terça-feira, 7 de junho de 2022

Mãos e seu fascínio

 


Só ficavam os olhos, cor de céu, encimando o rosto, e um cabelo, agitado, de cor clara. O restante do rosto desaparecia debaixo do azul da máscara. Estávamos os dois num gabinete, iluminado o suficiente, para sugerir um espaço reservado. As perguntas tornaram-se presentes e o diálogo se estabeleceu, de forma higiénica, cumprindo com a minha razão de ali estar. As perguntas surgiam e a minha resposta era prolixa, como se quisesse alongar o tempo para poder observá-la. Estranha a forma como ela continuava escrevendo registando o meu depoimento, de cabeça levantada, os olhos me observando e os dedos se agitando sobre o teclado do computador. De vez em quando, ela questionava de forma simples e levava-me a desenvolver o meu discurso. Eu perdia a atenção para o que dizia, olhando os dedos da mão dela, movendo-se com rapidez, quase aflorando as teclas. Dedos esguios, compridos, aveludados, belamente desenhados, como se os delimitassem uma só linha sinuosa. A certo momento, não resisti, quebrando as regras do protocolo profissional, disse-lhe: as suas mãos são muito bonitas! Naquele momento, eu misturei diferentes sentimentos e interpretações, fiquei de forma insólita abstraído do tempo real.
     “ O espaço se torna vazio, o ruído de fundo esmorece...só mãos, como se estas nascessem com o saber das emoções.”

Poderia ter~lhe dito, o quanto elas eram belas e fascinantes, só o receio, de que a voz traísse o meu empolgamento, me levou a usar o corriqueiro: bonitas mãos!
     “Tantas vezes mãos prelúdio de uma música maior, seguindo a pauta de um amor que se descobre. Tantas vezes mãos sustento de um amor maior, no caminho sereno dos dias...”

 

dc



Texto em itálico do blogue: http://escrifalar.blogspot.com/2017/02/maos-se-tocam.html


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