“O dia decorreu chuvoso, como se quisesse impedir que celebrássemos o 25 de Abril, como se o tempo colaborasse com os fantoches.... “
...mas nada impediu que os dedos amotinados percorressem o teu ventre, os beijos tivessem a cor dos cravos de Abril, as palavras fossem sussurradas com a música da “nossa Grândola” e o os nossos corpos explodissem no estralejar dos foguetes na alegria da celebração.
O amor aconteceu, como ligeira pausa, no retemperar das forças para a dura luta que se avizinha cada vez mais feroz, para amar a vida, refazer a esperança e a vontade de recuperar tudo o que de bom foi conquistado com a revolução dos cravos, e de Abril.
O amor não trava a luta ou a revolução, o amor é parte integrante e motor da revolução.
Com amor, Abril Sempre.
dc
domingo, 26 de abril de 2015
Com amor, Abril Sempre
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Imagem: Diamantino Carvalho
terça-feira, 21 de abril de 2015
QUEREM-NOS FORMATADOS
Morreu Eduardo Galeano, e como sempre acontece, “só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja”, daí resolvi dar uma passeio pelas livrarias, de maior dimensão no mercado livreiro, para ver se encontrava um dos seus livros mais recentes, “Os Filhos dos dias. Ed. 2012”. Espanto, ou nem por isso, não havia nenhum livro recente nem antigo, pelos vistos o autor trabalhava com pequenas editoras e como tal “não existia”.
Fico-me a pensar, se os editores e os responsáveis das livrarias, se preocupam somente com o lucro, ou se existe algum plano maquiavélico exterior à sua gestão, para que determinados livros - que despertam consciências, que defendem princípios e valores sociais e culturais, exigíveis numa sociedade - pela sua “perigosidade”, sejam excluídos dos escaparates das livrarias? Será, que escrever, como fazia Eduardo Galeano, sobre o Direito a um trabalho digno; o Direito de respirar; o Direito à vida; o fim da Violência de homens contra mulheres; a Igualdade perante a lei, que até constam na legislação constituinte de inúmeros países ( direitos nem sempre respeitados), é um “pecado mortal” e não convém aos altos interesses do capital financeiro, que as pessoas tomem consciência disso?
É bom que atentemos neste assunto e procuremos ver, como já acontece na internet através das redes sociais - e não só, que todos os dias e em todos os lugares, através de marketing, publicidade, cinema, livros, nos meios de comunicação como jornais, revistas e Tv, somos encaminhados e influenciados, para uma formatação mental de acordo com os interesses dos políticos, que nos governam e mal, e do grande capital financeiro. Existe toda uma estratégia pensada e planeada, para sermos transformados em marionetas - com apoio de alguns fazedores de opinião, que leem as badanas dos livros - de interesses alheios aos nossos, como cidadãos e seres humanos, até alguns fazedores de opinião cabe a todos nós impedir que a levem a bom porto.
dcAlgumas citações para meditar...
"Em política, nada ocorre por acaso. Cada vez que um acontecimento surge, pode-se estar seguro que foi previsto para levar-se a cabo dessa maneira."
Franklin D . Roosevelt - Presidente dos Estados Unidos (1933 a1945)
"O mundo divide-se em três categorias de gentes : Um muito pequeno número que produz acontecimentos, um grupo um pouco maior que assegura a execução e mira como acontecem, e por fim uma ampla maioria de não sabe nunca o que ocorreu em realidade "
Nicholas Murray Butler - Présidente da Pilgrim Society, membro da Carnegie, membro do CFR (Conselho para as Relações Externas, Council on Foreign Relations)
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Foto. Diamantino Carvalho
segunda-feira, 20 de abril de 2015
FIM DE TARDE acontecendo
A mar calmo, ali ao lado, uma brisa leve correndo, e os dois ali sentados observando como que parados no tempo. É o final do dia chegando, o ruído de fundo da cidade se esbatendo no crescer do silêncio. O calor do dia se atenua, deixa os corpos descansar, a pele respira sem a húmidade permanente e pegajosa das temperaturas elevadas. Acontecem as carícias suaves e as palavras doces que se soltam devagar, com sentido quase filosófico, acompanhando o amornar do ambiente que os envolve. Era o verão com a vida acontecendo.
dc
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Foto. Diamantino Carvalho
segunda-feira, 13 de abril de 2015
BEIJO NÃO TEM DIA NEM HORA MARCADA
Beijar não tem dia
Nem hora marcada
Há beijos para tudo e para nada.
Beijos na face, beijos nas mãos
Beijo na boca da mulher amada
Beijos de cumprimento, de amizade
Beijo de amor e saudade.
Beijo repenicado,
de barulho exagerado.
Há até beijos “normais”,
Chamados beijos “sãos”,
Beijos de amor aos filhos,
De amor aos pais
Dos tios e dos avós, dos primos e irmãos,
De bênção a quem apadrinha
E aos demais que se acarinha.
Ele há beijos de partida,
Beijos de chegada,
Beijos quentes, molhados
Com os lábios embaraçados.
Há também os chamados fatais,
Cheios de calor e prazer
Na urgência do amor a fazer.
Todos beijos com um sentimento
Adequado a cada momento.
E assim se vai de beijo em beijo,
Passando os dias e as razões,
Dos beijos normalizados
Aos que vivem das emoções.
dc
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Imagem: internet
domingo, 12 de abril de 2015
de OLHOS FECHADOS
As janelas batiam com o vento interrompendo o silêncio, certamente era a brisa do surgir do dia.
Ele ficava deitado de olhos fechados, do seu lado, mais próximo da porta, como sempre, O outro lado era o dela. Não se atrevia, a esticar o braço em direcção à janela, com medo de que sentisse o frio da ausência do seu corpo. Enquanto estivesse de olhos fechados ela estaria ali com ele. Os cheiros ainda colados à pele persistiam no olfacto, e calor do seu corpo registado no inconsciente. Não pensava muito, era uma cegueira procurada, como o “cego que não quer ver”.
Tornara-se rotina esta forma de estar, especialmente aos fins de semana, quando era mais difícil suportar, a espera, o silêncio e a solidão.
Inúmeras vezes se levantava, e sempre de olhos fechados, abria a torneia do chuveiro deixando que surgisse a água quente, depois, deixava que a água corresse sobre o corpo, tempos infinitos, não abrindo os olhos, sentindo somente o cheiro característico do seu gel, com que ela banhava o corpo, “Via”, o seu cabelo aloirado preso, os olhos verdes, ainda brilhantes do amor que fizeram, e as suas mãos percorrendo a pele envolvendo-a com a espuma. Muito tempo depois, ao fechar a água, acontecia um maior silêncio, o ar tornava-se gelado, e as pálpebras se recusavam a abrir. Cobria o corpo com a toalha grande, agarrando as pontas e se abraçando como querendo aconchegar-se. Um pouco depois se libertava enxugando lentamente os rios da face, o cabelo curto com vigor, e as pernas agora magras, em massagens quase frenéticas.
Os olhos teimavam em não se abrirem. Entrava novamente no quarto corria a persiana e sentia através das pálpebras um tom avermelhado, sinal de que o sol existia lá fora. Vestia a roupa, na véspera devidamente escolhida, que se encontrava na cadeira, punha água de colónia, e só, quando já preparado, e já fora do quarto, abria os olhos recolhendo os objectos pessoais e a chave do carro, fazendo de conta, que ela o esperava junto à garagem do prédio quando fosse tirar o carro. Assim, ainda desceria as escadas, prolongando o tempo de sentir a sua presença.
Havia um conjunto de elementos, que como um artificio do subconsciente, o ajudavam já quando na rua. A claridade que estourava nos olhos, o sol que lhe falava, as árvores que sorriam com a folhagem virgem da primavera e o mural, com as suas cores e desenhos fortes, na parede do fundo da rua, tudo contribuindo para o fazer ver a realidade e concluir, que afinal ela nunca ali estivera...
dc
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imagem Martin Vegas
quinta-feira, 9 de abril de 2015
DEIXAS...
.....que os dias passem, houve talvez uma razão(?) para que assim seja, no entanto o tempo corre e não se encontra o caminho. O ódio está um passo do sentimento mais forte, o amor, por isso, neste momento, desejo que me odeias mais do que tudo, pois só desse modo terás a capacidade de entender que omissões e frases por pronunciar não fazem caminho, somente silêncio. Se em alguns casos o silêncio é de ouro, em outros... perdemos, na maioria das vezes, a consciência e a razão, Perante o conflito, restamos parados confundidos nas sombras, ficando na esperança que alguém abra a porta que fechamos e ventile a nossa alma.
Só quando se fala sem medo de perder, se pode ganhar de qualquer modo. dc
“ O Silêncio é um texto fácil de ser lido errado” Igor Cury
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FOTO:Imagem Internet
quarta-feira, 8 de abril de 2015
"a culpa é minha por gostar de ti"
Entrei no jardim para fazer parte da minha caminhada, Quatro voltas da praxe e saía. Como sempre passava por aquele banco, estava integrado no percurso estabelecido. Na primeira vez que passei, ia tão concentrado no exercício, que não me apercebi que estava ali gente sentada. Ao passar, à segunda volta, reparei num casal já na casa dos quarenta, com ar de gente simples, que estava sentado se namorando. Foi um olhar de relance, sem espanto, A tarde estava propícia ao namoro, O sol entreolhava pelo meios das árvores iluminando o caminho com uma luz fantástica e embora eles estivessem na sombra formavam um quadro que funcionava em contraponto com toda aquela vegetação e cor. Digo namorando pelo modo como se envolviam, ele com um ar meio tímido quase com receio de a abraçar e ela falando e segurando no rosto com uma das mãos procurando a sua boca para o beijar e se chegando mais perto dele. Na volta seguinte, ela quase sentada no colo dele e de rosto encostado, meio se escondia de quem passava, mas não me parecia de vergonha e sim de ternura. Agora, olhei mais atentamente, observando pormenores, que me teriam levado a deduzir, serem gente simples do interior, A roupa que vestiam, a linguagem usada na conversa, o rosto dela sem maquilhagem... Ela mais envolvida, ele parecia ter medo que ela avançasse mais. Na quarta volta ela beijava-o sofregamente e tentando segurar-lhe o rosto com as duas mãos, num gesto amoroso, tudo emoção.
Este interlúdio na caminhada transportava-me para pensamentos diferentes dos habituais e para raciocínios vários para o que me era dado observar, conjecturando uma autêntica estória de amor, daquelas rocambolescas. Que faziam dois quarentões namorando ali no jardim? Não que estivesse errado, mas era pouco normal, seriam casados, amantes...eu ouvia-os falar, no entanto percebia mal as palavras. A emoção e a curiosidade aumentavam, e mais uma volta e lá estava eu em cima do acontecimento, e desta vez ele estava com o telemóvel na mão e ligeiramente afastado, como se estivesse a ver algum número ou mensagem. Eu continuei coscuvilhando, de mim para mim, debulhando tudo, para tentar encontrar respostas à minha curiosidade. Quando já estava de saída aconteceu o inesperado, que me deixou confuso e se arrastou, na minha mente, até quase chegar a casa, Foi vê-la a chorar e dizendo “ se calhar a culpa é minha por gostar tanto de ti”, ele compungido parecia encolher-se.
Fui pensando, na frase, e no seu significado. Será que ela gostava, ou estava convencida de que gostava? Porque razão se pode ser culpado de gostar de alguém? Pela indiferença do outro, sua ambiguidade, ser casado, ter medo de mostrar os sentimentos? Qual a verdade, ou mentira, que magoara? Como se mede o gostar? O que é gostar, ou amar? Sem querer estabelecia pararelos com outras estórias, sempre pensando na efemeridade dos momentos que nos acolhem. Começa-se sorrindo, abraçando, amando, fazem-se juras, promessas, e de repente tudo se altera, o momento de encanto se perde e já nada é como dantes. Na maioria das vezes, não muda para melhor, é sim o prelúdio de um afastamento maior, com recados à memória que se tornam inesquecíveis.
dc
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Foto. Diamantino Carvalho
domingo, 5 de abril de 2015
UMA AULA DIFERENTE
Chegou, olhar triste dominando o rosto, cabelo preto curto, meio despenteado. Corpo franzino, de baixa altura e sobre ele um top de malha e umas calças jeans azuis.
Nos espaço envolvente onde entrou, vários homens e mulheres tinham nos cavaletes, ou no regaço, pranchetas com folhas de papel almaço de formato A2, ao seu lado vários riscadores, tintas e pincéis. Preparavam-se para uma aula de desenho de modelo, enquanto iam falando entre si, não se aperceberem da sua chegada. Nas primeiras aulas de modelo, nú, havia uma espécie de constrangimento, as conversas eram mais nervosas. Só ao fim de alguns minutos de poses rápidas e curtas se iam libertando.
Lentamente, se despiu exibindo o corpo magro quase esquelético, sem formas exuberantes, mas suficientemente modelado para o que seria desejável, subiu para uma espécie de palanque e colocou-se em pose. Todas as poses que ia assumindo, de acordo com a vontade do professor, pareciam difíceis, o rosto fazia um esgar quase irónico, ficando depois como uma natureza morta não emanava nada que motivasse quem desenhava. Todos captando a estrutura morfológica, no entanto não conseguiam dar-lhe qualquer vivacidade. A única vantagem que tinham, em relação os modelos de gesso, era que aquele se mexia assumindo posições diferentes rapidamente, o que obrigava a uma capacidade diferente de observar, no resto toda ela era gesso, mas maleável, não lhe chamaria de plasticina, porque a sua pele era muito branca quase morta. Nela toda, havia uma parte que era real, os seus olhos, talvez por aquele não sei quê de tristeza, que assumiam por vezes ironia ou indiferença com que se fazia presente. Emanava a agonia das pessoas que executam algo para o qual não estão destinadas. Era como se quisesse comunicar-nos, que fora a necessidade económica a quebrar-lhe o orgulho e a trouxera até ali, para não precisar de se prostituir fisicamente... o resto seus olhos explicavam
No final da aula, olhei os esboços, neles só via riscos, vivos expressivos, mas o modelo propriamente dito não estava lá, tinha-se diluído nas linhas e nas cores usadas. Não ousara reproduzir aquilo que efectivamente vira. Afinal a aula de modelo nú, não fora tão atractiva como alguns pensavam, tinha mais de humano, mais de amor, mais de sentir, que simplesmente aprender os movimentos do corpo e o seu registo no papel.
dc
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quarta-feira, 1 de abril de 2015
encontrei a minha "CARA METADE"
Não, não é engano por ser dia um de Abril. Encontrei finalmente a minha cara metade, andei anos a fio procurando mas valeu a pena, Percorri hospitais, distribui papéis com a imagem, participei à policia, contactei por e-mail amigos vários, e até salafrários, na esperança que fosse encontrada. Sofri penas como nenhum, nessas ruas do silêncio que é a perda de alguém, que amamos. Todos os dias quando pelas ruas caminhava, olhava as gentes, nos olhos, na esperança de que eles se traíssem e me dissessem onde ela parava.
O que fazem duas metades perdidas vivendo de forma incerta?
Não ter a cara metade, é ter a vida a meio, sem equilíbrio, é como se uma parte de nós não existisse, estivesse já morta,
Digo mais, valeu a pena, quando hoje ao acordar, de repente, senti que a tinha encontrado, fiquei feliz como um passarinho, que se liberta da gaiola. Primeiro hesitante com a novidade, com as asas meio presas, e depois voando com todas as certezas.
Ainda estou sentado, de olhar parado, a congeminar como foi possível, perder este tempo todo, sem a oportunidade de voltar a ser o que era, encontrar-me com a vida como se fosse a Primavera.
É de todo impagável, tem um nome delicioso que dá gosto pronunciar, e na arte muito para dar que falar, Simetria, de seu nome, tem a alma que eu gosto de sentir ao olhar a natureza, e nesta todos os dias a encontrar.
dc
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