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segunda-feira, 14 de maio de 2018

certeza eu tenho



certeza eu tenho
a pele tem cheiro
o beijo tem paladar
o corpo energia

certeza eu tenho
no amor dois se fundem
na osmose perfeita
se confundem

certeza eu tenho
não é só magia
o futuro tem um corpo
na criança que vê o dia


dc





sexta-feira, 11 de maio de 2018

Passeando na seara





A seara imensa, a perder de vista, dava um tom dourado sobre a terra, contrastando com o azul brilhante do céu. As mãos dela passeavam, livremente, sobre a superfície das espigas de centeio, provocando um restolhar que se misturava com o chilreio dos pássaros, como uma música psicadélica entrando nos seus ouvidos.
Bandos de pássaros sobrevoavam, ou mergulhavam, sobre o solo. Alguns, com as asas agitadas, mantinham-se no topo das plantas, enquanto debicavam o alimento. Qualquer ruído os fazia levantar voo, em grupos que pouco antes pareciam não existir. Ela continuava a sentir, nas pernas e nas mãos, as espigas do centeio marcando os seus movimentos. Sentia-se livre, longe de tudo, do passado e do futuro, só presente. Os olhos semicerrados, pela claridade, eram pequenas frestas no seu rosto. Na boca, o seu sorriso desenhava promessas e o cabelo quase loiro, esvoaçava ao mando da leve brisa que corria. Vestia a cor da paixão, em tecido de linho.
Ao longe ele a observava, deliciado, acompanhando aquele seu deslizar no dourado da seara. A sua mente atrevida, criava cenários: de mão dada correndo pelo meio da seara como crianças, ou jogando às escondidas, fugindo um do outro entre gargalhadas e braços envolvendo-se, ou até, ambos deitados olhando o céu, riscando no ar, de forma abstracta, figuras que íam substituindo palavras de amor, beijos e carícias. Ela virou a cabeça para o lado onde ele se encontrava, assustou-se, quase corou julgando-se descoberto, mas como poderia ela saber, se ele estava meio escondido na sombra da árvore? Seriam os seus pensamentos, voando na brisa, por ela escutados?  Ela era uma noiva, namorando a natureza, uma ilusão que o cérebro traiçoeiro lhe trazia. Tudo estava na sua imaginação, continuava só, na eira da quinta, com o cheiro da palha seca. Alguém que o olhasse, reparava no olhar indefinido, a expressão marcada no seu rosto. Continuava preso ao sonho, de um dia de verão, lá longe. Afinal a memória, lembra-nos, não o que foi, mas o que teríamos gostado que tivesse sido. Há quem chame a isso, vida.
O sol começava a cuidar repousar, o dia quente e seco, começava a ser percorrido por uma aragem fresca. Estava na hora de regressar ao casarão enorme, vazio de gente, onde os móveis antigos e as paredes, preenchidas de pinturas e fotografias, não deixavam de ser tristes com a sua resposta silenciosa à minha tristeza. Ela já não morava ali.

dc

domingo, 4 de março de 2018

Droga "dura" este amar




Sabes, tenho de confessar, não sei o que hei-de fazer quanto a nós, ou melhor dizendo, quanto a mim. Li imenso sobre autoestima, pedi conselhos, falei com psicólogo e li muito tentando perceber. Os meus amigos mais chegados, estarão certamente cansados de serem ombro das minhas angústias, das minhas queixas dolorosas, dos meus choros pela tua falta, de manifestar-lhes o meu desejo de que  fosses o pai dos meus filhos, se os viesse a ter. Eles próprios, meus amigos, sem saberem muito bem o que fariam em caso semelhante.
Fiz um levantamento das incompatibilidades, das coisas comuns, do que nos une e desune, dos afectos, da razão que me liga a ti. Procurava descobrir as razões porque te afastavas, pois tenho a sensação de que te aproximas conforme as tuas necessidades físicas, ou quando te sentes perdido e isolado dos demais, ou ainda quando tens tempo livre. Por vezes penso, que avaliando tudo, com a distância necessária, não deveria sentir-me assim. Na realidade nada explica este registo de ti, que não sai dentro de mim. Chamam-lhe apego, dependência, uma série de termos justificados, dos quais não consigo encontrar, no meio de tudo, o passo certo para que mude e possa reformular tudo aquilo que são os meus afectos, a minha própria personalidade, que se recente, como toda a minha actividade social profissional e familiar. Imensas vezes estaciono o carro em lugar sossegado e dou largas ao choro atenuando a dor que me consome. Dizem que o amor não se explica e surge de forma inesperada, que não se deve formular opinião racional sobre ele. No entanto tenho para mim – e não sigo o conselho – que o amor não pode trazer para dentro de nós esta dor que nos transtorna e anula a capacidade de raciocínio inteligente e adequado. És como uma droga dura que lentamente se foi introduzindo no sangue, alimentando ilusões e dependência, que sem ti, sinto-me com ressaca, sem ter encontrado a metadona psicológica, ou o centro de recuperação apego-dependente capaz de me tirar-te do sangue.
Tento imaginar o meu mundo sem ti, reformular a vida seguindo outros passos. Procuro incessantemente, nesse mesmo espírito, de que o amor é inesperado, preparar-me para estar aberta ao surgir de uma nova oportunidade, de eu partir para algo melhor e superior  que não este abuso sentimental, mental, físico e irracional que ainda está presente em mim. Terei de recuperar o meu eu.

dc


terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

14 de Fevereiro




Dia dos namorados
uns livres outros caçados
alguns poucos apaixonados
outros tantos acomodados

Dia dos namorados
rosas, jantares e bombons
alguns beijos delicados
e alguns apertos dos bons

Dia dos namorados
nas prendas lindinhas
corações e flores bordados
em embalagens com fitinhas

Dia dos namorados
tudo por boa razão
comerciantes governados
em negócio do coração

Dia dos namorados
será que é uma boa ideia
sempre a ser levados
pelo canto da sereia

Dia dos namorados
será quando se quiser
corações apaixonados
sem data para o fazer.

dc



domingo, 4 de fevereiro de 2018

Nunca dançaste comigo




Nunca dançaste comigo, mas sempre pensei que dançava contigo. Sabíamos o que era a valsa, o bolero, o tango, o chá-chá-chá, como vês não falo daquelas músicas modernas em que todos parecem ter pulgas e se mexem para se coçar.
Nunca dançei mas tería adorado que me tivesses convidado para dançar. Agarrar-te nos meus braços, sentir a tua respiração no meu pescoço e as palpitações do teu coração no meu peito. Rodar, parar, rodar, mexer os pés para o sitio certo, ao ritmo certo, sentir o calor do teu corpo e os nossos cheiros, misturados, entranhando-se nos sentidos. Gostaria de ter dançado todo o reportório que faz uma vida, quase tirando os pés do chão, como se voassemos num amor de todo o sempre, daqueles de filme, de romance de autor, daqueles que trazem brilho aos olhos e lágrimas de prazer e ternura. Aquele amor que é para sempre, aquele que se sente como certo, ajustado, único, especial. Um amor sem limites, que suporta tempestades, bonanças saturadas. Um amor no qual, pisaduras nos pés, são avisos de cautela e nunca são afastamento, ou o fim da dança. Sabes, eu contigo teria dançado tudo, mesmo até as tais modernices, em que todos se coçam, ou levantam os braços como se estivessem à procura dos gambuzinos. Eu contigo transformaria o mundo num salão de baile privado, onde daríamos lugar às grandes danças da vida. Nunca dançamos, é pena, seríamos um par perfeito, só que tu não acreditavas. Um dia dançarei de certeza com uma bailarina traiçoeira à qual não poderei escapar, aí, será a última vez em que trocarei o movimento dos pés, mas já não me importarei, tudo será efémero e finito.

dc

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Tatuagem


Tatuaste no meu corpo todos os caminhos, todos os destinos, todos os sentimentos possíveis, todos os lugares de apoio e passagem, como ultrapassar todos os obstáculos. Com teus dedos afilados desenhaste as suas formas, deste-lhe a tinta dos teus beijos, secaste-as com o calor do teu corpo. Hoje quando me enfrento no espelho, deixo-me invadir pelas memórias, aqueles traços trazem-me as emoções dos momentos em que a pele do meu corpo era teu objecto de criação e amor. Não há laser que as destrua, ficam para sempre instaladas na pele, como se com elas tivesse nascido.

dc

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Chapéus há muitos



Sobre a cabeça inclinada, tinha colocado um chapéu de cor clara, que lhe tapava grande parte do rosto, lobrigando-se o queixo saliente, e umas pequenas rugas em volta da boca. Aquela figura aparecera-lhe de repente do nada. Ele temia ver mais do que se via, temia encará-la se ela se revelasse totalmente. Possivelmente não seria o rosto que a sua mente mantinha vivo, e nos olhos provavelmente encontraria ambiguidade, indiferença ironia, omissão e porque não mesmo, mentira? Melhor seria não levantar o chapéu, assim tudo ficaria como antes, mantendo uma ideia positiva de alguém, que outrora, fizera parte do seu mundo de emoções. Quem sabe, se usar o chapéu não fora um modo inteligente de criar suspense, de fugir ao olhar do outro, assim sempre evitava que se percebesse que as palavras não casavam com o olhar. Talvez uma espécie de silêncio, uma forma diferente de chamar a atenção sobre si; “reparem no chapéu, no meu corpo, e esqueçam o que meus olhos dizem, ou o que sinto”, assim tudo se tornaria mais fácil, “chapéus há muitos”.

dc