quarta-feira, 15 de novembro de 2023

A distância é terrível.

Conheceram-se, de modo inusitado. As circunstâncias limitaram-lhe os horizontes. Distantes, sem a presença física, vão recorrendo às novas tecnologias, para que a imagem lhes permita verem-se e conversar, alimentando os seus sentimentos, trocando ideias realçando valores, e as suas diferenças de personalidade. Ela trabalhava por turnos numa vida dura, ele “Freelancer”, estava sem horários fixos e com disponibilidade. Inúmeras eram manhãs que acordava com a sua voz, assim como as despedidas de boa noite, quando ficava em casa e podiam conversar mais um tempo em horário mais comum. Cada dia, uma revelação, cada noite a dor de ausência, mas nada os afastava.

Foram planeando uma vida, vivendo sonhos, desbravando a floresta densa com passeios imaginários, avaliando o presente, imaginando e criando sonhos especulando o futuro. Exploravam o blá blá da sina da cigana, que os colocara na mesmo caminho, como almas próximas. Eram dias de dor pela distância, ricos de comunicação, de revelação de quem somos e como somos, anulando sombras, preparando o terreno para quando a oportunidade chegasse, ficarem juntos de forma plena e perene. Os sonhos são bons e alimentam forças incríveis, mas a sua realização é mais complexa, é necessário dar o passo em frente, para que a solução se encontre, para que as vontades e desejos expressos se concretizem, caso contrário, a distância prolongada e a rotina da ausência, porão em causa os sentimentos, diluirão as memórias do tacto, dos cheiros, dos sons e das vivências na pele. Tudo tem o seu tempo, não se podem queimar etapas por medos ou inseguranças. Ter medo de errar é entorpecer e ficar sem capacidade de decisão. Procurar na comunicação moderna a aproximação, é uma solução precária de alimentar situações irrealizáveis, esgrimir ausências, vazios e soluções questionáveis. A distância é terrível, provoca fissuras na estrutura emocional, por vezes irreparáveis.

 

dc

 

"Amor sem verdade é paixão; verdade sem amor é crueldade". A frase é do psicanalista Wilfred R. Bion: