sexta-feira, 16 de março de 2012

NÃO TENHO FRASES NEM POEMAS

Quase perdido fiquei / Quando pela primeira vez te vi
Tal a forma como vibrei
/ Ao sentir-me tão perto de ti

Dei-te ternura e abraço / E o calor do meu desejo 
Dei-te o meu coração
/ No sabor do primeiro beijo

No meu regaço / As lágrimas te caíram
Na garganta como um laço
/ A dor dos que te traíram

Foste campo do meu fruto / Foste pele do meu beijo
Foste um amor em bruto
/ A despertar meu desejo

Sonhei coisas impossíveis / Tive esperanças ocas
Em coisas imprevisíveis /
Saindo das nossas bocas

Quase perdido fiquei / Quando primeiro te vi
Tal forma com que vibrei
/ Na imagem que fiquei de ti

Ao encher a minha alma / Sustentava eu o que via 
E tu na tua calma
/ Abafavas a minha alegria

Tanto tempo lutei / Pelo que julgava nosso
Que na verdade gerei
/ A palavra não posso

Enchendo a boca que amava / A pele que cheirava
Aquela alma me amordaçava
  / A minha tristeza aumentava

Hoje na serenidade / Que se tem da partida
Encontrei a minha verdade
/ Na crueza da própria vida

Tudo tem o seu tempo / E a esperança nunca está perdida
De que a qualquer momento 
/ O amor me será guarida

Para ti que foste pele e cheiro / Para ti que pousaste em meu regaço A quem dei por inteiro / No meu coração um espaço.

Não tenho frases nem poemas / Que consigam explicar
Com palavras serenas
/ A razão de tanto amar

quinta-feira, 15 de março de 2012

Sinopse de um Poema Erótico


Apetecia-me escrever um poema
daqueles que falam de orgasmos
de loucura e erecção,
de gemidos e fantasias
de corpos suados e de tesão!

Ai... que eu devo estar louca
senão louca, a delirar.
O que diriam de mim
o que me iriam chamar!

Bolas este mundo é uma farsa.
Haverá alguém que o não saiba
o que não sentiu ou experimentou?
E se o não disse foi vergonha,
mas se não disse pensou!

Tanto pudor nessas cabeças
sempre com zelo de parecer mal.
E escondem que o prazer do prazer
mais não é que um acto natural!

Então que se escreva com arte
com minúcia e perfeição,
e que as letras gemam de prazer
que as palavras se orgasmem ao dizer
que o amor também se faz com tesão!

do livro: Um beijo sem nome -Ana Paula Lavado

quarta-feira, 14 de março de 2012

APROVEITAR O TEMPO


Ter por hábito trazer sempre consigo, três coisas essenciais: um ou dois livros, papel para rascunhar, desenhos ou textos, e esferográficas de várias cores e uma lapiseira, pode ser uma forma útil e inteligente de aproveitar o tempo, nas mais diversas situações.


Se está à espera de algo ou alguém, pode ler, pode escrever, pode desenhar. Trazer dois livros, é bom para poder escolher o mais adequado ao momento. Quando sai com a intenção de ler, ao chegar ao local decide qual deles quer ler, por vezes, até pode ler umas páginas de cada um. Pode sublinhar o que lhe interessa, e tomar notas de frases, ou ideias. Se está no restaurante à espera, pode desenhar, ou escrever. Tem momentos, que até a conversar, vai fazendo grafismos no papel para se concentrar, ou para explicar. Os seus amigos riem-se, no entanto, quando estiver com eles, sabendo deste seu hábito, ser-lhes-á útil, para lhes ceder papel ou esferográfica, para algo que pretendam fazer.


Na maioria dos casos, quando esperamos ficamos impacientes, daí termos fumadores, a fumarem de mais, os que roem as unhas a ficarem com os dedos em carne viva, os que tiram catotas do nariz, e outros que se coçam como se tivessem sarna. Sem esquecer, que, quando esperamos por alguém mais do que devemos, entramos em derrapagem, dizendo todo um chorrilho de disparates, especialmente se sentimos que podíamos ter aproveitado melhor o tempo.

Sentir o barulho do papel a ser riscado, quando escrevemos, ou desenhamos, é um momento único. O prazer de escrever, de ver a forma irregular das letras, a sua beleza, a expressão que elas têm, dizem da nossa pressa, lentidão, do nosso estado de espírito. A forma como escrevemos é como um bilhete de identidade, pelo conteúdo, e pelo o modo como caligrafamos. Do mesmo modo os desenhos com as suas linhas limitando espaços, as formas que vão aparecendo, as texturas sugerindo volumes e cor, são também modo de expressão de quem os executa. É um momento de performance, cuja execução dá tanto ou mais prazer, de que o resultado final. Ambos os processos são modos de criar e desenvolver diferentes sensibilidades e criatividade.

A leitura trás agrafada a si, o conteúdo e a sua criatividade, o prazer de sublinhar, o contacto com papel, o seu cheiro e o da tinta, o volume do livro; as letras escolhidas, com os seus variados tamanhos e diferentes morfologias, os grafismos, as ilustrações, as fotografias, tudo elementos que colocam os sentidos em actividade, e desenvolvem a nossa capacidade de invenção, de imaginação, conexão, sensibilizando-nos para preenchimento do cenário e ideias do autor. Tudo isto sem esquecer o prazer que sentimos, quando passamos os dedos pelas lombadas, ao procurarmos um livro na estante.


A riqueza de conhecimento e consciencialização adquiridos, nestes dois processos mágicos, é seguramente mais interessante e lúdico do que enviar sms com textos, muitas vezes, mal escritos, e recheados de códigos abstractos. Assim como a leitura num computador, em especial de textos longos, é cansativa e pouco prazenteira. A noção de textura num programa de desenho é fácil de conseguir, mas a sua descoberta, através do contacto, e a procura de o expressar no desenho manual, é que nos diz da sensibilidade na sua escolha.


De certo, esta forma de preencher o tempo, será bem mais agradável.

Nada substitui o cheiro, o tacto, o paladar, o ver o ouvir, que a realidade nos transmite. Quanto mais nos prendemos ao virtual, mais transformamos o conhecimento dessa realidade, passando a ser muito mais abstracta e subjectiva, congelando a parte da nossa sensibilidade e pondo em risco a emoção inteligente do ser humano.

terça-feira, 13 de março de 2012

NUNCA ESCOLHERIA A NOITE..


Nunca escolhi a noite para escrever
Nunca escolhi a noite para viver
Nunca escolheria a noite para dizer
As palavras que devias saber
Nunca por nunca eu o deveria fazer
Porque na noite só gosto do silêncio
interrompido pela tua voz
A fazermos os dois, um nós

Na noite só os teus sussurros
Encostados no meu ouvido
Não deixando criar muros
Nem amor não correspondido

Talhamos frases sonhamos
Na noite nos deitamos
Sem zanga ou desconhecimento
E fazemos o amor que gostamos
Vivendo sem arrependimento

Sonhamos, e nos abraçamos
Sem medo de dizer
Por muito difícil que seja a vida
Não nos deixaremos perder

Nunca escolheria a noite para dizer
Se não visse o tempo a passar
Perdendo a oportunidade de ter
E em meus braços te aconchegar.

Parto para um sono profundo
Perdendo-me de amor contigo
No calor da tu pele o mundo
Levando teu cheiro comigo

segunda-feira, 12 de março de 2012

A FALTA


Quando a sua irmã morre, ele, psiquiatra de carreira, tenta reencontrar-se consigo próprio, na casa de família junto ao mar. Quando, a ex-mulher, lhe envia uma encomenda, contendo as coisas da irmã, depara-se com uma série de diários, que começa a ler, tentando de algum modo perceber, as razões da sua morte.
Dois pensamentos, duas linguagens diferentes, vão-se desenvolvendo em
paralelo no livro. A dele na  introspecção sobre a sua própria vida pessoal e como médico. e a dela, que até à sua morte, fora a de uma escritora bem sucedida.
A consciência da dor vivida na pele, daquela que partiu para sempre, e a confirmação da sua suspeita de que se suicidara, fazem-no tomar consciência, que se calhar não teria feito tudo para com a aquela que veio a descobrir, afinal ser sua meio irmã. Debruando a "estória" o divórcio dele e um novo amor que vai surgindo, fazem os condimentos do livro magnifico de Paula Izquierdo


Visto-me para matar. Arranjo-me conhecendo todos os truques que podem desmoronar o sentido a um homem; são frágeis, tão estupidamente primários. Todos menos ele disfarço-me para que me deseje e no entanto, ele não olha para mim. É um intruso nos meus dias; não deveria pensar nele, dedicar-lhe as minhas vontades. Nas minhas reuniões intermináveis às quais às vezes vou procuro ser radicalmente magistral, nos meus pensamentos, nas minhas reflexões, mas para ele continuo invisível. Depois, chego a casa caducada, como um jornal do dia anterior. Sem palavras para expressar a notícia de tanta humilhação.
  
(...) Sobretudo, o que me fode é ele não me escolher. Se ele me quisesse como eu o quero, não teria de me vingar, não teria de lhe ser infiel todos os dias.


(...) É certo de que entre as minhas fantasias existe essa ideia de reter o homem, de fazê-lo meu, absorvê-lo para que nunca mais fosse ninguém sem mim. Isto é o que eu desejava realmente fazer.

"Não sei o que se passa com as mulheres; querem sempre uma relação diferente da que têm. Quando conhecem alguém não dizem: Que bom gosto, como gosto da maneira que ele tem de andar, a parcimónia com que actua, como pensa ou faz os ovos mexidos, mas sim como desejaria que ele pintasse quadros abstractos, que gostasse mais da farra, ou que não tivesse tantos medos infantis, os desejos incumpridos de subir na carreira. (...) O que se passa com as mulheres de hoje em dia? Apaixonam-se perdidamente por alguém que não aceitam tal como é. Pedem sempre ao outro algo mais ou diferente, algo que não está dentro das possibilidades dele. Algo que não os liga um ao outro, que não tem que ver com o seu temperamento ou os seus gostos. Porque é que as mulheres querem mudar os homens? Porque é que não se apaixonam pelo que eles são, e não pelo ideal do que poderiam vir a ser? Tudo em que se empenham é mudá-los, fazê-los à imagem e semelhança do que elas querem que sejam ou acreditam que eram. Podem passar a vida a tentar transformar o homem com quem estão para que se pareça com esse outro ideal que foi sendo forjado na mente à conta de imaginá-lo.
"
(...)



Paula Izquierdo


A Falta, Ambar, 2006

O LONGE SE FAZ PERTO

Tens sido presença assídua, em momentos vários. mesmo longe, sempre perto, com as palavras divertidas, com o raspanete pronto, e com a meiguice, de um coração de manteiga. és sempre a voz bem vinda, a presença querida no quebrar dos silêncios, no afago do meu ego. és força, sempre que ela falta, és esperança iluminada no nevoeiro que se me instala.

Escondes o teu olhar nesse véu negro, dizendo o sol tapar, mas não é mais do que o refúgio de ti. escondes os teus sentimentos desse teu espelho da alma, para ninguém se aperceba da tua ternura, para que se não saiba o quanto sofres, para que ninguém saiba do teu gostar e do quanto tens para dar.

Longas conversas, em alguns casos, discursos, tem sido momentos únicos, neste nosso estar, de longos anos. Somos unha e carne na confissão dos dias, na revelação da vida e já fomos mais longe nos sonhos, de que vidas tem o mundo.

Seremos eternos companheiros, numa proposta de vida, que não foi escolhida. No entanto és a muralha do meu forte, em cada renascer, em cada nova dor que me abraça, és figura sempre presente, que me dás força para ir em frente.

Quantas vezes a nossa alegria se transforma em lagos de prazer, com frases e sabores que tanto gostamos de ter.

É bom saber que estás aí desse outro lado, mesmo te querendo mais perto.

És um pássaro, atravessando o oceano para matares a minha solidão, quebrar o meu deserto, me tirar da saudade, me trazeres à alma a liberdade.

sábado, 10 de março de 2012

FOLHA DE UM DIÁRIO.3

De repente tudo acontece de forma inesperada e tudo muda.

Lentamente, no improviso, como todas as coisas que nascem sem premeditação, foram-se conhecendo. Muitas foram as palavras que antes se disseram, revelando ideias, valores atitudes e cumplicidades. Foi um percurso não excessivamente longo, mas não tão curto que impedisse que a maturidade da comunicação fosse demasiado aérea, ou frágil pela fraqueza dos temas. Foram tempos de comunicação sem voz, até ao dia em que o olá surgiu na linha inesperadamente ao vivo, do outro lado do mundo, voz grave e perfumada pelo sotaque, da ilha distante. Foi o começo de um saber estar, partilhar e vitalizar de sentimento impar. Pessoalizaram-se conhecimentos trocaram-se nas voltas e revoltas, das imensas componentes com que a vida é recheada. E assim foi até que o culminar de um frente a frente super divertido, envolvido de misterioso e quase rocambolesco processo. Processo esse que exigiu um afinamento de agulhas para o que um conhecimento restrito à longo tempo, não fosse percepcionado pelos demais, que teriam de ter de permeio e independentemente da sua vontade. Sorrisos cúmplices, frases de circunstância, ditaram o caminho de um futuro sem fim à vista, mas que de certeza seria, foi, é ainda hoje uma parte das nossas vidas.

Muitas coisas se passaram desde então com maior confiança, abertura, confidência, união de quereres e vontades.

Depois, sim depois, uns cabelos desgrenhados, olhares atravessando espaço, trocando mensagens. Agora ali tão perto, mas na necessária distância que o decoro exigia, nos entremeios de um momento lúdico desportivo e com a vontade imensa de romper as etiquetas, do bom senso e partir para os confins sem travões.


Nunca, uma Ilha se tornara tão pequena, que a dimensão dos sentimentos dos corpos que a continham. Dias de frente a frente, de caminhadas e sorrisos, de calores e pouco siso foram momentos incríveis. E de tal forma o foram, que algum tempo depois numa passageira permanência foram atrevidamente realçados em lábios saudosamente saboreados entre murmúrios e o avistar de ruidosos pássaros de metal.

Daí nasceram, sentidos, reacções e corpos que se soltaram em orvalhos maduros marcando rastos na intimidade. Mesmo na distância a sonoridade de um voz mexia na realidade libertando continentes de emoção.

Difícil será mesmo no interregno que a necessidade obriga, esquecer quem em nós está e vive, como presença de plenos sentidos.

Inté, como quem diz, mais depressa que o que se pensa acontece o que não se espera.