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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Não me apetece sorrir

Pintaram-lhe o rosto
A criança não entendia
Tal não era suposto
Se tanta criança sofria

O poeta dimensiona a dor
Que sua fragilidade suporta
Aqueles olhos falam, não por favor
Hoje em Gaza muita gente foi morta

 

Um dia, o carnaval será de paz
E alegria numa festa de liberdade
Trocando a mentira e o “tanto faz”
Pela vivência com a fraternidade

 

                                                    dc

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Ali, somente parados

Ali, somente parados, não de mãos dadas, o frio era maior. O seu amor já não exigia tal, bastava o ombro a ombro. Não falavam um com o outro, sentiam-se presentes, deixavam-se ficar, somente ali, sentindo a brisa, embevecendo-se com aquele céu, rico de tonalidades e desenhos mágicos e aguçando o seu imaginário, um mar que lhes permitia navegar, especulando para além do horizonte longínquo.

 

 dc


quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Hoje, é dia de celebração

 

Tenho pena, de me ter perdido das palavras escritas, que antigamente surgiam a todo o vapor, e que vertia no papel com rapidez, com o medo que elas se perdessem no labirinto dos pensamentos. Hoje é o dia do teu aniversário, as emoções de todos estes anos passados são tantas, tornam a tarefa ainda mais difícil. Surgem palavras tão comuns e desacertadas, que não correspondem ao que durante todos estes anos, vivemos, sentimos e realizamos. Talvez as palavras, que surgem de seguida no texto, não expressem o calor, o carinho, nem as diferentes emoções, que neste momento vêm a superfície. O que vivenciamos, no acompanhar do teu crescimento, com as dificuldades económicas, o tempo de estudo na escola, mais tarde na universidade, discutindo os trabalhos e as notas. As pequenas escaramuças comuns de um pai, que se arrogou no direito de te criar, e acompanhar até ao dia que saíste para viver com o teu companheiro de sempre e formar a tua própria família. Sinto que é insuficiente dizer-te o quanto brilhas para mim, por tudo aquilo em que te transformaste, e me deixa orgulhoso, nesse teu percurso desde menininha, à senhora casada, com o homem que escolheste, como pilar de entendimento, para a realização de objectivos maiores, e trouxeram à luz do dia um filho (o neto, que tanto desejava).
Eu disse, no início deste escrito, que já não sabia arrumar as palavras como outrora, e falta-lhes, talvez, a riqueza de vocabulário, ou a beleza que merecias, mas espero que me perdoes. Só queria que soubesses, que mais do que um jantar de aniversário, ou o estourar do champanhe, há coisas deliciosas, não descritas aqui, que ainda fervilham em mim, permanecerão para o resto dos meus dias caladas bem no fundo do meu ser.

Um beijo, e um Xi coração do tamanho do mundo.
DC


quarta-feira, 15 de novembro de 2023

A distância é terrível.

Conheceram-se, de modo inusitado. As circunstâncias limitaram-lhe os horizontes. Distantes, sem a presença física, vão recorrendo às novas tecnologias, para que a imagem lhes permita verem-se e conversar, alimentando os seus sentimentos, trocando ideias realçando valores, e as suas diferenças de personalidade. Ela trabalhava por turnos numa vida dura, ele “Freelancer”, estava sem horários fixos e com disponibilidade. Inúmeras eram manhãs que acordava com a sua voz, assim como as despedidas de boa noite, quando ficava em casa e podiam conversar mais um tempo em horário mais comum. Cada dia, uma revelação, cada noite a dor de ausência, mas nada os afastava.

Foram planeando uma vida, vivendo sonhos, desbravando a floresta densa com passeios imaginários, avaliando o presente, imaginando e criando sonhos especulando o futuro. Exploravam o blá blá da sina da cigana, que os colocara na mesmo caminho, como almas próximas. Eram dias de dor pela distância, ricos de comunicação, de revelação de quem somos e como somos, anulando sombras, preparando o terreno para quando a oportunidade chegasse, ficarem juntos de forma plena e perene. Os sonhos são bons e alimentam forças incríveis, mas a sua realização é mais complexa, é necessário dar o passo em frente, para que a solução se encontre, para que as vontades e desejos expressos se concretizem, caso contrário, a distância prolongada e a rotina da ausência, porão em causa os sentimentos, diluirão as memórias do tacto, dos cheiros, dos sons e das vivências na pele. Tudo tem o seu tempo, não se podem queimar etapas por medos ou inseguranças. Ter medo de errar é entorpecer e ficar sem capacidade de decisão. Procurar na comunicação moderna a aproximação, é uma solução precária de alimentar situações irrealizáveis, esgrimir ausências, vazios e soluções questionáveis. A distância é terrível, provoca fissuras na estrutura emocional, por vezes irreparáveis.

 

dc

 

"Amor sem verdade é paixão; verdade sem amor é crueldade". A frase é do psicanalista Wilfred R. Bion:



sábado, 30 de setembro de 2023

Outono?

No findar do mês, com o Outono marcando os dias, não ainda, pelo excesso de folhas caídas sobre a superfície dos chãos, antes por este calor inesperado, que traz sorrisos e fadiga ao corpo. Há que aproveitar para nos adaptamos à diferença, fazendo memória e reescrevendo a estória, que define as estações do ano, com as emoções que evocam. Os pássaros, ainda estão pelos beirais como se não quisessem partir, as gaivotas, continuam frequentando os areais, e o pôr-do-sol, ainda é bem visível no horizonte, com seus tons quentes, na variação de tons laranja e vermelhos intensos. Quase nos sentimos flutuar, em vez de caminhar, como se fosse presente a ausência de gravidade. É estranho, o modo como o clima nos dias de hoje, se torna tão imprevisível, e nos impede as rotinas das diferentes estações climáticas. Os tons ocres, estão afastados dos nossos olhares, os azuis predominam, os brilhos da claridade, sustentam uma atmosfera, extra-sensorial, que vai modelando relevos nas figuras, que ao nosso redor, habitam. Os sorrisos desenham os rostos, os cabelos, soltam-se na brisa leve, as roupas fluidas na leveza dos tecidos, e o odor da maresia, vai-se misturando com perfume doce que vem da terra ressequida. Do mesmo modo, o amor rejuvenesce entre os seres, os amantes vão retardando a calmaria outonal, intensificando as suas vivências, aproveitando-se com frenesim deste novo instante que a natureza os presenteou. Fica a dúvida, se é um fenómeno transitório, e que tudo beneficia, ou se é mais uma partida, que as variações climáticas nos pregam para sabermos, o quanto mal tratamos a Terra.

 

dc


domingo, 30 de abril de 2023

Atrás da cortina


Como um modelo simulado, vive atrás da cortina, dos sentimentos, das dores, das angústias, da espera eterna, daquele amor imaginado pressentido nos outros, como se fosse lei da vida, a eterna busca, do inexplicável caminho, ao centro do universo de alguém. Rígido, de forma morfológica tosca, com elementos básicos de sugestão, procurando encontrar no desenho dos dias, em mão suave, delineando o caminho desse sentimento criativo que alimenta a nossa existência. O espaço é sempre o mesmo, suficientemente terreno. O tempo que corre célere alimenta a angústia, de um objectivo, sempre longe da meta que anseia. Já sentiu o toque, o bafejar dos seus lábios, o brilho da promessa, mas a férrea distância, vai prolongando a tormenta do verbo existir, sem encontrar o mapa, que indique o caminho, adequado à realização do sonho, da alegria, da felicidade mesmo que temporária, de ser amado até ao limite das suas forças.

 

dc

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

É uma árvore, ponto

A sua imagem agarra-me o olhar. Surge em mim um enorme desejo de a abraçar, como se quisesse sentir a seiva da vida, aperceber-me da sua comunicação com a “sua” sociedade, ou se ela, também, relata as suas dores de existir. Sem coragem para me aproximar e passar aos actos, na impossibilidade para ir mais longe, como mulher casada que não queremos como amante, tento trazê-la para dentro da máquina, fixando-a no espaço restrito, artificial, dos números e traços digitais. É o egoísmo cego, de possuir algo e fazê-lo meu, a que posso recorrer em qualquer situação, em que, vê-la, ajuda-me a decidir, a ganhar maior entendimento de dificuldades emocionais, que é necessário enfrentar e resolver. Assim, registo as suas linhas abruptas, a sua cor, o seu contraste com o ambiente que a envolve, o recorte variado, dramático, majestático da totalidade do seu corpo. Tento saber das razões, do seu fascínio sobre mim, discernir a emoção que se adentra, tomando-me o corpo. O tempo decorre e fico apatetado, hirto, olhando como se uma, outra, dimensão me possuísse, desbravo mentalmente, dezenas de frases e palavras que tentem esclarecer o que me move. Reflicto sobre o seu modo de sobrevivência a cada intempérie, frio, sol, ou calor. Como reage à acção do homem, cada vez que lhe cortam os braços e diminuem-lhe a envergadura, e o fenómeno do seu renascer, com novas formas, com aquela sobranceria, vistosa, cobrindo-a de novo traje e novas cores, como se nada tivesse acontecido. Assume nova imagem, espera as mudanças num ciclo repetitivo, em que o crescimento se vai dando, transmitindo alegria, nesse seu ressurgir, mais viva do que nunca, da dor temporária das amputações, toda se reformula, no florir da sobrevivência. O que se aprende com elas? Quão próxima, ou distante, é a sua existência, dos seres humanos? O que tenho de aprender com ela, qual a essência que nos comunica? Questiono em silêncio, não por necessidade do saber, mas mais, para saborear da estranheza daquilo que representa como "ser vivo". Todo o raciocínio fica longe de qualquer explicação.É uma árvore, ponto.

 

dc


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Fim de tarde


Recusando que a noite aconteça, ela se sobrepões iluminando detalhes, que não deixam despercebida a sua presença. Usa a imagem, a melodia do corpo, a riqueza das palavras e a natureza de ser mulher. Deixando-o atarantado entre o lusco-fusco da descoberta de uma inteligência acima da média, um humor que rasga sorrisos e insinua incapacidade de se dar na totalidade. Ela derrama os olhos pelo chão, escondendo neles, o brilho que a denuncie, temendo ceder à probabilidade de voltar a amar.

dc

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Uma pausa necessária


Conversador e ouvidor, agora, só tinha o silêncio, o seu silêncio. O ruído existe nos outros e no que o rodeia, mas está fora de dele. Não assimila ruídos, nem imagina ruídos. Os seus tímpanos estão cobertos de cera da indiferença à escuta. Sente-se um surdo de nascença, que lê nos lábios, vê gestos, talheres que se cruzam, pratos que se chocam, copos que se tocam, bocas que se movimentam, beijos de diferentes intensidades, mãos que se agitam, sorrisos e pretensas gargalhadas. Sente uma ausência tamanha, como se estivesse suspenso sem gravidade, estava, tal qual, no cinema mudo de outrora. É uma total ausência de estar, uma suspensão de vida, é um silêncio de necessidade, que ninguém interrompe, que o faz fechar a boca e não pronunciar qualquer ruído. É bem possível, que o motivo esteja errado, ou seja, o receio de falar sem acerto, que o faz isolar, sem dizer aos outros que não está comunicável. Tem de fazer uma pausa para se reencontrar, descobrir como falar correto, sem magoar, ofender, ou alimentar debate inútil do saber, ou de ter, a pretensa razão. Precisa do estímulo certo para um dia voltar aos ruídos, às palavras e à escuta, que por agora enfadonha e um pouco desestimulante, lhe tirou a curiosidade, a paciência e o prazer da conversa.

 

dc

terça-feira, 27 de setembro de 2022

Ausência

 

Acredito que a saudade não mata, caso contrário há muito estaria morto, tal a falta que me fazes, a cada minuto que o calendário vai levando da vida.

dc


terça-feira, 9 de agosto de 2022

Na praia a sós


Lado a lado de mão dada, vamos andando para o longe; vagueando, tacteando o chão de areia, que se afunda sobre os nossos pés. Vamos ao encontro de um espaço vazio, longe de outros olhares, que não aqueles que devotamos a nós próprios. Fugimos do rectângulo diminuto que nos sobeja, onde proliferam os guarda-sóis, os corpos esparramados, preenchendo o areal, como se não houvesse amanhã, e, da escuta cusca, ou da agudeza, rebarbativa, de algumas conversas pessoais, das quais teremos de ser ouvintes forçados. É a busca consciente, dum espaço, outro, que nos permita o silêncio, ou somente o som das nossas vozes. Queremos ficar libertos do espartilho das vestes e de acessórios desconfortáveis. Ali, nesse lugar de nenhures, onde a natureza é um delicioso lugar de estar, que nos liberta os sentidos, onde se pode gritar em voz alta o que cada um sente. Ali, os corpos com as costas tocando a toalha imensa da praia, expondo a nudez do corpo e da mente, sobre o sol escaldante e onde pudemos banhar o corpo na água do mar, como recém-nascidos. O tal lugar, onde os corpos não são vítimas de escrutínio estético, alheio, se podem beijar e tocar, ou até se permitirem a que o amor se faça, com a mesma fluidez, com que a água do mar banha o areal. Depois, perdida a noção temporal, será o fim de tarde, se arrastando, que nos dará a noção do regresso ao lugar de partida, acompanhando a retirada do sol, que vai repousando na linha do horizonte, para o descanso do dia.

 

dc

terça-feira, 2 de agosto de 2022

Na busca da diferença

 


Queria apanhar o sol, deitando-se na linha do horizonte. Queria fixar os últimos instantes do dia com a sua cor quente e as alterações da sua forma, conforme se vai sumindo aos nossos olhos, como sempre faz, num esconde, esconde, entre o dia e a noite. Não fujo à regra, sinto o fascínio do comum dos mortais, perante este fenómeno, mas queria buscar a diferença, para que este momento fosse só meu, que a escolha tivesse o meu toque, o meu enquadramento, fosse o meu sol. Nesse procura de captar a melhor imagem, que já em outras alturas tentei obter, fui fazendo sucessivos disparos, quando de repente uma ave que desconheço o nome, talvez pressentido a minha motivação, resolveu ajudar, colocando-se no lugar certo, para equilibrar a composição e enriquecer o momento. Fico grato por tal ajuda, que me encheu o peito de alegria e vaidade pela sua parceria, que decidi publicar a imagem.

 

dc

domingo, 31 de julho de 2022

Passeio no areal


Passeio-me pelo areal, fujo de mim, atordoando-me com o som do mar que se agita e se engrandece, perante os meus olhos que o vão observando, temeroso da sua força que tudo derruba e do seu fascínio, que nos coloca na vontade de nele entrar, derrubando ondas, correndo o risco de nele ser retido. Fico-me pela tentação e bordejo o derramar das ondas no areal, apagando as pegadas que vou deixando, anulando o rastro da minha passagem, ausentando-me, como se desenhos a giz num quadro preto.
Vou colocando um pé a seguir ao outro, sem pensar que o faço. Eu estou caminhando no silêncio interior. Não determino, nem distância, nem tempo para ali estar, somente esmagando a areia com os pés, como acupuntura, para recuperação do corpo e da mente.
Nem todos procuramos o mesmo. Essa é a riqueza da vida. Aqueles que eu observo, quando passo, homem e mulher, não estão na mesma onda. Chegaram ao areal, vestidos de traje completo, foram para perto do finalizar da onda molhar os pés, sorrindo e olhando-se, como se procurassem baptismo para o seu nascer de amantes, o mar premiou-os com o seu brilho.

 

dc

 

 

 

terça-feira, 12 de julho de 2022

Amo o mar

Imenso o verde-azul, que adentra nos meus olhos, é, talvez, a fala da origem que me toca a alma. Ondas sonoras e de massa líquida, surgindo das profundezas, misturam-se com o piar estridente das gaivotas, que vão observando e aflorando a superfície com voos rasantes, numa conversa celestial com os meus sentidos. Vindos do mar, somos preenchidos por uma massa de água, formatada em design único, tornados, talvez, pensantes perdidos das guelras, da suavidade da pele e do deslizar em ondulares movimentos. É bem possível que essa seja a razão que nos atrai e nos envolve, em horas de música repetitiva, seduzindo-nos a arriscar, avançando na procura do horizonte distante, como se agora fosse possível caminhar sobre as águas, ou não temer afundar-se dentro delas. Amo o mar, como o temo pela perigosa atracção da sua imensa solidão, ele faz-me correr riscos, sempre que alguma coisa me perturba o discernimento, é nele que procuro resposta. É com ele, que me permito meditar, para além das coisas comuns, para encontrar a paz que não sobeja no seio das gentes. Também nele posso extravasar uma, ou outra, pequena loucura restrita ao pensamento.


dc


terça-feira, 21 de junho de 2022

Incoerências

Ele cirandava pela rua escura de edifícios em ruínas. O miar do gato ao longe, e o ruído que chegava das casas, eram a sua única companhia. O ambiente era idêntico ao modo como estava vivendo, tudo lhe era pesado, ele, contra o mundo. Pensamento absurdo de quem não encontra solução para os seus próprios problemas e se agarra ao pessimismo. Ultimamente, era comum meter-se em batalhas de opiniões e discussões, onde quase sempre ficava sem norte e acabava por se empertigar, perdendo a razão, diluindo-a nas nuvens negras, que ele próprio gerava. Sabia, ter de procurar, fora dos sítios habituais, as respostas, mas acima de tudo, encontrar dentro de si, as perguntas. A rotina instalada, de esperar que as coisas aconteçam, não abria horizontes. Para se obter resultados, é necessário definir bem o que se procura, onde procurar e o que se deseja encontrar. Ali, ele cirandava, mas também, sentar-se na esplanada olhando as plantas do jardim, ou no areal, observando a ondulação mar, só por si, não resultaria, se efectivamente, não deixasse o espírito libertar-se e ter a coragem de arriscar. Ele queria ser alguém, que não se servisse das palavras de forma inadequada, para enganar as emoções, ou alimentar falsas ilusões, antes usá-las para alimentar sonhos e que o ajudassem a enfrentar a realidade. Este debate, permanente dentro de si, espelhando dúvidas, retirava-lhe o sossego, a incerteza no provir, era uma merda. Sim, sabia o que o comum das pessoas dizem: o importante é viver o presente, blá, blá, blá. Pois, está bem, e como se pára o pensamento, que circula à velocidade suprasónica, nessa busca, duma razão para este seu estado de espírito? A culpa será da economia, da pandemia, do medo viscoso que ainda domina as pessoas, no registo da distância física segura, na máscara que açaima, na surdez às evidências, ou na aceitação, da mentira de vozes variadas de sentido único, em todos os media, em especial os televisivos, que agora nesta guerra dos eslavos, se veio acentuar? É bem possível que seja tudo isso, que nos faz perder o norte, pôr em causa os valores com que fomos educados, de duvidar do que aprendemos, do nosso conhecimento, da nossa capacidade de lutar e amar, de expor das fraquezas humanas. Fraquezas estas, exploradas por técnicos e especialistas vários, no sentido de moldar quem somos, para sermos aquilo, que quem domina a sociedade, quer que sejamos. Será essa, a razão da angústia, da dificuldade de comunicar, de fechar o rosto, ou desabar em palavras incoerentes e perdidas de sentido? Possivelmente, a maioria dos outros, nunca entenderão esta “pescadinha de rabo na boca”, que o trouxe a esta rua escura, afastado do comum dos mortais, a sua maioria catequizados por leis e pressões, daqueles que na sombra exercem o poder.
Naquele, caminhar sem destino horas a fio, sem saber porquê e quando parar, a cada passada, surge uma reflexão, uma emoção, a visualização abstracta, o sonho, o desejo de que tudo mude sem que “perca o fio à meada” da existência. É uma busca incessante de perguntas para a resposta que não tem.

 

 

dc

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Encruzilhada de Maio

O mês está no fim. Existe uma ausência, não procurada, que dê sentido às palavras para formular textos. A confusão está instalada no pensamento. Os pensamentos ocorrem, em catadupa, do mesmo modo, que o excesso de informações e a sua variedade temática. Pior, é o conflito, entre aquilo que preenche esses meus pensamentos e a vida real que vai ocorrendo à volta. Escrever sobre isso, mesmo que de forma desordenada, reflectirá pelo menos, algo que possivelmente será transversal a muitas outras boas gentes.

Aqui entre nós, o 25 de Abril passou sem alegria. Um nazi que veio de fora, tirou-nos o desejo e prazer dos festejos. Veio lembrar o poder do capital para dominar os povos. Uma voz, lá de longe, que nos faz arrepiar a pele, com as memórias que nos transportam para um passado de perseguições e mortes. O 1º de Maio, passou quase despercebido, foi insuficiente para animar os que lutam contra o trabalho precário, o desemprego, ou alertar para a forma como estão dominados pelos poderes instituídos. Ficamos reduzidos a uma individualidade induzida, que afasta as pessoas da convivência. Individualidade, que na falta de análise objectiva, está carregada de comodismo, que anestesia a sociedade, plantada por quem manda, para que a obediência seja cega e o colectivo acéfalo. Os mandantes trazem à liça todos os especialistas necessários, para que o trabalho seja feito em nome de uma ciência, que só serve o seu fim. Vimos sendo ensinados, a fazer exercícios e a ir ao ginásio, para aprendermos a olhar somente para o nosso umbigo. Fazer do achismo e opinião própria, que se afasta da ética e da vivência, e criamos muros que nos isolam julgando estar acompanhados. Perante isto, quase que me sinto impotente para dialogar, e procurar a resposta para tanta passividade. Maio para uns têm “Fátima” e peregrinações, outros, desespero no dia a dia de sobrevivência, neste presente inquinado.

 

dc


quinta-feira, 17 de março de 2022

A natureza das coisas


Vieste em meu sono, desesperar meus sentidos, atazanar meus remorsos e descuidar minha vida. Tanto tempo descansado, paulatinamente vivendo, mesmo com mágoa ainda nas veias e pensamento, mas acalentando sossegos, que agora mais necessito, do que agitação de descaminho. Longos foram os dias, inalando cada brisa, sondando teu cheiro, e de porta encostada, na espera da tua entrada. Levanto os braços na matinal preguiça do nascer do dia, como se fosse súplica, para não te abeirares dos meus sonhos, para que não se transformem em insónia de espera nunca mais realizável.

 

dc

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Mais do que um corpo

Ao passar, olhou-a, ficou preso à sua imagem, quase dominada pelo preto e branco. De sedutora estética, tinha o arreganho da luta nos seus braços. Despida de enfeites, não por simplicidade, antes por ser seu destino, desnudar-se para se renovar. A realidade visível escondia a vibração que dentro de si, existia. Feito Deus, ele deu-lhe a vida que se escondia, mesmo quando perdida das suas vestes e sujeita ao agreste vento gelado e chuva. A esperança restaurada, de quem a observa e de quem sempre espera a renovação da sua própria vida.

 

dc

 


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Sem resposta

Perguntas-me como eu estou, e eu não sei responder-te. Estou em fuga de mim, sem me aperceber do que fazer, vivendo cada dia o seu acontecer. No dia a dia, e suas rotinas, incomodam-me as alterações, já não tenho pachorra, para viver de stresse ou pressões. Cada exigência exterior ao que me disponho, me aborrece. É comum trazer comigo, um ou dois livros como companhia, são o que de melhor tenho para me ocupar enquanto a espera me é imposta. Dois diferentes, para que se adequem ao estado de espírito, ao lugar e ao momento. E de facto eu leio, mas nem sempre, sem saber porquê, o que leio fica retido, para dele dizer, o que se pode dizer de um livro. Na maioria das vezes efabulo sobre aquilo que leio e perco-me sem receio, com os olhos lá longe onde não se fazem perguntas, nem se esperam respostas. Como agora mesmo, a luz, cor e som, chegam com as conversas que circulam entre as mesas da esplanada, e a confusão é tal, que não me retenho em nada. Nem no livro que leio, nem na conversa de premeio, e assim, o tempo decorre e mais um dia morre, sem espalhafato, na ninhês que se vai repetindo.
A pergunta mantém-se e a estória não muda nada. Estou em fuga …

 

dc


segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

O meu mundo é o dos silêncios..



... neles, só os olhos se agitam, mesmo quando fechados. Olham o de fora, imaginam o de dentro. Em certos momentos, estou tão preso ao silêncio, que os olhos, mesmo abertos, estão vazios para quem desconhece o entendimento. Voam mais além da linha do horizonte, vagueiam pelo céu azul, mesmo que outras cores vivam e continuem a ajudar a definir as formas no desenho dos objectos. Os pensamentos fluem, o ruído é imaginação pura. O matraquear das palavras e das falas se fazem num diálogo surdo, calmo sem a agitação do gesto. Os cheiros são privilegiados, nos seus diferentes matizes, alimentam-se da memória que traz o presente que me rodeia, mas também das ausências, sobretudo essas, cujo cheiro ficou ligado a vivências, que pareciam esquecidas e de repente estão ali tão nítidas. Sinto um arrepio percorrendo o corpo, adensando o silêncio, afastando-me cada vez da realidade presente. Talvez seja isso o motivo deste silêncio, que reservo, longe de quem não entende. Sobreviver, ao vazio para o qual vamos caminhado, no correr do calendário, em que os dias deixam de ter importância, somente o momento, a cada segundo é a vivência intensa do possível. O meu tempo deixou de ser um lugar cronometrado por interesses alheios.

dc