A sua imagem agarra-me o
olhar. Surge em mim um enorme desejo de a abraçar, como se quisesse sentir a seiva
da vida, aperceber-me da sua comunicação com a “sua” sociedade, ou se ela,
também, relata as suas dores de existir. Sem coragem para me aproximar e passar
aos actos, na impossibilidade para ir mais longe, como mulher casada que não
queremos como amante, tento trazê-la para dentro da máquina, fixando-a no
espaço restrito, artificial, dos números e traços digitais. É o egoísmo cego,
de possuir algo e fazê-lo meu, a que posso recorrer em qualquer situação, em
que, vê-la, ajuda-me a decidir, a ganhar maior entendimento de dificuldades
emocionais, que é necessário enfrentar e resolver. Assim, registo as suas
linhas abruptas, a sua cor, o seu contraste com o ambiente que a envolve, o
recorte variado, dramático, majestático da totalidade do seu corpo. Tento saber
das razões, do seu fascínio sobre mim, discernir a emoção que se adentra,
tomando-me o corpo. O tempo decorre e fico apatetado, hirto, olhando como se uma, outra, dimensão me possuísse, desbravo mentalmente, dezenas de frases e
palavras que tentem esclarecer o que me move. Reflicto sobre o seu modo de sobrevivência
a cada intempérie, frio, sol, ou calor. Como reage à acção do homem, cada vez
que lhe cortam os braços e diminuem-lhe a envergadura, e o fenómeno do seu
renascer, com novas formas, com aquela sobranceria, vistosa, cobrindo-a de novo
traje e novas cores, como se nada tivesse acontecido. Assume nova imagem,
espera as mudanças num ciclo repetitivo, em que o crescimento se vai dando, transmitindo
alegria, nesse seu ressurgir, mais viva do que nunca, da dor temporária das
amputações, toda se reformula, no florir da sobrevivência. O que se aprende com
elas? Quão próxima, ou distante, é a sua existência, dos seres humanos? O que
tenho de aprender com ela, qual a essência que nos comunica? Questiono em
silêncio, não por necessidade do saber, mas mais, para saborear da estranheza
daquilo que representa como "ser vivo". Todo o raciocínio fica longe de qualquer explicação.É uma árvore, ponto.
dc