segunda-feira, 29 de abril de 2013

O PRESENTE, É SÓ ISSO MESMO




É de dentro, não é visível, vai-nos comendo sem nos aperceber-nos. A desilusão se vai instalando aos poucos nos interstícios, matando toda a crença de mudança. Não existe um fio condutor que torne o presente numa etapa. Vive-se como numa bolha de sabão que a qualquer momento nos explode na cara. Está tudo escrito em tinta transparente, da qual não há código, nem modo de tornar visível o que foi elaborado. Por vezes, se pergunta sobre que o está esperando e não encontra resposta. Os dias decorrem com um sol cheio de sombras, como o entardecer que adentra a casa.

Um grito enrola-se na garganta. A música, com som baixo, enche o espaço, atenuando o silêncio e trazendo uma maior intensidade nas emoções.


Os livros não trazem as respostas, fecharam as palavras nas suas páginas, e é difícil adivinhar, qual deles terá o conteúdo adequado ao momento, ter de memória o eles contêm, Os quadros preenchem as paredes, com toda a sua estrutura estética, o amor com que foram pensados, e o prazer na sua execução, Os móveis, são arrumos decorativos de restos de vida, cumprem a sua função, morrem nisso mesmo. O que resta afinal a não ser o silêncio, e pensamentos a fervilhar, sem encontrar respostas.


Não há projectos, nem distâncias temporais, tudo voga no vazio, na indiferença dos dias em que o presente, é só isso mesmo.


DC

domingo, 28 de abril de 2013

MEU NETO e eu NO MUSEU



De óculos escuros na cara, descia as escadas na minha direcção, Mãe sabes que quando desço, vejo o degrau das escadas longe?... Filho, tira os óculos de sol, são demasiado escuros e vês mal, dá um beijo ao avô e dá-lhe a mão”. Deu-me os óculos para guardar, um beijo, e de mão dada fomos para o carro.

Hoje ele atrasar-se. Na véspera estivera com a “Tia Natália” e as emoções tinham sido muitas.

Entrou no carro e sentei-o na cadeira, como do costume, e arrancamos de seguida. Tentando fazer conversa perguntei-lhe como tinha o Sábado, Bom, Sabes Vô o Óscar morreu, já não canta, Quem é o Óscar? Pergunto eu, Era o passarinho da Tia Natália, sabes ele morreu e foi para o céu, Quem te disse que ele morreu e foi para o céu? Foi a tia, E como descobriste que ele morreu? Porque tinha uma flor no sítio da gaiola, Era um canário, ou piriquito? Não sei, Mas ele era amarelo, castanho? Antes de ser morrido Vô, era branco, não como nós, mas era branco e tinha um bocadinho pouco de castanho, E agora como vai ser? Agora a tia diz que vai ter outro.

Ele reparou que o carro não seguia, como de costume nas nossas saídas, em direcção aos lugares já conhecidos, Vô, onde vamos? Quando lá chegarmos logo vês, Eu desconfio que sei, Duvido?...Vais aquele sitio que tem os jardins de flores, Só... Não também tem pinturas..., Já vi que me apanhaste, vamos a Serralves, está sol e pudemos ver as pinturas e ir até ao jardim, Está bem.

Serralves, aos domingos é gratuito e o sol tinha trazido imensa gente, não só turistas como tugas, A exposição do Alberto Carneiro e do José Martins também era espectaculares, de certeza que também tinha sido uma das razões daquele montão de pessoas.

Fomos caminhando ao longo dos salões, vendo obras de um e outro. Ele puxava-me pela mão como se quisesse ir para algum lado, Vô quando vamos ao jardim? É de seguida, vês as esculturas do Carneiro, são giras não são?, Sim, vamos, anda. Ele estava impaciente.

Não pude ver, em condições, a belíssima exposição que os dois artistas ali têm, foi um corre, corre, De repente, para ele não me pressionar, disse-lhe que estávamos quase a acabar de ver a exposição e íamos para o jardim, Para o jardim não, temos de ir ao café, Como, ao café, então não tomaste o pequeno almoço? Comi só chocapites, E então.. tens ai na sacola bolachas e àgua..., Mas é melhor irmos ao café para não fazer migalhas. Fomos ao bar de Serralves, eu sabia bem o que ele queria, Queres um queque de chocolate é isso? E um pinguinho, reponde rápido.

Deliciou-se comendo o bolo e bebendo o pingo
rapidamente. À saída do bar fui à máquina levantar dinheiro, aproveitei para escolher e trazer uns postais promocionais que se encontravam sobre uma mesa, ele escolheu uns com cores. Como ele disse.

No jardim, jogamos à bola com pequenas coisas que caíam das árvores e fomos brincando com a água, que existe, em pequenos lagos, nos diferentes desníveis que partem do edifício principal, até quase à entrada da zona agrícola, Aí ficamos parados apreciando os burros, potros e vacas, aproveitando para tirar umas fotos toscas do que víamos. De regresso à entrada do museu, já cansados, fomos apanhando pequenas flores para ele oferecer à mãe.

A manhã passou, sem que os minutos contassem. Ele divertido e eu pleno, de peito inchado pelo prazer de conviver com as suas pequenas coisas.

DC

sábado, 27 de abril de 2013

PINTAR CONTRA O SILÊNCIO



O espaço enorme e deserto da parede da sala era uma provocação. Era necessário quebrar o silêncio que ali se gerava, não o silêncio como ausência de som, mas o silêncio que se formava dentro de nós perante aquele vazio. Ele tinha de pintar algo que tivesse dimensão e que transmitisse uma ideia de vida. No branco das pranchas de platex escolhidas como suporte existia o mesmo silêncio. Havia necessidade de romper nos diferentes espaços o silêncio, falando com imagem e cor.

A parede existia cumprindo a sua função como limite de um espaço, sem comunicar. Algo teria de nascer como imagem, que fosse manifestação de vida, algo que teria de falar para que se quebrasse o silêncio, que fosse um convite às palavras conversadas, às divagações férteis, uma chamada ao conforto visual e espiritual. Por fora as pessoas estariam complementando a imagem

Sem pressas lentamente a tinta se foi depositando, sujando o espaço branco e progressivamente foram surgindo diferentes cores e imagens. A cada momento ele passeava os olhos pelos painéis e ia alterando repintando, procurando sempre ficar mais perto do que imaginara. Se o conseguiu, ou não, cabe aos outros avaliar, para ele, como sempre, a inquietação permanente de encontrar a forma de concretizar a ideia com que partiu e o acto de produzir era aquilo que lhe dava mais prazer.

DC

quinta-feira, 25 de abril de 2013

ABRIL E "O AMOR SAUDÁVEL"



Nesta noite de Abril, não falarei de Revolução, mas de um sentimento importante em qualquer revolução. Não nas minhas palavras, porque elas não chegam próximo, nem exprimem suficientemente, mas nas de alguém muito sabe sobre o tema.

“ O amor saudável é um amor apoiado na dignidade humana, na convicção de que uma boa relação favorece o desenvolvimento do potencial humano e o fortalece. O amor saudável nasce de um sentimento prezado e vital que não se corrompe com facilidade. É fonte de alegria e de ternura, é desejo, admiração e companhia. Não é um amor perfeito, mas amor valorizado e ponderado, sem pretensões celestiais ou astrais. Um amor tão terreno como justo. Amor bem calculado, sem depreciações, apreciado por si só, próximo, precioso respeitado, mas não indestrutível.”

“ O amor saudável não é um amor completo e definido de uma vez por todas, trata-se antes de uma orientação que nos permite reinventar-nos junto da pessoa amada. É uma requintada união razão e emoção ao serviço de uma vida em comum pacifica.”


Walter Riso

terça-feira, 23 de abril de 2013

SAIR PARA FORA, CÁ DENTRO





Pisava a terra do caminho ladeado de pequenas flores amarelas com os seus pés muito verdes, sentindo o vento zurzir os seus ouvidos, enquanto o mar, ao seu lado, perdido no infinito horizonte, o acompanhava neste seu passear, neste seu buscar, como se de um parceiro de tertúlia, que não quisesse deixar só. Diferentes cheiros eram-lhe trazidos, todos eles distantes da cidade onde habitava e que o deixavam com saudade de tempos idos, onde campo e cidade quase se confundiam.

Era bom estar ali com a família revivendo, era bom estar ali vivendo a natureza rude que o afastava do angustiado viver citadino, com o seu corre-corre permanente, tropeçando em toda a gente em ruas lugares apinhados, em esperas, paragens de autocarros, tudo lugares que de tão públicos nos tornam, tão sós.

De vez em quando é necessário carregar as pilhas, pena é, que questões alheias à nossa vontade nos impeçam de pudermos, mais vezes, fugir para outras paragens, vivendo a calma de outros espaços mais verdes, mais mar mais terra.

DC


sábado, 20 de abril de 2013

Eu tenho uma flor que não é rosa...




Eu tenho uma flor que não é rosa, mas também tem espinhos. Rego-a com todo o cuidado, adubo-a com os melhores ingredientes, dou-lhe espaço e o sol que precisa, Dou-lhe tudo o que mais precisa, para possa crescer, para que fique mimosa e bela. No entanto, por vezes ao tocar-lhe, ou quando me aproximo demais, ela reage picando-me com os seus espinhos, como se tivesse medo de perder a sua liberdade, mesmo quando ela não está em causa. Sim, mas como saberá ela, se é uma flor?

Cuidar dela é tão importante, como o prazer que me dá com a sua presença. Ela se calhar não sabe o quanto a aprecio, É uma flor, só sente porque eu a cuido, ou quando me ausento, aí, ela reage à minha falta perdendo o seu vigor, como se fizesse um chamado, para que eu perceba, que às suas cores e sua beleza, faz falta o meu cuidar

A minha flor, tem cheiro, cor, pétalas macias, folhas harmoniosas que a protegem, e um pé elegante e firme, que a distingue das demais, daí o meu gostar. Quando a olho fico-me a pensar, como seria bom que ela me visse flor, a precisar do seu cuidar.

DC

quarta-feira, 17 de abril de 2013

AQUI DIGO EU: A MENTIRA VIRÁ SEMPRE AO DE CIMA


A mentira é como o azeite sempre virá ao de cima, e a pequena mentira é como aponta do rabo de um elefante, escondido no meio do mato, quando se puxa o rabo, já ela tem uma dimensão enorme. As omissões são as mentiras disfarçadas, de coisas que se evitam dizer para se evitar “ter chatices”, ou entrar em detalhes que possam ser desagradáveis (?).

E assim vai o mundo, entre verdades e mentiras, umas na vida privada, outras na política e social, e ainda outras que são as mentiras para connosco próprios sendo estas as mais graves, porque nos fechamos sem dizer o que pensamos, vendo como tudo se vai desenrolando à nossa volta sem tomar uma atitude. Tudo isto vai acontecendo no dia-à-dia, e todos nós cantando e rindo, como se nada fosse neste matagal que se chama Portugal.

Vem a propósito deste conversa toda, a análise de Eugénio Rosa, sobre “OS MITOS E AS MENTIRAS DA DIREITA NO ATAQUE `AO “ESTADO SOCIAL” (www.eugeniorosa.com)15/04/2013, onde desmonta através de dados oficiais as mentiras usadas pelos nossos governantes para nos irem aos bolsos e um outro de Ellen Brown, “O Mecanismo Europeu de Estabilização (MEE), ou como a Goldman Sachs capturou a Europa” (http://resistir.info/europa/17_golpes_de_estado.html) . Este famoso MEE , não é mais do uma forma de por os contribuintes suportarem a austeridade e a salvar da crise dos bancos.  Nestes dois artigos poderemos apreciar quanto mentirosos são os nossos governantes, como alguns lacaios comentadores e jornalistas, que sabendo a verdade, a escondem através de uma informação confusa e prolifera de modo a que o “Zé Povo”, se deixe atemorizar e vá cedendo aos interesses maiores do capital.

Com tudo isto, todos acabamos aprendendo a mentir com grande sabedoria, engando-nos a nós próprios, ao fisco, aos amigos etc., etc., até tentando enganar a vida.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

DESLIGUEI, VIREI SEM ABRIGO




Desliguei, não continuei a falar, as palavras batiam na parede da indiferença. Saí para rua, o ar da noite fresco aclarou-me as ideias, e afastou o espectro negativo como terminara a conversa. A seu tempo tudo se resolve, quando tiver que acontecer, acontecerá(?). Sei que é determinismo a mais, mas é melhor pensar assim do que ficar preocupado. Não podemos fazer planos demais, ou acreditar, que todos cumprimos com o rigor suficiente, esperando que os outros se comportem de igual modo como nós. Em algum tempo também teremos falhado sem nos apercebermos. De “infalíveis está o inferno cheio”, “amanhã é um novo dia”, e por aí adiante. Os pensamentos vão acompanhando a passada, e o a brisa os vai levando tornando mais leve o peso da alma. “ Não vale a pena chorar o leite derramado”, dizem, como tal o melhor é seguir em frente e pensar que nada aconteceu, as coisas acontecem e nós vamos mudando um pouco, até que quando nos apercebemos já estamos do outro lado da vereda, e nem sabemos como saltamos. A situação financeira é grave e está em primeiro lugar nos problemas a resolver. Como tal, virarei sem abrigo e rapidamente tudo ficará mais fácil. Não há casa para manter, impostos para pagar, nem água, nem luz, as obrigações desaparecem como fumo e o prazer da leitura até se pode manter com os livros que abundam no meio dos lixos assim como os jornais e as revistas. Já nem falo em roupa, porque qualquer trapinho encontrado ao lado do contentor do lixo me ficará a matar. A comida também se esmolei-a. Os amigos passarão a ser outros. Os antigos deixarão de me reconhecer, e os novos estarão dentro do meu espectro económico e social. Fixe.
Tu não te preocupes comigo mulher deixo-te os papeis do divórcio assinados em cima da mesa, os filhos estão crescidos, já não precisam de mim e tu sempre terás a oportunidade de arranjar um parceiro mais capaz que te dê menos preocupação. Foi bom enquanto durou, agora vou-me, não quero discutir contigo. paga as dívidas ao estado, ajuda a pagar as dos bancos, e tem os impostos em dia para não te levarem a televisão, e a internet, eu prefiro o ar livre do portal de uma casa, onde adormeço todos os dias sem me consumir e com sonhos fáceis de apagar. Boa noite e até um dia destes.


DC

sábado, 13 de abril de 2013

Ideias da "MERDA"...

Morreu excêntrico socialite de Hong Kong que comprou a primeira sanita dourada


Há uns anos atrás, tive um patrão, que em certos dias, chegava à empresa de manhã, logo me mandava chamar, Quando entrava no seu gabinete dizia para me sentar em frente dele e agitado começava, “Pá tive uma ideia do caraças hoje de manhã...Ai sim, dizia eu, e então? Pá, estava eu na casa de banho a fazer a barba —ou outra coisa qualquer — e veio-me à ideia... assim descarregava ele a sua ideia. Do mesmo modo que comigo, fazia-o com outros funcionários. Como sempre acontece nas empresas, nas suas costas riamos as gargalhadas e dizíamos “o chefe tem as ideias na casa de banho, pode-se dizer que “são ideias de merda”. O que nem sempre era verdade, por vezes eram ideias ditadas pela preocupação de manter a empresa activa e os seus funcionários.

Tive um amigo que lia a maior parte dos livros, na casa de banho, e colocou uma estante com os ditos, mesmo em frente da sanita, dizia ele, “para não perder tempo a procurar um, antes de entrar"

Com o decorrer dos tempos fui-me apercebendo que muitas pessoas passam imenso tempo na casa de banho pensando “na morte da bezerra”, ou seja, fazem daquele local o espaço ideal de isolamento, para pensarem na vida em todas as suas variantes e vicissitudes. Não o escolhem acontece.

É naquele espaço que todos os dias, em especial logo pela manhã, muitos se ocupam das tarefas essenciais à sua higiene, ou ficam simplesmente sentados na sanita à espera que aconteça. Não, não é o que estão a pensar, Ali a mente trabalha a cem por cento tentando alinhar pensamentos, fazendo planos, dando azo a criatividade, preparando terreno para o que diariamente se lhes depara e em muitos casos para tomarem decisões com futuro, outras vezes lêem livros, jornais, revistas, pensam, sonham. E é também aqui que muitas vezes somos apanhados com “as calças na mão”, e sem saber o que fazer.

Todos nós já devemos ter reparado no tempo que as pessoas passam nas casas de banho, muitas delas quando saem trazem um rosto pensativo, como se estivessem na maior biblioteca, ou lugar de culto. Como diria escritor, “conversas de WC”, a sós consigo mesmos. Talvez tenha chegado o momento de deixar de criticar quem “perde” o seu tempo na casa de banho, não sabemos o quanto esse tempo está a ser usado a pensar em coisas positivas, não só para o próprio, mas também para os outros. Nem sempre são ideias de MERDA, no entanto se forem ficam no local em que devem estar e facilmente são descarregadas no autoclismo da vida. Além de mais para que conste MERDA, é tão normal como, ONG, PT, EDP, PM, PR, UE, ONU, EEUU, ou no pior PQP.

MERDA:
Movimento de Energia Renovada Da Alma

http://bairrodooriente.blogspot.pt/2010/02/morreu-o-homem-da-sanita-dourada.html

quarta-feira, 10 de abril de 2013

NÃO, NÃO VOU POR AÍ !


Deixou-se silenciar pelas preocupações, muitas horas foi pensando entre portas, na sua caixinha onde se guardam todos os segredos, e todo o fraseado da vida. Os pés mesmo que arrastados, trazem consigo as pernas e fazem deslocar o corpo, o restante acompanha, só o que está dentro da caixinha, bem no topo está longe, com as suas dúvidas, realidades que o assaltam, sentimentos que vagueiam. no meio de tudo isso, a permanente interrogação sobre a existência do ser humano. .. nascemos para não ter alegria, ou a alegria é que deve gerir o nosso viver...

Olhar sem ver, caminhar sem saber, fugir de quê? ...ontem o sr. Joaquim cortava as árvores, aparava a relva na sua rotina costumeira, como se os braços estivessem longe daquele seu olhar parado...a esposa doente? Os filhos?...Aquela a cheiinha que passeia o cão pintalgado está grávida novamente, parece ter o dobro do tamanho deve ser porque passam mais tempo na cama....o inverno frio e chuvoso provoca estes acontecimentos.... ah, aquele sujeito continua a visitar os caixotes do lixo procurando não sei o quê...tem um ar bastante humilde, mas asseado, que razão o leva a escarafunchar o lixo...estou quase a chegar a casa... mais uma vez lá terei que preparar o almoço com os bocados que sobram, beber um copo de vinho e...voltara a pensar, nas patetices do costume...aquele gajo constitucionalista na televisão, é mesmo estúpido, e ninguém lhe pergunta se também quer dividir o seu salário para dar emprego a alguém... será que só os pensionistas é que devem ser roubados no final da sua vida quando nem hipóteses têm de trabalho e de descanso... não são do FMI são da PQP, porque nunca viveram com salários em atraso, com trabalho precário...que merda de razão se estabelece na sociedade que um gestor ganhe um milhão de euros por ano e um trabalhador deve fazer o sacrifício de viver com cerca de cinco mil euros...quem foi a besta que pensou que uns são melhores que outros assim tão diferentemente...

A caixinha tem uns milhares de neurónios que não param de funcionar enquanto o corpo se desloca, o futuro é já ali, não tarda, num qualquer cemitério, e ao olhar para trás verifica, que muito deste muito fica por ver, viver e sentir. Tem um país que conhece por fotografias, e pouco sabe do seu povo, um mundo de cultura que só lhe conhece as aparas, uma vida onde na infância roubada aprendeu de depressa a palavra trabalho, uma saúde precária no meio do egoísmo dos homens. Há uns quantos que continuam a acumular ouros e bugigangas perdidos da vida e que se automatizam na alegria de destruir o que seria a realidade de outros se não fossem por si escravizados.

..vou continuar pensando, não tenho pressa de sentir o caminho das pernas, nem para onde me levam... lembro o cântico Negro de José Régio
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?



domingo, 7 de abril de 2013

AS FRASES QUE NÃO TENHO...



... e aqui são apresentadas, escritas por pessoas famosas, que fariam as nossas delicias em algumas situações com que nos deparamos nas conversas dia-à-dia, ou perante algumas atitudes de pessoas com quem temos necessidade de comunicar. Quase apetece dizer que são frases “prontas a usar” e que aplicadas de forma certeira vão directas ao objectivo.


> Leve é o trabalho quando repartido por todos. (Homero)


> Todo o trabalho tem em si mesmo a sua misteriosa recompensa.
   (Lerberghe)

> Não me digas o muito que trabalhas; fala-me antes do muito
   que fazes. (James Ling)

> O caminho mais curto para conseguir fazer muitas coisas é fazer
   uma de cada vez. (Samuel Smiles)

> Cada fracasso ensina ao homem algo que ele necessita de
   aprender. (Dickens)

> A única pessoa que pode mudar de opinião é aquela que tem
   alguma. (Edward Westcott)

> Quem se irrita com as críticas está a reconhecer que as merece.  
   (Tácito)

> A vida é fascinante. O que é preciso é vê-la com os óculos certos.
   (Alexandre Dumas)

> O desespero consiste em imaginar que a vida não tem sentido.
   (Chesterton)

> As pessoas equivocadas parecem falar mais alto que os outros.
   (Andy Rooney)

> Errar é próprio do homem. Persistir no erro é próprio dos loucos.
  (Cicero)

> No mundo há riqueza suficiente para satisfazer as necessidades
   de todos, mas não para alimentar a ganância de cada um.
   (Gandhi)

sábado, 6 de abril de 2013

TALVeZ LInguagem Gestual


Seria bom que as palavras ganhassem vida ao sair dos lábios, fossem corpo, e cumpridas na integra, no seu sentido, não deixando fugir a oportunidade da realização e responsabilidade de serem cumpridas assumindo os actos.

Usam-se as palavras e esquecem-se logo de seguida. Ficam perdidas nos ouvidos e no ar, volatilizam-se, não chegando a penetrar bem dentro dos sentidos, dentro da mente, não se incorporando no corpo a que foram destinadas.

Fica, quem as disse, livre de responsabilidades, e quem as recebe nem sequer se consome em percebê-las deixando-as morrer.

Talvez fosse melhor a linguagem gestual, o movimento físico dos dedos obrigaria a uma maior atenção, melhor entendimento e,  em algumas circunstâncias, ao gesto errado, reagiriam tipo boomerang voltando a quem os desenhou no ar, tipo bofetada, não de luva branca, mas sim de cinco dedos efectivamente, vivos

Falar por falar, dar às palavras os sentimentos, responsabilizando as letras, as palavras e frases, é uma burrice, que ofende não só dicionários, as gramáticas e as mentes inteligentes, e pelos que, por falta de discernimento, dão importância ao que foi dito e se sentem de algum modo presos a elas.

Não deveríamos todos ter cuidado, em das palavras fazer actos e destes novas palavras novos caminhos, novos saberes? Deixo para outros doutos conhecedores o entendimento deste arrazoado de palavras, para que possam dar-me, se necessário, um puxão de orelhas, por ter ofendido as letras as palavras e ter construído tão mau raciocínio.

DC

sexta-feira, 5 de abril de 2013

VIsita ARTística


Hoje decidi fazer um outro uso do computador e da internet, Procurei tirar proveito das suas potencialidades, Sei que o que vi não é a mesma coisa que estar perante a realidade, no entanto aproximou-me um pouco dela e fez-me tomar consciência do muito que se faz em especial no campo arte.

Durante horas percorri links com páginas de artistas plásticos, fiquei absorvido pela sua criatividade e paixão pelo que fazem. Cada um com o seu estilo e forma de expressão, Alguns procurando a realidade, uns a abstracção total, e outros realidade e abstracção, Uns usando a cor de forma prolifera, outros de forma mais contida, Colagem, óleo, acrílico, aguarela, grafite, pastel, cartão, tela papel, enfim um diversificar de riscadores, de materiais de suporte, de temas, de dimensão, mas todos eles dando vida e trazendo de dentro de si para o mundo exterior a sua alma, e deixando-nos encantados perante a qualidade do seu trabalho.

Foram horas benditas, percorrendo galerias digitais, conhecendo um mundo de gente fervilha e que produz arte, Quando resolvi parar de ver aquelas maravilhas, na minha mente digladiavam-se três contrastes, Por um lado fervilhava de alegria e prazer pelo que observara, por outro ficava triste, por saber da impossibilidade de ver tudo aquilo na realidade, podendo sentir o cheiro dos materiais e dimensão real das peças produzidas, aperceber-me do volume da pincelada, da cor real, da técnica utilizada pelo artista na execução das suas obras, E por fim, saber que muito gente infelizmente passa ao lado de tanta grandiosidade.

A tecnologia tinha-me aproximado de algo, que a sua própria dimensão não tem capacidade de substituir, o contacto real com a obra de arte in loco, mas pelo menos deixara-me desperto para a sua procura e vivência, em outras espaços, como as galerias e museus, com as quais convivemos paredes meias nas ruas da nossa cidade e que primam pela nossa ausência, perdendo nós oportunidade soberana de enriquecermos intelectual e emocionalmente.



Algumas referências:
http://catherinelarose.blogspot.com
http://artodyssey1.blogspot.pt
http://americangallery.wordpress.com

quinta-feira, 4 de abril de 2013

CONVERSAS



...A conversa é um encontro de mentes com recordações e hábitos diferentes. Quando as mentes se encontram não se limitam a trocar factos: transformam-nos, reformulam-nos, tiram deles diferentes conclusões, adoptam novas linhas de pensamento. A conversa não se limita a baralhar de novo as cartas, mas cria novas cartas...

...É como uma faísca criada por duas mentes. E o que no fundo aprecio são os novos banquetes comunicativos que uma pessoa pode criar a partir dessas faíscas.


Elogio da Conversa - Theodore Zeldin

É de conversa que eu quero falar, daquelas conversas que não são conversas, que um fala e o outro ouve desligado do conteúdo. de repente acorda da sua letargia bocejando entre cada uma das frases que solta, interrogando, se ele vai continuar ou mudar de assunto. Cria-se um silêncio constrangedor em que cada um fica sem jeito. Sim isto acontece muito na chamada conversa de surdos em que a partilha se perde, onde não se baralham cartas, nem são criadas novas, nem sequer chega a haver jogo. E nem cartas escritas se podem fazer de tal conversa, porque o conteúdo se foi, se perdeu num qualquer labirinto entre os conversadores.


Ele fala que se farta, a voz dele torna-se um zumbido no meu ouvido. Não sei porque o faz, talvez tenha necessidade de descarregar as pilhas do silêncio, que durante horas acumulou. Talvez seja somente a sua necessidade de comunicar o que aprendeu no seu silêncio, e no qual foi devorando, outros silêncios, nas letras que seus olhos foram percorrendo. Já me tenho interrogado, se as pessoas como ele se apercebem, que os outros não estão a acompanhar o seu raciocínio, ou que já não se ligam às mesmas preocupações e interesses a que se devota, ou, se calhar, porque ignorar é mais saudável. Digo eu.

Ele não sabe que quando eu falo pelos cotovelos, é porque ele nem sequer grunhe no desenrolar da conversa e que o seu silêncio atento me diz da distância a que se encontra. Fico atemorizado se o silêncio pairar entre a nossa conversa—que não existe— e prefiro o monólogo a esse silêncio entre nós. Tenho medo de ter de dizer a última palavra, antes de me despedir finalizando a conversa. Diz ele.

De fora, ao longe observo os conversadores, que não conversam, o fio condutor, que poderia existir há muito se partiu, nos “eus”, nas diferentes memórias que temem recordar, nas preocupações diversas de cada um, deixando de existir a faísca entre as duas mentes, não existindo uma refeição comunicativa quanto mais um banquete.

Eu, o observador, já tenho saudades daquelas conversas partilhadas, quase tertúlias, que tínhamos, sem horas nem local escolhido, em que devorávamos tudo o que cada um comunicava. Um dia destes tenho de matar saudades fazendo uma orgia comunicativa, onde se soltem foguetes, faíscas e trovões.

DC

terça-feira, 2 de abril de 2013

CINZENTO POR DENTRO


Caminhei olhando as pedras da calçada, pisando alcatrão, cimentos nos passeios, terra e jardim, sem fazer distinções. Caminhava afastando-me do que me agitava, do que fazia temer e tremer, da angústia, da falta. Olhava e via o piso correr, enquanto me fatigava nesses pensamentos confusos que nos levam a insanidade. Minha mente funcionava como uma pintura abstracta, onde só a cor e a composição faziam sentido, o resto perdia-se no gosto do observador. A chuva caía molhando as lentes dos óculos tornando mais difícil o ver. Temia tropeçar, como tantas vezes tropeçara em outras decisões e caminhadas da vida, e esborrachar-me ali no chão duro, fazendo lesões no corpo, mas ao mesmo tempo sentia que se isso acontecesse a dor seria menor que a indiferença com que somos premiados, e no quanto ela nos fere por dentro. 
O céu cinzento e a chuva, contribuíam para que se enegrecessem vontades e os objectivos traçados se perdessem nas conjecturas, sem que se lhe adivinhasse fim.

A mente por vezes trai-nos com o seu mapa de memórias e sentimentos, trazendo-nos pensamentos soltos e frases, “ não podes querer ter sol na eira e chuva no nabal”, “não se pode ter pau e bola”. Surgem e ligam-se umas com as outras em abstracção, sem procura, como reflexo de algo que escondido em nós não se quer revelar. “Mais importante do que fazermos o que nós gostamos é fazermos as coisas com quem gostamos”. Restos que ficam de um filme, diálogo, pensamento? Nada se esclarece. Nem sequer a razão porque transpus a porta de casa, me coloquei debaixo da chuva e do céu cinzento, caminhando sem norte. Também não era importante saber, ou aduzir razões, se o instinto, ou aquilo a que chamam intuição que me atirou para o espaço exterior. Havia uma necessidade, certamente, de estabelecer um caos interior, para não deixar que as preocupações quotidianas se assumissem.

De quando em vez levanto os olhos, não deixando que a cegueira, se instale, adentrando em mim. Sinto o cansaço que nos outros faz regra em defesa do seu espaço. No egoísmo do eu, como se não houvessem mais eus para além do nosso, e na incapacidade de pensar na troca de uma incerteza pela prazer de viver, nem que seja curta a sua passagem. Há machos que morrem na cópula, porque é essa a sua natureza, mas não o deixam de fazer. “mais vale um gosto na vida que....”

DC

segunda-feira, 1 de abril de 2013

DIA DOS PINÓQUIOS





É Dia
das Mentiras, ou dos Enganos, na realidade este dia deveria deixar de ter este nome e passar a chamar-se o Dia da Verdade. Temos de inverter as coisas, as mentiras passaram a ser o Pão Nosso de Cada Dia, ao longo dos trezentos e sessenta dias do ano e as verdades muito raramente surgem no quotidiano das pessoas.
Engana-mos a fome, perante o estômago, e mentimos pelo que dizemos comer e não comemos e à família, aos amigos, os vizinhos e todos os que nos rodeiam.
Mente-se, falando da roupa, da sua qualidade e preços, comprando roupa usada, —agora até é moda (?)— ou roupa oferecida por amigos, e até, em algumas situações, aproveitando as deixadas junto aos contentores, que almas caridosas não misturam com o resto do lixo.
Mentem os pais aos os filhos e sobres os filhos e seus comportamentos, ou abdicando de si próprios, para os encobrirem, ou oferecerem aquilo que não podem.
Engana-se o companheiro/a, namorado/a, marido ou esposa. sobre os sentimentos, as emoções e as asneiras que fazem à custa disso.
Mentem os desempregados sobre a origem do dinheiro, dividindo o subsídio em meses, saindo de manhã cedo todos os dias para ficarem no café ou irem até ao fundo de Desemprego à procura de trabalho, ou fazer cursos “formação”.
Mentem políticos governantes, quando querem ganhar as eleições e mentem depois de o conseguirem, porque tudo o que prometem desaparece do mapa de compromissos com o povo e a quem dizem estar a zelar pelos seus interesses, trocando-os pelos dos poderosos do mundo da finança, com as Troikas, destroikas e os cunhacimentos.
Mente a igreja, escondendo os seus pedófilos, o seu mundo interior atribulado e as suas manigâncias económicas, fazendo conluio com o dinheiro e o mundo da finança.
E até os que falam verdade são interpretados como mentirosos porque aquilo que dizem é tão contra-natura que só pode ser mentira.
Por isso, e sem enumerar todos os factos, lugares, espaço, ou tempo de tanta mentira, proponho que se produza um abaixo assinado, que institua a mentira como um facto nacional e o Dia das Mentiras se transforme em Dia das Verdades, porque essas sim,
são cada vez  menos fáceis de produzir.