Passava eu numa rua movimentada da cidade, quando de repente a vi.
Era linda. Uma cor de pele deliciosa, um perfume inebriante, com umas ligeiras rugas na pele, mas ainda na flor da idade. Foi amor à primeira vista, e não descansei enquanto, não a obtive. Ela era a criação de Deus, o fruto mais apetecido de Eva no paraíso.
Abreviei, tudo o que tinha para fazer com uma vontade enorme de ficarmos a dois. A rua não era lugar para desfrutar tal beleza. Quando, já em casa, e cada um a seu modo se acomodou, fiquei a observá-la tempos infinitos, antes de me decidir pousar os meus lábios naquele pedaço saboroso da natureza. Mentalmente fazia as minhas conjecturas, tentando encontrar o momento certo. “ Será melhor antes de, ou depois de? Será que o cheiro se perde debaixo do toque dos meus lábios, da minha boca por inteiro? Como será depois de ela partir? Nada será como dantes? É difícil encontrar beleza de tal dimensão. Regressei à realidade e olhei a sua pele, ligeiramente matizada junto ao pescoço, e para as suas curvas arredondas e bem delineadas. Definitivamente merecia um espaço próprio no tempo. Iríamos ambos para o alpendre, observar o espelho de água em que se transformara a ria. Pelo que já deduzira, ela iria continuar a provocar-me e a seduzir-me no seu silêncio. E eu, cada vez mais procuraria eternizar o momento. Esperaria se possível até ao pôr do sol. Quando este se partisse na linha do horizonte, entre o céu e as águas calmas, aí, então sim, naquele momento iria pôr cobro a tal tormento.
E assim foi, após uma refeição ligeira e bem agradável, decidi-me.
Comecei lentamente, com a ânsia e o frio aço com que a natureza, de longos anos de sabedoria, nos dotou, a tirar-lhe, bocadinho a bocadinho a sua roupagem. Fazia-o com lentidão, prolongando cada momento. De repente a surpresa. A lentidão inicial, de desfrute foi-se tornando cada vez mais ansiosa, tal era o que ia encontrando. Afinal debaixo de toda aquela beleza e roupagem, a sua pele estava macerada, de manchas, cada vez maiores e mais fundas. Eu bem procurava encontrar, no lugar mais profundo do seu ser, um bocadinho que fosse, que tivesse resistido, e permitisse manter a chama acesa. Na esperança de que no seu seio pudesse lançar a semente de um futuro de algo mais maravilhoso e profundo. Fui perdendo a alegria e o prazer ia-se. Procurei ir mais fundo num diálogo de surdos. Daqueles em que só um fala e pensa. Onde se procuram respostas, e não são dão dadas. A vida pregara-me uma partida.
Mais tarde, procurando refazer-me, psicologicamente do que se passara, consultei especialistas vários em busca de explicação. Todos foram unânimes. Ela era fruto de uma amor desavindo. Tinha sido, maltratada logo no ventre de sua mãe. A mãe também ela, já tinha sido maltratada, pelos seus ancestrais. E quem tinha lançado a semente à terra, teria sido um aventureiro, que aproveitando os tempos modernos, fizera daquela “terra” um tempo de passagem para herdar benefícios, sem olhar a meios.
Nos seus curtos anos de vida, ela não tinha tido, aquilo a que nós chamamos “berço”.
Quando eu a vi pela primeira vez, o seu brilho intenso tinha-me seduzido de tal ordem, que me tornou vitima fácil de um padrasto ganancioso, que procurava obter um bom lucro da relação temporária, em que ela era um apêndice.
Desde esse dia, sempre que passo por aquela rua, atravesso para o ouro lado. Afinal eu não sei escolher maçãs, e detesto aquela frutaria.
DOM 01JUN08 11,15
quarta-feira, 30 de maio de 2012
SEDUÇÃO
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Foto: Diamantino Carvalho
NÃO ME ATREVO A FALAR
Não me atrevo a falar
na noite de céu azul e lua cheia
com receio de errar no meu dizer e apagar
todo o amor que me enleia
Fico olhando o céu e a luz que se espalha
no meio das estrelas com seu brilho distante
Esperando vencer também esta batalha
de dor e tristeza, de alma agonizante
Os dias enublados só por vezes atravessados pelo sol
tornam-se-me indiferentes na vida que decorre
e fazem-me pensar na dor com que tanta gente morre
Em frente do precipício fugindo do que me persegue
não recuo para pensar sobre aquilo que ali me leva
dou dois passos em frente no vazio onde a razão é cega
Liberto aquele amor que me enleia e meu medo de partir
nesse voo em noite de lua cheia num destino sem retorno
deixando a mente livre para voltar a florir no prazer do abandono
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Foto: Diamantino Carvalho
domingo, 27 de maio de 2012
O SILÊNCIO NÃO O SURPREENDE
O silêncio não o surpreende. Nem o surpreende que quando algo de bom se inicia, logo tenha que acabar. Abraça a vida como se fosse uma rosa. tem tanta beleza e aroma, como espinhos que magoam.
Esvai-se a vontade de resistir. Dentro de si nada existe que o motive, é inexorável o caminho que tudo está a tomar. Tempo e saúde faltam-lhe para que se perca a tentar descortinar, as razões que levam as pessoas a terem certos comportamentos, menos correctos e põem em causa os seus valores e dignidade.
Por muito que queira há-de haver sempre gente que depois de nos conhecer, sempre duvidam da nossa palavra. É cada vez mais comum nunca se conhecerem bem as pessoas com quem nos ligamos ao longo da vida, o que é mau porque nos tornamos desconfiados, e dificilmente franqueamos as portas.
Um dia um amigo disse-lhe, “desconfia até teres provas em contrário”, nunca ligou muito a isso. Hoje não sabe se ele é que tinha razão. Continua com a esperança que erros de pequena monta, com que algumas pessoas o brindam, não o impeçam de continuar a acreditar no Ser Humano. mesmo sabendo que muitos dos seus defeitos são resultado de serem seres sociais, com familiares e amigos que lhos colam ao corpo, desde que ainda crianças de mente tenra, até ser mais velhos.
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Foto: Diamantino Carvalho
quinta-feira, 24 de maio de 2012
será que PODEMOS FALAR DE AMOR??
Nos tempos conturbados que se passam neste país à “beira mar plantado”, com a crise económica, da qual só uma grande parte é vítima e um minoria ainda enriquece mais, e quando a saúde não é prioritária, mas o tratamento da doença, e se tratam os doentes a metro, ou ao quilo, porque tudo tem de ser visto do ponto de vista economicista. então é que está o caldo entornado e é difícil escrever sobre alegria, amor, felicidade e sobre todas aquelas coisas bonitas que gostamos de usufruir e que são um aconchego para a alma.
Neste país, nem entidades patronais, nem governos, apelam à nossa auto-estima como cidadãos e patriotas, antes pelo contrário, passamos todos por sermos uns bons malandros, incultos, e sem formação profissional. Os reformados são tratados como excedentes, a descartar, os que tem uma idade a rondar os cinquenta também já são descartáveis do emprego, e os mais jovens, se quiserem trabalhar, têm de esperar anos, isto é, se tiverem emprego. E entretanto vão vivendo à custa das reformas dos pais, ou dos subsídios do desemprego. Então fica aqui uma espécie de limbo, de gente que vive sem saber o que fazer para viver. Somos presos por ter cão e por não ter.
Se, como cidadãos com voz devemos, ao contrário do que nos tentam convencer, participar, informarmo-nos, saber melhor os nossos direitos e exigir que nos respeitem em todos os lugares. Por vezes, tendo razão, não temos a coragem sequer de pedir o livro de reclamações, numa repartição pública, num banco, ou num restaurante, porque quase temos vergonha de exigir respeito e dignidade. Não devemos entrar nessa de dizer que não temos nada a ver com a politica, porque tudo o que se passa à nossa volta tem a ver com politica e temos, como cidadãos, que ser participantes, discutir e combater pelos nossos deveres e direitos. Manifestando-nos publicamente, votando, falando com os nossos amigos e conhecidos, procurando respostas, que passem para além da informação formatada que nos chega atraves dos media, em especial jornais e televisão, para tomarmos as posições mais próximas do interesse colectivo, e não aquelas que servem somente o nosso umbigo, e por vezes de curta duração. Devemos deixar de ser somente alguém de quem o Estado e as entidades económicas se servem para os seus objectivos, em vez de servirem os nossos, pois para isso é que as estruturas sociais existem.
Temos de participar e ser activos na defesa dos nossos interesses, para que a nossa alegria e bem estar sejam cada vez mais próximos daquilo a que todos devem ter direito, ou seja, mais momentos de amor e felicidade, do que azar de vivermos.
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terça-feira, 22 de maio de 2012
PERDERA A RESPIRAÇÃO DENTRO DE SI
Via a pele aveludada desenhando o seu corpo deitado de lado, feito espiral, em cima da cama. Seu rosto, também de lado, tinha a serenidade estampada e a doçura do amor feito sem urgência. Os braços envolviam o seu corpo como que protegendo uma flor que dentro dela brotasse. Estava só, mas preenchida, deliciada tentava guardar junto do peito toda a sua presença. Mexia a boca ainda brilhante, parecia sentir o calor dos lábios dele, dos quais procurava reter o seu sabor. No ar ficava um rasto de odores que os uniam. E agora que fazer, pensava ele, olhando-a, absorvendo a sua imagem para que devidamente registada na sua mente, permanecesse infinita.
Outrora, fora na areia da praia, que olhando seus olhos se perdera dizendo-lhe as frases mais doces que da sua boca alguma vez tinham sido vertidas. Elas surgiam preenchendo o ar e se iam depositando no calor dos lábios, entrecortadas por beijos, virgulas e parágrafos de um texto poético. Naquele momento, o mar envergonhara-se de não ter a luz dos seus olhos e o areal era demasiado restrito para sentir a emoção que ela revelava. Ao beijá-la a respiração se perdera dentro de si, surgindo horas depois, quando o sol se alaranjara e o céu se avermelhara no finar do dia.
Há momentos únicos que nos governam eternamente, que não se descolam de nós, que respiram pelos nossos poros e envelhecem connosco.
Hoje na sua mente tudo voltara a surgir, como se não houvesse ontem, mas simplesmente paragem no tempo e aqueles dois momentos se tivessem colado num só, restando como memória dum passado, marcando o mapa de seu rosto.
"A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos." (autor desconhecido)
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segunda-feira, 21 de maio de 2012
ACONTECEU...memória
O corpo arrastado pelas mãos dos algozes, e seus gritos ecoam no ar pedindo liberdade, e apelando ao seu amor que a salve. O seu rosto possui a coragem das mulheres resistentes da Praça de Maio, apelando a que se dê conta dos seus filhos desaparecidos. O sangue vai marcando o chão por onde a arrastam, até ser projectada para dentro do carro onde seus gritos são abafados. O carro afasta-se na distância deixando o silêncio no vazio que envolve a casa.
A noite traz as sombras e a dor naquela família que se desmembra, por imposição de quem domina.
Esta é a memória de um filme que vi e revi: "Aconteceu na Argentina", sobre a repressão na naquele país, em 1976. Vi fazendo constante paralelo com algumas situações vividas em Portugal, antes do 25 de Abril, e que me mostrou mais uma vez o modo como agora a alta finança actua. Tratam-nos como crianças que não sabem o que querem. Fazem guerra económica para desarmar a verdadeira democracia, que defende a maioria do povo. E dizem-nos que podemos votar, no entanto o garrote económico será aplicado se não votarmos como eles querem.
De violência em violência, o poder fascista, repressivo, que o capital impõe na sua ditadura, pelo dinheiro, roubando as liberdades fundamentais em toda a parte do mundo, constrói a ditadura “democrática”. Rasga o corpo dos inocentes sugando-lhes o sangue, e depois deixa-os a debater-se com a morte prematura que se avizinha.
Já não somos donos de nós, eles são os nossos donos, criam uma falsa liberdade, fazem temer tudo e todos, convencem-nos que as medidas de carácter económico que tomam são as melhores para todos nós, mesmo quando vemos que cada vez mais os ricos ficam mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Eles utilizam sempre as mesmas receitas, em todos os países, porque não têm vergonha, não possuem humanidade, são os cães, as bestas, os vampiros, na voz do poeta. E nós os oprimidos, que vemos passar aos nossos olhos toda esta violência moral e social, ficamos impávidos olhando para o lado onde o televisor nos fala do Big Brother, as Tardes da Júlia, ou os Prós & Contras da ignominia, onde se diz falar liberdade, verdade, e encontrar soluções para o país. Fixamos sempre aquilo que dizem de nós os mais desfavorecidos, e criticamos os nossos em detrimento de quem os oprime. Acusamos o nosso vizinho, que foi almoçar fora, em tempo de crise, que o nosso colega tome todos os dias café, que a vizinha de cima ouve música e não quer saber da crise. Não nos preocupamos com os exploradores, nem com os governantes, assobiamos para o lado, até que entre pela casa dentro a desgraça.
Temos de acreditar que podemos construir um Portugal mais solidário, mais humano e com mais e melhores condições de vida, para todos, e que quem tem o poder efectivo nas mãos é o povo.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
UM PONTO DE VISTA
É difícil escrever sem que o que sai de dentro de nós não transmita um pouco desse nós. No entanto, nem tudo o que se escreve tem a ver com esse nós de que fazemos parte.
Em cada coisa que se escreve, a parte maior do nós está no que nos mobiliza a escrever, ou seja, a forma como encaramos e vivemos determinados momentos da vida e aquilo que nos rodeia. São as emoções, opiniões, realidades distintas das nossas ou semelhanças à flor da pele. Tudo isto sublinhado pelo empenho de fazer chegar aos outros este "nós", tão comum a todos que os mobiliza a lerem o que se escreve. Escrever é uma mistura de recordações, invenção, fantasia, ficção e realidade. Ter o prazer de saber e comungar opiniões. Esta é a forma como vejo as pequenas coisas que aqui coloco.
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quinta-feira, 17 de maio de 2012
DE IMPACIÊNCIA
Já não chegam as palavras, a impaciência te consome
No entanto não escutaste os meus dizeres quando de ti tinha fome
Hoje serenamente espero a paz, mesmo que enterrando meu desejo
Só quero que o tempo e a saudade não matem o sabor de teu beijo
Não me interessa a demora, espera, ou outra dimensão
Sei que preciso deste tempo para acalmar meu coração
O sol com seu brilho traz-me o calor e alegria de viver
E no azul do mar espero encontrar tudo o que preciso saber
Tropeçarei no areal imenso, na flor brava de estio
E saberei se és tu que me esperas nesse outro desafio.
Acredito nas leis do universo e nos seus caminhos para a razão
E se na verdade seremos peças que encaixam no puzzle do coração
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Foto: Diamantino Carvalho
terça-feira, 15 de maio de 2012
UM RAPAZOLA COMANDA O PAÍS
Não podia deixar de publicar este texto, embora curto, bem expressivo.
Temos de facto um primeiro-ministro que leva qualquer um a "perder a cabeça", ao ouvir tais dilates. E se repararmos bem, as figuras públicas que se pronunciam a seu respeito, já são tantas e dos mais variados sectores profissionais, intelectuais e políticos, que se torna um "caso de estudo", o papel que esse senhor ministro representa na cena política. Tanta incompetência seria suspeita, mas sobre tal figura, todos, intimamente, sabemos que está a cumprir um papel no teatro político, para quando sair de cena o país ser entregue aos srs. que comandam o mundo e que têm um só objectivo, obter mais e mais dinheiro e poder.
DANIEL OLIVEIRA: ANTES PELO CONTRÁRIO
Um rapazola a quem calhou ser primeiro-ministro
Daniel Oliveira (www.expresso.pt)
8:00 Segunda feira, 14 de maio de 2012
"Estar desempregado não pode ser um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma. Tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida. Tem de representar uma livre escolha, uma mobilidade da própria sociedade." Pedro Passos Coelho
Há pessoas que tiveram uma vida difícil. Por mérito próprio ou não, ela melhorou. Mas não se esqueceram de onde vieram e por o que passaram. Sabem o que é o sofrimento e não o querem na vida dos outros. São solidárias. Há pessoas que tiveram uma vida difícil. Por mérito próprio ou não, ela melhorou. Mas ficaram para sempre endurecidas na sua incapacidade de sofrer pelos outros. São cruéis. Há pessoas que tiveram uma vida mais fácil. Mas, na educação que receberam, não deixaram de conhecer a vida de quem os rodeia e nunca perderam a consciência de que seus privilégios são isso mesmo: privilégios. São bem formadas. E há pessoas que tiveram a felicidade de viver sem problemas económicos e profissionais de maior e a infelicidade de nada aprender com as dificuldades dos outros. São rapazolas.
Não atribuo às infantis declarações de Passos Coelho sobre o desemprego nenhum sentido político ou ideológico. Apenas a prova de que é possível chegar aos 47 anos com a experiência social de um adolescente, a cargos de responsabilidade com o currículo de jotinha, a líder partidário com a inteligência de uma amiba, a primeiro-ministro com a sofisticação intelectual de um cliente habitual do fórum TSF e a governante sem nunca chegar a perceber que não é para receberem sermões idiotas sobre a forma como vivem que os cidadãos participam em eleições. Serei insultuoso no que escrevo? Não chego aos calcanhares de quem fala com esta leviandade das dificuldades da vida de pessoas que nunca conheceram outra coisa que não fosse o "risco".
Sobre a caracterização que Passos Coelho fez, na sua intervenção, dos portugueses, que não merecia, pela sua indigência, um segundo do tempo de ninguém se fosse feita na mesa de um café, escreverei amanhã. Hoje fico-me pelo espanto que diariamente ainda consigo sentir: como é que este rapaz chegou a primeiro-ministro?
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segunda-feira, 14 de maio de 2012
Entre o Sonho e o Acordar
Choro convulsivo, dor de um amor ido que lhe enche os dias.
Cospe através da janela do quarto exíguo, onde vive num apertado desespero de sobrevivência. aquele gesto repulsivo traz-lhe à memória, aquele outro, aqui impulsivo, de custos elevados, que terminou na sua separação recente. A vitima é ele mesmo. Tenta sanear do corpo, não só da saliva, mas também daquilo que na sua mente o persegue. Qual o significado das unhas do gato semi-enterradas na pele do antebraço? Sono, sonho, realidade, medo? Porquê os dentes aguçados e o olhar felino centrado no seu rosto que não reage. Ele desconhece o saber do povo, “gato branco ( ou preto) dá azar”? Não vá o Diabo tecê-las. O Diabo? Não, o gato, não vá ele aborrecer-se e deixar-lhe no corpo rasgos, qual terra lavrada, semeada pela angústia que o assola.
O Sonho esvai-se no acordar, provocado pelo ar fresco da janela do quarto. O gato branco se esfuma libertando-o das suas garras e corpo reage, sobrevive. Ainda perdido, sem rumo quanto à origem daquele medo, daquele choro convulsivo sonhado. Se reencontra com o momento de sempre na casa preenchida por objectos sem vida. Recomeça mais uma semana sombria e de rotinas estruturadas.
“A auto-estrada no sentido Norte-Sul junto à Ponte da Arrábida, está interrompida devido ao despiste de um pesado junto à....”, diz o locutor de uma qualquer rádio. Assim se inicia o purgatório de mais um dia de chuva miúda, numa segunda-feira que todos os sete dias significa o começo de mais uma das muitas semanas que fazem parte da nossa vida.
Agora, encontra-se sentado num sítio onde pode observar a rua. No seio de um espaço físico onde o tilintar das chávenas, do café da manhã, são a sua companhia. Delicia-se a olhar as curvas e requebros dos corpos femininos, vistosamente aperaltados, que são laboriosamente preparados, para que, além do acto diário de cobrir o corpo, criem momentos encantatórios que deixam de rastos, no parceiro, que ainda não é, mas pode vir a ser, esteja ele onde estiver. O sonho, esse já não está lá, agora só resta a pressão a angústia de algo que não sabe mas que permanece desde que se iniciou o seu dia.
Não damos muita importância aos sonhos, no entanto, eles marcam-nos o dia que nasce, com tanta força como a realidade. É o sonho que nos comanda a vida....
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sábado, 12 de maio de 2012
OS AMIGOS "INVISÍVEIS"
Sento-me na sala e olho os meus parceiros silenciosos que ao longo de tantos anos tenho tido como companhia.
Tem aquele seu estar silencioso, mas quando “abertos” contam-me as mais diversas histórias, dos muitos pensadores, artistas, sociólogos, políticos, enfim todo um manancial de gente e de informação nos mais variados âmbitos do conhecimento, necessários a um ser humano. Neste diálogo entre nós, usamos o silêncio, e privadamente com todo o respeito, conversarmos sobre o que cada um encerra nos seus pensamentos. Sinto-me enriquecido, acompanhado e feliz por serem meus parceiros de vida. São eles que me preenchem a ausência física dos humanos, falando-me de humanos interesses. Com a sua cumplicidade faço, por opção, dos momentos de silêncio e solidão, uma espécie de catarse das vicissitudes do quotidiano da vida, tornando-a mais leve e inteligível.
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quinta-feira, 10 de maio de 2012
COM A SAÚDE NÃO SE BRINCA
Quando doentes somos uns atrasos de vida. E quando a idade começa a pesar pior ainda. Ficamos piegas, com lágrima ao canto do olho, vendo a inutilidade em que nos tornamos. O mal estar sobrepõe-se a tudo. Não discernimos com correcção perante os que nos rodeiam. "Odiamos" os médicos que não acertam com o mal que nos consome, que mal nos ouvem começam a prescrever como se o que dizemos é o comum de todos os doentes que lhe entram pela porta dentro. Como se cada doente não tivesse as sua própria doença e idiossincrasia. Acho que, quando entramos no consultório do Centro de Saúde, os médicos já estão saturados e cansados de atender tantos doentes que nem capacidade têm para atender devidamente. Não é uma questão de incompetência, mas sim de excesso de trabalho e de empecilhos burocráticos, que por vezes lhes limitam as decisões.
Quando o Passos veio ao Porto, eu fui lá vê-lo e enviar-lhe uns piropos de agradecimento, altamente justificados pelo que aconteceu depois disso. Ao tentar fazer-me ouvir por ele, na esperança da sua simpatia, fiquei bastante rouco. Primeiro, para não incomodar os médicos, e porque o preço da consulta dobrou, tentei resolver com as mezinhas caseiras. Nada se alterou, o que me levou dias depois a ir ao Centro de Saúde da área da minha residência ver o que se passava. Resumindo, fui a primeira vez sem que os medicamentos fizessem efeito, mas como o médico dissera ser também uma questão de tempo, deixei passar mais uns dias e lá voltei ao centro, para ser visto por nova equipa de médicos que me disseram que, se não doesse nem tivesse febre, o tratamento seria eficaz. Assim fiz. Melhorou, piorou, melhorou piorou e agora, passados dois meses, a tão propalada febre chegou e, mesmo sem dor, terei que ir novamente ao Centro de Saúde. Com tudo isto gastei, em consultas, dez euros, mais os diferentes medicamentos, cerca de vinte e cinco euros. Como vou lá voltar, possivelmente terei de tomar novos medicamentos, esperar que acertem, e pagar mais um tanto. Se não resultar, possivelmente, por fim enviar-me-ão para um especialista, onde irei pagar mais não sei quanto, e esperando que ele tenha vaga nos próximos meses. Entretanto, continuarei com dificuldades respiratórias, a garganta com pigarro, que por vezes me leva a vomitar, e abençoar todas as medidas que o governo tem tomado para que eu possa morrer mais depressa, ou fique com uma doença crónica, ou ainda algo mais grave, que mais tarde dirão que foi por desleixo do doente em devido tempo não ter alertado os médicos. Dasssssss.
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quarta-feira, 9 de maio de 2012
O TEMPO E O UNIVERSO
Nem tudo na vida se explica, e nem sempre significa indiferença. O tempo e o Universo se encarregarão de responder no futuro, se o que hoje parece errado, é o certo, ou se é a paragem necessária, para que o que vem a seguir seja melhor. Há quem diga, que o tiver de ser será. Oxalá assim seja.
SOCIEDADE PROTECTORA DOS HUMANOS
“Jamais acredite que os humanos sofrem menos que os animais,
a dor é a mesma para os seres humanos para os animais!
Talvez pior, porque eles não se podem ajudar a si mesmos, dependem dos animais para isso...
Não abandones nem maltrates o teu melhor e mais fiel AMIGO.”
Tenho andado preocupado com os humanos abandonados na rua, que se sujeitam a ser atropelados, ou a levarem com um jarro de água quando escolhem um vão de escada para pernoitarem. Estes nossos fieis amigos humanos, nem sempre têm “ração”, nem os caixotes do lixo de alguns hotéis têm andado muito ratados, para escolherem o que comer. É lamentável os maus tratos que lhes dão. Em especial, quando existem donos que só se preocupam com o seu bem estar. Há imensos humanos sem lar, e a dormir nas ruas, abandonados e ao frio, que por vezes ao escolherem uma soleira de porta para fugirem do frio são muito mal tratados. Procure apoiar tirando-os das ruas, perfilhando um, dando-lhes a possibilidade de banho, e levá-los a um médico, a um SNS sem pagamento de taxas, que possa verificar se tem a pele em condições e se precisa de tratamento especial para pulgas e micoses, ou alguma doença infecto-contagiosa. Os humanos apreciam a companhia de animais domésticos e são seus fiéis amigos. Trate os humanos como o seu cão e ambos ficarão satisfeitos.
Criemos a Associação dos Amigos dos Humanos e demos apoio à Sociedade Protectora dos Humanos. Divulgue nos sites em que navega, todos os dias.
(Será que temos de chegar a isto?)
ADOPÇÃO URGENTE – Marineide é uma fêmea adulta, pele branca, que já está na rua há algum tempo. Meiga e sociável com outros companheiros. Adora festinhas e a companhia dos animais. Encontra-se esterilizada e não serve para criação.
Localização: Escada do Condomínio, mesmo debaixo do primeiro lanço. Na baixa do Porto. Adopte-a, é um caso urgente de sobrevivência .
ADOPÇÃO URGENTE – Manuel Botão é macho de pele morena. Talvez por não ter estudos, não serve para ter direito a um emprego, e foi descartado…. É adulto com cerca de 20 anos, porte atlético. É um ser humano carinhoso, simpático e agradável. Adora mimos e atenção. Pode acompanhar o Manel aqui: Localização - Escada do Condomínio, mesmo debaixo do primeiro lanço. Perto das Águas Tantas à Maia. Adopte-o, é um caso urgente de sobrevivência.
Posso ser mordaz, como já alguém me escreveu, mas na realidade, é que todos os dias vejo pessoas unidas na defesa da causa dos animais, com apelos e anúncios vários com a preocupação, E BEM, de proteger os animais. Há poucos dias, foram os srs. da CEE a se manifestarem, por causa das galinhas não terem espaço suficiente nos aviários , será que se preocupam, de igual modo, com seres humanos que vivem quase enjaulados. Pois então está na altura de proteger os humanos defendendo de igual modo os seus direitos, e apelando a todos, não para a caridadezinha mas para que usufruam do que qualquer ser humano deve ter. VIVER COM DIGNIDADE, não ser explorado, roubado, ou espoliado, de tudo o que lhe permite crescer em harmonia e felicidade com o seu semelhante. Paz, pão, saúde, habitação e cultura.
Juntemo-nos de igual modo, em apelos constantes, em todos os sítios, em todos os momentos, ajudando, uns e outros, para que aqueles que nos governam e os que por trás deles mandam, o grande capital, não façam de nós uma caricatura de Humanos.
terça-feira, 8 de maio de 2012
MORREU-SE DE SI
Ficou perdido no caminho quando atravessava as montanhas. Ele se arrastara na renúncia de si próprio, para chegar mais alto, adentrando, entre árvores, flores e espinhos, sentindo o apelo da terra.
Subira, subira, procurando dar tempo de espera, aceitando a distância, não percebendo as recusas, perecendo seu sentir pela indiferença, individualismo e desistência. Importante era chegar ao interior, ao centro da montanha, que se propusera conquistar, como se dum Everest se tratasse.
Plantou uma flor em seu peito, regou-a com o desvelo das palavras, das frases que se iam soltando nos seus dizeres, e procurou que seu cheiro não se perdesse, na rudeza da montanha. No entanto a imensa seca do nascer do novo ano, fez com que tudo se amadurecesse rápido de mais, sem que o sumo de outrora, que enriquecia todas as plantas e frutos, fosse vigoroso, abundante e permanente, sustentando os riscos que desenhavam diferentes quereres. Assim, Pedro Vagabundo, caminhador de profissão, se perdeu em mais uma terra, sem ter encontrado a musa dos seus sentires, nem o calor de seus braços, nem o caminho da montanha que se prometera conquistar. Morreu-se de si, abraçando a árvore que não conseguia abarcar com seus braços débeis, deixando-se escorregar lentamente pelo tronco e beijando a terra já com os lábios frios de quem partiu.
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Foto: Diamantino Carvalho
segunda-feira, 7 de maio de 2012
DIA DE...
Dia das mães, dos namorados, do pai, das tias, dos avós, de rócócós e inspiradas comercializações, que tentam de um modo ou de outro lembrar o que por si só já deveria ser lembrado todos os dias. No entanto em nome do “santo dinheiro”, invente-se, para que os parolos gastem as suas parcas economias em mais um consumo, que deveria ser substituído por carinho e amor às carradas na partilha da vida de todos os dias.
domingo, 6 de maio de 2012
Desta para melhor, ‘SETRIPERES’
Dizem governantes, patrões e outros que tais, que os portugueses não têm criatividade, que os que têm mais de cinquenta anos não têm trabalho; que as pessoas chegam à reforma e não sabem o que fazer, enfim uma série de disparates. Quem mais sofre com isso são os mais velhos, sejam eles pensionistas, reformados, ou desempregados. De facto, perante tal assunção, andam tristes desconsolados, tanto assim, que até pensei se não seria porreiro criar uma agência chamada Infante D. Henrique, por ser o nome de um português empreendedor (como agora se diz) que se virou para as descobertas, e navegações, talvez até sem sabermos, em águas turvas. Voltemos à agência. Esta devia pensar nesse tal segmento. Neste caso, teria como objectivo preparar festas para idosos, assim como aniversários, 50 anos de casados, e por exemplo, no lugar das despedidas de solteiro, festas de striptease “vai desta para melhor”. Com ‘setriperes’ com mais de cinquenta anos, saindo de um caixão enfeitados com antúrios violeta, e aros em ouro, dançando ao som dos metálica, ou dos ACDC, para que o entusiasmo fosse levá-los “desta para melhor” cheios de pica.
Julgo que o governo deveria apoiar todo este tipo de empreendimentos, pois teria a vantagem de ocupar os idosos, enquanto durassem, poupar custos à segurança social, com medicamentos e tratamentos, na velhada inútil, e evitar que alguns fulanos gastassem dinheiro em lares de terceira idade, mofentos, onde deixam os seus familiares para não saberem como distraí-los.
Espero que esta ideia tenha seguidores, pois dá azo a que se criem mais e melhores empreendimentos, como viagens de luxo ao inferno, uma semana de bem estar aos sem abrigo, com caixas de cartão de qualidade, e um lugar debaixo de um vão de escada de um edifício de condomínio fechado, ou até direito a banho gratuito e sopa de caldo verde, durante uma semana, na porta de uma qualquer superfície comercial em dias de descontos a cinquenta por cento.
sexta-feira, 4 de maio de 2012
A CHUVA
Chove, enegrece o céu
E a tristeza nos invade
Como na cabeça o chapéu
Cobre os cabelos brancos da idade
Ouço-a nas gárgulas a gotejar
Na vidraça a força do seu bater
Nas ruas e campos ameaça tudo inundar
Sem força humana para a conter
Um bem da natureza, humana necessidade
Deixa-nos desconfortáveis com medo do seu poder
Embora musa de poetas no seu escrever
E dela dependendo as plantas no seu nascer
Alguns de nós ficamos tontos sem rumo
Procurando, ruminando algo com que entreter
Este tempo que se vai como o fumo
Sem sabermos ocupar o tempo que nos resta viver
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Foto: Diamantino Carvalho
quinta-feira, 3 de maio de 2012
FLOR DE UM OUTRO ABRIL
Penso em ti flor de um outro Abril
Que alimentaste meu sonho e vida
Na voz do povo de águas mil
Foste cravo do tempo preferida
No 1º de Maio desfolhaste uma flor
Em tuas entranhas alimentada
A quem dás todo o teu amor
E todos anos recordada em data marcada
Não sendo única em teu jardim
Por ser primeira no seu nascer
Deixou-te para sempre marca em teu viver
Hoje outros amores perdem teu olhar
E não têm o eco da tua alma, nem do seu gostar
E para sempre se perdem nesse caminho sem fim.
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Foto: Diamantino Carvalho
OUVI PALAVRAS AGRESTES
Ouvi
As palavras agrestes,
Desconexas, violentas
Continuando no seu zumbir
Não são frases com letras
São palavras com sentir
Surgem como setas
Doem no seu fluir
Ele tomba, rola, enleia-se
Vomita-se nas palavrasMerda. As frases existem
Fica-te surdo à sua violência.
Espera as palavras amigas
Que exprimem outra essência
E mandem a dor às urtigas
Parte com fúria, mas não gritando
Não deixa que rolem lágrimas
A cólera se irá afastando
Pela primeira vez, fica-te firme
Sem temer as rugas na expressão
Deixa ao corpo que não se redime
A dor de tão grande paixão
Fervilham pensamentos
Desconhece o que os alimenta
Lembrando-lhe tais momentos
E a dor que o atormenta
No rosto sorrindo, a couraça
No silencio a mordaça
À mágoa que dentro de si quer calar
Não há tempestade sem bonança
Para fazer serenar o mar
Na verdade
Se calhar,
Só saudade
por ter de acabar
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Foto: Diamantino Carvalho
terça-feira, 1 de maio de 2012
HOJE 1º DE MAIO
Hoje 1º de Maio Dia Mundial dos Trabalhadores, e segundo as tradições na noite de mudança de trinta para um, se põem Maias nas portas para afastar o “carrapato” ou proteger as casas de malefícios. Actualmente seria bom que, em vez do “carrapato”, nos afastasse da crise e dos “Coelhones” que actualmente entram pela casa dos portugueses, indo-lhes aos bolsos.
Este dia foi assinalado pela abertura das grandes superfícies comerciais, outrora fechadas, e pelas campanhas vergonhosas de algumas, que escolheram o Dia do Trabalhador para oferecerem enormes descontos, dividindo as vontades das pessoas, e assim, ao mesmo tempo, pressionando os seus trabalhadores a apresentarem-se ao serviço.
Pelo sim e pelo não, os trabalhadores deram resposta na rua manifestando-se aos milhares em todo o país, lançando alto e bom som a sua discordância contra as politicas do governo, e do grande capital, na destruição das conquistas e direitos dos trabalhadores conquistados após 25 de Abril. Este é o objectivo número um do governo e do grande capital. A crise existe e foi criada pelo poder económico. O dinheiro não foi queimado, nem se evaporou, mudou foi de mãos, então por que razão querem que o povo pague?
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