terça-feira, 31 de outubro de 2023

Mente, em branco

 

Já algumas vezes dera conta, que as palavras lhe fugiam quando procurava as letras que as construíam. Do mesmo modo a folha branca era um obstáculo, vazia, opaca, fazia temer perturbá-la. Tudo era desculpa, para não a enfrentar, a impotência de romper a ausência de ideias, a indiferença mumificada, numa escrita de silêncio. Era só com a escrita, pois, na verdade, tentava violar essa sua brancura, com arabescos repetitivos, procurando encontrar nas imagens, a explicação para incapacidade de produzir texto. O vazio é interior e enorme, fruto de uma fixação absurda de querer pensar demasiado, no que escrever. Se, o texto não flui, para quê esforçar-se na procura. O que for escrito não poderá ser uma acção robotizada, tem de partir de dentro, laborada no âmago, e será depositada, quando se solta, na ponta da caneta para a superfície de suporte, num correr de palavras e frases, como sangue escorrendo, da veia, da inspiração.

dc


sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Nudez adivinhada


As sinuosas linhas do corpo, sobressaem no agitar do vestido, o sol as insinua em contraluz; sem ser o seu propósito, ele faz acontecer, lembra o não observado. Desvia-nos a atenção, da beleza do rosto e das palavras que da boca se soltam. O agitar do tecido, que envolve o corpo, vai nos sugerindo uma dança, abstracta, um agitar de sedução, um encantamento, vontade de descobrir e conquistar. Uma fuga da rotina plasmada, que gera indiferênça. É uma nudez adivinhada, erotizando a mente.

dc