sábado, 27 de abril de 2013

PINTAR CONTRA O SILÊNCIO



O espaço enorme e deserto da parede da sala era uma provocação. Era necessário quebrar o silêncio que ali se gerava, não o silêncio como ausência de som, mas o silêncio que se formava dentro de nós perante aquele vazio. Ele tinha de pintar algo que tivesse dimensão e que transmitisse uma ideia de vida. No branco das pranchas de platex escolhidas como suporte existia o mesmo silêncio. Havia necessidade de romper nos diferentes espaços o silêncio, falando com imagem e cor.

A parede existia cumprindo a sua função como limite de um espaço, sem comunicar. Algo teria de nascer como imagem, que fosse manifestação de vida, algo que teria de falar para que se quebrasse o silêncio, que fosse um convite às palavras conversadas, às divagações férteis, uma chamada ao conforto visual e espiritual. Por fora as pessoas estariam complementando a imagem

Sem pressas lentamente a tinta se foi depositando, sujando o espaço branco e progressivamente foram surgindo diferentes cores e imagens. A cada momento ele passeava os olhos pelos painéis e ia alterando repintando, procurando sempre ficar mais perto do que imaginara. Se o conseguiu, ou não, cabe aos outros avaliar, para ele, como sempre, a inquietação permanente de encontrar a forma de concretizar a ideia com que partiu e o acto de produzir era aquilo que lhe dava mais prazer.

DC

1 comentário:

  1. Conseguiste transformar o vazio em cor e ao pintares este manifico quadro no não ouvis-te a musica a tocar, mas ela estava lá.

    O equilibrio e a tranquilidade que nos transmite a tela, faz-nos voar e pensar que tudo é possivel.

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