Encolhido, como uma pequena
bola de penugem, os seus olhos diminutos pareciam interrogar a minha presença
com a máquina em riste. Desconhecia ele, a sedução que exercera sobre mim,
desde que sobre o muro pousara aquietado, indiferente, aos que como eu, sentados
na esplanada, aproveitavam o sol de inverno para superar o frio. Possivelmente,
ele procurava o mesmo calor com que o sol presenteava o muro, talvez fosse
cansaço, ou a penugem fosse insuficiente para o proteger. Apetecia-me agarrá-lo
com as mãos, trazendo-o para perto do peito, no interior do meu sobretudo, como
se de uma criança se tratasse e quisesse proteger. Pensamento, somente isso,
nunca me permitiria tirar-lhe a liberdade de voar e escolher onde se acolher. A
natureza emociona-nos e faz-nos apreciar, como estes pequenos nadas, obtêm uma
dimensão maior, afagando-nos o coração.
dc