As
memórias são necessidade obrigatória da existência, para que se cresça, para
se aprenda com erros e acertos, vitórias e derrotas, choros e alegrias. São, talvez, o melhor motor para corrigir e apreciar as coisas com novos olhares. Afastemos
as piores entre elas ficando somente como registo, da vivência, para que se não
repitam, e vivamos as que nos deixam felizes.
Se
as memórias nos trazem sorrisos, é porque vale a pena recordá-las. Elas têm
sorrisos e trazem a saudade colada a elas. Ainda ouço a tua voz, como quanto
tentávamos afastar as distâncias com um telefonema. Tenho saudades de beijar esses
lábios despidos de batom, de sentir os nossos corpos desnudados, cobertos pelos
mesmos lençóis. Daquele desconversar que abre o caminho ao encontro. Saudade de
sentir o teu respirar sereno no silêncio da noite, depois do amor feito a
preceito. De ao acordar e ver os teus cabelos espalhados na almofada, o teu
corpo moreno, magro, despojado, recortado sobre os lençóis brancos e ver o
estremecer das pálpebras dos olhos, semicerrados, em lento despertar.
São
estes momentos, que surgem na memória, são eles a razão dos sorrisos, mas não
deviam vir agarrados à saudade, deviam surgir na celebração do que foram,
acompanhados “pelo nada mais a registar”, deixando criar agora novas memórias
futuras. Na verdade, é difícil apagar quando ficamos feridos pela omissão, pela
distância e só nos restam, as imagens guardadas, uma ou outra peça de roupa que
regista a tua passagem e não a tua presença que alegraria o espaço do meu eu.
dc