sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Quando olho seu rosto



Sem saber bem como aconteceu, ou explicar, os sentimentos e percepções foram surgindo. Daí, quando olho o seu rosto, não vejo a comissura dos lábios, a sua espessura, nem o formato da boca. Espero o sorriso, o sabor dos seus beijos, o som da sua voz para saber a sua tonalidade, da serenidade no expressar do seu dizer. Não vejo a sua idade, antes o brilho dos seus olhos e o seu formato. Ao observar o seu rosto, não vejo o seu corpo, sim a ternura, ou a suavidade da pele. Na verdade, a sua beleza fascina-me pelos sinais, tão mais importantes, que expressam os seus sentimentos.
No abraço, sinto o transpirar da sua alma, o bater do seu coração, o cheiro do seu cabelo que me seduz, só depois as minhas mãos se atrevem a percorrer o seu corpo.
Nem sei dizer, qual a dimensão do prazer, nesta aventura de liberdade e emoções desfazendo a libido contida pelas normas. Sei que é muito importante vivê-lo!


dc

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

A videira




Como garras, estendidas em direção ao céu, absorvendo o ar e todos os aromas que a rodeiam, eis os braços da videira despida de folhas. Cepa agarrada à terra há longos anos, enquistando-se e apurando com a sua antiguidade e nas podas sucessivas a sua qualidade. Dela irão surgir os seus melhores frutos, que enriquecerão a produção desse néctar delicioso, que acalenta bocas curiosas de sabores infindáveis, abrilhantando momentos de êxito e amor. Quase só, entre nós observadores e a natureza, se fica na espera do novo ressurgir, dando sinal da sua “raça” e vontade de dizer presente desafiando o nosso olhar. Tal qual um ser humano, a quem a idade não retira a sua beleza, nem sabedoria e que se adequa ao sabor dos tempos de mente aberta e lúdica num “carpe diem”.

dc

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Como lágrimas saindo da terra




Saindo da cidade grande, procurei as terras do interior, onde a natureza nos toca mais dentro, onde se sente mais. O ar puro e os campos verdes ainda humedecidos pela chuva, criam maior recorte às imagens e maior definição às tonalidades. Ali estava aquela imagem suspensa esperando por mim. Como lágrimas saindo da terra, crescendo ao encontro dos fios, quase escala musical, numa sinfonia de encanto aos sentidos. Terra, plantas, céu e ar num cenário quase etéreo da natureza e os seus elementos, adentrando e arrefecendo o sangue das vibrações nefastas. A natureza ajudando na catarse das tensões, preocupações e sentimentos, que exacerbados, se tornam maléficos no entendimento da realidade dos dias.

dc

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Folha Seca




Seca na árvore
a folha, na sua cor quente
não sente a morte fria.

A terra dura amolece
com a chuva se humedece
enquanto a árvore se esvazia

A folha cai dá húmus à terra
e quando nela se desvanece
logo se precipita e outra floresce

dc

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

No tempo das sombras




No tempo das sombras tudo era indeterminado, qualquer hora servia. Se amanhecia de um lado, do outro ainda noitava, não havia problema, os pensamentos evoluíam no discurso, embora enrolado numa torre de Babel, de atrapalhada fluência. Foi assim, que atravessaram montanhas de sentimentos em voos rasantes, especularam viagens, viveram encontros e dançaram ao som do Danúbio Azul, sem ainda conhecerem a história do rio que separava a cidade. Tempos superlativos, de segredos contados, de acervos outrora fechados. Tudo foi dito escrito e comentado num para sempre, registado, como força de argumento de não voltar a ser divulgado. Em todo o fraseado, sempre, era uma palavra que entremeava, todas as outras faladas, tirando a força às particularidades do tempo que as limitava. Curioso, foi que o para sempre, ficou no registo de cada um, e nele a memória se calçou, para fazer caminhadas às profundezas do pensamento.

dc