sexta-feira, 28 de junho de 2013

HOJE MEDI O TEMPO





No topo da estrutura, engrenagens de neurónios, suporte de filosofia, de palavras em leituras, de discussões em politica, dum olhar sobre a arte, do amor, Lá, no topo de tudo, onde tudo se transforma em tudo, ou nada, É lá, bem em cima, que se alimentam as dúvidas, ou sustentam certezas, É lá que a imaginação se alimenta, se enriquece para não se fenecer ignorante.

Sinto-o cada dia que passa, Sinto-o na pele, nos ossos na carne, dentro de mim. Desde que nasci me acompanham, acrescentando todos os dias mais um dia, a todos aqueles que vivo. Começaram somente sendo simplesmente dias que passam, agora são dias que matam, carregados de pontos cinzentos, com o decorrer do tempo se vão tornando mais escuros. Como se da cor falasse, no evoluir da idade vão-se verificando mudanças na nossa capacidade de discernir e as opções de cor se alteram.

Durante muito tempo me escondi da passagem do tempo, disfarcei a duração do meu tempo, contrariando a natureza, ajustando os diferentes parafusos da estrutura, mudando as formas de energia, enriquecendo a utilização dos órgãos e todos os adjacentes necessários ao “bom funcionamento” e visitando o “mecânico”, sempre que a engrenagem paralisava. Não se pode enganar a vida, ela vai avançando e tira-nos o espaço de errar, para podermos evoluir.

Não sinto mudança na cor, sinto mudanças no viver, as coisas vão perdendo entusiasmo, vamos cometendo erros e não corremos atrás para corrigir, disparamos para um qualquer lado perdendo o norte.

Conversa perdida num dia como de hoje, deveria sorrir cantar e celebrar.. felizmente a televisão deu-me uma prenda para finalizar a noite, A Casa da Lagoa deliciei-me talvez pela trigésima (?) vez, aqui sim perdi definitivamente o norte.

Porto 27/JUN72013

quinta-feira, 27 de junho de 2013

NOTA DE UM ANÓNIMO



Hoje que é um dia especial para mim encontrei esta nota... e fico-me por aí.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

SapatOs VERmelhos


Sapatos vermelhos, vermelho da paixão, vermelho sangue, vermelho vida. Eu gosto do vermelho, é uma cor que aquece, nos atira para frente, Gosto do vermelho de prazer, de gozo, como realce da beleza feminina, Só não gosto do vermelho raiva, desprezo.

Entristece-me os sapatos vermelhos perdidos nos carris da linha onde o comboio fechou o seu destino. Dói, mas o quanto dói, não saber se foram abandonados para seguir viagem, ou se sobraram do corpo, que se deixou ficar e foi levado pelos rodados. Sente-se, na forma como eles estão despojados, que eram de alguém que se perdera e que temerosamente os usara.

Adivinha-se o silêncio, que ficou quando o comboio se aproximou e de repente... nem vestígios, só o perfume da sua presença. Terá partido, e deixou os sapatos de Cinderela? E por quê, se naquele deserto não surgiria um príncipe encantado?..Não há pistas, de que ali algo aconteceu, somente os sapatos vermelhos deixados sobre a linha, Ficaram ali como um aviso de viagem, ou elemento de memória? Uma coisa é certa o vermelho ficava-lhe tão bem.

dc

segunda-feira, 24 de junho de 2013

NA FOLIA DA FESTA... O SILÊNCIO



Ler-me-ás? Talvez sim, talvez não, mas não é grave o importante é que as palavras sejam escritas e fiquem como memória, Também nunca pensara que as lágrimas corressem por dentro, e agora descobriu-o, sentindo-se inundada num mar de tristeza, que afinal não está nos olhos, mesmo que digam que eles são o espelho da alma.
Ele não sabe, mas hoje há gente correndo, preparando tudo para que a noite se faça na folia da festa, festa popular, onde todo o mundo ri, dança, ou salta fogueira, No entanto eu perco-me no silêncio procurando longe, nas origens, a sua residência, Quando na rua, procuro regressar, quando em casa procuro sair, movo-me na contradição, ela mantém astuciosamente o viver sem causa.

Ainda trago pendurado nos meus lábios o seu nome, no meu corpo a sensibilidade das suas mãos, nos meus cabelos a leveza do seu toque, Os seus olhos ainda me aquecem a pele, Sinto-o em cada contorno de mim, como se caminhasse com seus dedos, desenhando o mapa que me dá substância. E fico-me, fico-me, fico-me como o doente em seu leito, sentindo-o e esperando a cura.

Fecho os olhos, e vou contando para dentro números e cores, como se meditasse, deixando-me partir na melodia que vai tocando, e a voz soando...”relaxe os ombros... relaxe a mente... deixe que os pensamentos se desfaçam no vento, que a respiração se atenue e parta para longe...” e fico agarrada a uma imagem que sei que é também sua. Se dessa abstracção... regressar, certamente saberei um pouco mais do que sabia antes, ou pelo menos mais liberta...


CC

domingo, 23 de junho de 2013

O AMOR visto pelas CRIANÇAS



«Quando a minha avó ficou com artrite, não se podia dobrar para pintar as unhas dos dedos dos pés. Portanto o meu avô faz sempre isso por ela, mesmo quando apanhou, também, artrite nas mãos. Isso é o amor.» Rebeca, 8 anos


«Quando alguém te ama, a maneira como pronuncia o teu nome é diferente. Tu sentes que o teu nome está seguro na boca dessa pessoa.» Billy, 4 anos


«O amor é quando uma rapariga põe perfume e um rapaz põe colónia da barba e vão sair e se cheiram um ao outro.» Karl, 5 anos


«O amor é quando vais comer fora e dás grande parte das tuas batatas fritas a alguém, sem a obrigares a darem-te das dele.» Chrissy, 6 anos


«O amor é o que te faz sorrir quando estás cansado.» Terri, 4 anos

«O amor é quando a minha mamã faz café ao meu papá e bebe um golinho antes de lho dar, para ter a certeza de que o sabor está bom.» Danny, 7 anos


«O amor é estar sempre a dar beijinhos. E, depois, quando já estás cansado dos beijinhos, ainda queres estar ao pé daquela pessoa e falar com ela. O meu pai e a minha mãe são assim. Eles são um bocado nojentos quando se beijam.» Emily, 8 anos rsssssssssssssss


«O amor é quando dizes a um rapaz que gostas da camisa dele e, depois, ele usa-a todos os dias.» Noelle, 7 anos


«O amor é quando um velhinho e uma velhinha ainda são amigos, mesmo depois de se conhecerem muito bem.» (nem Sócrates, Descartes ou Freud diriam algo mais certo...) Tommy, 6 anos


«A minha mãe ama-me mais do que ninguém. Não vês mais ninguém a dar-me beijinhos para dormir.» Clare, 6 anos


«Amor é quando a mamã dá ao papá o melhor pedaço da galinha.» Elaine, 5 anos


«Amor é quando a mamã vê o papá bem cheiroso e arranjadinho e diz que ele ainda é mais bonito do que o Robert Redford.» Chris, 7 anos

«Amor é quando o teu cãozinho te lambe a cara toda, apesar de o teres deixado sozinho todo o dia.» Mary Ann, 4 anos tão querida


«Quando amas alguém, as tuas pestanas andam para cima e para baixo e saem estrelinhas de ti.» (quanta arte!) Karen, 7 anos


«Nunca devemos dizer 'Amo-te', a menos que seja mesmo verdade. Mas se é mesmo verdade, devemos dizer muitas vezes. As pessoas esquecem-se.» Jessica, 8 anos


E a última? O autor e conferencista Leo Buscaglia falou de um concurso em que ele teve de ser júri. O objectivo era encontrar a criança mais cuidadosa. A vencedora foi um rapazinho de quatro anos, cujo vizinho era um velhote que perdera recentemente a sua esposa. Depois de ter visto o senhor a chorar, o menino foi ao quintal do velhote, subiu para o seu colo e sentou-se.
Quando a mãe perguntou o que dissera ao vizinho, o rapazinho disse:  "Nada, só o ajudei a chorar".

quinta-feira, 20 de junho de 2013

"A ARTE É MISSÃO....



Quem não sente a necessidade de um abraço, de um beijo, de uma carícia? Só não precisa quem tem, ou quem nunca teve, porque não sabe o valor da sua ausência.
Através da arte que produzem, muitos artistas transmitem esse tipo de sentimentos de forma esteticamente bela, e como dizia Rodin
“Arte é contemplação – É o prazer da mente que penetra a Natureza e descobre o espírito que a anima. É a alegria da inteligência que vê o universo com clareza e o recria, dotando-o de consciência. A arte é a missão mais sublime do homem já que é o exercício do pensamento tentando compreender o mundo e torna-lo compreensível.”
Auguste Rodin, in A Arte, Conversas com Paul Gsell.



PEDIR DESCULPA


Esperar que as coisas se resolvam por si é possível, mas não é garantido que seja o melhor, ou que efectivamente se resolvam. Não raras vezes, se tomássemos a dianteira e déssemos o primeiro passo para resolução do problema talvez tudo se tornasse mais fácil e claro.


quarta-feira, 19 de junho de 2013

MENTE É COMO A ÁGUA




Eu penso, que ele pensa, que eu penso, no que ele pensa, sobre aquilo que pensei...

Assim é a pescadinha de rabo na boca, que nos atira para um emaranhado de pensamentos, que nos ocupam a cabeça afastando-nos do que existe à nossa volta, tirando-nos a paz de espírito.

Se atentarmos no que se passa à nossa volta, e observarmos tudo o que de bom existe, distanciámo-nos temporariamente do que nos preocupa, e ganhamos disponibilidade mental, para mais tarde com cabeça fresca, verificarmos que nada era tão negro, ou tão sem solução.

Escrever é um bom modo de limpar da mente. Se o fizermos sem a preocupação formal, e nos deixarmos ir, arrastados pelas palavras, fazemos do espaço de escrita, o depósito dos pensamentos, e a catarse das dores da alma. Essa maravilhosa descarga tem duas vantagens: primeiro, e no imediato a perda de tensão física e mental; segundo, mais tarde ao relermos o que escrevemos apagamos metade, rimo-nos um pouco e verificamos que afinal tudo era bem mais fácil.

DC

terça-feira, 18 de junho de 2013

mAr sempre o MAR



Hoje a água do mar estava tão azul
que se via nele a viajar do Porto até ao Sul.

Via os barcos no horizonte levando suas cargas
Via gente lançando ao mar as dores mais amargas.

Ouvia gaivotas piarem espiando o peixe no mar
E o mar meio revolto com vontade de falar

Esse mar que escondida no seu fundo
Tesouros e estórias desconhecidas do mundo

Estórias de marinheiros e barcos naufragados
E de amores para sempre desencontrados

De homens perdidos pelo canto das sereias
Que os deixavam exaustos nas areias.

Mar, sol, areia, gaivotas, estórias e tesouros
Neste pedaço de terra mar arrancado aos mouros.

dc


segunda-feira, 17 de junho de 2013

FOI EM MAIO...



...sol, mar, areal, capela, horizonte, calor... Miramar, tudo numa manhã de domingo, Enquanto o cheiro da maresia se instalava em nós, tirávamos fotografias, que iam fixando memória de um dos momentos mais serenos e agradáveis do fim de semana. Um disparo, um registo, novo disparo, um outro registo dum novo ângulo, um outro enquadramento, Um sorriso, um disparo, um novo enquadramento e um novo registo, fixando imagens, num “tu cá tu lá”, de procuras estéticas e motivos a fixar.
Em Miramar, numa manhã com cheiro de maresia de sol a brilhar, num areal extenso com uma capela pousada, isolada, em contraste com o céu, mar, areal, aconteceu fotografia, Com amor.

dc

domingo, 16 de junho de 2013

PINTARA TEU CORPO


Sim pintara teu corpo, com poemas escritos pela nossa paixão, Compostos letra à letra, palavra a palavra, na tinta indelével do amor, Eles seriam roupa do teu corpo, preliminares do nosso amor, A tua pele, tela plena de sensibilidade, com terminações de prazer, que se descobriam ao toque do pincel dos dedos, no urdir emaranhado das múltiplas letras e palavras do nosso desejo.
Noite após noite, após noite, escrevendo, de espírito livre sem pressa, deixando fluir, fazendo de cada letra um prelúdio, de cada palavra uma conquista, de cada verso um êxtase. Escritos, invertidos como um código, registados no diário do teu corpo, para que ao iniciar do dia lesses no espelho da alma. Serão sempre a marca de um tempo em que as borboletas no estômago falavam ausência, o tremer das pernas ansiedade, o beijo um morango maduro de sabor eterno.

VAZIO


adj. Que nada contém; que só contém ar: garrafa vazia.
Que não tem ocupantes; desocupado: apartamento vazio.
Fig. Falto, privado, carente, destituído: espírito vazio de idéias.
Pej. Vão, fútil, frívolo: rituais vazios.
Matemática Diz-se de um conjunto que não comporta nenhum elemento.
S.m. Física. Espaço que não contém nenhum corpo material, ou onde as partículas materiais são muito rarefeitas; vácuo.
Fig. Sentimento angustiante produzido por saudade, privação ou ausência: sua morte provocou um grande vazio.
Fig. Vaidade, insignificância: o vazio das coisas terrenas.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

UM SONHO SEM FUTURO


Não julgues o meu silêncio se me tiraste a voz
Se me fizeste regressar a mim próprio, a sós.


Espalhaste o teu sorriso, fazendo-me acreditar no céu,
E depois deixaste-me perdido sem encontrar o meu.

Na alma só ficou a neblina que obscurece o dia
Colada aquela dor fininha que nos rouba a alegria

Restei de pés assentes na terra, sem asas para voar
Por me haver perdido num sonho, impossível de realizar.

DC

HÁ MÃOS E MÃOS



Há outras mãos com outras estórias de que um dia escreverei, Hoje  são estas, as mãos que falam tão alto no seu silêncio e denunciam em cada pormenor a sua diferença, Mãos que deslizam uma sobre a outra, que formam um todo e no seu desenho, um corpo em dança de amor, Mãos da saudade, da timidez, mãos que se namoram em pequenos toques superficiais, São mãos de apaixonados em que a minúscula distância que as separa impede que o fogo da paixão os consuma, Mãos em sugestão do bailado, mãos em "pontas", que não são dedos dedos pés, e que vão fazendo agitar todo o suporte que as sustém.

Estas são mãos com memória e
reconhecimento digital, que permite a abertura do cofre da vida de cada um perante o outro. 

DC

(...) a vida ri-se das previsões





(…) a vida ri-se das previsões e põe palavras onde imaginámos silêncios, e súbitos regressos quando pensámos que não voltaríamos a encontrar-nos.

José Saramago - A viagem do Elefante

quinta-feira, 13 de junho de 2013

MÃO SOBRE A MÃO



A mão sobre a mão. Mãos, Nelas o palpitar das emoções, a ternura fluindo na polpa dos dedos, Mãos electrizando os sentidos, acasalando desejos e vontades, Mãos agarrando forte, ou suavemente, escrevendo sem palavras, sem ruído, mil promessas, Mãos cinco sentidos e cinco dedos, que falam segredos, que se confiam e afastam os medos. Mãos, extremidades de um corpo com via directa ao coração.

DC

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Da POETISA...Ana Paula Lavado


Como o amor


Vivo em mim, no espaço, no tempo e na vida.
Contrária ao ocaso, renasço os dias plantando
raízes sãs, para que floresçam todas as primaveras.
As flores iluminam a existência. Como o amor.

Em toda a parte te encontro. Nas rosas, nos jasmins, nos lírios,
nas papoilas,
nas gotas de orvalho que vagueiam pela manhã.

E quando as flores fenecerem, as raízes
subsistirão firmes no infinito. Como o amor!


ana paula lavado ©

segunda-feira, 10 de junho de 2013

NO MEU 10 SÓ quero o POETA


"Vê que aqueles que devem à pobreza
Amor divino, e ao povo, caridade,
Amam somente mandos e riqueza,
Simulando justiça e integridade.
Da feia tirania e de aspereza
Fazem direito e vã severidade.
Leis em favor do Rei se estabelecem;
As em favor do povo só perecem."

Luís Vaz de Camões (1524-1589)
No dia de Camões só quero lembrar o poeta, esquecer-me dos que na pátria tão mal tratam os seus. Hoje prefiro ler um poema, ou até um romance, que tenha palavras bonitas e nos traga novamente a capacidade de sonhar, mesmo que a realidade por vezes seja dura, Quero aquelas palavras tão mentirosas que nos falam de amores impossíveis, ou de paraísos improváveis.

Não quero, hoje em especial, servir o discurso politico, onde alguns farçolas, discursam falando povo, em voz de barítonos, onde escondem a miserabilidade dos seus desígnios.

Hoje preciso de sentir que sou humano e sentir um abraço dos que me gostam, dos que eu gosto. E sentir-me ronronando como o gato, no colo da esperança, de que os que dominam o mundo, não serão sempre os mesmos filhos de puta, que nos envolvem com a graciosidade de um embrulho de arame farpado.

Sim hoje. dez mais seis, e igual a dezasseis, noves fora sete, mais dois nove, noves fora nada, um mais três igual a quatro, noves fora quatro. Quatro é um número possível, de abraços de encontros a viver.

Estou no lugar de sempre, na esquina do tempo mesmo sabendo que...

A VIDA É CANALHA


Perdemo-nos no significado das palavras e desejos, não atendendo aos sinais e só damos conta do logro, quando é tarde de mais. Deixamos passar as informações dadas pelo corpo e seus gestos, Fechamos os olhos às frases ditas fora de tempo e imprecisas, às justificações esfarrapadas que trazem coladas a si, Não ouvimos a entoação, a adequação ao momento, não ligamos às ausências, aos silêncios que escondem outras verdades e pensamentos.

Adentrando a noite, no tempo da espera, acumulam-se juízos, fazem-se censuras, especula-se sobre o que devia ter sido feito e não se fez, e o que foi feito e não se devia fazer, Nota-se que a voz se proclamou no silêncio, Que a mensagem não passou de forma eficiente, ou não fora ouvida, no tempo nem hora certas. Um deve e haver que não se dimensiona, mas existe e é argumento na dor da partida, quando submetido ao escrutínio das emoções.

É mais fácil controlar as vontades e os desejos no sonho em que nos revemos, do que a verdade que não se controla.

DC
"A vida é canalha, às vezes, lhe dá a ilusão de um sonho e você se preocupa com a realidade."
Silvana Stremiz

domingo, 9 de junho de 2013

SONHO, esse LUGAR ÚNICO de realização.




Nunca se alheou do que via, percorria sempre atento o sinuoso desenho que a evidenciava, Nunca se perdia em fantasmas que desconhecia, agarrava a realidade, que de quando em quando, até ele chegava. Atentava, por natureza própria, mais na forma, Mais no aroma e no sabor a frutos maduros, do que no perfume da rosa.

Vivia o presente com a intensidade de quem vai partir, sem saber quanto o tempo, ou quanto a distância, o deixaria sem esses passeios ao longo das linhas onduladas onde seus dedos a procuravam, Ficava preso no sabor da sua boca, que beijava no espaço entre as palavras, curtas e expressivas, ditas na intimidade de sentidos.

Tentava tudo reter na memória, para não flutuar no vazio da sua ausência, Ausência esse mar inóspito que nos deixa a vogar ao sabor da saudade.

Não havia prisão, nem espaço de engano, somente acontecia, como num sonho, Sonho, esse lugar único de realização.

Uma noite, a realidade matara o sonho, e este apareceu atrás das grades.

DC
 


sábado, 8 de junho de 2013

AGONIA DA ALMA


NÃO SOMOS APENAS


Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível.

Mahatma Gandhi


Vi, li com atenção, nada mais apropriado aquilo que em muitos de nós subsiste.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

DISTÂNCIA NÃO É RAZÃO

Pensa! O pensamento tem poder.
Mas não adianta só pensar.
Você também tem que dizer!
Diz! Porque as palavras têm poder
Mas não adianta só dizer.
Você também tem que fazer!
Faz!
Porque você só vai saber
se o final vai ser feliz
depois de tudo acontecer.

Gabriel "O Pensador"


QUASE AMOR À PRIMEIRA VISTA




Íamos os dois caminhando no jardim arborizado quando aconteceu. Ela saiu-nos ao caminho, deixando-nos espantados. Ele ainda pequenito, não acreditando no que via, olhando para mim com o seu ar meio admirado. Eu adulto sorria-me vendo as diferentes reacções, O que nós víamos à nossa frente, era bela figura, com uma espécie de juba preta, ondulando as ancas com ar atrevido, olhar vivo, e rabo espetado, Parecia ter-se atravessado ao caminho, como a convidar-nos a segui-la. Ela parecia adivinhar que havia ali “alguém” precisando de companhia. Rimo-nos, eu não estava virado para ali, por isso procurei dirigir-me, noutro sentido, conversando com ele animadamente, e mostrando-lhes os vários recantos do jardim, onde proliferavam várias espécies de flores e árvores, que sobressaiam do verde, dos relvados com o sol que se lhes projectava, Mal nos precatamos, e aí tínhamos novamente a fulana à nossa frente, como se nos quisesse convidar, Não parecia ter vergonha e insinuava-se, na seu elegância e com o seu olhar felino. O miúdo, olhava para mim com ar maroto e parecia começar a simpatizar com a ideia de nos meter-mos com ela e convidá-la a vir connosco. Fomos caminhando olhando de relance e verificamos que ela parava, ao mesmo tempo do que nós, como se estivesse cheirando as flores, tal qual um detective disfarçando.


A certa altura, distraímo-nos e reparamos que ela entrou para determinado espaço do jardim, frondoso e pleno de arbustos, como se de repente deixasse de estar interessada em nós. Ele olhou-me com ar maroto e devagar pé ante pé dirigimo-nos por onde ela tinha ido, Se tivéssemos combinado, não seriamos tão prontos a reagir, Eu na frente para não haver nenhuma surpresa complicada e ele ligeiramente atrás, com a mão agarrado ás minhas calças. Ao entrar na clareira, a seguir aos arbustos de onde ela tinha entrado, vimo-la lá estava ela.

Para nosso espanto, agora olhava-nos com um ar desafiador e quase irónico, abanando a cabeça, Olhei o miúdo que estava espantado com o olhar fixo.

A nossa querida amiga, tinha entre os dentes não as contas de um colar, ou uma flor, E embora soubéssemos ser natural na espécie  animal, tal facto, já não tivemos vontade de a trazer connosco, a visão do pássaro na sua boca tirou-nos o prazer de toda a experiência vivida e de comungar o mesmo espaço.

É gato, está na sua natureza.

domingo, 2 de junho de 2013

DIZ ELE porque SABE


de Mia Couto

PARA TI

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que falhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só olhar
amando de uma só vida

PERTURBAÇÃO



Sente-se abafado, encurralado, entra e sai, sempre no mesmo espaço de trinta metros quadrados rodeado de livros e memórias. Passeia à volta da mesa oval, procurando não tocar nas cadeiras, e vai olhando as paredes, com os quadros, fotografias, sofás e estantes cheias de livros. Não caminha pelo exercício, caminha pensando, tentando encontrar respostas, ao inexplicável, como se e procurasse o sítio de entrada do ar numa bola de plástico.

Já fora para junto do mar, como sempre, e ele no seu infinito marulhar, não lhe acalentara os pensamentos nem lhe dera soluções, ele também não sabia,   se por orgulho, ou por outras razões, a verdade é que tirando a sua ondulação, não lhe dava qualquer caminho, tudo se passava como nos filmes, nem todos acabam bem. Em alguns, o realizador tenta contrariar o final feliz que o espectador espera acontecer, para que tome consciência de que a realidade não tem muitos finais felizes, por vezes saímos pela porta traseira da vida.

...procurara um café, onde estar, e poder ler um dos seus muitos livros. Normalmente trazia dois ou três consigo, na sua sacola, para escolher o mais adequado ao momento, e ao local onde se sentava. Nem todas as horas ou locais serviam, esta mania poderia ser uma tontice, ou não, mas na verdade o espaço escolhido tinha de ter um conforto especial para que a leitura se realizasse. Nestes dias, isso não acontecia. Tudo o enfastiava, pouco depois de entrar e tomar o café, procurava sair rapidamente e voltar para o local de partida, a casa. Aí novamente apertado entre as paredes de onde fugira, procurava reiniciar a leitura suspensa e perdia-se no nevoeiro das incertezas, adormecendo por minutos regressando tudo ao princípio...

..ontem as paredes conversaram com ele e riam-se, ondulando de gozo a cada gargalhada, aproximando-se perigosamente de si como se quisessem apertá-lo com braços de betão, Os livros nas estantes sussurravam entre si chacotas, e as palavras que ele não lera, num bailado confuso, formavam-se e desfaziam-se no ar, Os quadros coloridos e as fotografias faziam cenários dantescos, deixavam as tintas escorrerem pingando pelas paredes abaixo, criando lágrimas de tinta. Entretanto rostos estranhos , juntavam-se à festa e se espalhavam no ar com roupas vestidas deixadas ao acaso.

Lembrou-se, ligou a aparelhagem colocou um CD com música sentou-se no sofá, e deixou-se ir, Não adormeceu, entrou numa sensação letárgica entre nada e tudo, voando entre nuvens e sonhos estranhos, que o fizeram recuar no tempo, As flores enchiam os campos e o rio corria docemente entre o arvoredo, Era domingo, e as pessoas se dirigiam à igreja de fatiota, Deu por si de repente sentado, numa mesa comendo regueifa com muita manteiga e a chávena de café com leite à sua frente... mudou o lugar e mudou o sonho, Um gato matizado de cinza e branco, se sentava no regaço de uma pessoa de quem não via o rosto, encostava o focinho ao nariz dela, ele observava como fotografia com grande ampliação e desfocada. Tudo flutuava, Novamente o cenário mudou e outro se iniciou, Agora um ecrã dum portátil com um texto escrito, que tentava ler e que não conseguia encontrar o sentido nas palavras, mas que o angustiavam cada vez mais, sem saber a razão, agitando-o, Sentiu-se voar descendo num buraco negro que não mais tinha fim, O triim trrrim do telefone tirou-o do torpor em que se encontrava e trouxe-o de volta, Não chegou a tempo de atender, quem seria, aquela hora? Voltou para o sofá, sentou-se, e esperou que tudo o acontecera nos últimos dias não passasse de um sonho mau, que o telefone felizmente interrompera.

Afinal, pensava, também há finais felizes.

sábado, 1 de junho de 2013

AO MEU AMIGO 8888





....naquele tempo. ele escrevia sem pensar que se tornaria vítima de um engano tenebroso que o tornaria incapaz de reagir. Nunca lhe passara pela cabeça que as coisas poderiam ser graves e tudo se alteraria. Vivia aquele presente, que eu acompanhei, com toda a energia e esperança de que o projecto que esboçava se realizaria. O amor tem destas coisas. A vida pregou-lhe uma partida, e hoje resta inerte sem solução, nem presente vivido, nem futuro a realizar... há sempre coisas que são exteriores a nós que não dominamos, nem estamos devidamente preparados para que aconteçam.
Uma forte abraço amigo, e espero que regresses às origens, retemperado e disposto a voltar a fazer o que bem sabes.

....

Paris, 23 Janeiro 2013


Escrevo-te em celebração

Deste-me nas palavras escritas, um sonho, que prometemos acreditar.
Deste-me o balanço para construir algo de novo, suprindo dificuldades e acreditando num novo projecto.

Entendeu-se a distância com um fim a acontecer, e nunca um meio de matar ou morrer.

Fizeste-me acreditar que não há situações irreversíveis, que se pode construir algo novo e duradouro, mesmo que adversidade nos fatigue, mesmo que seja difícil a solução, mesmo sendo esta dolorosa, mas muito mais realizável do que uma ferida sempre aberta.

Beijamo-nos de renascimento, cruzamo-nos em novas promessas fizemos caminhos melhoramos ideias. Quero acreditar que no futuro somos mais do que um jogo de disputa de poder, ou de quem tem razão ou deixa de ter. Não se trata de razões mas de sentir, mais do que dizer, fazer mais do que temer, e acima de tudo acreditar que ambos querem acima de tudo estar e como um par viver.

As palavras de amor nem sempre surgem, no entanto elas estão no calor com te espero, no prazer de te estar sempre a descobrir.

Quero concentrar-me em realizar, sem medos para que tudo dê certo, não deixando que os muros nos limitem.

Quero-te vida, na pele, na palavra, no beijo no abraço das noites e dias em que cansados de tantos nos termos, restamos parados no tempo eterno do encontro.

Quero-te com a certeza de que os egos de dois não são maiores que a soma das partes.

Quero-te porque acredito que tenhas as peças certas, no puzzle certo, para o desenho certo.

Eu disse um dia, que eras a “minha flor”. Hoje eu quero-te flor desabrochando em pétalas coloridas pela alegria de cada dia que passa, confiando sem desfalecimento mesmo quando a dor arrasa, porque acreditas que eu posso ser a terra e o adubo da tua existência, e, que eu serei a saudável certeza de que assim acontecerá.

Beijos

Teu