Resto, imóvel, preso no horizonte, onde aguardo o surgir. Medito, não sei, é uma letargia estranha que me atravessa, é um daqueles momentos em que há posteriori, dizemos que foram segundos, onde milhares de pensamentos ocorrem.
Sinto-me parado no tempo, isolado do mundano. Sinto-me água, brisa, cheiro, a ganhar alento, neste encontrar-me bem por dentro, bem no fundo. É incrível este sentir, que me liga à natureza, e me faz sentir ínfimo, perante a sua grandeza. Os meus problemas existênciais, são variados, no entanto, não tão graves, comparados com os demais, do mundo que me rodeia. Ladeado pelo mar de um lado e as árvores do outro, escolho a leveza da alma lavada, deixo a mente navegar sem amarras, livre para avançar na descoberta desse desconhecido, que tantas vezes o medo condiciona. Sem caminho, sem percurso destinado, ou a estabelecer, sinto uma energia e vontade que me torna capaz de recomeçar num qualquer outro lugar.
As gaivotas rareiam, sobre o mar calmo, os pássaros no seu voar chilreiam, como ensaiado coro, tudo combinado em baixa sonoridade. Da brisa, as árvores estremecem, num arrepiar de prazer, o ar traz-me o cheiro da terra, que se mistura a intervalos com o da maresia. Tudo é sereno neste meu estar. Não sei se o mundo finou, ou se fui eu que me isolei o suficiente. Na verdade, viverei do sol enquanto ele existir. Reconhecerei o vazio sem medo de o viver. Aquilo a que chamam civilização, não é um lugar de agrado, é somente onde me despejaram sem me consultarem, onde me emparedaram, com leis e absurdos, de mentes perversas que pensaram por mim, sem saber de mim, como se a natureza já não fosse suficiente para me fazer crescer limpo de invejas, materialidades e muitas outras coisas desnecessárias. Por vezes, temos de deixar de ser, para renascermos com outro espírito, com mais capacidade e resistência para sermos nós.
dc