Os minutos corriam lentamente
no relógio electrónico da estação. Quando se espera, o tempo parece
eternizar-se, os minutos parecem horas. Tinha sido avisado da tua hora de
chegada. Temias que, por qualquer razão, fosse impedido de te ir buscar. A cidade
não te era de todo estranha, mas tinham passado muitos anos desde que saíras
para viver no sul. Nunca falhei. Ia mais cedo por prevenção contra o
inesperado. No entanto, em algumas das tuas chegadas, intencionalmente, procurava
esconder-me, por uns segundos, atrás de um qualquer pilar, para não me veres da
janela da carruagem. Fazia-o numa espécie de prazer, gostava de ver o brilho do
teu olhar marcado pela ansiedade e a surpresa. Quantas vezes, na tua chegada, muito
a custo me controlava para não te abraçar e rodopiar contigo nos meus braços. Percorríamos
a distância até ao carro num ápice, e aí, trocarmos um beijo prolongado,
carregado de saudade, antes de decidirmos o que fazer a seguir..
A história repetia-se, em todas as tuas vindas, mas nunca foi rotina, ampliávamos
esse tal querer, essa vontade de estar, e viver as horas, esgotando a saudade. Depois, na partida, gerava-se uma espécie de mutismo, entre o querer partir, porque
necessário e o meu querer que ficasses.
Hoje, que já não vens, a tua
ausência é dolorosa. Como alguém disse, hoje vou à “estação ver os comboios”,
porque não chegarás, trazendo a alegria, a intensidade da permanência. Somente permanece o silêncio da última partida.
dc