.... quem era ela,
nem ela sabia que ele a queria a ela, nem mesmo ele sabia muito bem, porquê
ela. Ele queria dela, as mãos no seu rosto, os seus olhos dentro dos seus, as
carícias das mãos dela, os beijos dela, todos seus. Ela existia em alguém à sua
espera, como ele à espera dela, para se encontrarem nas circunstâncias de cada
um, nas exigências em comum, no dois em um, ultrapassando obstáculos, quebrando
arestas, passando nas mais estreitas frestas, neste nosso mundo diverso. Todos
os dias ele procurava, o seu amor quase perfeito, adentrando olhos nos olhos,
absorvendo o perfume do ar, observando o vestir e o jeito de andar no cruzar
das ruas, no limiar dos passeios, entre o ruído da multidão, entre as sombras
na escuridão. Acontecia que na rua, ao nela circular, por vezes, era tal a
intensidade do seu pensar, que se surpreendia de não a encontrar e a poder
abraçar. Nunca foram cachorros perdidos nas ruas, correndo a mitigar o cio, nem
necessitados de edital colado ou agrafado em sítios variados, sabia que mais
dia menos dia iria tropeçar, naquilo que os aproximaria. Sem recorrer aos
mecanismos da modernidade, acreditou sempre que aquele sentimento tão profundo,
dentro de si, teria de sair para o acontecer, sem procura ou anúncio a colocar.
Talvez um sorriso, um acontecimento banal, fosse a porta para tudo se iniciar,
e depois, muito mais a conversar, tocar e aprofundar, num melhor interpretar
onde cada um queria chegar.
dc
“Para trazeres seja
o que for para a tua vida, imagina que já lá está”
Richard Bach – Pontes Para Eternidade