sábado, 22 de julho de 2023

Volta logo, fazes-me falta!



Acordei abraçando a outra almofada, onde a sua cabeça, por norma, repousa. Um sentimento se instalou; de ausência, de falta, mais profundo que o corpo físico. Uma saudade que resta, uma memória que não se apaga. O próprio colchão, tem a marca do teu corpo, e do teu perfume, esse, parece que impregnou tudo o que existe no quarto, ou será que ele resta em mim, na memória? Não sei, tudo se torna estranho. Quando partes, mesmo agora, que saíste temporariamente, instala-se um longo silêncio, mas pior, o vazio de ti. Volta logo, fazes-me falta.

 

dc


quinta-feira, 20 de julho de 2023

Um Modo de L(v)er

Senti a tentação de me deixar voar na transparência. Poderia cair na tentação de fazer uma sinopse do conteúdo do livro, mas preferi que fosse antes, uma mistura de sentimentos e ideias que me ficaram na minha mente. Podia falar da água que cai, num prédio diferente, na piscina casual, como local de encontro de todos os que nele moram e na frescura ali procurada, do carteiro apeado, que desbrava cartas para justificar a função, por satisfação, esperando entendimento daqueles que o rodeiam e dos responsáveis, que a ele, deviam atender.
Importante, é que me chegou com as vozes negras, carregadas de transparências, do linguarejar do seu povo. Atingiu-me a alma de modo fulminante, no seu gotejar da sabedoria das suas gentes, com as suas estórias e seus pensares. Fez-se presente, em guerras já passadas que deixaram nódoas, que nem a lixívia do tempo, consegue apagar. Tudo vozes acontecidas, na fantasia do real que se atreveu deslumbrar. Denúncias, ou achegas de clarificar promessas falecidas, de quem, rapidamente se esqueceu, do ainda ontem escravo, agora exercendo poderes e gestos, a espingardar decisões de imitação barata e sem sentido. Saiu um usurpador e logo aparecem, outros e variados oportunistas, etilizados, colando-se aos ideais de libertação, sujando tudo à sua passagem, com os seus punhos de renda, malabarismos de má consciência. Mas há sempre alguém, de sangue não contaminado, que consegue trazer do povo e das suas experiências e transparências, as suas memórias ancestrais, a beleza da ligação à terra e o fluir da vida ainda longe dos vícios citadinos.

 

dc

 


terça-feira, 18 de julho de 2023

DEIXAR IR

 

As raízes que me prendem, são as memórias tardias e os laços com a terra de nascimento. Pouco mais resta, que me mova a emoção e me traga à superfície, nem para respirar depois de uma apneia, forçada, para encontrar o silêncio no meio deste mundo caótico. Assim fujo de qualquer contacto mais físico, mais terno, mais humano. A intenção é deixar ir, sem a percepção dos acontecimentos, sem o stresse do tempo. Como se tivesse calçado os chinelos velhos de imensas caminhadas, que sabem o caminho, mas estão gastos, pela incerteza e desconfiança. É um “arrumar das botas”, fixando o olhar e o pensamento nas leis da natureza, para que ficar mais perto do estado límbico, com serenidade e em paz.

 

dc

terça-feira, 4 de julho de 2023

Desabafo

 

Sim, sei amigo/a-anónimo é isso mesmo, ausente de sexo, ou de nome, é verdade que “o que autor precisa é de amor”. Sim, chega de textos lamechas, de memórias, de estórias de não amor. Tem toda a razão, se assim o diz, por si, fala toda a sua experiência nessas coisas. Você sempre amou e foi amado, sem dúvidas, nem precisa de ler poetas ou romancistas, ou até de perceber dessa história de casamentos falhados, de divórcios inesperados, de pais separados, de filhos não amados. Você, anónima/o é a sabedoria e experiência em todas as tonalidades e emoções. Já sentiu borboletas no estômago, frio na espinha, saudade, dor pela ausência… Ah! Não? Pois, você é alguém experiente nesse seu o amor total, essas banalidades de artistas e amantes, não contam no seu vocabulário. Você amou, e, logo foi amado e morreram felizes para sempre. Nunca houve falta de dinheiro, nem casa sonhada, passeios imaginados, nada lhe foi sonegado, nasceu de cu virado para a lua. Que bom! Não sabia que a felicidade é algo tão perene em quem ama, que nem se apercebe, que a tal literatura, os teatros, os filmes, esculturas e pinturas, que plasmam nas paredes da sua casa e nos muitos lugares, são apenas fétiches de uns desmiolados, são simples adereços, como a mesinha de cabeceira no quarto, onde guarda os preservativos invioláveis por desnecessário uso. Ah? Também não é bem assim… Não me diga é tudo amor. Sim, o único que só você conhece, que nem precisa de momentos outros nas suas emoções que lhe permitam distinguir aquilo que agora diz sentir. Pois, bem senhor anónimo, estou grato por ter-me alertado e fazer-me entender o seu ponto de vista, mas se tivesse um nome seria mais fácil, pôr o nome aos bois, não acha? Aproveito para dizer, que já alguém famoso disse, em relação à leitura, que o importante era que as pessoas lessem, nem que fossem coisas “da bola”, ou estórias da carochinha. Eu penso o mesmo em relação à escrita, ninguém tem de ler os devaneios do autor mal-amado, mas foi a custa desse treino, que fui ganhando alguma habilidade para juntar palavras, por isso, deixe-me deliciar com as minhas dúvidas, incertezas, dores e lamechas, sou um ser imperfeito que precisa de um pretexto para sobreviver, que se chama, amor.

 

dc