quinta-feira, 11 de julho de 2024

Diálogo invisível

 

Espantado com a claridade do seu olhar, transparente, puro. Um olhar que se adentra no meu, fixando-me na sua infinitude. Fala-me de amor sem que as palavras se soltem, mas ouço-a num sussurro dentro de mim, é um diálogo invisível, que só os dois entendemos. Tudo acontece, como se fora previsto, sem sobressaltos. Os corpos movimentam-se, convergindo, com um fio condutor que nos hipnotiza. Quando perto, o seu perfume sobressai, e o calor do seu corpo, faz-se sentir no aflorar da ponta dos dedos que se tocam, milésimos de segundos antes de as mãos se apertarem, e os corpos se enlaçarem na linguagem frenética do espanto. Movidos por certezas, que não sabemos possuir, que se afirmam nas letras que compõem esse sentimento, que alimenta a alma dos poetas, é tema de filmes, enriquece performances em diferentes palcos da arte e da vida. Somos possuídos por uma espécie de montanha-russa de emoções. É incrível a abstração pura do que nos envolve, ambos deitados num colchão de nuvens, inexplicável ao comum dos mortais.
Tanto tempo passado desde que acontecera. Quase em apneia, acordo assustado, procuro os teus olhos, e encontro a almofada vazia. Já não estás ali como eu me habituara, nos muitos acordares. Partiste com serenidade, no seio da dor que te magoava o corpo. Agora, só cheiros vários e objectos sinalizam a tua passagem. Encolho-me sobre o meu próprio corpo. Encosto os joelhos no peito. As lágrimas correm, afinal foi tão curto o nosso tempo de viver. Dizem que o Universo, planeia tudo, mas porquê ser tão frio e calculista ao atribuir-nos um tempo de partir, quando queremos ficar?

 

dc


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