terça-feira, 30 de outubro de 2018

Se as árvores falassem




Se as árvores nos contassem toda as histórias que perto de si, escutaram, muitos seriam os livros que teríamos para ler. Elas têm muitos segredos guardados. Na seiva que as percorre, tem a vida, na terra que as alimenta o seu registo. Têm a memória das chuvas, do gelo, do calor, dos humanos que as tocaram, regaram e alimentaram. Possuem os registos dos mais românticos relatos dos apaixonados e enamorados que deixaram a sua marca de amor e desejos a realizar.
A floresta é um lugar de privilégio para nos encontrarmos, connosco próprios. Estar junto de uma árvore e abraçá-la é como comungar de um silêncio que fala.
Gostamos de florestas e de árvores, muitos deixaram na sua pele, uma espécie de lembrança, do abraço que não damos, a carícia que não fazemos e a ternura que alimentamos.

dc

domingo, 28 de outubro de 2018

Sempre o tempo


Quando não vem, a tristeza, ensombra o sono e perturba os sonhos. O silêncio é dono, entranha-se fundo, tomando as rédeas do pensamento, adormecendo o gesto. Ficam as palavras suspensas, as ideias perdendo a energia, as emoções exacerbando-se pela intensidade da falta. Na noite o brusco despertar, onde o vazio se faz sentir, ali bem perto do estender do braço, adentra o corpo nessa incerteza que o silêncio instala. Preciso da sua presença, dessa sua alegria maior, da água límpida que bebo dos seus olhos, do beijo adoçado dos seus lábios, que traz o fim dos maus momentos com o entrelaçar dos corpos se unindo. Na nossa espera de todos os dias, não pode haver tempo perdido: a vida é curta de mais para se despender um segundo.


dc


Momento "ZEN"



A tarde veio fria, ao meu encontro, penetrava o corpo. O sol resistia a deixar dominar-se pelas nuvens que o rodeavam, e eu resistia ao gelo que dentro de mim, crescia. Encontrei antídoto rápido, convidei o meu neto para fazermos uma das coisas que gostamos: fotografar.
Fomos para um parque aprazível, onde se caminha e corre, ao mesmo tempo, nos traz conforto visual e ar puro para dentro do peito. Chegamos, entre o tagarelar entre nós, e o tirar fotografias, percorremos os diferentes pontos de referência: o espaço das máquinas de exercícios, o das merendas, o laguinho onde os patos se divertem. Em determinado ponto estavam estas duas lindas pombas (fotos), cada uma em seu galho, como que à espera a nossa chegada. Estava a cerca de metro e meio de nós. Entre dormitando e abrindo os olhos, indiferente ao disparar das máquinas. Ficamos empolgados com o que víamos, quase parecia domesticada, tal a forma como se apresentava destemida aos nossos olhares e atenções. Foi um momento único com que a natureza no premiou.
Ao sair do parque, com uma calma interior enorme, pus-me a pensar; andamos diariamente tomados pelos medos, preocupações, pressas e um imensidade de coisas, que nos fazem alimentar um “stresse” para além do necessário. Porque não, destes espaços ao ar livre, fazermos o nosso momento “zen” e soltar-nos um pouco, recarregando as pilhas para que a vida possa ser vivida? Já sei que alguns dirão, não ter tempo, apresentando mais de uma dezena de justificações para isso. A todos digo, mesmo sabendo à partida, que muitos gastam tempo em outras coisas, e ao fim do dia pensam ter sido inúteis, rompam com as rotinas, e façam algo diferente como visitar um parque arborizado, onde natureza parece estar ali para nos surpreender. Verificarão com toda a certeza que afinal a vida é mais que o trabalho necessário e a prisão dentro de quatro paredes de betão.

dc





quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Acasos




Os acasos escorrem por dentro de nós, como bebida fresca no verão, ou chocolate quente de inverno, fazem-no de forma atrevida, inesperada, assenhorando-se do momento, alegrando-nos. Nem todos os acasos são agradáveis, há alguns dolorosos, que surgem como uma topada, de pé descalço, na pedra que surge inesperada, no caminho. Acasos que parecem surgir, como que respondendo a solicitações do corpo, às vontades e desejos guardadas no subconsciente. Explodem sempre no momento certo, como uma espécie de despertador, quando a esperança não é muita, ou o atrevimento é excessivo. Nada acontece por acaso, diz o povo, possivelmente não, ele surge como o reflexo de uma elaboração refinada, dentro nós próprios. Tão refinada elaboração, que até parece ser por acaso. Quando ela, por acaso surgiu, foi a bebida fresca de verão, quando partiu, não por acaso, foi a topada na pedra do caminho, que por acaso, faz lembrar outro dito do povo: Quando uma porta se fecha, logo outra se abre. Será que isto também é por acaso?

dc



segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Entre o sol e a chuva





Entraste pela tarde dentro trazendo o sol por companhia. Foste rainha das falas e encheste o espaço, outrora vazio e indisponível, com o som da tua voz.  A chuva que do outro lado caia, não foi suficiente para apagar a luz que iluminava os teus pensamentos e o calor com definias e defendias tuas razões e as tuas emoções. Foi um navegar à vista, onde a intuição e a sensibilidade foram cumprindo todo o trajecto. Preso ao que dizias, fui lendo nas entrelinhas do teu discurso, teus feitos e vontades e conhecendo um pouco mais da personalidade com exerces o conhecimento. Uma tarde em que a verdade acontecia, o tempo, temporariamente não existiu, nem contou nos ponteiros dos relógios, nem mundo ao nosso redor se sentia. A tua imagem e as tuas falas foram de encontro ao meu espírito abrindo uma porta, ao teu conhecimento.
Há tardes que se tornam inesquecíveis e imperdíveis. Como dizia o Vinicius em outro contexto: “
que seja infinito enquanto dure”.


dc