Passeio-me pelo areal, fujo
de mim, atordoando-me com o som do mar que se agita e se engrandece, perante os
meus olhos que o vão observando, temeroso da sua força que tudo derruba e do
seu fascínio, que nos coloca na vontade de nele entrar, derrubando ondas,
correndo o risco de nele ser retido. Fico-me pela tentação e bordejo o derramar
das ondas no areal, apagando as pegadas que vou deixando, anulando o rastro da
minha passagem, ausentando-me, como se desenhos a giz num quadro preto.
Vou colocando um pé a seguir ao outro, sem pensar que o faço. Eu estou caminhando
no silêncio interior. Não determino, nem distância, nem tempo para ali estar, somente
esmagando a areia com os pés, como acupuntura, para recuperação do corpo e da
mente.
Nem todos procuramos o mesmo. Essa é a riqueza da vida. Aqueles que eu observo,
quando passo, homem e mulher, não estão na mesma onda. Chegaram ao areal,
vestidos de traje completo, foram para perto do finalizar da onda molhar os pés,
sorrindo e olhando-se, como se procurassem baptismo para o seu nascer de
amantes, o mar premiou-os com o seu brilho.
dc