Sinto-me observado, por esse teu olhar indefinido, entre tristeza, dúvida e mistério, que cativa a minha atenção. Não direi que te amo, mas que te estou amando e, para mim, é suficiente. Nada é eterno, a não ser esse momento em que mutuamente nos observamos, como se quiséssemos “parar o tempo” e usufruirmos o estarmos ali, parados, olhando, falando, rindo e vivendo. Demos mais um passo, para além do dizer dos olhos e das palavras, afundámo-nos no conhecimento, no intencional descobrir dessa realidade palpável, no dia a dia de existir. No amadurecer, sem colorir, tudo se avalia com ponderação, mas a insegurança, arrecadada de outras estórias, faz temer o que poderá seguir-se e dá coragem ao apelo de um temporário distanciamento, ou um pedido de “desconto de tempo”. Como num jogo, no qual o treinador precisa de instruir a equipa. Mas sabes o tempo não pára, os movimentos dos astros, das estrelas, da órbita da terra e do relógio continuam. A distância, só por si, já confunde a forma de viver o tempo, este esfuma-se no percurso, e mais longe fica a solução. Diz-se muitas vezes: é preferível “perder” algum tempo, para ganhar no tempo futuro. Até que ponto, com a realidade a acontecer de forma prazerosa em que o tempo parece esfumar-se, que pedir um intervalo, não será um modo de colocar acidez naquilo que era doce, um descaminho para o silêncio, o vazio da ausência, e nisso a destruição da fluidez do discurso das vontades e razões do desejo e do sentir. O rio não passa duas vezes debaixo da mesma ponte, por isso nada será como antes, e daí, pode resultar numa retoma com perda de tempo.
dc