sexta-feira, 30 de maio de 2025

Às vezes acontece

 

A chuva batia, com força, contra os vidros, trazida pelo vento, como se estivéssemos em pleno inverno. Chuva, vento e frio, tempo ideal para aproveitar, para descansar.

Na cama permanece o calor dos corpos, que durante noite deram espaço e desvelo, aos desejos e instintos, ficando sadiamente reconfortados.

Na véspera, ela tinha chegado de avião, após uma viagem de mais de dez horas.


Ele tinha ido ao aeroporto, esperar a sua chegada. O seu rosto vinha marcado pelo cansaço, mas não o suficiente para que os seus lindos olhos, cor de esmeralda, perdessem o seu brilho, nem que o seu sorriso, deixasse de desenhar a sua boca carnuda, pintada com batom vermelho. Reparei nas suas calças e blusa, que embora simples, davam-lhe elegância e juventude. Eu estava, vestido em modo desportivo, polo e calças de ganga, e um ramo de flores com cheiro de primavera. Quando os nossos olhares se cruzaram e o reconhecimento foi feito, a mala que empurrava, assim como o casaco, foram largados, enquanto aceleravam o passo dirigindo-se um ao encontro do outro, até se abraçarem. Ele, eufórico, elevava-a no ar expressando o seu entusiasmo, beijando-se, pela primeira vez. A doideira concretizara-se, afinal não fora tempo perdido, algo acontecera que os fizera juntar-se, mesmo quando tudo parecia ser impossível.

Depois de um jantar simples, em lugar agradável, conversaram sem tempo, desatando nós, que pudessem trazer qualquer percalço, naquilo a que se propunham. Olhares se adentrando, à descoberta do que os animava, como se quisessem confirmar, quanto era real. Os dedos, mutuamente tocando as faces, como que desenhando e memorizando todos os pormenores e a tepidez da pele. O cabelo comprido dela, solto sobre os ombros, realçava-lhe o formato do rosto, belo, determinado, mostrando a alegria de estar ali. Os lábios eram macios, quentes, o seu beijo sabia bem.
Ao saírem traziam consigo o calor do ambiente vivido; não havia, como não confessar o efeito dum vinho generoso, que acompanhara a refeição.

A viagem até a casa tinha uma pressa desajustada, para quem quer registar e viver tudo em pormenor, mas havia a urgência, de estarem juntos em lugar mais discreto, onde pudessem estar à vontade, em intimidade.
Foi uma noite, onde não há palavras que a expliquem, as únicas palavras soltas, foram trocadas em momentos, onde os corpos falaram, as carícias se duplicaram até o prazer chegar, em plena realização dos sentidos.

O cansaço baixou-lhes a pálpebras, como persianas que tiram o sol dos olhos, o diálogo foi-se diluindo com as palavras se enrolando. Adormeceram abraçados, respirando pausadamente e sentido o cheiro adocicado dos corpos. O sono seria o complemento da certeza de que uma nova estória se estava escrevendo nas suas vidas.

A chuva fazia-se sentir....medo de abrir os olhos...temia que tivesse sido somente um sonho, do qual não queria acordar...

dc


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