As palavras fugiram de mim,
lê-las na escrita dos outros é um incentivo, mas não resolve nem me traz a
solução, para as razões dessa sua ausência, nem da minha incapacidade, para as
apanhar e utilizar. Chamam-lhe “uma branca”, é possível que seja, ou talvez eu
já não me entenda na forma de as utilizar, nem me faço entender perante os
outros. Até pode ser burrice instalada no software da minha existência.
Talvez as palavras sintam o
desperdício, de serem usadas por mim, repetindo-me na rotina dos
desentendimentos que tenho em mim próprio quando as público. É possível que
algumas vezes eu as tenha aplicado em textos intragáveis e elas se tenham
sentido mal tratadas na sua leitura e interpretação. Na dura realidade, eu é que
deixei de sentir a sua melodia, o gozo em as escarrapachar nos textos, contando
estórias, abordando realidades, dando-lhes o ritmo, sonoridade e um sentido
correspondente ao padrão de conhecimento de quem lê. Às vezes as palavras
surgem-me em frases, que rapidamente anoto em guardanapos de papel, mas mais
tarde surgem amarrotadas, tornando-se ininteligíveis estragando a sua leitura e
entendimento. Muitas vezes, troco as letras, e olho para elas como se bem
escritas. Já pensei se o Alzheimer atacou as minhas palavras e amassou a minha
criatividade, restando no ar a repetição cabisbaixa do abanar da cabeça.
Neste texto, percebe-se do que falo, o terror de sentir que escrever neste momento é como se estivesse a arrancar um dente. Enfrento o espaço em branco escrevendo nele, palavras desgarradas, como se estivesse furiosamente a mastigar a uma pastilha elástica, na esperança de que se transforme em alimento comestível aos olhos de quem lê. Não sei qual o remédio para esta doença, que espero não se torne crónica. Para já, fico mascando o tempo, olhando sem ver, esperando que alguma ordem emocional traga o registo certo de elas voltarem ao meu convívio.
Neste texto, percebe-se do que falo, o terror de sentir que escrever neste momento é como se estivesse a arrancar um dente. Enfrento o espaço em branco escrevendo nele, palavras desgarradas, como se estivesse furiosamente a mastigar a uma pastilha elástica, na esperança de que se transforme em alimento comestível aos olhos de quem lê. Não sei qual o remédio para esta doença, que espero não se torne crónica. Para já, fico mascando o tempo, olhando sem ver, esperando que alguma ordem emocional traga o registo certo de elas voltarem ao meu convívio.
dc