quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Na moite escura


Na noite escura, o silêncio se apresenta, alvoraça o meu dormir e traz-me o acordar. É o espanto, é o vazio dum não existir, é um olhar fora do corpo, é um respirar paralisado, um espaço de tempo de ausência, com o suor e o calor do corpo assenhorando-se dos lençóis. A energia está lá, sem escala convencional fazendo afluir o sangue aos pensamentos e ao registo da caixa preta das memórias, trazendo-o da zona de morte do sono interrompido. Só eu sei do silêncio. Não há rastro de actividade, nem ruído. Aguardo no escuro, sem me atrever a abrir os olhos. Evito saber se é um sonho de desconcerto, ou uma realidade que me absorve sem permissão. Forço-me a abrir os olhos, e resulta num pestanejar de milésimos, onde entrecorrem múltiplas estórias, logo esquecidas.
A beira da cama, é lugar de ficar em perturbado raciocínio. Esticar os braços para o alto, sem crença em Deus a que apelar, é tentar a estabilidade, fugir da depressão, da raiva dos dias. A cabeça não se eleva, carrega a vergonha dum humano. Cheira a morte, lá longe, de crianças, mulheres e homens, que de braços estendidos, mãos em desespero buscam o pão e arriscam uma bala assassina. As lágrimas afloram os olhos, o sono mal acontecido traz a mágoa, a impotência, a angústia de como superar este inferno, este caos premeditado, trazido à sociedade.

O palhaço, que desonra quem o faz profissão circense, com máscara sua arrogante, ameaça todo o mundo, com voz de falsete, trazendo um sorriso amarelo aos submissos temerosos de desagradar. Procura colocar na sombra, a ignomínia dos seus actos de outrora. Usa o velho tempero, dos antecessores, para esconder a realidade, trazida pelo ricaço enforcado. Cria outra sombra, em proposta de Riviera de Luxo, sobre cadáveres inocentes.
Tombo-me sobre os lençóis, em peso morto, no desconforto de nada fazer, nem mesmo elevar a voz, ou mostrar a vergonha covarde de assistir sem me mexer.

 

dc

 

 

 

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