Aparecem, em pequenas gotas, na base dos olhos, é uma
reacção, de extrema sensibilidade, aos estímulos exteriores que vão chegando, elas
são o reflexo do peso que a idade começa a ter, cada dia que passa. Daí, se vai
fechando, fugindo do conflito, da dor que dilacera a carne por dentro, para que
a fraqueza não se assuma, mesmo quando decorre em causa alheia. Foge da
embriaguez do jogo envolvente. Isola-se. Não permite o contágio dos outros
sobre si próprio, acumulando mais dores e sofrimento, ao que já é o seu. A sua
face, é um registo bem marcado dos anos, que nem sempre tiveram os melhores
dias. Puseram-lhe, um rótulo, baseado na idade, esqueceram-se dos seus desejos
e vontades. Procura, manter-se à parte dos outros, sejam amigos, ou filhos, que
tentam comandar seu destino, julgando-o, pela data do calendário, não pela sua
capacidade física e mental, muito menos pela sua independência, alegria de
viver, e resistir ao fim anunciado. Eles nem imaginam quanta capacidade, física
e mental; o quanto procura, mais saber, mais conhecimento, e disponibilidade de
amar, desde que seja a causa certa, a pessoa certa, no momento certo, em que as
dúvidas não existam e que o passado, que não acrescenta, seja só experiência reduzida
a uma marca ténue, sem afectar o presente. Deixem-me viver, é o grito
silencioso, sem rótulos de calendário, ou frases feitas, perante aqueles que se
sentem actualizados e jovens, porque dominam as novas tecnologias, e vivem
amarrados a um objecto de comunicação, em online permanente, que os isola e
deixa à margem do mundo dos humanos.
dc