Espantado com a claridade do seu
olhar, transparente, puro. Um olhar que se adentra no meu, fixando-me na sua
infinitude. Fala-me de amor sem que as palavras se soltem, mas ouço-a num
sussurro dentro de mim, é um diálogo invisível, que só os dois entendemos. Tudo
acontece, como se fora previsto, sem sobressaltos. Os corpos movimentam-se, convergindo,
com um fio condutor que nos hipnotiza. Quando perto, o seu perfume sobressai, e
o calor do seu corpo, faz-se sentir no aflorar da ponta dos dedos que se tocam,
milésimos de segundos antes de as mãos se apertarem, e os corpos se enlaçarem
na linguagem frenética do espanto. Movidos por certezas, que não sabemos
possuir, que se afirmam nas letras que compõem esse sentimento, que alimenta a
alma dos poetas, é tema de filmes, enriquece performances em diferentes palcos
da arte e da vida. Somos possuídos por uma espécie de montanha-russa de
emoções. É incrível a abstração pura do que nos envolve, ambos deitados num
colchão de nuvens, inexplicável ao comum dos mortais.
Tanto tempo passado desde que acontecera. Quase em apneia, acordo assustado,
procuro os teus olhos, e encontro a almofada vazia. Já não estás ali como eu me
habituara, nos muitos acordares. Partiste com serenidade, no seio da dor que te
magoava o corpo. Agora, só cheiros vários e objectos sinalizam a tua passagem.
Encolho-me sobre o meu próprio corpo. Encosto os joelhos no peito. As lágrimas
correm, afinal foi tão curto o nosso tempo de viver. Dizem que o Universo, planeia
tudo, mas porquê ser tão frio e calculista ao atribuir-nos um tempo de partir,
quando queremos ficar?
dc
Lindo!
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