Fala-me,
eu escuto, mesmo que não conheça a tua língua, estou capaz de te entender. Tu
falas por ti, e por mim, nesses gestos vagos de nada dizeres. São desenhos
abstratos, feitos no ar, nessa imensa lousa onde existimos. Como explicar aos
outros, que a nossa linguagem é subliminar, que só olhamos os movimentos, a
agitação e clareza do olhar, o mover dos lábios mudos, dizendo para lá do
espelho que nos envolve. A energia que se liberta, comunica e desperta a
consciência daquilo que é intrínseco de cada um. As palavras não fazem sentido
naquele permanecer, alguns sons, talvez, alguns cheiros, certamente. Ligados
pela abstração de um sentimento, que não sabemos explicar, restamos sentados,
próximos, marcando o compasso da respiração surda, serena no peito. As horas
passam, o dia nasce e morre como se não existissem limites. Abrimos uma porta,
que não sabemos onde vai dar, nem se pode ser fechada. E pouco importa que
assim seja, nós somos a presença que queremos. Um para o outro, escrevendo o
diário, com tinta transparente, em letras de uma língua desconhecida.
dc
terça-feira, 9 de julho de 2024
Abstração
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