sexta-feira, 18 de setembro de 2015

a CARTA



Gostava de ter coragem para te escrever, uma carta, daquelas que se escrevem em papel especial e que cheiram a enamoramento. Escrever com letras redondas, de traços incertos, espessuras diferentes, Cada palavra com o seu significado colado a expressão do seu desenho, às emoções nesse acto de realizar escrita. Gostava que assim fosse, marcada, legível, identificada com o sentir de quem escreve, deixando claro o ADN da origem. Mas perdi o jeito de escrever, de me revelar, selando o meu dizer com a expressão viva, quase arte, das letras da escrita. Aquele jeito de escrever com vocabulário escorreito, entre as intenções e os grafismos das letras trazendo coladas as emoções.

Uma carta, que quando olhasses a visses como tua e minha, Que quando a abrisses tivesse o meu cheiro, o meu gostar, Que quando a lesses, te sentisses como cumprindo um ritual delicado, envolvente, com pausas, saboreando cada palavra, cada frase, sempre de encontro ao encantamento do significado, da preocupação cuidada do desenho das letras, agitando teu peito de fervorosa alegria e emoção descontrolada da empolgante novidade, e concluindo, até que enfim, escreveu.

Sinto a necessidade e quero escrever, mas retraio-me num jogo de ping pong entre o querer e a inércia e o medo de não sermos definitivamente.


dc


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