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domingo, 31 de março de 2024

Quando nos olhamos ao espelho

Olhava o espelho, como a Rainha Má da Fábula da Branca de Neve: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais “velho” do que eu?”. A frase vem-nos à mente, quando nos observamos a envelhecer. Olhamos o espelho e não vemos as rugas, nem as pregas da carne espalhadas no corpo. Ou, porque a luz é insuficiente, ou os nossos olhos só enxergam o que sentimos por dentro. A idade é uma marca de calendário, que o corpo assume, mas dentro de nós, está muito aquém da outra realidade, que é a forma como vivemos os dias. Quando alguém nos pretende fotografar, fugimos da objectiva recorrendo a diversos estratagemas. Pensamos: não vai captar o nosso melhor lado; não usa uma luz adequada, vai evidenciar as marcas no rosto; apanhou-me perto de mais, não trazia a melhor roupa, hoje não era o meu dia, e por aí vai, de modo indeterminado. É-nos difícil aceitar, que o nosso corpo, normalmente, não obedece a quem o sustenta, vai acontecendo de adaptação, em adaptação, à natureza da vida. Ao andar nas ruas, não nos apercebemos do tamanho e da rapidez das nossas passadas, só quando nos cruzamos com alguém, verificamos que são mais lentas e mais curtas, de que a nossa mente nos sugere. Ficamos com a ideia de que essas pessoas andam, num corre, corre, exaustivo. Se, por acaso, paramos junto de uma montra, ou janela, vemos reflectida uma imagem estranha, quase como se víssemos um Extraterrestre. Quem é aquele pessoa, ali reflectida? É um drama inconsciente, que nos faz olhar para além das nossas possibilidades e tropeçar na estória de engodo e engano, quando nos oferecem, o que nem em sonhos imaginaríamos.

 

 

dc


 


quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

É bem possível

Olha, procura a beleza no que vê, no entanto, sabe que na realidade dos amantes é preciso ir mais longe, mais fundo, não se ficar na capa colorida, harmoniosa, que o fascina. A estrutura que motiva, não é a dos ossos, ou a carne que os protege, suave, delicada, morena ou branca, é antes a força que suporta essa morfologia, o seu carácter, a sua bondade, a disponibilidade de partilhar, o modo de ver o mundo e os humanos que o compõem, sociabilidade e sensibilidade com que vibra nas emoções, é todo um fio condutor que une todas as partes do ser humano, o motivo, a procura do outro olhar. O olhar, adentrando através dos olhos, é o primeiro filtro, depois, é a busca incessante, desse ser, que está na sombra das páginas da sua existência visual. Na verdade, é como um filme, que à nossa frente se desenrola no écran, e no qual nos prendemos pela figura, que não sendo a mais bela, nos fascina como se fosse alguém que representa, como pensamos o amor. O amar funciona assim, como aquela personagem que se desenvolve perante os nossos olhos? Ou será que na falta de comparação próxima, esquecemos a morfologia do corpo e ficamos presos na emoção, no significado, nos valores que expressa, na inteligência, no poder da sua personalidade, que naquele instante fala connosco, como se fôssemos senhores do mesmo espaço e forma de estar? É bem possível, que sem pensar, a personagem com que nos deparamos, seja de tal modo fascinante, que nos leva a criar confusões, entre o que nos emociona e motiva e a realidade que procuramos. É bem possível que assim seja, ou efectivamente, a beleza estética é só mais um argumento, para que o amor aconteça.

dc

 

 

 


sexta-feira, 18 de agosto de 2023

com outros olhos...

 

Gostaria que me visse com outros olhos, que sem temer, se aproximasse, que desse um passo, para abrir a porta do conhecimento de si. Que proporcionasse um diálogo, de olhos nos olhos, sem restrições e preconceitos. Que quisesse descobrir o que os meus olhos dizem, quem sou e o quanto posso partilhar. Até seria bem possível, que servisse de gazua para abrir a minha caixa de emoções, há muito fechada, dela trouxesse à luz do dia algo de diferente, menos comum, mas real e humano suficiente. Com erros de percurso, com vitórias reduzidas, mas de algum modo vividas e duramente conquistadas, com força capaz, para que formado o par, contribuísse para derrubar obstáculos, libertar sentimentos, surfar na alegria e na felicidade possível. Nada se conquista, sem derrubar o medo de errar, superar as incertezas e confiar nas forças que nos suportam, acreditando que todos os dias serão diferentes, com tempestade e bonança, com frio e calor, com tristeza e alegria, mas, sempre com confiança, de que juntos somos mais fortes, para superar e alimentar o amor, que o sorriso ilumina, os olhos denunciam e o beijo acalenta.

 

dc


sábado, 22 de julho de 2023

Volta logo, fazes-me falta!



Acordei abraçando a outra almofada, onde a sua cabeça, por norma, repousa. Um sentimento se instalou; de ausência, de falta, mais profundo que o corpo físico. Uma saudade que resta, uma memória que não se apaga. O próprio colchão, tem a marca do teu corpo, e do teu perfume, esse, parece que impregnou tudo o que existe no quarto, ou será que ele resta em mim, na memória? Não sei, tudo se torna estranho. Quando partes, mesmo agora, que saíste temporariamente, instala-se um longo silêncio, mas pior, o vazio de ti. Volta logo, fazes-me falta.

 

dc


terça-feira, 24 de janeiro de 2023

A memória do beijo

Reconheci aquela voz, surgida do nada, lá de longe, percorrendo centenas de quilómetros, naquela linha invisível que atravessa o ar, sem mudança das nuances que a tornam única. Chegou trazendo com ela memórias, emoções, sentimentos que pareciam já ter sido diluídos, nas insónias, nos dias de vazio, na metamorfose do envelhecimento. O som saído da sua boca, continuava quente, num tom que acarinha cada palavra que pronuncia, como acariciando os meus ouvidos. Tomei-me de pavor, o meu cérebro não visualizava, nem discernia na escuta, os contornos da sua boca, o seu sabor, a textura dos seus lábios, a sua humidade, nem se em cada beijo outrora dado, a língua se insinuava entre os lábios. O tempo mostrava, que a memória do beijo é mais difícil de explicar e de memorizar. O silêncio, o afastamento, a ausência de outras estórias, as noites e dias com a crueza da sobrevivência, foram afastando das memórias, a materialização do teu sabor em mim. Depois de a ouvir, reflecti e pensei, que só repetindo o beijo, o gesto, a atitude, a razão de ele acontecer, poderia fazer regressar todas essas sensações e saber quanto vale um recomeço.

 

dc


terça-feira, 15 de novembro de 2022

Sem seguir o rebanho


A voz se perdeu, especialistas consultados, não lhe encontram solução. Dizem as más-línguas, que são as falas guardadas, as desculpas não expressas, os remorsos, a depressão, as dores não explicitadas toda uma série disparada de motivos. Adivinham-se médicos, das maleitas dos outros, como se treinados pela experiência da cura das suas. Não entendem a natureza humana, da perda da vitalidade do corpo, do cansaço do uso, do arrastar das memórias, da pressão dos dias e da vivência. Filósofos da vida alheia, de uma penada, dão sugestões de cura, opinando, como agora é comum fazer-se, mesmo desconhecendo, ou investigando sobre. Felizmente, que a persistência, o acreditar que a mudança, ainda tem espaço para acontecer, que não existem limites para o sonho, para os projectos e realizações, que se sobrepõem ao cansaço das vozes dissonantes e patéticas de figuras do nada.

dc


sexta-feira, 24 de junho de 2022

Meia palavra basta

Somos seres insatisfeitos. Quando atingimos um objectivo, para o qual lutamos tempo infindo, não temos capacidade para o viver, retro alimentar, sustentar, para que não seja descartado à primeira contrariedade. O objecto de desejo, após satisfeito, logo perde importância e partimos para outro, esquecendo que é necessário entender a dialéctica subjacente ao relacionamento humano. Os relacionamentos e as vivências são construidos com altos e baixos, com vitórias e derrotas, com emoções negativas e positivas, e, periodicamente, no surgir de momentos criativos, felizes, bordados de alegria e bem-estar. Necessário é, entender que a vida não é um mar de rosas, antes uma rede de acontecimentos, onde é preciso ter paciência, para enfrentar a queda, força para se reerguer e retomar o caminho, mesmo que os joelhos ainda estejam esmurrados e a escorrer sangue. Não há lugar para a lamecha, ou perda de tempo. É urgente saber coser com sabedoria, os rasgões, alisar o tecido comum que nos une, e vestirmos um novo fato, mais elástico, mais resistente e mais sólido. Para bom entendedor, meia palavra basta.

 

dc


terça-feira, 14 de junho de 2022

Despedida


Sabes, meu bem, era bom ouvir, chamares-me de amor. Infelizmente, nunca ajustaste a vocalização às frases e emoções certas, acima de tudo, às atitudes. Se assim fosse, talvez acreditasse, que valeria a pena continuar. Não foi o caso, e como também sabes, caminhos paralelos, nem no infinito se encontram. Na caminhada longa, que se me propunha, subjacente à palavra, não poderia perder o meu tempo, nem despender energias, que poderiam ser mais úteis, para a descoberta e concretização do meu objectivo. Encontrar o tal, alguém, que faz bem, o que deve ser feito, e encontrar a alegria e uma parte da felicidade, que a todos, o Universo tem para dar. É bem possível que nunca tenhas reparado, mas eu gosto de estórias de amor, que tenham aquelas declarações, mesmo que piegas, que emocionam e deixam lágrimas nos olhos, que projectam eternidades e heranças positivas. Daí, não nos acomodemos, façamos então o que deve ser feito, deixemos de lado o mapa, que não foi desenhado para a caminhada das nossas vidas. Só assim, outro corpo, outra inteligência, cheiros, saberes, risos e lágrimas, chegarão até nós, semeando existência e humanidade necessárias ao caminho de cada um. Foi bom conhecer-te, foi bom aprender e descobrir nesta nossa experiência, que a amizade existe, mas o amor, que se sonha e quer, é uma outra coisa, que se adentra em nós e nem sempre as palavras explicam.

 

dc

 

terça-feira, 7 de junho de 2022

Mãos e seu fascínio

 


Só ficavam os olhos, cor de céu, encimando o rosto, e um cabelo, agitado, de cor clara. O restante do rosto desaparecia debaixo do azul da máscara. Estávamos os dois num gabinete, iluminado o suficiente, para sugerir um espaço reservado. As perguntas tornaram-se presentes e o diálogo se estabeleceu, de forma higiénica, cumprindo com a minha razão de ali estar. As perguntas surgiam e a minha resposta era prolixa, como se quisesse alongar o tempo para poder observá-la. Estranha a forma como ela continuava escrevendo registando o meu depoimento, de cabeça levantada, os olhos me observando e os dedos se agitando sobre o teclado do computador. De vez em quando, ela questionava de forma simples e levava-me a desenvolver o meu discurso. Eu perdia a atenção para o que dizia, olhando os dedos da mão dela, movendo-se com rapidez, quase aflorando as teclas. Dedos esguios, compridos, aveludados, belamente desenhados, como se os delimitassem uma só linha sinuosa. A certo momento, não resisti, quebrando as regras do protocolo profissional, disse-lhe: as suas mãos são muito bonitas! Naquele momento, eu misturei diferentes sentimentos e interpretações, fiquei de forma insólita abstraído do tempo real.
     “ O espaço se torna vazio, o ruído de fundo esmorece...só mãos, como se estas nascessem com o saber das emoções.”

Poderia ter~lhe dito, o quanto elas eram belas e fascinantes, só o receio, de que a voz traísse o meu empolgamento, me levou a usar o corriqueiro: bonitas mãos!
     “Tantas vezes mãos prelúdio de uma música maior, seguindo a pauta de um amor que se descobre. Tantas vezes mãos sustento de um amor maior, no caminho sereno dos dias...”

 

dc



Texto em itálico do blogue: http://escrifalar.blogspot.com/2017/02/maos-se-tocam.html


sexta-feira, 22 de abril de 2022

Amar tem isso

 


Não, não importa que os teus lábios pousem nos meus, como que breves, num sopro de despedida para os sonhos. É um gesto de amor, dizendo, sem palavras, eu estou aqui. Isso é tão suficiente, que fico plena, confiante com o que representa. Amar tem isso, fazer que o simples tenha sentido. A leveza e a graciosidade do voo da borboleta, não lhe tira o colorido e a beleza. Somos assim, amantes, fervorosamente sentindo nas pequenas coisas, a amplitude da totalidade.

 

dc


terça-feira, 12 de abril de 2022

Não lhe dói envelhecer

Não lhe dói envelhecer, dói-lhe que o amor tenha falhado, quando mais queria que ele acontecesse. Tanta foi a procura, tantos os erros cometidos, que se foi a oportunidade de ele ser, ou de saber, ou até se aperceber, se alguma vez ele rondou a sua porta. É possível que na ânsia de o encontrar, se lhe tenha ausentado a capacidade de discernir quando ele estava a acontecer. Houve momentos, que ele quis florescer, mas, uma ou outra razão, o fez recuar, e assim, foi perdida a oportunidade que merecia. Uma coisa que ele sabe, a sua força e o quanto ele nos abala. Em cada recuo, houve sempre uma dor fininha que se adentrou, tão fundo, que tornou cada vez mais difícil abrir a porta para ele entrar, mesmo tendo consciência do quanto seria desejado e bem-vindo.

 

dc


sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Pensamento fora da caixa(?)

 


Eu jogo com os silêncios de cada um, que sob as gargalhadas se escondem, os silêncios fazem parte do meu universo. Hoje são as festividades de um dia, que vibra como único na imensidão dos que dominam o ano.

Eu próprio, sento-me a um canto da sala, vendo toda aquela agitação, como se fosse um filme desenrolando aos meus olhos. Enquanto isso, observo numa das mesas da sala, aquela criança nas palhas, deitada, no meio do presépio, e penso nos milhões de crianças que em todo o mundo, estão longe de ter uma vida feliz e sem os seus mais elementares direitos satisfeitos*. Nós os outros, os adultos, brincamos às prendas, comemos e bebemos por um ano e dizemos, como verdade absoluta, que o Natal é sempre que o homem quiser, mesmo com a consciência de termos a liberdade presa por um fio, chamado teste e um passaporte digital sanitário. Vivemos o mito de que a "ordem social" nos beneficia e nos cuida, tememos pensar e aceitamos que outros tomem decisões como se fossem nossas.

Estamos naquele marasmo em que todos evitamos conhecer a verdade que está à frente do nariz. Temos vindo a ser educados, há largos anos para a obediência, ao governo, aos patrões, às instituições corporativas, aos desígnios do marketing e a pensar que ser livre é ter coisas, e que a tecnologia é panaceia para as ausências várias que nos vão tomando. Moldam-nos nas escolas e universidades, com avaliações tecnocratas, para no fim, sermos bons no trabalho a defendermos o individualismo egoísta, seja num trabalho precário, ou atingir uma categoria profissional. Levam-nos a sustentar lutas entre nós, para chegar a um objectivo, como se tudo fosse permitido. Morder se necessário a canela do que está à frente, mentir, forjar situações para conseguirmos um lugar, em qualquer das actividades que tenhamos que desempenhar. Este é o mundo que nos querem aplicar como normal. No meio de tudo isto, sempre aparecerão uns bacocos, sejam eles governantes, ou fazedores de opinião, que repetirão o estribilho, de que os tempos são outros, que temos de nos habituar; do mesmo modo que nos dizem sobre a nossa forma de educarmos os nossos filhos, como se pais que somos, vivêssemos em sociedades diferentes. Esta sugestão de nova normalidade, é a tentativa de formar escravos modernos, obedientes, onde não existam laivos de resistência e revolta. Natal não é sempre que um homem quiser, sê-lo-á. quando tomarmos as rédeas da nossa vida colectiva e mandarmos à merda, alguns poucos, que definem o que devemos ser.

 

dc


* A verdade é crua, mostra-nos pelos números a hipocris
ia.

5 crianças morrem no mundo a cada minuto por desnutrição
16 outubro 2018, 17:46

Save the Children lança uma campanha de conscientização. Todos os dias no mundo, 7.000 crianças menores de cinco anos morrem de causas relacionadas à desnutrição, cinco a cada minuto. Save the Children lança a campanha global "Até o último"

Vaticano News

portallucykerr@gmail.com

 

"O Direito à Alimentação" Cerca de 16 mil crianças morrem de fome a cada dia no mundo

O Dia Mundial da Alimentação é celebrado no dia 16 de outubro de cada ano para comemorar a criação em 1945 da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).

O objetivo deste dia é conscientizar o conjunto da humanidade sobre a difícil situação que enfrentam as pessoas que passam fome e estão desnutridas, e promover em todo o mundo a participação da população na luta contra a fome. Todos os anos mais de 150 países celebram este evento.

Durante o Dia Mundial da Alimentação, celebrado pela primeira vez em 1981, ressalta-se cada ano um tema em que se focalizam todas as atividades. Este ano o temo escolhido é “ O Direito à Alimentação”.

Cerca de 14% da população mundial sofre de fome ou insegurança alimentar, o termo usado pela FAO (Agência para a Alimentação e Agricultura) para caracterizar a falta de acesso a alimentos suficientes para a vida, a subsistência e a saúde.

Em cada dia que passa, cerca de 16 mil crianças com menos de cinco anos morrem por fome ou problemas a esta associados. Isto apesar da agricultura estar produzir 17% mais de calorias por pessoa, por comparação ao que produzia há três décadas, e mesmo tendo em conta que a população mundial aumentou 70% nesse período.

A FAO reúne-se, esta terça-feira, em Roma, em assembleia plenária, para, mais uma vez, discutir o problema da fome.

https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2018-10/cinco-criancas-morte-por-minuto-mundo-desnutricao.html

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Bate leve


Esperava o bater na porta, e ao abrir esquecer todo o tempo passado sem ti. Olhar-te e reconhecer-te de ontem, não dos dias perdidos sem nos vermos, como se a memória se fundisse nos tempos. A virtude estava neste amar imorredouro, que permanecia como se fosse a minha pele. Bate de leve, é suficiente, o teu perfume vem com o vento antecipando a tua chegada.

 

dc

 


segunda-feira, 29 de novembro de 2021

No abraço do amanhecer

 

Os dois deitados, nus, fazendo conchinha. Ele sentia o cheiro dos cabelos dela, misturado com outros cheiros adocicados, trazidos pelo bafo morno dos corpos entre os lençóis. Ela dormia e a sua respiração era calma e profunda, como uma criança livre, desregulada das normas da sociedade. Com a sua mão livre, ele percorria o corpo dela, contornando os seios, o abdómen, as coxas delineadas, como se procurasse mapear cada detalhe para ser memória em caso de ausência. O corpo já restava saciado, era o prazer do toque e a ternura, que faziam a necessidade do gesto, numa forma de amor silencioso. Ela no subconsciente sentia-o e enconchava-se mais, como o sonho dentro do sono. Aquele abraço, era como um casulo confortável e protector de onde sairia renascida. A relação que viviam, não tinha um contrato em papel assinado, estavam unidos pelo querer e liberdade de permanecer. Conheceram-se sem pontos e virgulas, se havia interrogações não se colocaram, tudo sem imagens culturais, ou evidências físicas pré-estabelecidas, foi tudo de origem, sem imitações, uma troca de olhares, conversa versátil e prolongada, uns dedos que se tocam, um cabelo que se agita, uma gargalhada que se solta. Tudo o resto, tem sido um filme sem realizador, sem enquadramentos ou sequências planeadas, tudo feito na câmara imaginária, à mão livre, tentando de ser felizes, seduzindo-se mutuamente, produzindo o conteúdo dos dias, voando sem metas no horizonte.


dc


 

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Labirint'ando

 

 

Foi à procura do papel da sorte, na míngua de respostas para os azares, que na porta batem, mesmo sabendo de partida, que a sorte dá trabalho. Não pensava em infelicidades, antes nos muito falados algoritmos, como se diz agora, que não acertam com prontidão. Cansava de esgravatar escolhas, com preciosismos assoberbados, sem atender ao presente, amarrado aos sonhos e desejos do passado e imaginando diferentes, futuros possíveis. O quotidiano de silêncios no prolongar do tempo, para não exibir fraquezas, nem faltar discernimento para suportar ausências, resultou-lhe em rouquidão. Na busca da diferença, chamada sorte ou trabalho, caminhava ele com os olhos assentados no chão, debulhando cismas e razões de sustento, de uns tantos infinitos problemas, concluiu que precisava caminhar sossegos e descaminhar incertezas. Azar e sorte são elementos de estatística, mais servem de escusa, para a falta de decisões.

 

dc


segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Amar (n)a natureza


O outono, caminhava a passos largos ao nosso encontro, recebia-nos com a sua chuva de folhas, que caíam sobre a terra húmida, coberta de ervas e musgo. Aquela mesa de madeira, com os seus bancos corridos, sabiamente colocada no espaço, era um convite, para permanecer e observar toda aquela riqueza visual, aguardando a tua chegada. Tinha tudo o necessário para nos preenchermos, com a sua diversidade de aromas, formas, cores, momentos de luz e sombra, duma floresta inexplorada e os seus viventes. Era o local ideal para um piquenique amoroso, condimentado de natureza. Aguardava-te ansiosamente, para partilhar o prazer de, usufruir tudo, contigo nos meus braços; sentir por inteiro o teu corpo adoçando as formas, para se encaixar no meu, os teus cabelos roçando-me os lábios e trazendo o teu perfume, perturbando-me o discernimento dos sentidos. Depois… depois deixaríamos que as nossas mãos irrequietas, se tornassem vivas, para ir mais longe, destruindo barreiras, primando o amor nos seus direitos e libertar as bocas seladas de beijos, para irem ao encontro de outros lugares, sabores e saberes. Duas naturezas irmãs se cumpririam, trazendo-lhes a calma à mente e ao corpo, enquanto a origem da vida se instalaria dentro de si.

 

dc


quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Mutismo

 


O Mutismo, era para si, uma morte das falas, na escrita, no pensamento criativo. Não o temor da folha em branco, mas o desencanto, a insuficiência, incapacidade de sair de dentro do próprio labirinto por si criado. O mutismo crescia de horas a fio, balançando entre o tudo e o nada, criando muros, num solilóquio entre desejos acumulados, esperando melhores dias, ou sentidos sonhos amordaçados, e pela falta de vontade, ou amorfia, de realizar. Entendia que o seu mutismo só se destravaria, quando alguém, despretensioso e livre de juízos de valor, entendesse para além do que mostrava, e colocasse o seu ouvido atento, na recolha do escutado, com respeito tumular. Caso isso não acontecesse, o mutismo se iria incrustando cada vez mais no limbo e na desnecessidade de o interromper.

 

dc

 

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

desencontrados no tempo

Talvez, desencontrados no tempo, pensa ele, enquanto a observa, uma mistura de sentimento lhe inunda o peito. Se angustia de não saber, quando aconteceu de se cruzarem e não chegarem à fala. Enquanto isso, a música, com a sua sonoridade, sublinha as imagens, que surgem em pano de fundo na sua mente, embaciadas, sem a nitidez necessária, para identificar pessoas e lugares. Ela é alguém que existe dentro de si, como destinada a fazer parte do seu percurso, como um registo ancestral, dos fazedores de destinos, Como um dejá vu, que ele busca incessantemente entender, onde surgiu e porquê. A voz, nem sempre audível, faz difícil saber se existe, e se existe, onde vive e como vive e em que lugar do planeta, ou até se sonha e o que a emociona. Ela está lá, algures, bem dentro si, como parte do cenário que as imagens difusas vão desenhando. Ela é pensamento activo, que a todo o momento se desenrola, agregando sensações várias, físicas, mentais e emocionais, que provocam sobressalto e fazem as pulsações acelerarem. As borboletas no estômago são factuais, os espasmos no peito esmagam. Sente o aguar dos seus olhos, que o faz lembrar, com tristeza, o tempo e espaço, como algo que se dissipa, sem permitir que realidade conclua e esclareça onde tudo começou. O certo, é que se instala um silêncio e um frenesim contraditório, de busca, em todos os olhares, que surgem cruzando o caminho dos dias, numa espécie de procura duma peça do puzzle, necessária para completar o propósito de estar aqui entre os mortais.

 

dc

 


quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Certezas

Cansam-me as certezas dos outros que me impedem de ter as minhas incertezas e viver com elas. Coisa tão certa, impede-me o divagar e a capacidade criativa que não se afirma pelas certezas, mas no explorar todas as coisas, incertas, sem ter de antecipar, se algum dia, poderão afirmar-se como certezas. Tenho para mim, que mesmo aquelas, que damos como certas, possivelmente num futuro próximo possam ser postas em causa. E isso que importa, se a caminhada for gratificante?
Eu também tenho dias que acordo, cheio de certezas e firme para avançar, levanto o peito, e vou em frente no que quero, subjacente à minha certeza. No entanto, umas horas depois, verifico, que nada fiz quanto às certezas, que tinha programado realizar. Afinal não sabia muito bem, se o que iria fazer, deveria ser feito, ou deveria esperar outro momento, para ter a certeza, de que faria as coisas do melhor modo. Na prática, acabo por contornar e desenvolver outras ideias e realizações, ao princípio, incertas. Daqui, eu deduzo, que somos uns troca-tintas sempre cheios de certezas, que as circunstâncias em que vivemos mostram-nos que tantas certezas podem ser um empecilho.

 

dc


domingo, 15 de agosto de 2021

Amor(b)eijo

 

Como se fosse um caminhar, os seus lábios, colam-se em outros lábios, são duas bocas semiabertas, percorrendo distâncias imensas no desfrute das sensações. Envolvem-se as salivas, as línguas se cruzam, em repetições sucessivas; a sensualidade é absurda, as bocas sorvendo, mordendo, se acalentando na respiração, procurando, bem fundo, como se quisessem encontrar a razão, que liga duas bocas se amando. Sem que as palavras se acrescentem, as bocas fazem o caminho para a descoberta do indizível, que nos corpos que se despertam. É uma busca errática e conduzida pela intuição que a proximidade desbloqueia. O que foi princípio, se vai metamorfoseando, com o rolar do tempo, as emoções se esclarecem e a aprendizagem, culmina na explosão dos sentidos; muito mais tarde a serenidade se encarregará de esmerar, revivendo. À superfície chegarão, novos saberes, novas vivências e aromas, as morfologias se desvanecem, fica somente o prazer de sentir o aturdido silêncio, retemperador, depois do êxtase.

 

dc