Desliguei, não continuei a falar, as palavras batiam na parede da indiferença. Saí para rua, o ar da noite fresco aclarou-me as ideias, e afastou o espectro negativo como terminara a conversa. A seu tempo tudo se resolve, quando tiver que acontecer, acontecerá(?). Sei que é determinismo a mais, mas é melhor pensar assim do que ficar preocupado. Não podemos fazer planos demais, ou acreditar, que todos cumprimos com o rigor suficiente, esperando que os outros se comportem de igual modo como nós. Em algum tempo também teremos falhado sem nos apercebermos. De “infalíveis está o inferno cheio”, “amanhã é um novo dia”, e por aí adiante. Os pensamentos vão acompanhando a passada, e o a brisa os vai levando tornando mais leve o peso da alma. “ Não vale a pena chorar o leite derramado”, dizem, como tal o melhor é seguir em frente e pensar que nada aconteceu, as coisas acontecem e nós vamos mudando um pouco, até que quando nos apercebemos já estamos do outro lado da vereda, e nem sabemos como saltamos. A situação financeira é grave e está em primeiro lugar nos problemas a resolver. Como tal, virarei sem abrigo e rapidamente tudo ficará mais fácil. Não há casa para manter, impostos para pagar, nem água, nem luz, as obrigações desaparecem como fumo e o prazer da leitura até se pode manter com os livros que abundam no meio dos lixos assim como os jornais e as revistas. Já nem falo em roupa, porque qualquer trapinho encontrado ao lado do contentor do lixo me ficará a matar. A comida também se esmolei-a. Os amigos passarão a ser outros. Os antigos deixarão de me reconhecer, e os novos estarão dentro do meu espectro económico e social. Fixe.
Tu não te preocupes comigo mulher deixo-te os papeis do divórcio assinados em cima da mesa, os filhos estão crescidos, já não precisam de mim e tu sempre terás a oportunidade de arranjar um parceiro mais capaz que te dê menos preocupação. Foi bom enquanto durou, agora vou-me, não quero discutir contigo. paga as dívidas ao estado, ajuda a pagar as dos bancos, e tem os impostos em dia para não te levarem a televisão, e a internet, eu prefiro o ar livre do portal de uma casa, onde adormeço todos os dias sem me consumir e com sonhos fáceis de apagar. Boa noite e até um dia destes.
DC
segunda-feira, 15 de abril de 2013
DESLIGUEI, VIREI SEM ABRIGO
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