Só
ficavam os olhos, cor de céu, encimando o rosto, e um cabelo, agitado, de cor
clara. O restante do rosto desaparecia debaixo do azul da máscara. Estávamos os
dois num gabinete, iluminado o suficiente, para sugerir um espaço reservado. As
perguntas tornaram-se presentes e o diálogo se estabeleceu, de forma higiénica,
cumprindo com a minha razão de ali estar. As perguntas surgiam e a minha
resposta era prolixa, como se quisesse alongar o tempo para poder observá-la.
Estranha a forma como ela continuava escrevendo registando o meu depoimento, de
cabeça levantada, os olhos me observando e os dedos se agitando sobre o teclado
do computador. De vez em quando, ela questionava de forma simples e levava-me a
desenvolver o meu discurso. Eu perdia a atenção para o que dizia, olhando os
dedos da mão dela, movendo-se com rapidez, quase aflorando as teclas. Dedos
esguios, compridos, aveludados, belamente desenhados, como se os delimitassem
uma só linha sinuosa. A certo momento, não resisti, quebrando as regras do
protocolo profissional, disse-lhe: as suas mãos são muito bonitas! Naquele
momento, eu misturei diferentes sentimentos e interpretações, fiquei de forma
insólita abstraído do tempo real.
“
O espaço se torna vazio, o ruído de fundo esmorece...só mãos, como se estas nascessem com o saber das
emoções.”
Poderia ter~lhe dito, o quanto elas eram belas e fascinantes, só o receio,
de que a voz traísse o meu empolgamento, me levou a usar o corriqueiro: bonitas
mãos!
“Tantas vezes mãos prelúdio de uma
música maior, seguindo a pauta de
um amor que se descobre. Tantas vezes mãos sustento de um amor maior, no caminho sereno dos
dias...”
dc
Texto em itálico do blogue: http://escrifalar.blogspot.com/2017/02/maos-se-tocam.html
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