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sábado, 2 de abril de 2022

senhores disto tudo

Olhei, vi as mãos, desenhadas a sangue, rasgadas pelo arame farpado dos senhores do mundo. Senti, como se na própria pele, a tortura e o campo limitado da vida humana, submetida às sevícias dos “senhores disto tudo” que se sentam na esplanada do mundo do sucesso contabilizando, investimentos em ferro fundido e bombas. Desconhecidos, eles, assumem normal caridade, nas realidades mundanas e nas vivências, onde a ética não tem vocabulário que a suporte. Eles são donos das palavras e das imagens, dos comeres, das vestimentas, e por fim, da vida das pessoas.
Por vezes, pergunto-me, até onde nos deixamos perder, suportando que haja quem se julgue dono do mundo. Já não sentimos a ausência dos afagos, do descanso e do rejuvenescer da natureza, absorvidos que estamos pelas diversas rotinas opressivas e limitativas. Emprego, casa, casa emprego, alimentar-se para sobreviver, olhos na TV, ou num qualquer computador, ou telemóvel, e um bocejar na atenção aos próprios filhos, esposa, ou familiares. As amizades, essas vão escasseando, não abunda tempo para a partilha, quando muito alguns minutos, escorridos no balcão de um qualquer bar, frente a uma cerveja que refresque, amenizando as dores da alma e a miséria social onde coabita. Na mulher, a que mais sofre, vislumbra-se nos olhos fundos e húmidos a dor das dificuldades, num sobreviver marcado pela ausência de amor e carregado pelas muitas vicissitudes de mulher, mãe e trabalhadora com direitos sonegados.
Somos povo? Talvez, se calhar, talvez mais formigas, servindo cigarras e suportando gafanhotos tiranetes oportunistas, cursados nas universidades do dinheiro fácil, arrivistas, especialistas de roubos que se não veem, donos de escravos modernos, na espera dos transhumanos futuros, mascarando-se humanos, sem limitação de tempo de trabalho, sem reivindicações, sem emoções, ou compromissos sociais e culturais.

Caminhamos para o abismo, e, perante o perigo, a solução, tem sido dar um passo em frente em direcção ao abismo, tal o amorfismo que nos tolhe e que nos prende, como uma corda com nó de marinheiro. Aceitamos ser prisioneiros, das falas, com voz de falsete, que hipnotizam e tem reforço e apoio nas “medias” corporativas, que nos provocam a ilusão de que o gato é uma lebre, que teremos acesso ao mundo dos sonhos e que “um dia se trabalharmos” muito havemos de lá chegar.

 

dc


sábado, 27 de abril de 2013

PINTAR CONTRA O SILÊNCIO



O espaço enorme e deserto da parede da sala era uma provocação. Era necessário quebrar o silêncio que ali se gerava, não o silêncio como ausência de som, mas o silêncio que se formava dentro de nós perante aquele vazio. Ele tinha de pintar algo que tivesse dimensão e que transmitisse uma ideia de vida. No branco das pranchas de platex escolhidas como suporte existia o mesmo silêncio. Havia necessidade de romper nos diferentes espaços o silêncio, falando com imagem e cor.

A parede existia cumprindo a sua função como limite de um espaço, sem comunicar. Algo teria de nascer como imagem, que fosse manifestação de vida, algo que teria de falar para que se quebrasse o silêncio, que fosse um convite às palavras conversadas, às divagações férteis, uma chamada ao conforto visual e espiritual. Por fora as pessoas estariam complementando a imagem

Sem pressas lentamente a tinta se foi depositando, sujando o espaço branco e progressivamente foram surgindo diferentes cores e imagens. A cada momento ele passeava os olhos pelos painéis e ia alterando repintando, procurando sempre ficar mais perto do que imaginara. Se o conseguiu, ou não, cabe aos outros avaliar, para ele, como sempre, a inquietação permanente de encontrar a forma de concretizar a ideia com que partiu e o acto de produzir era aquilo que lhe dava mais prazer.

DC

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

POR AGORA rESTA em PaZ


Vi a fotografia e me inspirei. Não queria fazer uma cópia, queria que fosse uma outra coisa assumidamente pintada e não um outro retrato da realidade. experimentei diferentes formas de abordagem, com pouca tinta, muita tinta, menos explicito mais explicito, até que cansei. desenhei larguei tinta, fui "sujando" a meu belo prazer. quando já não conseguia ir mais além do que via, desisti deixei que ele ficasse a marinar. Talvez um dia, eu consiga ir mais longe e lhe volte a mexer. talvez sem medo de estragar, mas com vontade de encontrar outro caminho para dizer do mesmo objecto coisas diferentes e mais ricas. Por agora resta em paz.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

de PÉS ao CAMINHO

Eu a vi naquele caminhar de abandono deslizando o pé, como se procurasse gravar no chão a sensualidade do seu corpo seminu pelo areal da praia. Como fazer para que os seus pés fossem o relato de um momento? Talvez a sensualidade da figura, só me tivesse dado o tema e o prazer de ir pintando na busca de a encontrar.

De pés ao caminho, fui sempre colocando tinta sobre o suporte procurando o resultado. Misturando técnicas, de espátula, pincéis e mãos. Camadas sobre camadas, dando mais espessura à tinta dando mais "tinta" à expressão ao tema. A certo momento é preciso parar, tudo o que se faz, ou acrescenta demasiado, ou estraga o que está feito. É momento de pausa e esperar se horas depois continua perante nós a razão que nos levou a parar. Se assim for o melhor é encostá-lo nos trabalhos concluídos, já não dá mais. 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

ERIC CLAPTON, O FASCÍNIO

Ouvi a música e fiquei parado olhando o LCD gigante onde se via Eric Clapton tocando e cantando. A guitarra soltava os seus gemidos estridentes, e paralisou-me durante uns momentos. Todo o eu estava envolvido no que ouvia, completamente fascinado parecia que cada nervo, cada respiração se me colava à pele (de galinha) porque cada nota que ouvia.  Tal foi o estado em que fiquei, que chegado a casa pensei que gostaria de "borrar uma pintura" e assim fiz, o resultado não tem o brilhantismo de Eric, mas pelo menos ficou como registo do momento mágico que vivi.

quinta-feira, 22 de março de 2012

DOIS PONTOS...

Dois pontos acima do umbigo
do tamanho de grãos de trigo
Da tua boca são procura
do teu desejo a loucura

A polpa de meus dedos quase seda
Procuram em teu corpo o veludo
De seu bosque a vereda
Onde a vida é quase tudo

Dois pontos grãos de trigo
Na tua boca são loucura
No teu corpo minha procura
De fazer o amor contigo


terça-feira, 11 de outubro de 2011

História de um quadro VI

Olhava a parede e via o reflexo da janela presenteando-me a ideia. Ali estava algo que me activava a mente, motivando-a para agarrar nos pincéis e tentar algo. As cores que lá estavam não eram as que eu queria, por isso divaguei pelo azul e branco procurando a profundidade e ao mesmo tempo realçar a força da ausência de cor, o branco. Mais do que o resultado final obtido, para mim, foi o gozo de realizar aquela superfície, sentir cada minuto como se fosse o último. Quando parei fiquei vazio. Restei olhando procurando descobrir o que acontecera, mas nada havia para pensar e dizer. Para quê inventar teorias estéticas, ou linguagem filosófica?
Por momentos tinha sido um pintor em pleno, ponto.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

História de um quadro IV- Cortinas

Cortina. Acrílico sobre platex.(50x70cm)
As cortinas que preservam intimidades, sombreiam espaços, escondem mundos, matizam sombras, enrolam corpos desnudos. Cortinas que se movem nas janelas, nos postigos, portas, biombos de diferentes momentos, despertar de curiosidades. Cortinas de diferentes materiais e funções. Cortina da máquina fotográfica, no seu controlo momentâneo da pose, participando na construção da imagem. Cortina objecto estético e funcional assumindo diferentes padrões e cores. Cortina objecto estético de um quadro revelando-se a si própria, realçando matizes da sombra produzidos pela flutuação da luz e da brisa que a move.