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domingo, 22 de novembro de 2015

SAIR DO ESCURO



Amolecida a vontade de se erguer do chão, não havia razão para que não ficasse, olhando o céu breu que por cima o observava. O cinzento estava tão fora como dentro, sem alternativas para encontrar o arco-íris, que fizesse aflorar na boca um sorriso, que o aconchegasse na palavra, que fosse abraço demorado no conforto da ausência e da espera.    
De repente o inesperado, a música foi enchendo o ar e lentamente foi adentrando na sua mente e no seu corpo, aquecendo-lhe a alma, trazendo-o a um navegar de ondas sonoras, escorreitas, deixando-o ir pelos sons e extasiando-se...levando-o por um caminho sem fim..deixou-se ir onde a música o quisesse levar...e assim se perdeu da dimensão do espaço e tempo...volatilizando o cinzento e as cores surgiam enriquecendo-o...misturando nostalgia e prazer. 
Sabia que ele não estava ali vivendo e partilhando, com o seu sorriso, com suas mãos apertando as suas, com o seu calor, mas a tristeza desse facto, esmorecia suavizada pelas sonoridades do que ouvia. 
dc 

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Hoje..




Hoje  
Se me tivesses chamado
Ter-me-ias de dia
No retrato mais acabado
Que algum dia eu te daria

Hoje
Seria licito até, pensar
Num beijo com sabor de morango
Saltar como se quisesse voar
E ir contigo dançar o tango

Hoje
O retrato teria a qualidade de Man Ray,
Na estética do preto e branco
Na ausência de cor o encanto
E da tua boca : amei!!!

dc

domingo, 11 de outubro de 2015

CARTAS SONHADAS




Tenho escrito muitas cartas sonhadas para ti, Cartas nunca acabadas, ou enviadas, Cartas que escrevo quase todas noites, Por vezes a tinta escasseia da imaginação e tenho de as repetir desde o começo, quase sei de cor grande parte delas. O começo, sempre igual, bom dia, Minha Flor..não era o teu nome, mas nas cartas sonhadas era sempre assim que eu te identificava. Muitas vezes recusava-me, de propósito, a acordar agarrando-me ao prazer que delas tirava e o que projectavam de momentos e vivências.
Esta noite, a carta que escrevi levava um sobreaviso, quanto ao definitivo... protelei o mais possível esperando que alguém me acordasse antes de enviar, não queria que partisse... a minha mente não encontrava endereço. Era como se estivesse em coma induzido para encontrar tempo para debelar a doença e atenuar a dor. Ela falava de tudo o que existira de nós, o que éramos de loucura e paixão, de projectos, e que agora só nos sonhos acontecia, pois há muito partiras. Temia de mim, se ela partisse, perderia o sonho e tua companhia, que em alguns casos quase real.
Quando me acordaram repentinamente, eu que ansiava por isso, naquele momento me senti infeliz pois não queria ter sido interrompido, Acordara contigo tão real em mim, que sentia ainda o calor e sabor dos teus lábios sobre os meus e o cheiro do teu corpo espalhado pelo quarto. Era este momento que me dava algum sentido e às cartas sonhadas, continuavas alimento das minhas fantasias, afinal o que temia perder. 
dc

sábado, 10 de outubro de 2015

SAUDADE...





hoje
desconsolei
por não ser poeta
desencontrei
a palavra certa
para o tamanho
da saudade

nos dicionários
consultados
os pensamentos
estavam alinhados
todos perdulários
quanto à saudade

sem tradução
em outras línguas
fiquei sem saber
como pode o coração
estrangeirar
de saudade.

dc




segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Lá, na imaginação



No segredo, do nosso encontro de palavras, se descobre a beleza das rosas, sem a dimensão do seu cheiro nem o sentir dos espinhos que as protegem. Nelas a noção de como agarro teu sorriso e fico com ele, passeando nos meus pensamentos, dando cor aos dias, limando as arestas de momentos difíceis, aceitando que traga aos meus olhos brilhos de alegria. 
Faço-te princesa do meu reino, mesmo não sendo príncipe, servo, ou rei, és personagem principal do meu conto, ilustrando meu coração. Imagino-te, na espera do meu regresso, vindo da floresta distante, destruídos os obstáculos e eliminados os inimigos, trazendo a paz ao teu regaço e esperança renascida. 
Sei-te sabedora de corações doridos, de sentimentos feridos, de vontades e desejos capazes de grandes batalhas, Certamente a distância existe como um factor de distracção, somente isso, do toque da realidade física, mas prova que os sentidos e emoções são fonte de proximidade.  
Na verdade, rosas, sorrisos e brilhos, são acessórios neste nosso conto de fadas, mas que nos fazem tão bem, que até a distância, a espera e a realidade física, se esbatem, com o calor das palavras e seus sentidos, tornando-nos a realidade possível...

dc.
 
 
 


domingo, 27 de setembro de 2015

No Banco do Jardim



Quero sentar-me naquele banco de jardim, meu braço sobre teus ombros falando dos nossos sonhos e projectos, Sentir a brisa agitando as árvores, o chilrear intenso dos pássaros no seu recolher do fim de tarde, e ver o sol avermelhado se escondendo na linha do horizonte.
Quero ficar naquele sem tempo, Sentindo o calor dos nossos corpos, que se aconchegam, no arrefecer do fim de tarde, vendo a noite entrando pela cidade, recebida pelas as luzes dos candeeiros.
Esperar que os ruídos dos carros vá desaparecendo, e as nossas vozes se tornem tão nítidas como os nossos desejos. Gozar o prazer de sentir os meus dedos brincando no teu cabelo, vendo-te fechar os olhos no embalo, procurando colar as costas no meu peito, enquanto vou moldando as palavras, junto do teu rosto. Até que aconteça o beijo, selo de vontades, assinatura de gostar, testemunhado pela natureza que nos envolve. Depois...depois deixar que tudo vá evoluindo, no curso normal, registado no corpo e na pele, para lembrança futura.. e depois, esse outro depois mais longo e saboroso, de sorriso na boca, olhos brilhantes, no regresso ao calor da casa e ao descanso, num caminhar pela noite, que já foi tomada pelo luar e os gatos.
dc 

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

a CARTA



Gostava de ter coragem para te escrever, uma carta, daquelas que se escrevem em papel especial e que cheiram a enamoramento. Escrever com letras redondas, de traços incertos, espessuras diferentes, Cada palavra com o seu significado colado a expressão do seu desenho, às emoções nesse acto de realizar escrita. Gostava que assim fosse, marcada, legível, identificada com o sentir de quem escreve, deixando claro o ADN da origem. Mas perdi o jeito de escrever, de me revelar, selando o meu dizer com a expressão viva, quase arte, das letras da escrita. Aquele jeito de escrever com vocabulário escorreito, entre as intenções e os grafismos das letras trazendo coladas as emoções.

Uma carta, que quando olhasses a visses como tua e minha, Que quando a abrisses tivesse o meu cheiro, o meu gostar, Que quando a lesses, te sentisses como cumprindo um ritual delicado, envolvente, com pausas, saboreando cada palavra, cada frase, sempre de encontro ao encantamento do significado, da preocupação cuidada do desenho das letras, agitando teu peito de fervorosa alegria e emoção descontrolada da empolgante novidade, e concluindo, até que enfim, escreveu.

Sinto a necessidade e quero escrever, mas retraio-me num jogo de ping pong entre o querer e a inércia e o medo de não sermos definitivamente.


dc


domingo, 30 de agosto de 2015

Meu (a)mar


teu corpo
é o imenso areal
onde repouso


na brisa
dos teus lábios
o ar que respiro


e na espuma
do teu mar
os sonhos a realizar

dc

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A INSÓNIA



A desoras acontece-me pensar nas coisas, Não nas coisas, coisas, mas naquelas coisas que mexem connosco por dentro, que ultrapassam a superfície da pele e vão fundo na carne e na mente, que espalham interrogações, anarquizam emoções, tiram racionalidade, que nos confundem quanto ao sentido da existência. Um estar em que tudo é posto em causa, as emoções, o trabalho, poesia, pintura, escultura, anarquia, sociedade e até a procura do momento em que perdemos a alegria. São momentos em que vemos a vida como numa imagem digital desproporcionada e desfasada da realidade, Nem as proporções, nem as cores, correspondem aos factos. Vemos a cópia, imaginamos o resto, ganhamos conhecimento truncado da própria realidade.
A noite nem sempre é boa conselheira, deixa-nos presos às análises das incoerências, que se foram plantando ao longo do percurso das nossas vidas, mas também nos permite o silêncio que não escolhemos, para pausadamente tirarmos partido dessas experiências e encontrar novas soluções e crenças, quando à nossa capacidade de evoluir, modificar e aproveitar os aspectos positivos das situações erradas. É o tempo dos balanços e de dar mais um passo encurtando os quilómetros necessários ao êxito.
Valeu a pena, dessa insónia que me manteve nesse adentrar na noite, Tirei os tais aspectos positivos que me trouxeram para o acordar, o sorriso, a cabeça limpa de problemas e a confiança de que o importante é viver cada dia, sempre lutando para cumprir o projecto a que nos devotamos sem vacilar e sem cortar etapas, mesmo que difíceis.

Assim começou este primeiro de Agosto, onde todos pensam em férias e eu me devoto, à limpeza, da arrecadação, do escritório, das roupas que já não se usam, pondo uma nova ordem higiénica, confiando que o futuro trará as coisas novas.

dc

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Nem sempre juntos, nem para sempre juntos.


Perdeu-se o hábito de eternizar o viver a dois(?). Torna-se difícil, nos dias de hoje, no mesmo espaço conviver, com mais um, por vezes, mais dois ou três, que vêm por arrasto. A materialidade, a individualidade exacerbada a que nos fomos habituando pela modernidade, contingências económicas, sobrevivência e tecnologia de comunicação que nos agarra à voz do mundo e nos afasta do ruído dos mortais, São tudo condicionantes para que na hora da verdade se hesite, surgindo o medo de perda da liberdade(?) globalizada.

Bem vindos aos tempos modernos onde “oh, é tão bom... não foi”, mal se começa já findou. Somos formatados para sociedade de acordo com quem tem o poder, e de nós quer, como dos nossos filhos e vindouros, seres egoístas, individualistas, à procura de sucesso a qualquer preço, de bens materiais e deslocalização para que se não criem raízes.

Produzem-se revistas, programas de TV, arranjam-se opinadores e outros processos de comunicação e contágio. A treta do “cada um que se safe”, o melhor que puder, mesmo que galgando nas costas uns dos outros. Quanto mais a sós, melhor, retiram-nos os filhos do quotidiano, a vivência em família, perdendo raízes e fazendo melhores escravos modernos. Talvez aqui a razão dos muitos fracassos de entendimento e comunicação entre as pessoas que se gostam.

Contudo, mesmo assim, a tudo isso, de forma quase inconsciente, tentamos fugir e deixar que os instintos primários da vivência em comum tragam à superfície o amor ao outro, o partilhar um pouquinho das nossas vidas, como nos recorda o romance de um livro que lemos, ou um filme que nos expõe a um “amor e uma cabana”. E quando se vislumbra algo parecido, teme-se tanto, que se quer que tudo aconteça rápido - como a modernidade nos habituou - sem tempo de conhecer, vivenciar, aceitando de bom grado algo híbrido incompleto, não correndo o risco de “ser agora o momento” e perdermos a oportunidade...depois....mais um “tiro no porta-aviões”.


dc

sábado, 25 de julho de 2015

Atentamente Gato


Atentamente leio uma história de humanos, Não me arrepia que sejam entre si muito ingratos, só me assusta que ataquem a minha calma e serenidade, só porque não sabem viver com os próprios factos.

Aqui estou eu fazendo o meu juízo.
      (Olá...estes tipos são tão complicados, escrevem de desamores e desencantos, vivem guerreando fazem desacatos piores do que gatos.)

Na verdade não há comparação. Eu sou amigo do meu dono e nunca o deixo ao abandono. Nunca abuso da hospitalidade nem perco independência, temos em comum autonomia em consciência, Sou frugal na alimentação como qualquer tipo de ração, Não dou problemas de saúde, pois tenho sete vidas, Na higiene sou cuidado usando o local adequado, banho-me todos os dias de forma profícua, sempre de unhas tratadas num qualquer pedaço de ráfia, sei aproveitar o sol, fazer equilibrismos vários até sou culto lendo alguns breviários,

Dou meu pêlo ao conforto das suas mãos, Ronronando em seu regaço disfarço seu cansaço e afasto-o da tensão, Roçando em suas pernas, o afasto da solidão que nele se atravessa, lembrando que existo na sua vida à pressa, Por vezes salto e brinco, para seu contentamento, mesmo quando penso que se comporta como um jumento.
É verdade que tenho uma vida santa, sem muito com que me consumir, mas sou eu quem o encanta e até o faz sorrir. Por isso meu amigo, trata-me como deve ser, que eu sou um gato letrado que te ajuda a viver.

dc

PS: porque hoje acordei gato sem humano querer ser.



sexta-feira, 17 de julho de 2015

a CRIANÇA que me ENCANTOU

> um único momento de beleza e amor justifica a vida inteira.
  [rubem alves]

Abriu-me a porta, logo perguntando se eu era o amigo esperado dizendo meu nome. Seu braço esticado chegava com algum esforço ao fecho da porta. Eu, sorrindo, perguntei-lhe se podia dar-lhe um beijo, o que anuiu correspondendo, de seguida, perguntei-lhe onde estavam os outros e comecei a subir as escadas em direcção à parte superior da casa, enquanto a mãe perguntava algures, se me tinha cumprimentado. Ela, dizendo que sim, virou-se para mim com um semi-sorriso e diz-me:            
            - Queres ir ter com minha mãe?
            - Sim claro, respondi eu.
            - Então porque estás a ir para aí, a cozinha é lá em baixo?

Deu-me a mão e indicou-me como fazê-lo.
Aquela criança sorria lindo, como só ela parecia saber. Falava lindo, como só a sua voz de criança poderia, que sem pronuncia de bebé mimado, na sua clareza roubava os “eles”, mas verifiquei mais tarde, tinha a destreza, na pergunta e na resposta, das coisas que pretende. Ternura linda, no toque do rosto com aquele mão pequenina e bem desenhada. Pés lindos, gordinhos sem ser exagerados, metidos nas havaianas. O seu vestido rodado, era mínimo como sua idade, Quatro anos de gente.
Ficou-se, deitada no chão junto ao televisor enquanto os adultos elaboravam o almoço. Quando sentiu o cheiro dos grelhados surgiu, com uma ar gracioso, a dizer que tinha fome.
Sem birras almoçou, usando os talheres com mestria e sempre com alegria desde do princípio ao fim.
Pediu para se sair da mesa com respeito e sempre serena. Enquanto os adultos ficaram a conversar, ela se foi entretendo com os desenhos animados. Mais tarde após a mãe lhe pedir carinhosamente, que me mostrasse o resto da casa, deu-me a sua mão gordinha e macia, e sempre sorrindo, foi-me dirigindo, explicando cada espaço de forma pormenorizada e a quem pertencia o seu uso. Finda missão aconselhou-me o sofá e sentou-se ao meu lado.
Curiosa, sabendo pela mãe que eu desenhava e pintava, desafiou-me para desenhar dragões uma vez ela, outra vez eu, o dela era o bom o meu era o mau porque cuspia fogo. Quando já satisfeita a curiosidade, decidiu pegar na sua maleta de médica, e “tratar-me da saúde”,  simulando auscultar-me, medir a tensão, ou até simular injectar-me com uma seringa descomunal, que perante a minha cara de assustado, ela se ria. Entretanto os adultos, começaram a ver televisão e nessa altura, ela liga a sua tablete para ver seus desenhos animados preferidos, no meio dos quais, de repente, dizia:
            - O fulano fez isto! E saltava para o meu colo, dando-me um beijo na face, deixando-me entre surpreendido e encantado.

Fiquei olhando a televisão, mas observando pelo canto do olho, aquela linda criaturinha que me encantava, que se estirava no sofá pondo as pernas e os pés em cima dos meus joelhos, como se me desse o privilégio da sua confiança. Por vezes, fazia-lhe cócegas às quais reagia positivamente e bem disposta. De quando em vez questionava-me, se eu poderia brincar com ela às “escondidas”. E, mesmo esquivando-me a isso, ela reagia positivamente, lamentando, mas sem birra.
A tarde decorreu rapidamente. Uma tarde enriquecida pela presença daquela criança, que me deu toda a sua ternura e atenção.
Na hora da partida, com mesmo à vontade com que me recebeu à chegada, quando lhe pedi um beijo, prontamente, assumindo um ar compenetrado, me deu um em cada face, que correspondi e agradeci, dizendo-lhe que tinha gostado muito de a conhecer. Resposta pronta:
            - Eu também gosto de ti, tens de vir visitar-nos mais vezes!

Derreti-me, saí daquela casa com um misto de tristeza e alegria.
Saí, pensando numa outra menina, que há muitos anos atrás, sentada em no meu colo perguntava à mãe:
            - Ele também pode ser, um bocadinho, meu pai?
As crianças sempre nos surpreendem. Como dizia o poeta “ O melhor do Mundo são as Crianças".

dc

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Poema humanista..



Imagino-te nesse outro lugar, do qual as palavras me referenciam o espaço e o volume. Vejo-te "anjo" na brancura da vestimenta, como se paz chegasse contigo, à dor dos que ansiosos te procuram na cura. As perguntas assustadas caem no regaço da tua escuta, os olhos brilham e se fixam no mover dos teus lábios, que debruam o sorriso da tua boca, sorvendo cada palavra, e embora temendo da explicação sabedora, dela procuram a serenidade para acreditarem que vale a pena. A tua escolha não é profissional é um poema humanista ao bem estar dos outros, é um regalo permanente ao teu espírito e corpo, é servir um interesse maior. Derretes energias cumprindo, vivendo e ajudando a viver, os que por temerem a morte mais cedo, a querem longe bem depressa. Como poucos, podes entrar no teu retiro, com o ego repleto e distribuir amor, compreensão, alegria, mesmo que na pele ainda tragas o último arrepio da morte próxima de mais. Mereces o direito ao silêncio, mesmo quando tens de sustentar e alimentar o ruído dos que te rodeia, essas gentes desejosas da tua presença.
Ainda te restam forças nas palavras, que usadas com mestria declaram sentimentos, enriquecem espíritos e são uma catarse que trás à superfície os sonhos e desejos.


dc

terça-feira, 23 de junho de 2015

QUERIAS...



Querias
Que eu fosse
Como tu és.

Se eu fosse
Como tu és
Que diferença
Haveria
Se o espelho
A mesma imagem
Reflectiria?

Nem eu
seria quem sou
Nem tu
Serias quem és.
Então para que serviria
Que eu fosse
Como tu és
Se foi aquilo
Que nos diferencia
Nos aproximou
Um dia?

Sê tu como queres
E eu serei como sou.
Nas diferenças
Nos completamos
E talvez por isso
Nos gostamos
Sabendo ambos
Ao que vamos.

dc

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Presa à Memória a Estória



Sente,
por dentro
um vazio
a preencher,
prende-se
agarrada
à migalha
que persiste.


Presa
à memória,
a estória
dum alguém
tão ausente,
trazida
ao viver
do presente.


Nesse
pensamento,
construído
na saudade,
confunde
sentimento
com a realidade,
e assim a alma
torturada,
vai
ao encontro
do nada.

dc

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Surfando



Que a estética, não perturbe demasiado a morfologia do teu corpo, que ele se deixe ir, com a mesma fluidez e envolvimento da água, tal como a tua sensibilidade espanta, quando a tua voz se pronuncia sobre os afazeres do mundo, das criaturas que nele habitam e da natureza que nos regala. Do mesmo, modo que a tua voz é melodia, calor, expressão dos teus sentimentos, dos pensamentos que deslizam numa vaga gigantesca, onde vais surfando percorrendo o “tubo”, intenso, carregado da expectativa e beleza, sem saberes do seu término, que faz temer te desfaças no areal imenso da incompreensão, nesse mundo onde os humanos se morrem de pobreza, material e espiritual.
A esperança, a vontade, a exigência, é que corpo, mente e emoção, se unam na mesma massa com que se solidificam as uniões entre os que se amam.

dc

terça-feira, 26 de maio de 2015

No tecido dos dias




Tacteando no tecido dos dias, procuro reencontra-te nessa alvura dos sonhos, em que amantes vivemos. E fico-me, com as mãos bailando no vácuo, roçando esporadicamente meus lábios, no perfume que de ti, ainda sinto.
Levo-te comigo para o correr da noite, com a imagem que me deixaste e, no silêncio da noite, reencontro-te, tão próxima, como se fosses pele do meu corpo...

dc
 

segunda-feira, 4 de maio de 2015

composição MÚSICA em CHUVA MAIOR

Ouvir música, enquanto a chuva, lá fora, escorre dos céus e bate nos vidros com o seu matraquear monótono, impede que a inutilidade se aposse de nós, enriquecendo o espírito. Deixo-me ir ao encontro, das notas que desconheço, da melodia que as suporta e de pensamentos desordenados que vão surgindo, num contínuo, sem princípio nem fim, enrolados na brisa das horas que nos vai bafejando o tempo....

- o domingo decorre, sem escutar missa. Só a regueifa amanteigada e o café com leite da manhã, fazem a diferença. Não haverá o cheiro do assado domingueiro, nem, após o almoço, o “passeio dos tristes", num lugar à beira mar, ou dentro das paredes do centro comercial da moda, rota habitual das gentes -

...a música enleia, a voz, lança no ar um texto numa língua que não entendo, bebo-lhe a emoção e limpidez das suas notas. A música, que serve de mote para o momento, repetir-se-á vezes sem conta, como se a intenção fosse gravá-la no pavilhão auricular e se repercutisse no cérebro. Fixa-se como tonalidade de fundo dos pensamentos, lenta, tranquila, inebriante, relaxando e tirando o peso ao corpo fazendo-me navegar imensidão imponderável do universo. Se assim não fosse, talvez a loucura me esperasse à porta de um qualquer minuto da existência, fazendo-me desperdício declinável.


dc





sexta-feira, 1 de maio de 2015

FLOR DE MAIO

 
Quando tudo parece passado e o presente nos desenha negruras, um sorriso chega, da boca perfumada e tudo se realinha de novo em explosões de sentimentos e corpos que se misturam sem saber princípio nem fim.
Assim, pelo menos, agarramo-nos aos pequenos trapos, que sobejam da vestimenta, que nos veste a alma e ficamos com eles colados na pele, com a esperança que tapem definitivamente os silêncios, os vazios, e que na pobreza tanta onde resistimos, se torne mais fácil nos cuidarmos.
Perdidos que estamos, é suficiente ter, mesmo sem saber o dia, a hora e duração dessa posse. Já não cuidamos de saber, mais do que a glorificação do corpo e desejo quase perverso de nos possuirmos. O intelecto, na mistura, estoura a espontaneidade da demanda, por isso inebriamos os sentidos e deixamo-nos percorrer.

dc

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

6º NEGATIVOS


 

Ainda mal acordado, ouço na sala o telefone a tocar. Atendo e ouço uma voz amiga, perguntando-me: Vais caminhar, como de costume? E, sem esperar resposta, diz-me: cuidado, hoje estão seis negativos! Sem perceber muito bem o que ouvia, mal saído da cama, questionei: Estás preocupada...como sabes? Do outro lado sai a gargalhada, no meio da qual ouço a explicação: Então ontem - 14 de Dezembro de 2014 - o Porto não ficou a 6 pontos do Benfica?

Longe estava eu de relacionar tal coisa e, de imediato, pensei na outra do advogado, comentador desportivo num canal televisivo, que dizia: Então vocês já sabem que a Estrada Porto – Lisboa, a A1, passou a ser A5, gozando com a derrota copiosa que o Benfica tinha tido perante o FC Porto. Estas duas piadas futeboleiras fizeram-me lembrar aquela frase muito antiga do tempo de Salazar “Fado Futebol e Fátima”, como armas do fascismo para subverter a mente do povo português.

Se os governantes bem “pensantes” deste país soubessem aproveitar esta criatividade do povo português, muito mais o país evoluiria. Não teríamos somente um Saramago, um Fernando Pessoa, um Damásio, e um ou outro engenheiro na NASA, mas certamente um país em franco progresso, com trabalhadores criativos e profissionais de primeira, ou seja, esses que governam resumem os problemas políticos a falta de capacidade do povo, dizendo que os portugueses têm de trabalhar mais, dando-os como madraços, que não cumprem, fogem ao fisco, e até põem em causa a sua competência, substituem a educação e valores por estas diatribes. Como se o povo não percebesse que quem gasta acima das suas possibilidades são os madraços banqueiros, e quem foge ao fisco com toda a facilidade são os grandes capitalistas. Não quero também escamotear, mas se o povo não se deixasse enrolar e ir em futebóis, e usasse a força das suas “claques” para lutar contra o desemprego, os salários miseráveis, os roubos nas reformas, e por um ensino de qualidade, em lugar da defesa dos interesses clubísticos, talvez neste momento tivéssemos um outro governo, uma outra qualidade de vida, um desporto com maior número de praticantes, com uma rivalidade sadia, como outrora, em que se rematava o final dos jogos com uma sandes de polvo frito, um “caneco” e umas quantas piadas marotas, sem alimentar quezílias ou destruir amizades.

DC