Sei que
risco e desarrisco, correndo o risco de nunca acertar, mas que hei de eu fazer,
se até tenho receio de começar. A página de papel, em branco, implica a escolha
do que escrever, as letras a desenhar, a criatividade do gesto, o cheiro do
papel e da tinta nas letras a escorregar. Por fim, palavras alinhadas,
pensamentos desalinhados, como possibilidade. As palavras dizem, expressam(?) o
que parece certo, e encontram-se alinhadas como se tudo convergisse, mas os
pensamentos se contradizem, e nesse caminho do certo ou errado, tudo é
desconcerto. Na verdade, penso que posso dizer-te o que penso, dizer-te, amo-te
de modo intenso, com as palavras certas. Pode não ser ideia acertada, que
perturbe o teu caminho, quando muito tens para andar. Eu, pelo contrário,
caminho decrescendo, vou-me afundando diminuindo o tempo, para aqui restar.
Nascemos distantes no tempo, em cidades equidistantes, no entanto, próximos no
entendimento, ou se calhar nem isso, porque amar é um sentimento sem
explicações datadas no tempo, é um lugar de dois, que é, ou será, bom enquanto
durar.
Então em que ficamos, como dar o primeiro passo além da escrita. Não me quero calar.
Não dizer, é ficar sem saber, se foi errado, ou não, se nem sequer começamos a
dizer o que cada um pensa. Volto ao princípio, risco e desarrisco, esmago folhas
de papel, escolho nova caneta, até penso usar um pincel, que em tempos usava
para desenhar letra, apreciando as cores à mão na paleta, do mesmo modo, assim
ia desdobrando, entre pensamento e objecto no decorrer da execução, fosse em
tela ou cartão, esperando que a resposta fosse dada pelo coração. Fico por
aqui, neste texto com este sarilho, que nem sei resolver, tanto o que me adentra
consome. Olho sem ver, leio sem ter letras, e penso sem parar no que tenho que
riscar e arriscar.
dc
