quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

É bem possível

Olha, procura a beleza no que vê, no entanto, sabe que na realidade dos amantes é preciso ir mais longe, mais fundo, não se ficar na capa colorida, harmoniosa, que o fascina. A estrutura que motiva, não é a dos ossos, ou a carne que os protege, suave, delicada, morena ou branca, é antes a força que suporta essa morfologia, o seu carácter, a sua bondade, a disponibilidade de partilhar, o modo de ver o mundo e os humanos que o compõem, sociabilidade e sensibilidade com que vibra nas emoções, é todo um fio condutor que une todas as partes do ser humano, o motivo, a procura do outro olhar. O olhar, adentrando através dos olhos, é o primeiro filtro, depois, é a busca incessante, desse ser, que está na sombra das páginas da sua existência visual. Na verdade, é como um filme, que à nossa frente se desenrola no écran, e no qual nos prendemos pela figura, que não sendo a mais bela, nos fascina como se fosse alguém que representa, como pensamos o amor. O amar funciona assim, como aquela personagem que se desenvolve perante os nossos olhos? Ou será que na falta de comparação próxima, esquecemos a morfologia do corpo e ficamos presos na emoção, no significado, nos valores que expressa, na inteligência, no poder da sua personalidade, que naquele instante fala connosco, como se fôssemos senhores do mesmo espaço e forma de estar? É bem possível, que sem pensar, a personagem com que nos deparamos, seja de tal modo fascinante, que nos leva a criar confusões, entre o que nos emociona e motiva e a realidade que procuramos. É bem possível que assim seja, ou efectivamente, a beleza estética é só mais um argumento, para que o amor aconteça.

dc

 

 

 


sábado, 17 de fevereiro de 2024

Um beijo é mais que um beijo

 


O beijo era uma marca registada no seu amor. A frescura da sua boca, realçava-se na humidade da sua língua, nos seus lábios carnudos e no macio da pele que os debruava de milhares de pequenos relevos que os formavam. Era como se tratasse de um fruto que não sabia explicar a sua nascença, mas de modo definitivo, o atingia com a riqueza do sabor emoção, que fazia estremecer todo o corpo. A sua boca era o lugar de reconhecimento do sentimento que dentro brotava de forma intensa, onde gostava de prolongar, a sua presença. Nunca pensou que seria assim, algo tão físico, ao mesmo tempo, tão pouco carnal, ali sentia-se desvanecer, perdia as forças e o pensamento borboleteava, num voo sem fim, como se a vida fosse uma primavera constante debruada por aquele encontro dos seus lábios. Nada tinha a doçura, saudável, daquele beijo que eternizava a força daquele amor que nunca explicaria por palavras. Horas passadas ainda restava, nos seus lábios, o calor e o sabor, daquela boca que de modo egoísta e quase possessivo chamava de, sua. Neste momento pensava, que após tantas bocas, persistentemente beijadas, as situações de decepção tornaram-se um hábito, sem perceber da importância e significado da troca de um beijo.

 

dc

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Não me apetece sorrir

Pintaram-lhe o rosto
A criança não entendia
Tal não era suposto
Se tanta criança sofria

O poeta dimensiona a dor
Que sua fragilidade suporta
Aqueles olhos falam, não por favor
Hoje em Gaza muita gente foi morta

 

Um dia, o carnaval será de paz
E alegria numa festa de liberdade
Trocando a mentira e o “tanto faz”
Pela vivência com a fraternidade

 

                                                    dc

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Ali, somente parados

Ali, somente parados, não de mãos dadas, o frio era maior. O seu amor já não exigia tal, bastava o ombro a ombro. Não falavam um com o outro, sentiam-se presentes, deixavam-se ficar, somente ali, sentindo a brisa, embevecendo-se com aquele céu, rico de tonalidades e desenhos mágicos e aguçando o seu imaginário, um mar que lhes permitia navegar, especulando para além do horizonte longínquo.

 

 dc