segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

6º NEGATIVOS


 

Ainda mal acordado, ouço na sala o telefone a tocar. Atendo e ouço uma voz amiga, perguntando-me: Vais caminhar, como de costume? E, sem esperar resposta, diz-me: cuidado, hoje estão seis negativos! Sem perceber muito bem o que ouvia, mal saído da cama, questionei: Estás preocupada...como sabes? Do outro lado sai a gargalhada, no meio da qual ouço a explicação: Então ontem - 14 de Dezembro de 2014 - o Porto não ficou a 6 pontos do Benfica?

Longe estava eu de relacionar tal coisa e, de imediato, pensei na outra do advogado, comentador desportivo num canal televisivo, que dizia: Então vocês já sabem que a Estrada Porto – Lisboa, a A1, passou a ser A5, gozando com a derrota copiosa que o Benfica tinha tido perante o FC Porto. Estas duas piadas futeboleiras fizeram-me lembrar aquela frase muito antiga do tempo de Salazar “Fado Futebol e Fátima”, como armas do fascismo para subverter a mente do povo português.

Se os governantes bem “pensantes” deste país soubessem aproveitar esta criatividade do povo português, muito mais o país evoluiria. Não teríamos somente um Saramago, um Fernando Pessoa, um Damásio, e um ou outro engenheiro na NASA, mas certamente um país em franco progresso, com trabalhadores criativos e profissionais de primeira, ou seja, esses que governam resumem os problemas políticos a falta de capacidade do povo, dizendo que os portugueses têm de trabalhar mais, dando-os como madraços, que não cumprem, fogem ao fisco, e até põem em causa a sua competência, substituem a educação e valores por estas diatribes. Como se o povo não percebesse que quem gasta acima das suas possibilidades são os madraços banqueiros, e quem foge ao fisco com toda a facilidade são os grandes capitalistas. Não quero também escamotear, mas se o povo não se deixasse enrolar e ir em futebóis, e usasse a força das suas “claques” para lutar contra o desemprego, os salários miseráveis, os roubos nas reformas, e por um ensino de qualidade, em lugar da defesa dos interesses clubísticos, talvez neste momento tivéssemos um outro governo, uma outra qualidade de vida, um desporto com maior número de praticantes, com uma rivalidade sadia, como outrora, em que se rematava o final dos jogos com uma sandes de polvo frito, um “caneco” e umas quantas piadas marotas, sem alimentar quezílias ou destruir amizades.

DC

Sem comentários:

Enviar um comentário