sexta-feira, 9 de maio de 2025

Ao primeiro acordar


A memória atraiçoa-me. Coisas boas ocorrem-me, encho o peito, a vontade de expressá-las em voz alta é enorme, no entanto, fogem-me as palavras, e pela boca, saem ruídos desconexos que ficam longe de expressar o que sinto, longe do que eu gostaria e deveriam ser.

O que dizer, do que sentia, ou explicar a doideira do que aconteceu, naquela conversa, que não era pensada interromper. Na aparência, as frases pareciam banais, o vocabulário, não fora escolhido, além do que seria normal(?), mas, suficiente libertador de pensamentos diversos, dúvidas sem resposta, descoberta de sentido das coisas, que agitavam as borboletas. Na verdade, tudo se foi desdobrando e ampliando, com as palavras, dizendo mais, nas entrelinhas, do que o sentido comum, colorindo sentimentos, vidas, sorrisos, mimetismo de sentires. Sem querer, foram colando as frases. No fim das falas de um, o começo das do outro, não havendo lugar a qualquer raciocínio consciente, que lhe tirasse a espontaneidade. A ânsia de dizer, antes que o sentir se perdesse, prevaleceu sobre o que foi escrito, sem julgar a justeza das palavras. O tempo decorreu, não havendo percepção da sua duração. Tanto foi dito, que o espanto, ficou adentrando, pela noite, até ao primeiro acordar, surgido do nada, que trouxe a insónia. O seu sorriso alimentava o sonho, e quase o via existir do outro lado. O primeiro pensamento do dia, trouxe-lhe à memória, o sorriso, e os óculos brilhantes onde se escondia o mundo, que tanto queria descobrir. E pensava: que seja bom enquanto dura, e que seja eterno.

dc

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