Aparentemente estávamos sós, podia estar à vontade e aceitar o desafio sem rodeios. Ele sentia-se meio temeroso. Se em tempos o fez com duas e sem hesitações, porque não agora só com uma? A idade, um pouco de peso a mais, faziam-no temer o seu desempenho. É certo que cuidava do seu corpo diariamente e sentia-se bem. Não parecia haver, razões, para que objectivo não fosse atingido com sucesso. Hesitava na necessidade de preliminares, para fazer o sangue afluir às partes do corpo que seriam submetidas à tensão. Aproximou-se devagar, encarou-a de frente, depois, olhando bem para cima, avaliou de si, avançou de mãos estendidas até sentir o seu contacto nas palmas da mão. Agarrou-a à bruta, com as mãos bem firmes, começando a envolvê-la fortemente, enquanto ouvia na sua mente os incentivos: tu és capaz, solta a cinta, eleva as pernas, ginga o corpo com vontade, força, vai, vai. Era como se uma força interior enorme o comandasse, enquanto ela se deixava submeter. De repente sem quase se aperceber o clímax aconteceu. Sentia-se no topo do mundo. Não sabe como, de repente libertou-se, soltou-a e sentiu-se a aterrar, mãos quentes como nunca, o corpo esparramado, ofegante com o sabor a vitória. A vida. A vida, tem de ser subida a pulso, nada nos é dado, pelo menos para todos aqueles que não nascem num berço de ouro. Ele, ali naquele ginásio, subindo aquela corda, sentira-se um campeão vencendo o desafio a que submetera o seu corpo e vontade.dc



domingo, 19 de novembro de 2017

E...se pudéssemos



E.. se pudéssemos repetir o caminhar, de mão dada, pela cidade, debaixo do mesmo guarda-chuva aconchegados pelo amor?
E.. se pudéssemos, lavar as mágoas, com as lágrimas e a chuva, deixando fluir o que nos une nesse caminhar tão doce?
E.. se pudéssemos deixar para trás os tempos mais difíceis, de arrufos carregados de frio, folhas secas, de “entretantos” desavindos?

E.. se pudéssemos agarrar esse tal algo, forte, que nos amarra, trazendo consigo sentimentos de diferentes intensidades e importância, mas que se conjugam e se transformam nessa força maior a que chamamos amor?

Ah.. se pudéssemos, desapareceria o futuro e viveríamos um presente contínuo.

dc


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Longa é a espera




Parada, com a parede colada nas costas, fico olhando pela janela o luar que se vai pronunciando na noite, procurando descortinar entre as sombras que se colam nas paredes da rua, se algures estarás tu. O relógio estabelece o ritmo sinalizando as horas com o seu tic tac, ban ban, passou uma hora, tic tac, tic tac, tic tac, ban ban, outra hora que se foi,  até que o sono e o cansaço me tomem e me levem para o leito vazio onde não estás.
Espero-te noites sucessivas e não chegas. O meu corpo, desde que te ausentaste, arrefece um pouco todos os dias perdendo o calor intenso do amor com que me tomavas por inteira, premiando-me os dias, como se cada dia fosse o último. Tenho medo, a tua imagem vai-se diluindo e as memórias se vão reduzindo, ou sendo alteradas, instalando a dúvidas naquilo que fomos. Tenho medo que seja um pesadelo repetitivo, onde me encontro à deriva, confundindo a minha necessidade de amar com realidade que tu és.

dc

domingo, 12 de novembro de 2017

Um beijo espontâneo




Foi um beijo espontâneo, benzido pelo tom rubro do vinho tinto. Com ele o tontear da ironia do destino, que marcou o deslumbramento e como tudo evoluiu. A loucura de corpos se conhecendo, com dedos e bocas se percorrendo no mais diminuto espaço, no registo da demografia corporal, na superfície da pele, apimentado pela mistura de cheiros e sabores que nos faz diferentes, e, hoje, registos de carácter definitivo nas memórias que afloram.
Um beijo como princípio, um fim desabraçado, distante, calado, abruptamente instalado, colorindo de roxo, a desistência, a covardia, o permanecer do vazio, a solidão esmagando com os pés todas as flores que tinham debruado os 'entretantos' que entremearam o tempo vivido.
Rasgado o princípio e o fim, nada mais resta, que alguma esperança, de que não seja o ácido da amargura a corroer o pensamento, a trazer ao enrugar da pele a desistência, o medo de voltar a acreditar que vale a pena ter via aberta ao novo, ao diferente, ao que por ser desejado e não cumprido, poderá ser uma realidade mais forte e jamais imaginada. Esquecer  “o poderíamos ter sido felizes” é importante, há mais vida para além do ontem, e viver o hoje construindo o estamos bem, nem sempre felizes, mas bem!


dc