sexta-feira, 17 de julho de 2015

a CRIANÇA que me ENCANTOU

> um único momento de beleza e amor justifica a vida inteira.
  [rubem alves]

Abriu-me a porta, logo perguntando se eu era o amigo esperado dizendo meu nome. Seu braço esticado chegava com algum esforço ao fecho da porta. Eu, sorrindo, perguntei-lhe se podia dar-lhe um beijo, o que anuiu correspondendo, de seguida, perguntei-lhe onde estavam os outros e comecei a subir as escadas em direcção à parte superior da casa, enquanto a mãe perguntava algures, se me tinha cumprimentado. Ela, dizendo que sim, virou-se para mim com um semi-sorriso e diz-me:            
            - Queres ir ter com minha mãe?
            - Sim claro, respondi eu.
            - Então porque estás a ir para aí, a cozinha é lá em baixo?

Deu-me a mão e indicou-me como fazê-lo.
Aquela criança sorria lindo, como só ela parecia saber. Falava lindo, como só a sua voz de criança poderia, que sem pronuncia de bebé mimado, na sua clareza roubava os “eles”, mas verifiquei mais tarde, tinha a destreza, na pergunta e na resposta, das coisas que pretende. Ternura linda, no toque do rosto com aquele mão pequenina e bem desenhada. Pés lindos, gordinhos sem ser exagerados, metidos nas havaianas. O seu vestido rodado, era mínimo como sua idade, Quatro anos de gente.
Ficou-se, deitada no chão junto ao televisor enquanto os adultos elaboravam o almoço. Quando sentiu o cheiro dos grelhados surgiu, com uma ar gracioso, a dizer que tinha fome.
Sem birras almoçou, usando os talheres com mestria e sempre com alegria desde do princípio ao fim.
Pediu para se sair da mesa com respeito e sempre serena. Enquanto os adultos ficaram a conversar, ela se foi entretendo com os desenhos animados. Mais tarde após a mãe lhe pedir carinhosamente, que me mostrasse o resto da casa, deu-me a sua mão gordinha e macia, e sempre sorrindo, foi-me dirigindo, explicando cada espaço de forma pormenorizada e a quem pertencia o seu uso. Finda missão aconselhou-me o sofá e sentou-se ao meu lado.
Curiosa, sabendo pela mãe que eu desenhava e pintava, desafiou-me para desenhar dragões uma vez ela, outra vez eu, o dela era o bom o meu era o mau porque cuspia fogo. Quando já satisfeita a curiosidade, decidiu pegar na sua maleta de médica, e “tratar-me da saúde”,  simulando auscultar-me, medir a tensão, ou até simular injectar-me com uma seringa descomunal, que perante a minha cara de assustado, ela se ria. Entretanto os adultos, começaram a ver televisão e nessa altura, ela liga a sua tablete para ver seus desenhos animados preferidos, no meio dos quais, de repente, dizia:
            - O fulano fez isto! E saltava para o meu colo, dando-me um beijo na face, deixando-me entre surpreendido e encantado.

Fiquei olhando a televisão, mas observando pelo canto do olho, aquela linda criaturinha que me encantava, que se estirava no sofá pondo as pernas e os pés em cima dos meus joelhos, como se me desse o privilégio da sua confiança. Por vezes, fazia-lhe cócegas às quais reagia positivamente e bem disposta. De quando em vez questionava-me, se eu poderia brincar com ela às “escondidas”. E, mesmo esquivando-me a isso, ela reagia positivamente, lamentando, mas sem birra.
A tarde decorreu rapidamente. Uma tarde enriquecida pela presença daquela criança, que me deu toda a sua ternura e atenção.
Na hora da partida, com mesmo à vontade com que me recebeu à chegada, quando lhe pedi um beijo, prontamente, assumindo um ar compenetrado, me deu um em cada face, que correspondi e agradeci, dizendo-lhe que tinha gostado muito de a conhecer. Resposta pronta:
            - Eu também gosto de ti, tens de vir visitar-nos mais vezes!

Derreti-me, saí daquela casa com um misto de tristeza e alegria.
Saí, pensando numa outra menina, que há muitos anos atrás, sentada em no meu colo perguntava à mãe:
            - Ele também pode ser, um bocadinho, meu pai?
As crianças sempre nos surpreendem. Como dizia o poeta “ O melhor do Mundo são as Crianças".

dc

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