Olha, procura a beleza no que
vê, no entanto, sabe que na realidade dos amantes é preciso ir mais longe, mais
fundo, não se ficar na capa colorida, harmoniosa, que o fascina. A estrutura
que motiva, não é a dos ossos, ou a carne que os protege, suave, delicada,
morena ou branca, é antes a força que suporta essa morfologia, o seu carácter, a
sua bondade, a disponibilidade de partilhar, o modo de ver o mundo e os humanos
que o compõem, sociabilidade e sensibilidade com que vibra nas emoções, é todo
um fio condutor que une todas as partes do ser humano, o motivo, a procura do
outro olhar. O olhar, adentrando através dos olhos, é o primeiro filtro,
depois, é a busca incessante, desse ser, que está na sombra das páginas da sua
existência visual. Na verdade, é como um filme, que à nossa frente se desenrola
no écran, e no qual nos prendemos pela figura, que não sendo a mais bela, nos
fascina como se fosse alguém que representa, como pensamos o amor. O amar funciona
assim, como aquela personagem que se desenvolve perante os nossos olhos? Ou
será que na falta de comparação próxima, esquecemos a morfologia do corpo e
ficamos presos na emoção, no significado, nos valores que expressa, na
inteligência, no poder da sua personalidade, que naquele instante fala
connosco, como se fôssemos senhores do mesmo espaço e forma de estar? É bem
possível, que sem pensar, a personagem com que nos deparamos, seja de tal modo
fascinante, que nos leva a criar confusões, entre o que nos emociona e motiva e
a realidade que procuramos. É bem possível que assim seja, ou efectivamente, a
beleza estética é só mais um argumento, para que o amor aconteça.
dc