A chuva batia, com força,
contra os vidros, trazida pelo vento, como se estivéssemos em pleno inverno.
Chuva, vento e frio, tempo ideal para aproveitar, para descansar.
Na cama permanece o
calor dos corpos, que durante noite deram espaço e desvelo, aos desejos e
instintos, ficando sadiamente reconfortados.
Na véspera, ela tinha
chegado de avião, após uma viagem de mais de dez horas.
Ele tinha ido ao aeroporto,
esperar a sua chegada. O seu rosto vinha marcado pelo cansaço, mas não o
suficiente para que os seus lindos olhos, cor de esmeralda, perdessem o seu
brilho, nem que o seu sorriso, deixasse de desenhar a sua boca carnuda, pintada
com batom vermelho. Reparei nas suas calças e blusa, que embora simples, davam-lhe
elegância e juventude. Eu estava, vestido em modo desportivo, polo e calças de
ganga, e um ramo de flores com cheiro de primavera. Quando os nossos olhares se
cruzaram e o reconhecimento foi feito, a mala que empurrava, assim como o
casaco, foram largados, enquanto aceleravam o passo dirigindo-se um ao encontro
do outro, até se abraçarem. Ele, eufórico, elevava-a no ar expressando o seu
entusiasmo, beijando-se, pela primeira vez. A doideira concretizara-se, afinal
não fora tempo perdido, algo acontecera que os fizera juntar-se, mesmo quando
tudo parecia ser impossível.
Depois de um jantar
simples, em lugar agradável, conversaram sem tempo, desatando nós, que pudessem
trazer qualquer percalço, naquilo a que se propunham. Olhares se adentrando, à
descoberta do que os animava, como se quisessem confirmar, quanto era real. Os
dedos, mutuamente tocando as faces, como que desenhando e memorizando todos os
pormenores e a tepidez da pele. O cabelo comprido dela, solto sobre os ombros,
realçava-lhe o formato do rosto, belo, determinado, mostrando a alegria de estar
ali. Os lábios eram macios, quentes, o seu beijo sabia bem.
Ao saírem traziam consigo o calor do ambiente vivido; não havia, como não
confessar o efeito dum vinho generoso, que acompanhara a refeição.
A viagem até a casa tinha uma pressa desajustada, para quem quer registar e
viver tudo em pormenor, mas havia a urgência, de estarem juntos em lugar mais
discreto, onde pudessem estar à vontade, em intimidade.
Foi uma noite, onde não há palavras que a expliquem, as únicas palavras soltas,
foram trocadas em momentos, onde os corpos falaram, as carícias se duplicaram até
o prazer chegar, em plena realização dos sentidos.
O cansaço baixou-lhes a
pálpebras, como persianas que tiram o sol dos olhos, o diálogo foi-se diluindo
com as palavras se enrolando. Adormeceram abraçados, respirando pausadamente e
sentido o cheiro adocicado dos corpos. O sono seria o complemento da certeza de
que uma nova estória se estava escrevendo nas suas vidas.
A chuva fazia-se sentir....medo
de abrir os olhos...temia que tivesse sido somente um sonho, do qual não queria
acordar...
dc