Abriu-me a porta, logo perguntando se eu era o
amigo esperado dizendo meu nome. Seu braço esticado chegava com algum esforço
ao fecho da porta. Eu, sorrindo, perguntei-lhe se podia dar-lhe um beijo, o que
anuiu correspondendo, de seguida, perguntei-lhe onde estavam os outros e
comecei a subir as escadas em direcção à parte superior da casa, enquanto a mãe
perguntava algures, se me tinha cumprimentado. Ela, dizendo que sim, virou-se
para mim com um semi-sorriso e diz-me:
-
Queres ir ter com minha mãe?
-
Sim claro, respondi eu.
-
Então porque estás a ir para aí, a cozinha é lá em baixo?
Deu-me a mão e indicou-me como fazê-lo.
Aquela criança sorria lindo, como só ela parecia saber. Falava lindo, como só a
sua voz de criança poderia, que sem pronuncia de bebé mimado, na sua clareza
roubava os “eles”, mas verifiquei mais tarde, tinha a destreza, na pergunta e na
resposta, das coisas que pretende. Ternura linda, no toque do rosto com aquele
mão pequenina e bem desenhada. Pés lindos, gordinhos sem ser exagerados,
metidos nas havaianas. O seu vestido rodado, era mínimo como sua idade, Quatro
anos de gente.
Ficou-se, deitada no chão junto ao televisor enquanto os adultos elaboravam o
almoço. Quando sentiu o cheiro dos grelhados surgiu, com uma ar gracioso, a dizer
que tinha fome.
Sem birras almoçou, usando os talheres com mestria e sempre com alegria desde
do princípio ao fim.
Pediu para se sair da mesa com respeito e sempre serena. Enquanto os adultos ficaram
a conversar, ela se foi entretendo com os desenhos animados. Mais tarde após a
mãe lhe pedir carinhosamente, que me mostrasse o resto da casa, deu-me a sua mão
gordinha e macia, e sempre sorrindo, foi-me dirigindo, explicando cada espaço de
forma pormenorizada e a quem pertencia o seu uso. Finda missão aconselhou-me o
sofá e sentou-se ao meu lado.
Curiosa, sabendo pela mãe que eu desenhava e pintava, desafiou-me para desenhar
dragões uma vez ela, outra vez eu, o dela era o bom o meu era o mau porque
cuspia fogo. Quando já satisfeita a curiosidade, decidiu pegar na sua maleta de
médica, e “tratar-me da saúde”, simulando
auscultar-me, medir a tensão, ou até simular injectar-me com uma seringa
descomunal, que perante a minha cara de assustado, ela se ria. Entretanto os
adultos, começaram a ver televisão e nessa altura, ela liga a sua tablete para
ver seus desenhos animados preferidos, no meio dos quais, de repente, dizia:
-
O fulano fez isto! E saltava para o meu colo, dando-me um beijo na face,
deixando-me entre surpreendido e encantado.
Fiquei olhando a televisão, mas observando pelo canto do olho, aquela linda
criaturinha que me encantava, que se estirava no sofá pondo as pernas e os pés
em cima dos meus joelhos, como se me desse o privilégio da sua confiança. Por
vezes, fazia-lhe cócegas às quais reagia positivamente e bem disposta. De
quando em vez questionava-me, se eu poderia brincar com ela às “escondidas”. E,
mesmo esquivando-me a isso, ela reagia positivamente, lamentando, mas sem
birra.
A tarde decorreu rapidamente. Uma tarde enriquecida pela presença daquela
criança, que me deu toda a sua ternura e atenção.
Na hora da partida, com mesmo à vontade com que me recebeu à chegada, quando
lhe pedi um beijo, prontamente, assumindo um ar compenetrado, me deu um em cada
face, que correspondi e agradeci, dizendo-lhe que tinha gostado muito de a
conhecer. Resposta pronta:
-
Eu também gosto de ti, tens de vir visitar-nos mais vezes!
Derreti-me, saí daquela casa com um misto de tristeza e alegria.
Saí, pensando numa outra menina, que há muitos anos atrás, sentada em no meu
colo perguntava à mãe:
-
Ele também pode ser, um bocadinho, meu pai?
As crianças sempre nos surpreendem. Como dizia
o poeta “ O melhor do Mundo são as Crianças".
dc
Eu lembro dessa tarde...
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